Lusia.Nicolino 22/11/2020
Quais são as emoções que nos compõem em camadas?
O remorso de Baltazar Serapião – Mãe, Valter Hugo
Biblioteca Azul
Saramago, quando esse título ganhou o Prêmio Literário José Saramago, em 2007,
o chamou de tsunami na literatura portuguesa. Quem há de discordar de Saramago? Só podemos complementar que é um tsunami não só na literatura portuguesa.
A escrita poderosa, visceral de Mãe, nos arrebata e nos faz sofrer os eventos. É para rir, é para chorar, é para questionar: mas como isso é possível?
Como Baltazar foi capaz de fazer isso com seu grande amor? Que amor? Primogênito da família que teve o sobrenome suplantado pelo nome da vaca, os Sargas são pobres, não tem esperança no futuro, moram numa casa miserável, distante o suficiente da casa grande para não atrapalhar a paisagem, mas possível de chegar rápido para servir. A narrativa não poupa a violência, a submissão e o desprezo que as mulheres sofrem e, mesmo assim, há poesia e leveza na escrita de Mãe. Situado em um recorte da Idade Média, porém como um tempo presente ou utópico, a saga da família passa pelo animalesco - à medida em que no vilarejo há a crença de que Baltazar e Aldegundes são filhos da vaca Sarga.
Quais são as emoções que nos compõem em camadas? Quais atingimos delicadamente e em quais fazemos apenas buracos para descobrir subterfúgios ou rotas de fuga?
Ah, e não espere que a escrita siga todas as regras, apenas embarque nessa leitura, que pertence à safra dos trabalhos escritos em minúscula. Desfrute ou descubra Valter.
Quote: “quando chovia noite inteira era o pior. O aldegundes, fraco, um repolho de gente quase a querer ser homem, era descarnado e enfezado de altura e largura.”
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