brunossgodinho 09/01/2022Essa é uma resenha de uma memória afetiva.
Li esse livro pela primeira vez há mais de dez anos. Estava no final do Ensino Médio, possivelmente em meados de 2010. Salvo engano, ganhei meu antigo exemplar da BestBolso de presente de uma querida amiga.
Doutor Jivago permanece até hoje como um dos primeiros livros que li na minha vida adulta. Já tinha, então, dezessete anos no ano em que faria dezoito. Lembro de passar ao menos um mês com esse livro me acompanhando, na mochila, entre aulas e viagens de transporte público. Lendo sobre cidades e pessoas isoladas em comunidades rurais ou urbanas, cobertas de neve, enquanto ia e vinha pela minha cidade no clima quente e nas estações de trem abarrotadas de pessoas.
Esse livro forneceu-me a única citação literária que guardei por muito tempo comigo, ainda que não a saiba de cor até hoje. Mal sei o começo. Por isso a deixei no meu perfil do Skoob. Sempre quis ter essa memória disciplinada que vemos em filmes estrangeiros em personagens com gosto literário apurado, pessoas que sabem citações inteiras de cor. Isso demanda, claro, que você tenha lido o livro, o poema, enfim, por vezes incontáveis.
Doutor Jivago permanece, como a maioria dos livros que já li, um livro de uma única leitura para mim.
Pensando sobre esse livro hoje, lembrar dos detalhes de sua narrativa não é tão importante quanto a memória de tê-lo lido num período pouco definido da vida. É verdade que essa memória não é forte no sentido de rememoração (de lembrar de detalhes, rostos, gestos), mas ela está lá, no fundo, ainda cintilando um afeto de outros tempos: o afeto, que era paixão, pela amiga; o afeto da literatura, que era fuga, distração e imaginação; o afeto pelas comunidades (escola, bairro, pré-vestibular, transporte público), efêmeras ou não, que formaram o caminho que trilhei durante essa leitura.