Peixe dourado

Peixe dourado J.M.G Le Clézio




Resenhas - Peixe Dourado


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Renata.Borges 18/04/2022

Vitalidade e uma linguagem ímpares.
Trama: uma menina da África do Norte, Laila, raptada aos 6 anos e vendida. Na obra, há a sequência de aventuras e desventuras dela. Sua vida em casa de uma senhora, num prostíbulo, sua ida clandestina para a França, o cotidiano em Paris, o sul da França, os EUA e o retorno às origens onde sua vida pode recomeçar, em uma sequência de fatos e pessoas ao longo dos anos, escrito em uma sequência lógica com uma fluidez que só grandes autores conseguem.

Para Le Clézio, Nobel de Literatura em 2008, na literatura “o que conta é ser natural, escrever o mais perto possível da respiração”, e ele consegue uma vitalidade e uma linguagem ímpares.

Foi o meu primeiro Le Clézio. Gostei imensamente! Realmente recomendo!
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Higor 30/06/2018

Sobre uma história que, mesmo com furos, brilha
Poucos autores conseguem arrancar de seus leitores as sensações mais sublimes durante a leitura, indo além dos convencionais sentimentos que toda e qualquer leitura, por mais rasa que seja, consegue arrancar. De maneira impressionante, J. M. G. Le Clézio, Nobel de Literatura de 2008, entra para tal seleto grupo.

‘Peixe dourado’ aborda um tema aparentemente batido, usado a exaustão tanto em livros clássicos, eruditos, como os de entretenimento: o tráfico humano. A vítima, dessa vez, é Laila, menina raptada no Saara ocidental e vendida no Marrocos, espancada a ponto de perder parcialmente a audição. Amando Lalla Asma, que a comprou, e sendo reciprocamente sendo amada, Laila passa dias felizes com a ‘avó’, como chama carinhosamente. Como é de se esperar, reviravoltas intensas acontecem na vida já nada fácil da garota, que se vê obrigada a se lançar a própria sorte no mundo e buscar sua própria liberdade.

É no meio de um plot nada original que o autor se destaca, fazendo com que o leitor contemple sua obra, primeiro com curiosidade duvidosa, depois com fascinação. O ditado, conhecido de leitores, que ‘o autor faz com que bebamos de sua fonte, que alimentemos a alma’ se faz presente neste livro, pois eu virava cada página extasiado, apaixonado pelo jeito com que tudo era narrado. Um sofrimento assolador e constante, diário, era desferido contra a jovem Laila, mas a delicadeza de Le Clézio se sobressaia, fazia-nos esperar por um final reconfortante, nem que, para isso, nós, meros leitores, entrássemos nas páginas e carregássemos o papel de anjo da guarda da jovem sofredora.

Procurando na mente por outros leitores que despertaram em mim tanto fascínio e incômodo durante a leitura, consigo realmente destacar poucos autores: Svetlana Aleksievitch, com sua realidade bruta; William Faulkner, com sua ambientação sem rodeios; apenas alguns exemplos, para não criar polêmicas maiores... E entre eles, Le Clézio, um autor franco-mauriciano, publicado e lido de maneira contida aqui no Brasil, mas laureado com o prêmio máximo da literatura.

No entanto, apesar de tamanho êxtase com a escrita do autor, é importante citar os pontos negativos do livro, que fizeram com que o mesmo recebesse apenas três estrelas, quando tinha tudo para receber bem mais. O livro tem muitos furos, alguns inverossímeis, que chegam a incomodar, mesmo em um texto tão belamente escrito. Em determinado momento, por exemplo, a jovem Laila perde totalmente a audição, de maneira dramática e até então irreversível, compondo uma das cenas mais lindas do livro, para, páginas depois, voltar a escutar perfeitamente, como se nada tivesse acontecido; fora as idas e vindas da mesma, por vários países, fácil demais para uma ex-escrava negra procurada pela policia e sem documentação alguma.

São fatores que não douram a pílula, mas questionam a capacidade de um autor extremamente talentoso em escrever coisas tão lindas, de fazer enredos mais redondos, ou com furos menos perceptíveis. Erro bobo para alguém tão grandioso.

Apesar de tudo, o que se tem é um autor excelente com uma história rica e sensível, e ao mesmo tempo dura e pesada, de personagens fortes, que querem viver, que gritam para nos contar suas histórias, sejam eles protagonistas ou personagens secundários. Uma bela história para ser a porta de entrada para conhecer o autor.

Este livro faz parte do 'Projeto Lendo Nobel'. Mais em:

site: leiturasedesafios.blogspot.com
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Aguinaldo 09/02/2011

peixe dourado
"Peixe dourado" é um bom romance de J.M.G. Le Clézio, o ganhador do prêmio Nobel deste ano. Duas idéias estão na gênese desta história. Uma é explícita, está na epígrafe do livro. Trata-se de um provérbio mexicano onde se aconselha um peixinho dourado a cuidar-se bem, pois são demais as armadilhas deste mundo. A segunda idéia eu associo ao "O Africano", livro dele que li e resenhei abaixo, onde ele conta a história de seu pai e que descreve como para algumas tribos africanas o momento realmente importante da vida é o da concepção e não o do nascimento, pois no lugar e na hora da concepção algo mágico acontece entre a natureza e o novo ser que é gerado. Quando você volta ao lugar em que foi gerado há um recomunhão entre os elementos. Assim são os hábitos, tradições dos povos e nações que mal conhecemos, luminosos, sempre surpreendentes. A história de "Peixe dourado" segue então a partir destas duas idéias. Tudo é muito rápido no texto de Le Clézio, tudo muito cruel, mas sem choramingas, sem explicações reducionistas e bestas, como deve sempre ser em um livro que fale da vida. Uma menina de origem árabe chamada Laila (um nome que pode significar "bela como a noite") é sequestrada em algum lugar do Saara ocidental africano e se descobre escrava de uma senhora marroquina de origem judaica. A partir desta aparição em um lugar novo, desaparecido seu passado, sua vida segue em ritmo sempre frenético: vive com a senhora até a sua morte; é acolhida por outras moças abandonadas; faz amigos, parte para Europa, atravessando a Espanha para chegar a França; passa por experiências, aprendizados, agressões, encantamentos, sofrimentos, lutas, como qualquer emigrante que nem identidade tem (os papéis sempre podem ser forjados, mas uma identidade, uma história de vida dificilmente pode ser emulada); aprende música; emigra como que por acaso para os Estados Unidos; se apaixona, adoece, volta a Europa e depois para a África, para a região onde provavelmente vivia antes de ser sequestrada. Os detalhes destas peripécias são muito bem contados. O livro trata de assuntos duros, de um mundo xenofobista, onde a inclusão é sempre uma miragem, a marginalidade e o preconceito obsessivamente presentes, mas o livro se deixa ler com vagar, como se tratasse mesmo de acompanhar um pequeno peixe que nada em um mar gigantesco. É de fato muito bem escrito.
"Peixe dourado", J.M.G. Le Clézio, tradução de Maria Helena Rodrigues de Souza, editora Companhia das Letras (1a. edição) 2001, brochura 14x21, 216 págs. ISBN: 978-85-359-0150-4
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Johnny 12/05/2012

Uma pequena saga dourada
Nascido na França em 1940, Le Clézio viveu no Panamá e nos EUA, retornando a Nice, sua cidade natal, em 1996. Foi eleito o maior escritor vivo de seu país em 1994 e ganhou vários prêmios importantes, inclusive o Nobel de Literatura (2008).
Escrito de modo linear, em primeira pessoa, "Peixe Dourado" narra a trajetória de Laila, menina raptada no Saara ocidental e vendida no Marrocos a Lalla Asma, uma judia-espanhola que se torna sua patroa, avó, mestra e protetora. Surda de um ouvido por causa de um atropelamento, sem saber sequer seu nome de batismo, ela passa os dias trabalhando numa casa situada no bairro judeu, onde varre o pátio e lava a roupa, recebe carinho e os rudimentos de sua educação, porém sofre com as perseguições que lhe são impostas por Zohra e Abel, a nora e o filho de Lalla Asma. Oito anos mais tarde, após a morte da velha senhora, Laila começa a vencer os medos que a acompanham desde a infância: foge e atira-se ao mundo, em busca de sua própria identidade.
Acolhida numa estalagem (funduq), conhece madame Jamila, parteira e cafetina que lhe oferece abrigo e proteção. As outras "princesas" recebem-na como a irmãzinha mais nova, a boneca do funduq. Nesse ambiente, Laila experimenta plena liberdade, aprende a roubar, perde por completo a noção de limite e autoridade. Vai parar num juizado de menores, que a encaminha para a temível guarda de Zohra e Abel. Passa a ser tratada com escrava, apanha e sofre humilhações.
Conhece, então, o Sr. Delahaye, um francês convidado da casa, que por ela se afeiçoa. Porém, como se cumprisse um desígnio em sua vida, todas as pessoas que dela se aproximam acabam por oprimi-la de alguma forma, estendem redes como tentáculos, procuram se aproveitar de sua beleza exótica e de sua fragilidade. Laila foge outra vez.
Assim será a sua peregrinação pela vida e pelo mundo, uma sucessão de partidas que vão pouco a pouco erigindo sua personalidade, histórias de aprendizado e libertação, de abuso e sofrimento. Viaja para a França, conhece a marginalidade e o preconceito com que são tratatos os imigrantes na Europa, vive num porão, trabalha como doméstica, chega a revolver os monturos de um lixão, estabelece amizades com outros excluídos, descobre o sexo e, ainda que vagamente, o amor.
Em suas andanças, chega aos Estados Unidos, onde sobrevive recolhendo as migalhas do consumismo desenfreado norte-americano. Consegue um número da seguridade social e, após se recuperar de uma doença, é salva pela música, que se manifesta em seu espírito através da fusão de experiências sonoras que acumulou desde pequena. É o fim de todos os seus medos. Os aproveitadores que lhe estendem redes não a atemorizam mais.
A França, revisitada, é apenas o caminho de passagem no regresso à África de suas origens, terra onde a luz do deserto é branca e o vento queima a pele de seus ancestrais.
"Peixe Dourado" é uma sinuosa jornada, escrita com delicadeza e sensibilidade, com uma dureza desprovida de qualquer pieguice, capaz de enternecer sem embriagar. Este é um belo romance, sem sombra de dúvida, literatura para quem não vive sem.
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Leonardo 23/09/2013

Uma jovem em busca de um lugar no mundo. Uma história imperdível.
Não são poucas as vezes em que lamento tão pouco tempo para ler tantos autores bons. Você nunca vai poder dizer: já li muito. Sempre aparecerá um espertinho – ou mesmo um desavisado – que citará um clássico indispensável, e você terá que admitir que não leu e ouvirá a inevitável pergunta: Como você viveu até hoje sem ter lido XXXXX?
Eu posso citar inúmeras lacunas na minha vida de leitor, e sei que muitos diriam que algumas delas não seriam simples tijolos ausentes numa parede, mas pedras angulares na formação literária de qualquer sujeito que se julgue amante da literatura. Querem exemplos? Nunca li A Odisseia nem A Ilíada. Nunca li Cem anos de solidão. Nunca li Paulo Coelho. Oops! Isso não é lacuna, isto é mérito. Agora, finalmente, a confissão: Nunca li Shakespeare. Apesar de ter as obras completas do bardo num único volume de capa dura, lindo, em inglês, ainda não coloquei à prova se a verdadeira adoração que Harold Bloom tem em relação àquele que julga “criador do gênero humano” é devida.
Por que tanta divagação para falar do segundo livro que li do escritor franco-mauriciano ganhador do Nobel de Literatura em 2008?
Quem leu a resenha que fiz de A quarentena (aqui), deve lembrar que eu comentei que comprei o livro por acaso, num sebo, e que não tinha a menor intenção de ler tão cedo. Li, gostei demais, e cá estou com mais um livro dele. Eu poderia passar toda a minha vida e não conhecer Le Clézio, como certamente vou passar a vida sem ter lido muitos, muitos autores geniais. Isso dá uma certa angústia, ao mesmo tempo em que me faz querer ser ainda mais criterioso ao escolher que livros ler.
Agora, finalmente, ao livro.
A premissa de Peixe Dourado me conquistou por antecipação. Conta a história de Laila, uma jovem raptada de sua tribo, na África do Norte, quando ainda tinha seis anos, e vendida a Lalla Asma, uma senhora que era ao mesmo tempo sua dona e avó. O nome do livro, Peixe Dourado, se refere ao um provérbio mexicano, que se refere a um pequeno peixe dourado (óbvio) perdido na imensidão do oceano, tendo que lidar com redes, armadilhas, tubarões...
Quando li a contracapa do livro, fiquei atraído imediatamente. Quantos livros eu já havia lido cuja protagonista era uma jovem africana negra ex-escrava? Nenhum, tenho certeza.
O romance é bastante movimentado, com momentos passados no Marrocos, na França, nos Estados Unidos. Acompanha Laila, uma jovem nômade em busca de um lar, de suas origens. Ela encontra várias oportunidades de se estabelecer, mas está sempre inquieta, insatisfeita. Suas raízes falam mais forte, e seu sonho é descobrir de onde ela veio.
Acompanhamos Laila enquanto criança, no Marrocos, até a morte de sua dona/avó. Depois de fazer algumas amizades suspeitas, ela decide ir embora para a Europa. São muitas as aventuras que Laila vive por lá. Conhece outros imigrantes africanos, professores, artistas, aventureiros como ela.
Não é preciso pensar muito para perceber que os dois livros de Le Clézio que li têm muito em comum, especialmente a temática nomadismo/sedentarismo. Além disso, são personagens de culturas diferentes – se em A Quarentena misturavam-se indianos, crioulos, mauricianos e franceses, em Peixe Dourado há Lalla Asma, judia, há africanos de diversos países, franceses, americanos.
Algo que eu preciso destacar em relação aos dois livros, com destaque para esta história de Laila, é a generosidade do autor. Le Clézio é talentosíssimo, não dá para discutir isso. Mas ele praticamente não aprece na história. Ele sabe que a história que ele criou é rica demais, e que seus personagens são vibrantes, vivos, que nós realmente nos importaremos com ele. Por que então aparecer com um estilo inconfundível, com uma prosa artificial, com frases de efeito?
Eu gosto demais de ler Cormac McCarthy, para citar um autor cujo estilo é bem seu e se sobressai às suas incríveis histórias. Mas ler uma prosa mais “pura”, concentrada nos personagens também é importante, leva-nos a prestar mais atenção nos pequenos detalhes da personalidade de gente como Laila, uma moça tão real que é muito fácil visualizar seu semblante triste quando sonha com sua terra natal.
Peixe Dourado é um grande livro, uma obra que não tem a pretensão de revolucionar a literatura. Não. Ela conta a história de uma moça. Uma bela história, tocante e singela, que envolve derrotas e vitórias e que é marcada pela saudade de um lar que talvez nunca seja encontrado.

site: http://catalisecritica.wordpress.com/
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Mario Miranda 12/12/2018

Somos a nossa história
Jean M.G. Le Clézio tem uma escrita que em muito se aproxima do também Nobel de Literatura Patrick Modiano (talvez por ambos terem uma origem fora da França). Ambos se preocupam em dar voz aos comuns, aos ordinários e esquecidos. E em "Peixe Dourado" Le Clézio o faz magistralmente, ao fazer-se ouvida a jovem Laila.

A história percorre a juventude de Laila, quando é sequestrada de sua vila natal e vendida como escrava a uma solitária judia, que a recebe não apenas como funcionária, contudo como alguém a quem ela se sente ligada a desenvolver atividades intelectuais. Após a morte desta, começam uma sequência incansável de dificuldades para a jovem, que passa a viver junto a um prostíbulo, onde pela primeira vez passa a desfrutar da Liberdade. Torna-se uma ladra de pequenos furtos que, ao ser presa, tem sua liberdade novamente adquirida pelo filho da sua mestra original, Lalla Asma. Neste momento, de transição de infância para a adolescência, ela torna-se alvo da cobiça dos homens que corriqueiramente tentam abusar sexualmente dela. Primeiro o filho de Lalla; depois o marido de outra patroa; um desconhecido em um cemitério.

Laila tenta se desvencilhar de sua pobreza imigrando ilegalmente para Paris, onde se torna funcionária de um hospital e, por fim, empregada doméstica na casa de uma médica, que novamente abusa sexualmente da jovem Laila. Nesta França utópica, onde sonhou ultrapassar suas misérias passadas no Marrocos, ela defronta-se com um universo de exclusão social, violência e drogas.

Laila é uma mulher, acima de tudo, em busco de Liberdade; em busca de paz para desfrutar de sua liberdade. Mas a sociedade, a todo e cada momento, tenta colocar-lhe grilhões para aprisionarem seus anseios, numa escravidão moderna que subjuga cada esboço de independência dela. Como não poderia deixar de ser, sua histórica encerra-se com um retorno: um retorno a sua origem, a si.

Laila é uma pessoa cercada de todos os preconceitos. Africana, Pobre, Negra e Mulher. A cada momento um - ou uma união – destes preconceitos é a razão pelo insucesso de sua vida. Contudo a característica que mais afeta a sua vida, é a sua beleza. Sua beleza torna-se um estorvo em sua vida, motivo de perseguição a cada momento.
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Belizia 23/10/2021

É uma história interessante, mas?
A história é interessante, mas muda de cenário de uma maneira muito rápida e pouco verossímil.
Uma pessoa ?largada? no mundo dificilmente conseguiria transladar com tanta facilidade, sabe?

Ela, uma moça africanas, preta, pobre e sem documentos, consegue mudar mais de meio que um homem jovem branco e de familia estruturada, né?

Achei muito pouco factível.
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