Julia 01/01/2015
"No tempo há uma infinidade de mundos"
Um Caio Fernando disse uma vez que "o tempo existe, sim, e devora." O menino sonhador deste livro talvez não tenha dúvidas do caráter devorador do tempo, que como um amor de João Cabral devora até os dias ainda não anunciados nas folhinhas, os minutos de adiantamento, os anos que as linhas da mão asseguravam, mas será que ele existe mesmo? Se existe, como existe? Ou será que só coexiste? Ou será que existe para que as outras coisas possam vir a coexistir?
O tempo é relativo. O tempo é absoluto, soberano, imperador que nos mostra os limites entre a ação, o desejo e a realização.
O tempo é poder e dele nos apoderamos para nos justificarmos, seja pelas glórias ou pelas falhas. Usamos o tic tac mecânico do relógio para nos condicionar e condicionar o que está ao nosso redor - pessoas, animais e objetos - a uma lógica inventada e completamente arbitrária.
Nos mais diversos mundos, que se criam, as possibilidades nos impõem a repetição, viagens tristes a um futuro restrito, a consciência de que o tempo se marca no corpo, mas que o corpo também faz o tempo. Mundos em que cientistas enlouquecem, enquanto os artistas mantêm-se sãos, mundos que só duram um mês, mundos com prazos de validade, mundos sem futuro. Por outro lado, mundos em que um beijo pode durar toda uma eternidade e retribuir um sorriso pode levar uma primavera, um verão, um outono e um inverno. Mundos que só existem no presente e a cada momento nascemos de novo, vinte e quatro para viver e amar intensamente, vinte e quatro horas para ao final não conhecer nada, não saber de nada e não ter, ao fim, amado sinceramente alguém.
Há até um mundo em que, pretensiosos, viramos imortais e experimentamos a experiência divina da eternidade. Porém, os deuses mitológicos não são conhecidos por temer, mas sim pela sua coragem e ímpeto na hora de correr riscos. De que vale uma eternidade assombrada pelo medo e na ânsia de obter a aprovação de todos os nossos antepassados? Errar é o preço da liberdade e a morte o preço da vida.
Ah! O tempo também pode ser predicativo e vir em tons de azaleia.
Tic tac faz o relógio e todos os outros aparelhos, cujas onomatopeias desconheço para reproduzir aqui, parecem aparecer nesse pequeno diário fictício, mas dos sons que ouvi e não ouvi para marcar o tempo, fico com aquele que aprendi com muitos dos relatos desse exemplar: a batida do coração.
Sobre aquele que considerava a imaginação mais importante do que o conhecimento, Alan Lightman faz um belo trabalho ao nos apresentar um jovem Albert construindo sua teoria, mas ainda absorto nos próprios universos. Por meio de um lirismo nada físico, mas de um misticismo puro que só a Física tem, a teoria da relatividade toma forma, não que a sua imagem seja agora tácita ou provável de compreensão para aqueles cuja Física não atravessa os campos da abstração, porém ela parece ser ao menos possível de ser lida e, caso realmente não seja compreendida, aceita e admirada nessa forma bela, idílica e onírica que só a Literatura pode dar.