Uma Nova Visão

Uma Nova Visão David Powlison




Resenhas - Uma Nova Visão


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fabio.ribas.7 27/11/2023

Uma nova visão
O livro “Uma nova visão”, de David Powlison, lançado pela Editora Cultura Cristã, é uma obra que busca esclarecer os principais erros tanto do Aconselhamento como, também, das teorias da psicologia e biopsiquiatria atuais. David Powlison (PhD) é editor de The Journal of Biblical Counseling, é professor no Christian Counseling and Educational Foundation (CCEF) e no Westminster Theological Seminary. Autor de “Confrontos de Poder” e “Falando a verdade em amor”, da Cultura Cristã. Devo ressaltar que, realmente, preferia uma tradução de título mais próxima do original, que é “Seeing with New Eyes”. Jamais leria um livro com este título em português: “nova visão”. Ele me passa uma série de impressões erradas, tanto espirituais como ideológicas. Já um título como “Vendo com novos olhos” contribui com uma ideia totalmente diferente do que o título em português tende a passar. Então, por que eu o li? Porque li o artigo “Crítica aos integracionistas atuais”, do Powlison, por causa de uma disciplina de Mestrado, e só posso dizer que foi um artigo que eu gostei demais!

A Bíblia é suficiente para responder e tratar todos os nossos problemas? Ou haveria aspectos que Deus estaria “do lado de fora” de nossas vidas? Pois é disso que o livro está falando. A Igreja precisa fazer com que as pessoas vejam Deus no contexto de seus problemas. Antes de tudo, é um livro para apresentar o conceito de “Aconselhamento”. Logo no início do prefácio, ele faz uma explicação simples, mas que achei sensacional do que seria “aconselhamento”: “conversas que têm a intenção de ajudar”. Todavia, ele demonstra que há conversas que partem de uma perspectiva humanista e outras que podem partir sob a perspectiva de ver Deus.

O autor escreveu esse livro com o propósito de escrever mais outros dois livros. O segundo abordaria a metodologia e o terceiro seria apologético. Queremos ver a vida como um todo, vendo-a com o olhar de Deus — o Aconselhamento bíblico é capaz de conduzir as pessoas a essa “nova visão”, ou, ainda melhor, o Aconselhamento bíblico pode levar as pessoas a verem com novos olhos suas próprias vidas e as circunstâncias que as cercam. Na verdade, como o próprio autor nos diz: “Deus tem a visão real das coisas. E Deus nos ensina seu olhar”.

O autor foi muito ousado, na minha opinião, mostrando o que Paulo fazia com as Escrituras e indicando que façamos o mesmo. Na verdade, ele mostra que já fazemos o mesmo que Paulo também fazia. Para isso, ele está usando como base a carta de Paulo aos Efésios, que eu também amo muito. Se os três livros que mais oferecem deleite para Powlison são Efésios, Salmos e Lucas, para mim, os quatro livros que me oferecem o mais profundo deleite são: Jó, João, Efésios e Hebreus. Assim, que maravilha ler a seção sobre Efésios, que, da maneira como vejo, tem uma importância missiológica central no trabalho transcultural. Interessante é esta pergunta: “Por onde devo começar?”, porque nunca pensei em começar por Efésios. Sempre começo pelo Evangelho de João. Por isso, foi ainda mais interessante ler Efésios a partir de uma perspectiva muito diferente da que estou acostumado. Concordo que é uma carta de teologia prática, só que eu praticava na área missionária e não de aconselhamento. O mais impressionante foi ver Powlison fazer um tipo de leitura, mostrando que Paulo fazia “links” com o Antigo Testamento o tempo todo. E é exatamente isso que eu também chamo a atenção das pessoas quando leio o Evangelho de Jesus segundo João. Este também está em plena comunicação com o AT o tempo todo.

Quem é Deus para você? O conselheiro tem que ser alguém com uma fé verdadeira, viva e vital! É preciso que Deus seja a pessoa em quem você confia, pois você falará dEle a pessoas que estão como barquinhos se debatendo contra as ondas em meios às tempestades. Deus está transformando as pessoas nesse processo. Deus age em meio ao seu Povo. Para o aconselhado é fundamental saber quem é Deus e compreender que Deus só se faz conhecido por meio de Jesus Cristo. É por meio de Cristo que Deus realiza seus propósitos (gostei demais da analogia com o tapete a ponto de parar de ler, na hora, sair correndo e mostrar à minha filha Gisele a ideia de como vemos do lado de cá o tapete com remendos, rasuras e defeitos, mas, do lado certo, que é o lado de Deus, Ele vê a beleza que não vemos). Deus derrama graça sobre nós e essa graça revela que o pecado é o nosso problema mais profundo. Deus age na história e, mais do que isso, a leva a um maravilhoso clímax!

“A História humana trata do justo Rei e seus aliados que invadem o império das trevas. Cada um escolhe seu lado. Fingir neutralidade e agnosticismo é apenas encobrir as trevas. O Deus vivo e Cristo não são mera opção. A escolha é esta: vida ou morte, conheça-o ou morra. Sejamos perdoados pela maravilha do que Cristo fez por nós ou recebamos sobre a cabeça aquilo que merecemos” (p.52).

A citação acima me faz lembrar que as tantas teorias que as pessoas inventam sobre Deus podem ser digeríveis a elas, mas nada, nenhuma filosofia, religião ou invencionice da cabeça dos homens irá alterar nada do Ser de Deus — e isso sempre me foi muito assombroso. É uma escolha de lados numa guerra e não um jogo para ver quem vence o concurso de melhor narrativa sobre Deus. E isto, essa consciência de que os homens estão perdendo tempo em vãs filosofias, sempre foi muito assustador para mim. Por fim, ainda no capítulo 02, volta o insistente tema que mais tem estado presente na minha vida: a união com Cristo. Eu tenho estudado muito sobre nossa união com Cristo. E depois de ter vivido tanta coisa no campo missionário, tantas coisas que eu não entendia, mas, nestes últimos meses de estudos no Andrew Jumper, eu encaixei peças que faltavam. Hoje, vejo “missões” conectada ao Aconselhamento, ao Pastorado e à União com Cristo. Claramente, consigo montar esse quadro no fim de tudo.

Sempre trabalhei aconselhando pessoas que possuem vários papéis e funções diferentes em seus contextos na família, na igreja e no trabalho. Todos somos filhos ou pais; empregados ou patrões, liderança ou leigo. Enfim, somos todos o tempo todo chamados a nos tratar mutuamente com respeito e amor. Independente dos cargos e funções, chamados a nos relacionar com graça, perdoando-nos mutuamente. Contudo, como tem pessoas dentro da Igreja que a usam como esconderijo de suas carências e anseios de poder, machucando, pisando e manipulando “em nome de Jesus”, colocando não só instituições, mas também suas biografias, acima de tudo, ainda que, para saírem ilesos e imaculados, precisem sacrificar inocentes no altar de seus egos. O capítulo 03 falou muito ao meu coração. “Reciprocidade” e “mutualidade”, palavras tão caras e, ao mesmo tempo, tão raras!

Saímos de Efésios e viemos para o Salmo 131 (e também o 130). Precisamos nos colocar neste salmo para entendê-lo, memorizando-o e aplicando-o em nosso coração. Sossego e paz, frutos de um coração que está no Senhor. Interessantíssimo o autor ressaltar as vozes que aparecem no Salmo 131.

“A maior parte do barulho em nossa alma tem como causa a tentativa de controlar aquilo que não pode ser controlado. Agarramos o vento; nos enfurecemos; temos medo e, por fim, nos desesperamos” (p. 80).

Descansa, ó alma! Porque tu foste chamada por teu Criador pelo teu próprio nome. Foste conclamada, ó alma, a esperar no Senhor. E chamada à esperança agora e eternamente! Trazer o Salmo 131 como tratamento ao nosso coração e ao coração do aconselhado é bênção sobremaneira e foi isso o que o autor fez . Eu quero memorizar o Salmo 131. Tornar suas palavras as minhas palavras e ministrá-las ao meu coração antes de aconselhar outros. Ajuda-me, Senhor!

O salmo 10 é surpreendente. O capítulo 5 do livro de Powlison aborda esse salmo muito bem, fazendo, inclusive, um roteiro de aplicação na vida do sofredor a partir desse salmo. Como continuar a amar sem amargar? Na área de aconselhamento, muitos dos livros que li, até agora, dão sempre a ênfase na nossa responsabilidade diante do mal inevitável que tenhamos sofrido. Agora, há também uma abordagem em que, as pessoas que nos ferem, elas também precisam ser nomeadas: elas são pessoas nocivas. Elas são soberbas, voluntariosas, impiedosas e predadoras (Sl 10: 2–11). Precisamos resolver isso com graça, a graça de Deus, em nossos corações. O Senhor consertará os males cometidos! A ajuda, a verdadeira ajuda, vem do Senhor.

Temos muitas razões por que nos preocuparmos, todavia, Jesus nos deu razões ainda mais poderosas para não sucumbirmos ao medo e à ansiedade. Nas páginas 116 e 117, o autor ainda nos passa seis recursos que devemos usar quando nos encontramos ansiosos e obcecados. Muito bom! Fim da primeira parte do livro.

Na segunda parte do livro, o autor tratará de casos reais, temas sobre os quais ele se debruçou. Mas o capítulo 07 tem algo, logo no início, que é muito importante para mim: perguntas! Vivemos num tempo de ativismos e resultados e não paramos para refletir. Engolimos e não mastigamos e sequer damos tempo à digestão. Tudo isso é sempre muito irritante para mim. Todavia, no início do capítulo, ele já nos inunda com várias perguntas, pois elas é que nos ajudarão a ajudar o outro. Precisamos pensar nelas. Precisamos entendê-las. São perguntas “raio-X” para vermos não só o visível, mas também o invisível. É claro que aqui, mais uma vez, vou lançar meu olhar missionário e lembrar que talvez — quem saberá precisamente? — 80% d população da terra não responde às perguntas diretamente, ao contrário do que nossa escola nos ensina a fazer: sempre precisamos estar atentos às circunstâncias e às histórias, causos e mitos. Só assim, nessas respostas culturais indiretas é que conseguiremos pinçar as respostas às perguntas “raio-X”. Só precisamos não nos esquecer disso.

“Nossos desejos são pecaminosos, porque são desordenados” — foi muito importante entender isso. Podemos ter maus desejos, mas até os bons desejos são pecaminosos, quando eles dominam a nós. O que você deseja? É uma pergunta que revela quem é o seu deus. A maneira como nossos desejos nos controlam e o modo como nos lançamos a eles para satisfazê-los, revelam nossas idolatrias. Podemos mudar? SIM. Não somos seres imutáveis e nem estamos condenados à escravidão eterna e ao fatalismo. Precisamos, então, entender que Deus é o que interpreta o nosso coração da maneira perfeita; e em Cristo encontramos a verdadeira satisfação; e no Espírito Santo, o poder regenerador e santificador para nossa mudança.

O amor de Deus não é incondicional. Ele pode ser contracondicional. Isso significa que “Deus não me aceita como eu sou — Ele me ama apesar de ser como eu sou”. Deus me ama o bastante para que eu dedique a minha vida toda a me tornar cada vez mais parecido com Cristo. Esta frase é uma verdadeira rebelião contra a cultura que nos cerca e estabelece uma quebra de paradigma. Poderíamos nos aprofundar mais nessa questão do “amor” pregado aí fora, mas deixarei para falar sobre o amor numa próxima postagem.

Graças a Deus, eu já havia entendido que o fato de uma pessoa ter tido um mau pai, isso não dificulta entender Deus como Pai, pois é o contrário o que deve ocorrer: Deus é o pai perfeito! Ninguém na terra é perfeito, nem professores, pais, amigos etc, todavia, Deus é tudo isso perfeitamente para nós. Ele é o modelo de como ser um pai e não o contrário. Deus jamais será um pai igual ao que tivemos, porque nossos pais é que deveriam aprender o que é a paternidade a partir de Deus.

O cristianismo é a terceira via. Nem propostas moralistas e nem propostas liberalizantes. O evangelho é capaz de oferecer o autoconhecimento verdadeiro e ir na fonte real de nossos problemas. O cristianismo tem a sólida base da Palavra de Deus, enquanto as propostas humanistas da psicologia só acabam cobrindo com maquiagem o coração doente do homem.

Esta nossa ambiguidade nos leva a ser bênção e maldição. Precisamos realmente entender o que a Bíblia nos diz para não cedermos ao que ocorre com Pedro que, num momento, diz coisas maravilhosas, para, logo em seguida, ser boca de Satanás. Precisamos ir ao coração. Ali, realmente, está o âmago do que deve ser tratado. Como conselheiros, não oferecemos propostas mais profundas que o pecado, pois é o pecado o que há de mais profundo e que deve ser confrontado: “a mudança envolve deixar os desejos idólatras e vir para Jesus que morreu por pecadores, que vive para fazer-nos amantes de Deus e do próximo, e que voltará em glória e alegria”. Na verdade, a ambiguidade também nos alerta para as soluções propostas, pois até mesmo bem intencionados conselheiros bíblicos podem, vez ou outra, por alguma razão, falharem numa leitura e ajuda.

Vivemos numa sociedade regida pelos sentimentos ou, pelo menos, pelo que ela expressa no uso da palavra “sentir”. Por trás do verbo “sentir”, ocultam-se experiências, emoções, crenças e desejos. Se queremos conhecer as pessoas, precisamos ouvi-las, ouvi-las em suas experiências e emoções. Como elas reagem, o que elas sentem diante do passado, presente ou futuro, tudo isso é essencial ao conselheiro. Do mesmo modo, precisamos aprender a conversar com elas. Orientá-las.

Definitivamente, temos chamado amor ao que não é amor. Temos rotulado de amor nossos pecados, cobiças e mais vis sentimentos e desejos e nada disso é amor! O capítulo mais sério, particularmente, é o que Powlison trata sobre as 5 linguagens do amor. Quantos de nós não já usamos e incentivamos estes livros? Chocado, pois, Powlison mostra que estamos investindo no pecado, pois não estamos curando relacionamentos, mas, sim, criando “cobradores de sentimentos”, esperando que o outro me satisfaça. Enfim, este é um capítulo muitíssimo sério e que me abriu os olhos para algo que jamais enxerguei antes: há pessoas que querem aprender a linguagem do outro para a manipulação e o controle.

Quero também cultivar isto: a certeza que a fé viva opera em amor inteligente e com propósito. Não é fácil. Verdade, não é fácil viver bem a própria vida e não é fácil pensar bem também. Enquanto lia este livro, o tempo todo passavam no meu coração milhares de pessoas que, por todos estes anos, trabalhei com elas. Eu consegui encaixá-las em várias partes do livro do Powlison e pensei o quanto este livro é importantíssimo para mim e para elas. Quando terminei a leitura de “Uma nova visão”, assim que fechei a última página, um amigo liga para mim e diz que um outro amigo dele, um cristão muito sincero, compartilhou que quer fazer psicologia. Ele estava ligando para mim para perguntar o que eu achava, porque ele não se sentia bem em ver seu amigo tão cristão se enveredando por uma disciplina que ele sabia ser tão humanista. Ele me perguntou se havia algum livro que ele pudesse oferecer ao amigo dele. Advinha minha resposta? “Uma nova visão”, de David Powlison.

site: https://revfabioribas.blogspot.com/
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Arthur Bernard 18/09/2022

Essencial ao conselheiro bíblico
David Powlison define muito bem o que é aconselhamento bíblico e o que é aconselhamento bom. O bíblico feito de forma correta é essencial e eficaz, mas o bom nem sempre tem a mesma eficácia. Por isso se faz tão importante a leitura desse livro, para entendermos que boa vontade apenas não é o necessário.
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Sacha 26/04/2012

Novas Lentes
David Powlison cumpriu seu objetivo. O autor faz um excelente trabalho apresentando o valor prático das Escrituras. Um livro que não abre mão de uma teologia sólida ao mesmo tempo que aponta claramente seu valor prático, com exemplos recheados de vida real.

Responsabilidades familiares, ansiedade, medo, amargura, etc. Nada escapa da maneira precisa com que David Powlison trabalha as verdades das Escrituras na prática.

Tenho apenas duas observações:

1) Com relação ao conteúdo. Não estou pronto para abraçar a visão do autor no que se refere à revelação progressiva. Logo no capítulo 1, Powlison aponta todas as promessas para Cristo. Amém! Porém, não faz uma distinção clara ou ao menos citação dos pontos de descontinuidade entre o AT e NT. Nenhum cristão genuíno irá questionar que o AT aponta para Cristo Jesus (Lc 24.44; Ef 1.10; etc). Mas não acredito que isso signifique a "espiritualização" de promessas feitas no AT debaixo da máxima "Cristo é melhor"! Sim, Ele é melhor! E sim, Deus fez promessas que aguardam cumprimento.
Obs.: Obviamente, o tópico é extenso... mas começo a navegar por esses mares centralizando tudo em Cristo e crendo que promessas feitas pelo Deus Fiel aguardam um cumprimento futuro.

2) A diagramação do livro não facilita a leitura. A disposição de alguns sub-títulos dificultam a "fluidez" do livro. Talvez seja para economizar papel, mas ainda acredito que a Editora Cultura Cristã poderia diagramar melhor os livros para facilitar a leitura.

São apenas duas observações que não comprometem minha opinião do livro: EXCELENTE!
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