CelioVivas 14/07/2011
John Grisham. E o advogado virou herói!!
(Texto originalmente postado no Blog Ponte da Passagem: http://pontedapassagem.wordpress.com/2011/02/24/john-grisham-e-o-advogado-virou-heroi/)
Meu primeiro contato com a obra de John Grisham coincide com o começo de namoro. Era janeiro de 1999. Estávamos voltando de uma mini-lua-de-mel em Brasília e no saguão do aeroporto comecei a folhear o livro que ela estava lendo. Gostei tanto que li umas 80 páginas até o avião pousar em Vitória. E lógico, terminei o livro antes dela.
O livro em questão era O Advogado e, mesmo após ter lido mais de 20 títulos do mesmo autor, ainda o considero um dos três melhores. A partir daí, comecei a acompanhar os lançamentos anuais e, sempre que possível, comprar os mais antigos até, recentemente, ter concluído a leitura de toda a obra.
Apesar de gostar muito de suas histórias, não há como negar que são publicações ditas comerciais, voltado para um público longe de ser intelectualizado. Os enredos são simples, alguns até previsíveis e, embora tenham uma narrativa ágil, não exigem maiores reflexões sobre o mundo que vivemos.
Contudo, são ótimas fontes de relaxamento e diversão. Nos últimos anos me habituei a começar férias de final de ano ou recesso com a leitura de um livro escrito por Grisham. O texto é tão envolvente que, em média, me bastam três a quatro dias para concluir a leitura.
Suas histórias são ambientadas em tribunais ou escritórios de advocacia. O protagonista, na maioria dos livros, é um Operador do Direito que busca afirmação social ou profissional, e se vê de encontro com dilemas éticos e morais. Seu perfil é de alguém dedicado ao estudo das leis, interessado em participar na resolução de problemas sociais, mesmo sem deixar de perseguir maiores ganhos financeiros.
O reconhecimento profissional sempre buscado por aqueles que querem seguir a carreira de advogado também é a meta do personagem principal no começo dos livros, mas no desenrolar dos confrontos contra a corrupção de grandes escritórios, grandes empresas ou do próprio sistema judicial, prefere abdicar deste reconhecimento ou até mesmo da carreira em prol da resolução dos conflitos enfrentados.
Várias obras de John Grisham tiveram sua versão cinematográfica. Alguns deles, como A Firma (Tom Cruise), Dossiê Pelicano (Denzel Washington/Julia Roberts), O Cliente (Susan Sarandon/Tommy Lee Jones) e O Júri (John Cusack/Rachel Weisz) tornaram-se sucessos de público.
Contudo, a versão para o cinema de outro de meus livros mais apreciados, apesar de dirigido por Francis Ford Coppola e protagonizado por Matt Damon e Danny DeVito, não teve a mesma repercussão: The Rainmaker, traduzido literalmente como O Homem que Fazia Chover.
Sabe-se que, sempre que uma obra literária é repassada para as telas, há que se adequar o enredo do livro com a dinâmica exigida em um filme. No caso do texto de The Rainmaker, as modificações feitas para o roteiro do filme transformaram um ótimo protagonista, Rudy Baylor, em um advogado inseguro, vacilante, em nada parecido com aquele jovem de personalidade forte descrito nas páginas do livro.
Com o passar dos anos, Grisham enveredou por outros assuntos. Escreveu uma fábula natalina (Esquecer o Natal) e uma homenagem aos tempos de high school, centrado nos alunos jogadores de futebol americano (Nas Arquibancadas).
Ainda sobre futebol americano, escreveu um delicioso livro (Jogando por Pizza) sobre um quarterback contratado para jogar futebol americano na Itália. Sim, delicioso porque menciona pratos, vinhos, restaurantes. Para quem curte a cultura italiana e entende minimamente as regras daquele esporte vai realmente curtir a leitura.
Em A Casa Pintada, ele narra as aventuras de um garoto de sete anos, Luke Chandler, durante o período de colheira de algodão em uma fazenda típica do interior estadunidense, ambientadas em 1952. O texto inova por trazer as impressões, interpretações e descobertas de alguém que está começando a entender o mundo.
Em 2006, ele escreveu seu primeiro texto de não-ficção: O Inocente, em que narra a história de um preso condenado injustamente à pena de morte. A partir daí o autor se aproximou de movimentos que lutam justamente contra condenações prematuras baseadas em investigações forjadas ou simplesmente mal feitas. Atualmente ele participa do Innocence Project, movimento não-governamental de suporte jurídico aos mais necessitados.
Por fim, no ano passado, o autor enveredou pelo hoje lucrativo nicho de aventuras infanto-juvenis, com o livro Theodore Boone Aprendiz de Advogado, em que um adolescente filho de um casal de advogados acompanha o julgamento de um acusado por assassinato. O texto é bem professoral, principalmente quando o protagonista de 13 anos esclarece aos seus colegas de escola o significado de hipoteca, execução de dívida, declaração de insolvência, procedimentos na vara de família e algumas particularidades de um júri. O objetivo do texto parece claro: servir com referência para introduzir conceitos jurídicos aos pré-adolescentes. Uma boa idéia. Ao que parece, este livro deve iniciar uma série de publicações com o mesmo personagem.
E assim, o advogado Grisham, formado no Mississipi, continua ganhando suas ações. Pelo menos, nas livrarias e nos sites especializados em e-books.