spoiler visualizarTaci 09/02/2015
Alguns dos meus excertos preferidos
(sobre os horrores ocorridos em Treblinka) : " Era e é inconcebível que as pessoas que "não sabiam" dos campos possam ser inteiramente humanas (...). Hoje pela manhã levaram-me para dar um passeio de carro por Waltham. Parece uma cidade agradável. Não vi nenhum horror, nenhum laboratório de testes de substâncias químicas, nenhuma fazenda industrial, nenhum matadouro. Porém tenho certeza que essas coisas existem aqui. Devem existir. Elas simplesmente não se mostram. Estão à nossa volta neste momento, só que, em certo sentido, "não sabemos" que estão ali.
(...) (justificar necessidade de uso aos animais) é uma consolação tão pequena quanto, perdoem o mau gosto do que vou dizer, pedir aos mortos de Treblinka que desculpassem seus assassinos porque a sua gordura era necessária para fazer sabão e seus cabelos para estofar colchões.p.26 e 27
(...) O horror específico dos campos, o horror que nos convence de que aquilo que aconteceu ali foi um crime contra a humanidade, não reside no fato de que a despeito de os matadores partilharem com suas vítimas a condição de humanos, eles a terem tratado como piolhos. Isso é abstrato demais. O horror está no fato de os matadores terem se recusado a se imaginar no lugar de suas vítimas, assim como todo mundo (...) Em outras palavras, fecharam seus corações. O coração é um sítio de uma faculdade, a simpatia, que, às vezes, nos permite partilhar o ser do outro (...) há pessoas que não têm essa capacidade (quando a falta é extrema, chamamos essas pessoas de psicopatas) , e há pessoas que têm essa capacidade, mas escolhe não exercê-la.Volto uma última vez aos locais de morte que estão a nossa volta, aos locais de abate para os quais, em um imenso esforço comum, fechamos nossos corações. Pág. 42 e 43
Usando a resposta de Plutarco:
"Você me pergunta por que eu me recuso a comer carne. Eu, de minha parte, fico assombrada de você ser capaz de colocar na boca o corpo de um animal morto, assombrada de você não achar horrendo mascar a carne mutilada e engolir os sucos de feridas mortais" Pág. 47
"Talvez seja essa a origem dos deuses. Talvez a gente tenha inventado os deuses para podermos pôr a culpa neles. Eles nos deram permissão para comer carne. Eles nos deram permissão para brincar com as coisas impuras. Não é nossa culpa, é deles. Somos apenas seus filhos"Pág 50
"Eu responderia que os escritores nos ensinam mais do que sabem. Pág 63
"É como se eu fosse visitar amigos, fizesse algum comentário gentil sobre um abajur da sala e eles respondessem: 'Bonito, não é? Feito de pele judaico-polonesa, é o que há de melhor, pele de jovens virgens judaico-polonesas'. Aí eu vou ao banheiros e a embalagem do sabonete diz assim: 'Treblinka = 100%estearato humano'. Será que estou sonhando, pergunto a mim mesma? Que casa é esta? Pág. 83
No texto de Barbara Smuts:
A própria palavra 'pet' (bicho de estimação em inglês) conota um ser inferior à sua contraparte selvagem, um ser que é neotênico, domesticado, dependente. Até mesmo os mais ardorosos amantes de animais domésticos operam com um quadro muito limitado de prerrogativas daquilo que seus animais são capazes de fazer, e do tipo de relação possível de se ter com eles. Pág. 138
Embora ela (Safi, a cachorra) dependa de mim para prover certas necessidades, como comida e água, essa dependência é contingente, não inerente; se eu estivesse no mundo dos cachorros selvagens, dependeria dela para obter comida, proteção e muito mais. Ela não é minha filha; não é minha serva. Ela não é nem mesmo minha acompanhante, no sentido de existir para me fazer companhia. Eu desejo a ela o que eu desejo a todos os meus amigos: máxima liberdade de expressão, máximo bem-estar. Pág 143