djoni moraes 22/06/2022
Gostar ou não gostar deste livro é uma questão de enfoques.
Faço um exercício com esta resenha de separar as minhas expectativas como leitor da grandiosidade histórica desta obra do Pasternak, e confesso que 3/5 é o máximo que eu consigo aqui. Se você é um fã do cinema, com certeza já ouviu falar do filme do Doctor Zhivago, uma longa metragem (e coloca longa nisso!) que foca na história de amor vivida entre o Iuri e a Lara. Se você viu o filme e acha que vai encontrar aqui o mesmo enfoque, preciso te alertar que aí vai começar a primeira decepção.
Na verdade, a história inteira acompanha a vida do Iuri Jivago desde a sua tenra infância até sua vida adulta, na qual exerce a profissão de médico no meio de uma Rússia conturbadíssima no meio da revolução que culminou na fundação da união soviética.
Pasternak era um poeta, então a carga de lirismo nas descrições e nos diálogos é bastante grande. No entanto, alguns diálogos me pareceram um tanto forçados, assim como muitas descrições de lugares e momentos. A beleza do lirismo descritivo se perdia quando chegava aquele sétimo ou oitavo parágrafo em que você chegava à conclusão de que Pasternak já tinha sim conseguido descrever tudo que queria. Isso muitas vezes tornava o Iuri um personagem difícil de agradar ao leitor.
Tá bom, tá bom, só reclamei. Por que então dar 3 estrelas e não zero? Porque depois de algumas quantas páginas, entendi que a missão deste livro é registrar um momento histórico; pintar um retrato filosófico que permitisse amalgamar não apenas o conto de várias vidas no meio da revolução, mas também a revolução em si. Nisso, o Pasternak foi mestre!. Ainda, ele conseguiu fazer isso de uma forma em que ele pudesse deixar seus pensamentos e ideais bem escrachados de uma maneira que ao mesmo tempo permitisse irritar o regime soviético e também deixar bem claro a sua decepção com tudo isso. Vendo deste modo, fica muito claro por que as paixões "românticas" não são exploradas com tantos detalhes - porque elas simplesmente são um pano de fundo.
A decepção do Iuri (e do Pasternak) em relação à revolução é muito clara. Tendo em vista este ponto, posso dizer que o personagem principal deste livro não é o Iuri Jivago e sim uma mãe Rússia que agoniza desde o início da narrativa e é saqueada violentamente pelos interesses de todos os grupos envolvidos. A imagem desta Rússia sendo desnudada é simplesmente agonizante, e a descrição disso nessas mais de 500 páginas, por mais enfadonha que possa parecer em alguns momentos, torna este um livro muito bom no que ele se propõe.