Luiz Pereira Júnior 29/09/2022
Uma sopa com tudo o que tem na geladeira...
Um vendedor de autógrafos recebe anonimamente uma carta com o autógrafo de uma atriz do cinema mudo que se afastou do mundo há décadas. No entanto, ele não consegue saber se o autógrafo é verdadeiro ou se não passa de um embuste e parte para encontrar a dita cuja.
Esse é o resumo de um romance que teria tudo, pelo visto, para se tornar uma história recheada de suspenses, golpes de mestre, reviravoltas narrativas, informações sobre o fenômeno da celebridade e seu ocaso, curiosidades sobre o cinema mudo e o desespero de seus atores ao verem sua carreira rolar para o abismo em alguns casos (algo magnificamente retratado em alguns filmes, como “Cantando na Chuva” e “O Artista”) e muito mais.
Mas infelizmente não foi isso que eu encontrei no livro.
A impressão é que a autora resolveu complicar a vida do leitor desnecessariamente e sem propósito algum, a não ser fazer um daqueles romances moderninhos ou modernosos, em que são usadas carradas de técnicas narrativas para deixar boquiabertos os críticos literários e os resenhistas dos cadernos culturais de plantão (mas que, no final das contas, acabam caindo na mesmice da originalidade por encomenda).
Diálogos truncados, desenhos infantis que pouco têm a dizer, fluxo da consciência surgidos do nada, linguagem chula, repetições irritantes (a autora descobriu a expressão “Gesto Internacional” e a cada página faz uso dela), falta de verossimilhança em alguns trechos (como alguém com graves dificuldades financeiras viaja de um continente para outro apenas porque deu na telha? Por que os personagens teimam a se encontrar por acaso, quando é da conveniência deles?), mistura de assuntos sem se aprofundar em nenhum, personagens que acabam se parecendo umas com as outras, trechos francamente prolixos...
Enfim, imagine que você resolve tomar uma sopa e vai botando na panela tudo o que encontra na geladeira: chuchu, tomate, berinjela, repolho, beterraba, pepino, alface, jiló, cenoura, quiabo, hortelã, laranja, maçã, pera, uva...
O resultado vai do gosto do freguês: para uns, será uma iguaria deliciosa, com textura (um chavãozinho dos programas culinários modernosos) incomparável e para outros não passa de uma mistureba sem gosto de nada.
Em outras palavras, se você encontrar essa sopa (ou melhor, esse livro) por um precinho camarada (foi o meu caso), sirva-se e forme sua própria opinião...