Fernanda.Rettore 22/11/2023
O Efeito Borboleta
"Nota Falsa" é um conto póstumo escrito por Liev Tolstói e publicado originalmente em 1911. Embora concebido nos últimos anos do século XIX, o autor retomou a escrita entre 1902 e 1904, mas não o concluiu até o ano de sua morte, em 1910. A narrativa discorre sobre uma complexa cadeia de reações desencadeadas após um jovem falsificar uma nota.
A trama se desdobra em duas partes distintas. A primeira, se inicia descrevendo um dia adverso do presidente do Tesouro, cujo mau-humor o leva a recusar auxílio financeiro ao filho, que busca quitar uma dívida feita para ir ao cinema. Diante da negativa dos cuidadores, o adolescente recorre a um amigo de moral ambígua, que o persuade a falsificar uma nota e trocá-la por dinheiro verdadeiro em uma vendinha local. O plano se concretiza, mas a mulher enganada é humilhada pelo marido, que descobre a fraude. Para evitar prejuízos, ele tapeia um vendedor de lenha, provocando assim uma série de eventos extremos que culminam em prisões, violência e mortes.
A segunda parte da obra oferece um contraponto à primeira. Após o rastro de desolação, um dos prisioneiros envolvido nos eventos violentos é assombrado pela culpa, arrepende-se de suas ações e converte-se ao cristianismo. Por meio de suas boas intenções, ele exerce uma influência positiva no mundo, desencadeando uma trajetória de redenção para os participantes dos crimes anteriormente descritos. Essa força do bem, assim como a negativa, reverbera até pessoas distantes.
Apesar do final abrupto, decorrente da não conclusão da obra pelo autor, Tolstói ilustra como uma única escolha pode transformar a vida de dezenas de pessoas: uma mentira ou um conselho, tem o poder de moldar destinos.
Em síntese, o livro apresenta uma escrita envolvente que instiga a reflexão sobre a responsabilidade das nossas ações, considerando as ramificações que estas podem ter, seja para destruir ou construir vidas. Tolstói, com maestria, nos conduz a este questionamento profundo sobre o impacto de nossas atitudes no intrincado tecido da existência.