O Remorso de Baltazar Serapião

O Remorso de Baltazar Serapião Valter Hugo Mãe




Resenhas - O Remorso de Baltazar Serapião


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Ana Sá 21/03/2024

Valter Hugo Mãe não pegou leve comigo neste livro, então eu também não vou facilitar a vida dele na minha resenha não!
Você é daquelas pessoas que dizem "eu leria até a lista de supermercado do Valter Hugo Mãe"? Se sim, vem comigo que a gente precisa conversar!

Por duas vezes, nesses "encontros com autor", ouvi o Valter Hugo Mãe (VHM) comentar que, entre os leitores que se gabam de ter lido "todos" os seus livros, raros são aqueles que incluem "O remorso de Baltazar Serapião" nesta lista. Ou vão adiando a leitura ou a abandonam na metade. Bom, hoje eu diria "que sorte a dele", pois de tudo que já li do autor (e não foi pouco, dos romances li quase todos!), este título aqui é o último que eu recomendaria.

Vencedor do Prêmio Saramago em 2007, com direito a elogios de peso do próprio ganhador do Nobel, "O remorso..." narra a história dos "sargas", assim conhecidos devido à intensa afeição e proximidade estabelecidas pela família, mas sobretudo pelo patriarca, com uma vaca de mesmo nome. O animal serve muitas vezes de instrumento de animalização das personagens, principalmente das personagens femininas. Ambientada numa Idade Média ficcional e um pouco fantasiosa/fantástica, a narrativa retrata relações sociais de servidão marcadas pela verticalidade e opressão que separam os senhores da terra e a família de trabalhadores rurais.

A comparação-sobreposição mulher/vaca não é aleatória ou secundária na obra. A extrema violência e subordinação das figuras femininas são centrais no livro, sendo a linguagem tão brutal quanto o tema. Pensa num discurso ou numa cena de violência contra a mulher de embrulhar o estômago, então multiplica por dois, três, quatro, pois quando menos se espera, lá volta a porrada de novo, por vezes supreendentemente piorada ou... apenas repetitiva! Um romance reiteradamente misógino, sem explicação pra tanta redundância no quesito tiro, porrada, bomba e ofensas! E é por isso que não gostei do livro? Não!

Sou daquelas que acredita que a literatura pode tudo, inclusive retratar brilhantemente o grotesco, o repulsivo. Pode dar tudo errado nesse caminho, mas a literatura pode tentar tudo! Eu também acredito que uma obra literária não tem o dever/compromisso de ser didática, recatada e do lar. Às vezes a arte é apenas o que é, finita em si mesma. Mas tem um ponto do qual eu não abro mão: um texto precisa ser autossuficiente - com exceção óbvia daqueles que claramente pretendem deixar um fio solto para a própria leitora conduzir. E na minha desumilde opinião, é aqui que reside o problema de "O remorso...": não é uma obra aberta, mas tampouco ela se fecha, já que seu eixo liga nada a lugar nenhum!

O romance apresenta um núcleo familiar e social muito bem delimitado, com personagens bem apresentadas e definidas (tenho um porém sobre o protagonista, mas...), e dinâmicas dotadas de especificidade de contexto e (até certo ponto) de verossimilhança. É a típica narrativa que nos promete começo, meio e fim. O problema é justamente que, do começo ao fim, ou este retrato da violência sobrou ou ele simplesmente não se justificou - o final então, misericórdia, foi pavoroso! Entendo que a única saída possível seria um desfecho tão brutal quanto o restante do livro, mas considerei o final brutalmente... patético! No fim, tomei um monte de soco na cara e no estômago e estou até agora sem entender o porquê! Mais desnorteada do que eu, só o Bambam depois da luta com o Popó!

No discurso de premiação do livro, Saramago afirmou que "a época que se reconstitui [em "O remorso..."] é uma certa Idade Média que está ausente dos livros que dela falam e das ficções que sobre esta época se armaram. Nós, [...] os portugueses, gostamos [...] dessa espécie de Idade Média desinfectada, limpa". Quem sou eu na fila do pão literário pra contrariar este senhor, mas já contrariando: se é sedutor para nós, leitoras, observar a influência do estilo de Saramago na escrita de VHM neste romance, imagina para o próprio? (Aliás, em certa medida, ele assume no discurso ter gostado de reconhecer um pupilo ali...). De fato, não apenas na linguagem, mas também a própria composição de um ambiente rural lusitano ecoa qualquer coisa que já vimos nas linhas do vencedor do Nobel. Ok, concordo que é interessante nos depararmos com uma obra portuguesa que rompe com a romantização de uma Idade Média narrada pela nobreza, mas será que do outro lado, em seu oposto, o que resta é apenas uma total selvageria, pura e simplória?

É óbvio que enxergo pontos fortes no livro, e isso me entristece de vez, já que foram eles que me fizeram persistir até aquele final sem pé nem cabeça. O próprio incômodo e a respectiva repulsa que a escrita de VHM nos causa já é um mérito, pois não é fácil mexer com o leitor no nível que este livro consegue. Ninguém sai indiferente ao remorso do Serapião... Eu também diria que a construção das personagens e as relações estabelecidas entre elas têm seus pontos altos, pois também não é simples fundir ambiente-personagem ou personagem-personagem do jeito que o romance consegue fazer em alguns capítulos. Mas a questão pra mim é que faltou uma cola coesiva que harmonizasse tudo isso ao protagonismo da violência e da misoginia. Não convence, sabe?

Eu não me incomodo com livros custosos se o meu esforço é recompensado a qualquer nível (estético, ético, narrativo, temático, lúdico...). Aqui, infelizmente, fechei o livro com a sensação de ter lido a violência pela violência, sem identificar um projeto de texto que desse liga e fundamento a tudo que a leitora precisa heroicamente encarar. No meio da narrativa eu cheguei a ter grandes esperanças (sobretudo pelo encaminhamento inesperado/original que é dado à trajetória do irmão do protagonista, que começa a se aproximar da arte/pintura, eu adorei essa parte!), mas então veio aquele desfecho e destruiu tudo outra vez e de vez... Meu desconforto com a extrema violência ficou em segundo plano de tanto que a história em si foi ficando cada vez mais descabida... Para fazer uso da linguagem do romance, o final é de cair o c* da bunda! Foi o famoso: o começo estava ruim e o final foi igual ao começo!

Bom, se você é daquelas pessoas que dizem "eu leria até a lista de supermercado do Valter Hugo Mãe" e chegou até aqui, me conta:

Você leu "O Remorso…"? Sim? O que você achou dele se comparado com os outros livros do autor?

Ah, não leu? E pretende ler? Xii... Não diga depois que eu não avisei (ou, se for o caso, volta aqui pra me contrariar, eu vou adorar!).

Obs. 1: Meu favorito do VHM continua sendo "A máquina de fazer espanhóis" (2010)... O único romance que estou devendo agora é "As doenças do Brasil" (2021), o qual me recuso a ler pois sei que ele tem tudo pra dar ruim, a sinopse já é tão... blé! Este eu vou passar!

Obs. 2: Do mesmo prêmio Saramago, e com uma atmosfera um pouquinho parecida, continuo preferindo "Os Malaquias" (2010), da nossa maravilhosa Andréa del Fuego.
Flávia Menezes 21/03/2024minha estante
Amiga, que resenha foi essa? ?
Isso sim foi tiro, porrada e bomba mas no melhor sentido possível! Porque ler uma resenha tão honesta, detalhada e que vai no cerne da questão é um presente! Especialmente para alguém assim como eu, que também passei pelo sofrimento de ler esse livro. Sua resenha salvou a experiência toda!
Mas não é surpresa, porque tudo isso eu tive a honra de poder ouvir durante nossas trocas no momento da leitura.
Parabéns, amiga! Perfeição temos por aqui! ?


Vania.Cristina 21/03/2024minha estante
Muito bem colocado Ana, parabéns pela resenha. Críticas objetivas, muito bem colocadas. Do autor, só li Filho de Mil Homens e amei. Mas tenho receio de ler outras coisas dele porque ouço muitas críticas ruins. Máquina de Fazer Espanhóis também está no meu radar.


Ana Sá 22/03/2024minha estante
Flávia, foi bom demais ter essa troca de desabafos literários com você!! Também melhorou muito minha experiência de leitura! Obrigada ??


Ana Sá 22/03/2024minha estante
Obrigada, Vania! ?

Olha, eu só tive experiência boa com o VHM, este livro aqui foi fora da curva... Nos outros romances famosinhos dele pode ir sem medo, nenhum será custoso como esse, eu garanto!! haha

Vou adorar saber sua opinião sobre "A máquina...". Inclusive já está na hora de fazer essa releitura, lembro de ter amado, mas os pormenores aos poucos vão fugindo da memória! rs Mas do que lembro, lembro com saudade! :)


Paulo Sousa 24/03/2024minha estante
dele, só li ?o filho de mil homens? e aquele pequeno sobre a avó, e adorei! mas não sei se seria um autor para ler de forma recorrente?enfim?


Carolina.Gomes 26/03/2024minha estante
Boa, pq eu já pulo esse. Estou traumatizada depois do último.


Ana Sá 27/03/2024minha estante
Paulo, calhou de eu ler uma sequência muito interessante de livros dele... Daí a decepção foi inevitavelmente grande agora! rs


Ana Sá 27/03/2024minha estante
Carolina, fechei minha opinião sobre "As doenças..." com seus históricos também! Uma mão lava a outra!! haha


Jacy.Antunes 31/03/2024minha estante
Ana, você é uma ótima referência dos escritores portugueses e vou colocar a


Jacy.Antunes 31/03/2024minha estante
... a Maq de fazer Espanhóis na lista .


Ana Sá 31/03/2024minha estante
Jacy, vc é generosa! Eu é que estou super de olho nas suas leituras luso deste ano! Estou acompanhando com gosto!




Victor Ignacio 16/02/2024

Não poderia deixar de ler a primeira obra de VHM. Uma narrativa que mostra a animosidade do homem e a violência sobre a mulher dentro de uma mentalidade que se organizou na miséria e na subserviência com uma pitada (como sempre) de religiosidade quando se trata destes temas
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Leticia Borges 08/02/2024

Machismo em uma idade média imaginária
Ainda bem que sou formada na língua do twitter, então a falta de pontuação desse livro não chegou a impedir minha leitura ou compreensão.
A obra traz uma narrativa situada na idade média, marcada pela intensa exploração do trabalhador, um machismo absurdo que chega a ápices de violência e uma realidade muito ligada à magia, como se coloca esse período no imaginário comum.
Inovador do ponto de vista da forma, o livro resgata uma tradição portuguesa de obras que têm a idade média como pano de fundo, como faziam os românticos, mas desta vez mostrando os horrores desse período, que ainda se refletem no mundo atual.
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Flávia Menezes 28/01/2024

MULHERES QUE CORREM COM OS LOBOS... OU SERIA COM AS VACAS?
?O remorso de Baltazar Serapião? é o segundo romance publicado em 2006 do poeta, romancista, editor, artista plástico, apresentador de televisão e cantor angolano Valter Hugo Mãe, que nos apresenta uma trama complexa, carregada de temáticas polêmicas tais como o machismo, a misoginia e a zoofilia. Vencedor do Prêmio José Saramago em 2007, o próprio Saramago, após ler o romance, chegou a afirmar a magnitude da obra ao dizer: ?às vezes tive a impressão de assistir a um novo parto da língua portuguesa?.

A história aqui contada traz a família dos sargas, que assim são conhecidos em virtude da extrema afeição que o seu patriarca, afonso Serapião, tem pela sua vaca, denominada sarga, que segundo os boatos que correm por entre os habitantes da comunidade onde vivem, teria ?parido? os seus filhos.

A família, explorada e vivendo em extrema pobreza, serve na casa onde o senhor também se chama Afonso, a quem se refere como d. afonso, e toda essa proximidade promove uma relação especular entre as famílias.

Neste mundo limitado e ausente de sonhos, cuja sua contextualização histórica ocorre na Idade Média (muito embora seu recorte textual seja atemporal), baltazar, o filho mais velho, propõe casamento à moça mais bela do lugar, revelando um amor que transpira o seu instinto de posse, dando início a uma narrativa que será carregada pelos sentimentos de ódio, repulsa e inferiorização da figura feminina.

No olhar dos homens dessa história, assim como a vaca, uma mulher deve ser amestrada por seu marido, que tem por função máxima calar a sua voz, que é burra e repleta de perigos, impondo a ela a força do seu braço todas as vezes em que elas não correspondem ao mínimo anseio de seus maridos.

Cito a vaca, porém a verdade é que a vaca é tratada com mais respeito e cuidados, legando à mulher um lugar bem inferior a um animal irracional. De fato, esse é o lugar concedido aqui às mulheres, cuja função é unicamente atender às necessidades básicas dos homens, seja ela a da nutrição ou do sexo.

As cenas de violência contra a mulher nesta trama são fortes, porém revelam menos o terror por trás do ato, evidenciando bem mais os seus resultados. Percebo que o que se propõe aqui, não é falar propriamente das pulsões e motivações que levam um homem a agredir fisicamente (ou psicologicamente) uma mulher. Mas de mostrar que na força do braço, um homem é capaz de calar uma mulher, e ainda desfigurá-la, tirando dela toda a beleza e encantos naturais que possa ter.

A forma como a desumanização do sujeito feminino é trazido por Valter Hugo Mãe é dolorosa, e repleta de cenas tão brutais que não tem como não provocar e causar assombro à mente feminina. Por isso mesmo, esta não é uma leitura fácil, porque não existe total neutralidade na leitura. Ao contrário, a forma como lemos é imbuída de emoção, até mesmo porque esse jogo de palavras é constituído de significados, capazes de despertar o nosso lado emotivo.

O poeta alemão, Christian Friedrich Hebbel, certa vez disse que ?Numa obra de arte o intelecto faz perguntas, não as responde.? E aqui, o efeito que a literatura provoca na mente do leitor, é muito bem-sucedido nesta premissa, pois ele realmente nos desperta para um universo de questões das quais não teremos nenhuma resposta, ficando totalmente ao nosso critério elaborá-las.

Quando penso sobre isso, e me recordo de todo o caminho feito do início ao fim dessa leitura, me recordando das palavras de Saramago, uma vez que toda a estética da narrativa é pautada na oralidade, com a sua ausência de letras maiúsculas sendo compensada por uma grande gama de simbolismos, eu penso que o lado do artista plástico de Mãe é inerente ao seu papel como escritor.

O que quero dizer com isso é que a literatura também é arte, e sendo arte, ela não está longe da forma como as pinturas são insufladas de significados que nem sempre se traduzem por linhas claras.

Quando comparamos um quadro pintado pelo impressionista francês Oscar-Claude Monet que, mesmo com suas pinceladas rápidas e soltas, e contornos pouco nítidos e sombras mais luminosas, ainda assim consegue transpor para a sua obra uma paisagem ou figura humana compreensível e repleta de beleza, com um quadro do pintor cubista espanhol Pablo Ruiz Picasso, veremos neste último um rompimento com a estética e a representação verossímil dos objetos, nos fazendo perceber que a arte pode ser diferente porque não existe um único prisma de olhar e apenas uma forma de transpor para a linguagem escrita uma mesma questão.

Algo que me remete ?A besta humana" do escritor francês Émile Zola, que também aborda a agressividade masculina transportada para atos violentos (especialmente contra mulheres), ser como um quadro do Monet, onde através da sua linguagem escrita repleta de signos e significados, nos revela ao fundo as pulsões que movem a alma humana de uma forma que podemos compreender e sentir com um pouco mais de clareza o que leva um homem a agir de tal forma.

Já Mãe é como um Picasso, onde seus traços disformes, dotados de uma feiura capaz de nos causar aversão, apenas nos provoca, e ainda nos deixa ali, desamparados com nossas mentes repletas de indagações que gritam desesperadamente para que ele (autor) nos tire desse lugar de confusão, e nos forneça explicações que nos faça entender qual a mensagem que existe por trás de tamanha atrocidade.

Mas ele não o fará, e o sentimento que fica é de total abandono. E cabe a cada um de nós ressignificar cada acontecimento contido nesta história conforme a nossa necessidade, já que há aqueles para quem essa obra apenas ficará, sem qualquer intenção de ir além para compreender suas motivações.

Sou do time que aprecia mais as pinturas de Monet. Não porque tenho ânsia por respostas, mas porque tenho plena paixão por ver as pulsões que movem a complexidade da mente humana. E por isso eu quero agradecer à minha amiga Ana de Sá por compartilhar comigo sua visão e conhecimentos sobre o Valter Hugo Mãe, e pela paciência para ouvir meus áudios (podcasts), me ajudando a ver além dos ?Monets? para penetrar a alma labiríntica dos ?Picassos?.

?o amor é uma maldade dos homens, porque junta as mulheres aos homens numa direcção que só a eles compete. mas não somos o mal por isso, que em correspondência para nos prejudicar está a voz das mulheres. a maldade dos homens é igual à voz das mulheres. por isso o nosso pai se mirra de lhe faltar um vício ao qual se habituou. como se estivesse habituado a um prejuízo e gostasse dele e quisesse padecer dele por toda a vida. assim eu também, meu amigo, assim eu também, a toda a hora, só me dá ganas de estar com a minha ermesinda e fazer vida toda ser o seu marido e mais nada.?
Fabio.Nunes 28/01/2024minha estante
Verdadeiro tapa com luva de pelica kkk. Queria falar mal de um livro assim. Qnd eu crescer e for mais bonito, quem sabe.


Flávia Menezes 28/01/2024minha estante
Fábio, meu querido, foi o efeito do Mãe! ?
Mas muito gentil da sua parte dizer isso, até porque você é resenhista sem igual, que me faz sempre querer ler o que você leu. ???


Craotchky 28/01/2024minha estante
Não tenho nem competência de comentar seu texto. Achei excelente a citação de Saramago que você inseriu no primeiro parágrafo. Realmente é uma frase muito instigante. De outra parte, confesso que fiquei curioso com os mencionados aúdios/podcasts trocados com a Ana. Chegou mesmo a me passar pela cabeça que seria interessante algum dia semear a ideia de um grupo virtual composto por uma turminha de skoobers interessados(as)...


Flávia Menezes 28/01/2024minha estante
Ai, Filipe! Acho que esses podcasts foram bem nonclassified, porque a divagação foi longe nessa polêmica desse livro. ?? Mas concordo! Um grupinho de skoobers pra fazer troca de áudios/podcasts sobre livros seria muito interessante (e divertido!). ???


Fabio.Nunes 29/01/2024minha estante
Apoio total hein


Flávia Menezes 29/01/2024minha estante
Fábio, mas vai ter que ser igual a Ana: sem medo dos podcasts! ???


Craotchky 29/01/2024minha estante
Bem, okay então. Ter vocês dois, engajados como são, já é um belo início.


Flávia Menezes 29/01/2024minha estante
Perfeito!!! ?


Talys 29/01/2024minha estante
Pela forma poética que peguei um certo ranço da escrita do VHM e depois de ler Mia Couto! Mas ainda quero muito ler esse livro!


Flávia Menezes 29/01/2024minha estante
Talys, eu te entendo!! E esse livro é muito mais estética do que conteúdo. Até porque o conteúdo é tão repetitivo, que a vontade de abandonar na metade é grande. Mas me diz? você não gostou de Mia Couto? Ainda não li nada, mas já tinha separado alguns para conhecer em breve.


Talys 29/01/2024minha estante
Amei Mia Couto, exatamente por fazer uma comparação entre ambos, vejo que Mia consegue aprimorar a linguagem poética de uma forma mais coesa, caprichada, com mais requinte e elegancia, sem tanras firulas... mas gosto muito da figura do VHM.


Flávia Menezes 30/01/2024minha estante
Talys, você me deixou ainda mais ansiosa pra ler Mia Couto! Estou doida pra conhecer essa escrita e que bom saber que é maravilhosa!


Ana Sá 30/01/2024minha estante
Flávia, que lindeza de resenha!! Fiquei lisonjeada de ser mencionada nela, mas confesso que pensei: "oxe, eu não tenho nada a ver com isso, essa leitura primorosa é 100% de sua responsabilidade!" rs. Que paralelos bons vc fez!

Foi muito boa a nossa troca, como sempre!! ? Este livro nos exige demais, fica mais fácil se seguimos juntas! Estou quase terminando e vou dar meu tapa sem a luva de pelica mesmo, porque tô descrente do rumo que as coisas estão tomando! hahaha Mas muuito feliz do empurrãozinho que vc me deu pra não desistir, tornando o livro mais interessante! :)

Parabéns de novo por esta resenha em forma de arte!


Ana Sá 30/01/2024minha estante
Talys, eu gostei de muitos livros do VHM, mas este, em especial, me fez ter vontade de relê-los e ver se não deixei fio solto viu... Que coisa estranha este romance!haha


Flávia Menezes 30/01/2024minha estante
Ana amiga, mas é claro que você tem a ver sim! Quanta coisa boa você me fez pensar!!
Obrigada minha amiga pela companhia e toda conversa boa que tivemos! Quantos áudios cheios de divagações que nunca me esquecerei! Foi bom demais!! ?
E muito obrigada pelas palavras! Vindo de você amiga, eu fico imensamente lisonjeada!! ??


Talys 30/01/2024minha estante
Tenho aquela coleção do VHM da cosac, li A desumanização, que eu amo e o filho de mil homens que eu gostei, depois li homens imprudentimente poéticos e não gostei. Mas vou voltar a ler outras coisas dele! Este em especial está no meu radar a um bom tempo! ?




Bia 25/12/2023

Triste ter que dizer isso de um livro do vhm mas não gostei nem um pouco desse livro
o modo como retrata as mulheres foi um soco no estômago. mesmo que seja uma crítica, não foi nada agradável de ler
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Karina.Rocha 13/10/2023

Duro e aspero
Duro de ler. Aspero mesmo.
Desde a linguagem até o tema.

"meu pai fugido, para se esconder de dores tão grandes que não nos pudesse mostrar. (...) fui a gritar a casa do teodolindo, que minha mãe morrerá, nunca mais tão grande dor se repetiria."
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eduarda 07/10/2023

O poder que é exercido sobre o outro
O livro retrata sobretudo, as relações de poder que permeiam uma família de escravos durante a idade média. A história é narrada pelo filho mais velho, que logo se casa com ermesinda, que para mim, seria uma das personagens mais intrigantes da trama, se não fosse submetida a uma hierarquia. Nesse caso, Sarga, a vaca, e Gertrudes, a mulher queimada, roubam a cena. Sarga é praticamente um plano de fundo, ao mesmo tempo que é essencial pra história, percebi ela como uma centralizadora da afetividade da família, e uma figura que passa por uma humanização, principalmente quando, hierarquicamente, é posta superiormente às mulheres da família. E a mulher queimada, trouxe uma ideia de sobrenatural que combinou muito com o livro, uma figura representativa do inferno e dos males aos quais os personagens são submetidos. Em alguns momentos, pensei que Gertrudes poderia também representar o próprio remorso em relação ao caso da morte da mãe da família, algo que assombra após o mal que é feito. O livro é bom, com uma narrativa fluída, apesar de não achar tão envolvente quanto outras obras do autor. Acredito que algo que tenha complicado um pouco a minha leitura, é o autor não aderir às formas convencionais de escrita, utilizando sinais de pontuação. O livro possui alguns desenhos maravilhosos que retratam fragmentos da história.
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Devoradora de livros 03/10/2023

Esse livro foi punk, bem escrito, poético, mas a história... Difícil acreditar que exista alguém que cometa tanta violência contra as mulheres, mas não dá para se duvidar de nada...
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Ana 07/06/2023

Misógino
Achei a leitura difícil, arrastei por meses. Talvez pelo tema indigesto na forma de tratar as mulheres, utilizando de grande violência física e mental- ?as mulheres só são belas porque têm parecenças com os homens?, mas também pelo jeito da escrita. Ainda sim, inegavelmente, Valter Hugo consegue transformar tudo em poesia, não à toa o livro figura como um dos muitos premiadíssimo do autor.
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karine.viana.3762 16/02/2023

Vou querer reler com a cabeça mais madura de ideias.
-A escrita necessita de uma imersão. Não espere algo para ler corriqueiramente. Não utiliza letras maiúsculas, parágrafos longos, mistura de tipos de discursos (direto, indireto, indireto livre).
-O enredo é bem cheio de violências, fala sobretudo sobre a violência contra a mulher. Prepare o estômago. Precisei fazer pausas para sentir a raiva das injustiças.
-Penso que deveria dar esse livro aos homens, e assim que eles ficassem horrorizados dizer "você não é tão diferente".
-Livro necessário mas que não vem com moralidade escrachada e bonitinha, ela deixa que a monstruosidade se mostre dentro da gente também, quase como uma lanterna que ilumina as partes sujas e aí você é que tem que lidar com isso, seja bem ou mal.
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O resenheiro 27/01/2023

Uma prosa poética da mais alta qualidade!
Com seu jeito único, Valter Hugo Mãe conta mais uma história recheada de realismo mágico e realidade dura e bruta de pessoas que por pouco não se assemelham a animais em sua forma de viver.

Baltazar casa-se com Ermesinda, mas é obrigado a dividi-la com Dom Afonso, sem nunca ter certeza de qual é a relação entre os dois, uma amizade de pai ou o domínio do patrão sobre sua amada. Cego de fúria e raiva, Baltazar mutila a esposa, entortando um dos pés e deixando um dos braços sem muita função. Isso é apenas o começo dessa história trágica que beira a bestialidade.

A familia dos sarga é como são conhecidos, ele, Baltazar, seu irmão Aldegundes e sua irmã Brunilde, filhos de pai e suposta vaca, a sarga, pois da mulher de seu pai ninguém acredita que possam ter nascido. Uma fantasia que beira a realidade, com direito a feitiço de bruxa e genialidade do irmão Aldegundes, que se revela um promissor pintor de céus e de retratos magníficos.

Temos também a visita de el-rei aos habitantes desta vila rural, se é que posso chamá-la desta forma. Um evento e tanto para esse pedaço de fim de mundo. E temos o feitiço que une Baltazar a seu irmão e ao recente amigo Dagoberto, que por uma infelicidade não podem se desgrudar nunca mais, pois quando se afastam um do outro, tudo vai ficando mais quente ao seu redor, um verdadeiro inferno na terra, minguando e matando aos poucos tudo aquilo que os rodeia.

Com uma escrita impecável, vamos destrinchindo todos os artifícios usados pelo autor na descrição de personagens e dramas, gente que sofre por não saber lidar com seus sentimentos, talvez por serem humildes e ignorantes, sem instrução e dominados pelo medo do desconhecido. Uma leitura que exige atenção a cada palavra, a cada frase, mas com garantia de recompensa ao final da leitura!
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André Vedder 01/01/2023

Sem remorsos de ler VHM
Desde que me encantei com "O Filho de Mil Homens", VHM tem sido um dos escritores mais apreciados por mim e a cada obra que leio, aumenta minha admiração pelo autor. Pois além da sua originalidade, ele consegue mesclar temas difíceis e delicados com uma escrita lírica e bonita, mas sem floreios desnecessários. E o maior exemplo está justamente aqui em "O Remorso de Baltazar Serapião", onde com uma narrativa pesadíssima que se passa num mundo recheado de misoginia, VHM brilha com sua escrita ímpar.

"ela haveria de sentir por mim amor, como às mulheres era competido, e viveria nessa ilusão, enganada na cabeça para me garantir a propriedade do corpo."

".e lho disse assim, depender de mim será só digna sua pessoa, posta sobre meus braços como anjo que o céu me empresta, e deus terá sobre nós um gosto de ver e ouvir que inventará beleza a partir de nós para retribuir aos outros."
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Val 20/12/2022

O Remorso de quem não ler. Assim mesmo.
Obras de autores lusófonos devem ser lidas no original para completo desfrute de sua essência. São os casos, por exemplo, de Mia Couto, João Cabral de Melo Neto, José Saramago, João Guimarães Rosa, Fernando Pessoa, Raduan Nassar, António Lobo Antunes e Graciliano Ramos. Há que se saborear com deleite toda a grandeza de seu estilo, sua linguagem, sua sintaxe e semântica, sua sobriedade e ironia, entre outras filigranas imperdíveis e impossíveis de não se refestelar de prazer literário.
Não foge a essa premissa o esplendoroso O Remorso de Baltazar Serapião, do escritor, editor, artista plástico, apresentador de televisão e cantor angolano-português Valter Hugo Mãe. Indispensável é a leitura da introdução de José Saramago a este livro vencedor do prêmio que leva seu nome, em 2007. Nela, nosso único Nobel lusófono define: “Este livro é uma revolução. Este remorso tem de ser lido como algo que traz muito de novo e fertilizará a Literatura. É impossível que não influa no que se escrever daqui para diante.”
Passa-se a história numa aldeia portuguesa na Idade Média, quando uma mulher esposa é tão valiosa quanto uma vaca doméstica. O narrador é apenas um adolescente com a testosterona em explosão trazendo todo o contexto macho/fêmea da época inserido num ambiente familiar e social do lugarejo onde habita.
E num clima que entremeia o fantástico com realidades que chegam a ser cruéis, predomina a desconfiança persistente da traição de uma esposa, não tornada factual pelo insano 🤬 #$%!& . Então, quando a obra ameaça ficar no marasmo, o rei, uma mulher queimada e uma maldição entram em cena e o romance sai da aldeia, toma novos rumos e a ela retorna. Aqui, Mãe rasga a realidade para criar beirando a desumanidade, onde, ironicamente, prevalece o amor do protagonista.
Uma obra para ser lida com disposição e apetite literários, sem se esperar descrições simples, mesmices românticas e palavreado rotineiro. É, em seu âmago, uma obra de arte de um realismo acentuado e enriquecido pelo fantástico. A violência crua, presença que permeia a obra, dobra-se de quando em quando ao lirismo nato do autor, enriquecendo sobremaneira a leitura.
É, sem dúvida, um texto que exige do leitor algum discernimento do contexto regional e do português lusitano, posto que todas as obras de Valter Hugo Mãe aqui são assim publicadas por exigência do autor. O que é ótimo, pois se traduzido para o português brasileiro perderia totalmente sua essência e seu esplendor.
Não perca esta revolução. Nesta leitura apreende-se a força e a beleza de um descobrimento literário; de um criador artístico sublime revelando uma língua multiforme, multicolorida. E, definitivamente, um enredo poderosamente simples o suficiente para não ser superado pela força técnica e de expressão da própria obra.

Valdemir Martins
18.12.2022


site: https://contracapaladob.blogspot.com/
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Claudio 19/12/2022

Excelente! Imperdível para fãs de vhm
O livro que pôs vhm em evidência com toda razão. Ele apresenta sua escrita sofisticada, com uma história que nos transporta a tempos remotos com a maestria do gênio que ele é.
A brutalidade e crueza dos personagens e o enredo fantástico fazem deste um livro imperdível!
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