spoiler visualizarRafael 20/09/2014
Resenha do Livro: "As confissões de santo Agostinho "
Agostinho inicia suas confabulações, em um mar de dúvidas. Sempre inquirindo Deus, em busca de respostas, que envolviam os mais diversos assunto. Em muitos trecho percebe-se que a idolatria ao altíssimo é tema recorrente em sua abordagem. Suas divagações se iniciam especulando a respeito de sua própria infância e vida no ventre, se acaso houve vida antes da vida por ele conhecida, ou se foi ele parte de alguma outra coisa. Já em sua infância, ele faz menciona que se trata de uma vida que ele não se lembra, e por isso indaga se poderia ele também, por essa fase de sua vida, ser julgado. Fazendo um paralelo com o comportamento infantil que ele costumava ver por parte de outras crianças, Agostinho imaginava que poderia ter cometido muitos pecados também.
Como muitas crianças, inclusive dos dias atuais, ele não foi muito adepto da educação institucional, na qual se via coagido a entender de assuntos muitas vezes que não eram de seu interesse, entretanto Agostinho demonstrava um apreço pelo idioma latim, e uma clara aversão ao grego.
Em seu segundo livro, é tratada da adolescência de Agostinho, suas primeiras paixões, a confusão gerada em si próprio pela chegada da puberdade. Neste livro ele comenta a respeito de um furto que cometeu de algumas peras. Envergonhado pelo fato de ter cometido tal delito, Agostinho envergonha-se mais ainda pelo fato de ter cometido o mal pelo mal, sem nem mesmo tirar proveito do item furtado, pois descartou-o em seguida. E ainda salienta que a cumplicidade das pessoas envolvidas em tal ato, foi fundamental para que houvesse motivação para cometer o pecado.
Durante a juventude Agostinho conta sobre sua fase sedutora, onde se jogou nos braços da Luxúria, e também por vezes se arrependeu, e tentou purificar-se disto que chamou de imundície. Foi também professor de retórica, mas considerava sua ocupação como algo de pouca dignidade, pois dizia que vendia a arte de vencer pela loquacidade. Durante essa época teve companhia de uma mulher com a qual não havia contraído matrimônio, mas a tinha pelo ardor da paixão carnal.
Em uma passagem Agostinho conta da perda de seu amigo, com o qual tinha bastante afinidade. Depois de um período convalescente, e febre alta, Deus o tomou de seu convívio, o que fez com que Agostinho sofresse bastante, chegando a duvidar de sua bondade.
Sua companhia proibida voltou para África, deixando para trás seu filho, devido à impossibilidade de casar-se com Agostinho, e lá fez seus votos à Igreja. Depois disto, sua aproximação com Deus se deu de uma forma mais consistente. Estimulado pela leitura, ele pôde, entrar mais profundamente em seu próprio coração.
Tempos depois, em uma fase mais adiantada de sua vida, Agostinho fala como conseguiu arrancar o vínculo carnal que o prendia fortemente. Ele conta que conheceu um homem chamado Ponticiano, que lhe contou a respeito da vida de Antão, um monge do Egito. Agostinho juntamente com dois amigos, Alípio e Nebrídio, ficaram estupefatos com as maravilhas que ouviam, realizadas na verdadeira fé da Igreja. Agostinho via-se tentado a sair da vida de ilusão terrena, para ir em busca da verdadeira sabedoria, mas não conseguia libertar as amarras dos tesouros do mundo, e dos prazeres corporais. E nisso Agostinho travou uma longa luta espiritual, até que em um determinado momento, durante uma torrente de confabulações, Agostinho lembra-se do que foi dito de Antão, que certa vez abriu o Evangelho, e logo no primeiro texto encontrou respostas para seus tormentos. Agostinho fez o mesmo, e o que ele leu, o fez crer que o verdadeiro caminho para a luz passava pela renúncia da embriaguez e desejos da carne, para revestir-se do nosso senhor Jesus Cristo. E nisso Agostinho não teve mais dúvidas a respeito de sua conversão.
Após a conversão de Agostinho, sua mãe Mônica, chegou a dizer que não tinha mais o que fazer nesta vida, pois a última coisa que faltava era ver seu filho convertido ao catolicismo. E coincidentemente, passados cinco dias, ela veio a ficar doente, com febre, chegando a ter um episódio de desmaio. E não durou muito além disso, pois nove dias após cair enferma, aos cinquenta e seis anos de idade, ela finalmente libertou-se do corpo.
Agostinho inicia, nessa fase do livro, uma série de confabulações a respeito de Deus, dos sentidos e da memória, onde estabelece um ligações e semelhanças entre entes elementos. Onde encontrar Deus? Deus habita na memória? O que seria a felicidade? Quais os prazeres dos sentidos? Olfato, visão, etc., e vários outros temas são abordados.
Agostinho agora parte para tentar desvendar o mistério do tempo. Ele filosofa a respeito do que Deus fazia antes da criação. Se acaso Ele ficava ocioso, e como era o tempo anterior à criação. Como tudo vem de Deus, inclusive o tempo, não faz sentido questionar-se a respeito do que Deus fazia antes da criação, se o próprio tempo não havia sido criado ainda. E o que é o tempo? Inicialmente ele cita alguns pensadores que falam que o tempo é o movimento dos corpos celestes, coisa da qual Agostinho discordo, pois se acaso um corpo parasse de se mover o tempo pararia de ser contado? E como se conta o tempo? Como é feita a medição do tempo? O passado é algo não existe mais, logo não dá mais para medir. O futuro ainda não ocorreu, logo ainda não é possível medi-lo. Tampouco é possível medir o presente, pois este tempo não tem duração, pois o que acaba de passar já é passado, e o que está prestes a ocorrer ainda é futuro. Mas Agostinho então conclui que o tempo constitui-se das impressões que ficam gravadas no espírito de Deus, e perduram mesmo depois que os fatos passam.
No livro seguinte, Agostinho volta sua atenção para descobrir como foi no início da criação. O que era a Terra, o que era o céu, e o que significa o céu do céu. Inicialmente, ele cita a passagem do Gênesis, que cita que no início existia um abismo dominado pelas trevas, donde se conclui ser a Terra primordial. Neste estágio ela era apenas uma massa informe e invisível. Ele segue explicando a natureza, e em que consiste esta massa, e como se deu sua criação; se foi a partir do nada, ou de alguma outra matéria intermediária pré-existente. Agostinho compara a matéria informe à capacidade que os materiais têm de se transformar. Mais que isso, para Agostinho a matéria informe é a própria transição da matéria entre seus estágios de transformação.
Agostinho exalta Moisés por suas escrituras, lembrando que existem várias interpretações para seus textos, e todas estas interpretações, mesmo não correspondendo à ideia inicial de Moisés, podem corresponder à Verdade, e que por isso não podem ser desprezadas. Existem pessoas que simplesmente assumem sua interpretação como a única verdade, e como sendo a mensagem que Moisés no quisera passar. Dizem inclusive que outras interpretações estão erradas, o que obviamente não passa de uma atitude presunçosa, onde a única intenção do interlocutor é se promover, ao invés de buscar a Verdade.
Por fim, a obra de Agostinho se encerra em meio a uma série de diálogos, com seu filho Adeodato, acerca dos mais variados temas.