Jow 19/01/2012Rain of Blood."Everybody hates me now, so fuck it
Blood's on my face and my hands, and I
Don't know why, I'm not afraid to cry
But that's none of your business
Whose life is it? Get it? See it? Feel it? Eat it?
Spin it around so I can spit in it's face
I wanna leave without a trace
'Cuz I don't wanna die in this place"
People = Shit - Slipknot
Ao me deparar com esse calhamaço, me fiz à seguinte pergunta: será teremos o mesmo nível de qualidade dos dois livros anteriores? Será que a história vai conseguir se manter depois da morte de tantos personagens importantes? Será que era realmente necessário um livro com esse tamanho? Não tenha dúvidas. Das três partes já lançadas até agora, “A Tormenta de Espadas” é a melhor: a mais intensa, sombria e perversa manifestação do imaginário de George Martin.
A história se inicia pouco antes do fim de “A Fúria dos Reis”, e desde já, tenho que comentar do prólogo imensamente desesperador deste livro. Iniciar a obra com A Patrulha da Noite me deixou super empolgado e sedento por respostas para tudo aquilo que aconteceu nas breves 20 primeiras páginas do livro, e ver as conseqüências desse prólogo pela visão do Samwell Tarlly, foi ainda mais legal.
Os Sete Reinos ainda travam a Guerra dos Cinco Reis, e essa parte trama criada por Martin não só ultrapassa em anos a qualidade do segundo, mas como também a do maravilhoso primeiro livro e ainda marca um novo ritmo e uma nova fase para a história corrente. A capacidade dele para criar ganchos, em quase todos os mais de 80 capítulos do livro, faz com que o leitor termine quase que sufocado e com vontade de ler por mais horas e horas para saber como a história de tal personagem vai continuar. Em Essos, do outro lado do Mar Estreito, Daenerys Targaryen tenta voltar a Pentos, na esperança de reunir um grande exército para reclamar o Trono de Ferro. Ela consegue se sobressair em alguns pontos da trama, mas A Daenerys, que tinha uma das melhores histórias em “A Guerra dos Tronos” tem a história mais enrolada possível, nada acontece até os dois últimos capítulos em que ela aparece.
Entretanto a escolha de estrutura do livro não colabora muito para essa leitura incessante, algumas vezes algo interessante acontece no fim do capitulo de Arya, mas para vermos a continuação temos que passar por dois capítulos insuportáveis de Bran, três excelentes capítulos do magistral e indispensável à trama Tyrion, um da mais insuportável ainda. Sansa, um da dramática Catelyn o que torna a situação um pouco anticlimática e cansativa. Mas, ao mesmo tempo, não consigo imaginar como a saga funcionaria com outra estrutura que não essa.
Como prometido desde o prólogo de A Guerra dos Tronos, os aspectos fantásticos no mundo dos Sete Reinos vão ficando cada vez mais fortes. E chegada definitiva da magia em contraste com a realidade visceral das crônicas, torna o livvro ainda mais forte e inabalável. É impossível não ficar estupefato com o grande exército de selvagens que marcha rumo à Muralha sob o comando de Mance Rayder, contra apenas uma minúscula força da Patrulha da Noite no caminho para fazer resistência. Aqui, Jon Snow ganha um papel fundamental e faz jus ao sangue de seu pai, e trava uma batalha épica, digna de cenas cinematográficas.
A história também é agraciada com novos personagens que estavam agindo nos bastidores dos dois primeiros livros. O melhor exemplo é o inteligentíssimo estrategista Tywin Lannister, senhor da casa de Lannister e pai da rainha. Tywin, que foi à Mão do Rei antes da Rebelião de Robert. Agora, com Porto Real segura, assume as rédeas da guerra para garantir o reinado do neto, Joffrey. Além de Jaime Lannister, que nos dois, talvez três primeiros capítulos de dele tudo o que achávamos dele se confirma, contudo mais adiante, começamos a enxergar o personagem com outros olhos. “As coisas que faço por amor!” foi uma das frases ditas por ele antes de cometer um brutal ato no primeiro livro, essa frase define o personagem, o amor que ele sente por sua irmã, Cersei, e também o ressentimento por ter sua honra sempre posta em cheque, pois é um regicida.
Outra coisa interessante é notar como Jaime enxerga a figura de Ned Stark, o irretocável grande herói que perece no fim do primeiro livro. Quando acompanhamos a história pelo ponto de vista de Ned, ele é pura honra o que o torna a melhor das pessoas em Westeros, pelo ponto de vista de Jaime, Ned é também pura honra, mas quando vemos através do Lannister, Ned é uma das pessoas mais frias e rígidas de Westeros, e ambos os pontos de vista estão corretos e nenhum deles é contraditório quando você avalia cada situação. Controlar pontos de vista conflitantes de personagens sem nunca soar maniqueísta ou contraditório com certeza é uma habilidade rara em escritores, mas Martin fez isso de forma impecável.
Martin criou um panteão de personagens amados e odiados, e com certeza dar um fim digno para cada um deles é o mais complicado, Stannis, Jon, Daenerys e outros tem bons finais. Contudo o final de Arya e Jaime são dois dos mais interessantes, é de ficar ansioso pelo o que esta por vir para os dois, e também o fim de Sansa, não exatamente por ela, mas por sua companhia atual que eu acredito ainda ter um papel importante para executar na saga.
Contudo o final de Tyrion Lannister me incomoda muito, o personagem não foi de forma alguma descaracterizado, o que acontece no fim do livro parece um pouco exagerado pra ele, mas se considerarmos toda a pressão que ele vinha enfrentando acho que é compreensível, o problema é que tudo que o tornava interessante acabou ao fim do terceiro livro, tudo mesmo, ele é um personagem que parece que cumpriu seu propósito na trama, enquanto todos os outros personagens apenas cresceram, não sei até onde isso vai ser bom para o quarto livro e para sua história.
Como foi dito antes, “A Tormenta de Espadas” muda o rumo da história da saga como a conhecemos, e muda também nossa visão e nossas expectativas. Jaime Lannister se tornou um dos meus personagens favoritos ao fim do livro, era um dos que eu mais detestava até o fim do segundo. Daenerys ganha muito respeito graças aos seus dragões. Mindinho, o personagem que deveria ter o nome de outro dedo, o do meio, para ser mais fiel a sua atitude, surpreende com a sua inteligência e seus planos bem elaborados na trama.
É difícil saber o que esperar de O Festim de Corvos, especialmente sabendo que nem todos os personagens terão “pontos de vista” nesse próximo livro, mas dificilmente esse, vai superar a experiência de ler “A Tormenta de Espadas.”