Retipatia 24/10/2018
As perdas e os ganhos da vida...
A vida tem seu próprio condão, por vezes estamos em lugar desejando estar em outro, mas, ao chegar no famigerado outro, remoemos tudo aquilo que ficou para trás. O livro de Lya Luft tem título literal e fala exatamente sobre as perdas e ganhos que só quem chegou à maturidade sabe sopesar na balança.
Perdas & Ganhos foi meu primeiro contato com a obra de Lya Luft e, por mais que o livro possa ser do estilo autoajuda, que não é muito o meu estilo, foi uma leitura rápida, leve e que surpreendeu, do começo ao fim, como um acalento em um momento necessário, algo como uma conversa com a avó que lhe diz dos mistérios da vida, aqueles que ainda não descobrimos e que, na avidez de querer perseguir algo, acabamos nos esquecendo de considerar tudo o mais que está ao redor.
Isso tudo porque o que Lya faz, logo no começo do livro é um convite, para que o leitor se disponha a pensar e papear com ela. E, ela não perde o fio da meada na conversa, leva a gente de um pensamento a outro, de uma vivência à outra e, querendo ou não, fazendo, antes de mais nada, desanuviar a mente e refletir. Sobre tudo que foi um dia e tudo que está por vir.
O tema principal, aquele de sempre, que está estampado todo canto: ser feliz. E ela começa tecendo esse assunto falando da inconstância que somos, em como atribuímos de valor e forma tudo aquilo que está ao nosso redor. E em como essa nossa perspectiva é construída dia após dia, desde a nossa infância. Somos resultado de uma mistura genética, como ela destaca, somos uma mistura do que nossos pais foram um dia, mas também somos mais que isso, somos também a visão da sociedade a nosso respeito, o que ela chama de olhar onipresente do "o que eles vão pensar". E, nesse ponto, ela traz um ponto importante de cada um: a autoestima. Não como um ver-se melhor que os outros, mas algo próximo da citação que ela própria traz de Érico Veríssimo "Eu me amo mas não me admiro.". É algo como ter opiniões e, mais do que isso, ser capaz de sustentá-las quando necessário, que não sejam vazias e baseadas no que hoje chamaríamos de cultura do achismo.
Para que tudo isso seja construído, é necessária uma boa base, que ela vai apontar como sendo a família. Lembrando sempre que um ambiente familiar duro não é benéfico para as durezas da vida, é afeto que nos prepara para isso. É esse vínculo familiar que dá a autoestima-base suficiente para que cada um se permita amar e ser amado e que seja capaz de lutar nos momentos necessários.
Lya conta uma fábula. A morte aparece para um homem e lhe pede três razões para que o deixe viver. Três boas razões, que não incluam as pendências dos negócios, a garantia da subsistência ou estrutura familiar. Por que ainda valeria a pena deixá-lo viver? A autora conta que em outro livro, que encarava a Morte era uma mulher e lhe são impostas as mesmas restrições para apontar as razões. E, a questão aqui está bem mais centrada nas nossas próprias razões do que em resposta certa ou errada. Quais seriam nossas três boas razões para continuar a viver?
Cada passo em nossa vida é transformação, alguns mais dolorosos e penosos, outros mais leves e alegres, mas, fato é que "somos sempre melhores do que imaginamos ser". Para trabalhar essa linha de raciocínio, ela conta sobre uma pesquisa que fez com grupos de mulheres para debater a maturidade. Falaram sobre casamento, filhos, sexualidade, escolhas, carreira, família, amor. De tudo um pouco. E, dos maiores e mais comuns pesares, são as escolhas deixadas de lado as que mais se lamentam, mas a balança, quando medida, sempre pesa dos dois lados. É viver no mundo do o que se espera ao invés de o que se almeja. Porque, felicidade está em não desistir do que quer e buscar por aquilo apesar dos pesares da vida. E isso vale também para a vida a dois, para que o amor possa ser cultivado depois do furor da paixão.
Para tudo isso, cada um precisa ser honesto para consigo, porque "somos demais preciosos para nos desperdiçarmos buscando ser quem não somos, não podemos, nem queremos ser.". E, assim temos que ser amigos de nós mesmos, e não lamuriar pelo passar do tempo que está fora de controle. Sobre o tempo, este, a autora diz que não existe, não como um ser onipresente que irá determinar que agora, é só ladeira abaixo. A questão está em como encaramos as fases que passamos pela vida, como iremos reagir a cada uma delas. É bem mais sobre assumir a beleza e particularidades que cada fase nos permite, sem preocupar-se em ser aquilo que não o é. Comparar-se hoje, com quem foi a 10, 15 ou vinte anos atrás (ousaria dizer que mesmo há um ano atrás) dificilmente será justo com quem você é agora. Afinal, somos continuidade de nós mesmos.
O principal são as escolhas que faremos, se seremos grandes pessimistas, excessivamente otimistas ou sensatos para lidar com todas as adversidades da vida. Se vamos aceitar com inteligência a passagem do tempo, como algo natural a todo ser e usar tudo aquilo que foi percorrido como base para continuar a crescer, porque, sem dúvidas, não há tempo ou idade para se fazer o que bem entende, para seguir um sonho, casar-se novamente ou começar a estudar. O tempo é o nosso tempo e só estará acabado quando assim o tratarmos.
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