spoiler visualizarTati 04/01/2012
Análise do romance “O Gaúcho”, de José de Alencar de acordo com pensamento Freudianos
O romance “O Gaúcho” conta a vida de um menino de 9 anos, Manuel Canho, que admirava muito seu pai, João Canho, grande conhecedor de cavalos. Presenciou o seu assassinato de forma covarde por Barreda. Seu pai morreu confundido por outra pessoa, que teria namorado a mulher de Barreda. Loureiro era o homem que deveria morrer. Manuel Canho jurou vingar-se e por muitos anos seguiu os passos do assassino.
Também em todos os demais aspectos as lembranças que emergem ou podem ser provocadas nos ataques histéricos correspondem às causas desencadeadoras que temos encontrado na raiz dos sintomas histéricos crônicos. Tais como essas últimas causas, as lembranças subjacentes aos ataques histéricos relacionam-se com traumas psíquicos que não foram eliminados pela ab-reação ou pela atividade associativa do pensamento (FRUED, 1987, p.51)
De acordo com Freud “quando a reação é reprimida, o afeto permanece vinculado a lembrança. A reação da pessoa insultada em relação ao trauma só exerce um efeito inteiramente “catártico” se for uma reação adequada, como por exemplo, a “vingança”.
Loureiro, por sua vez, quando soube do ocorrido veio visitar a viúva de João Canho e apaixonou-se por ela e com ela se casou. O filho de João Canho, Manuel, nunca aceitou o Loureiro, o envolvimento dele com sua mãe, “isolou-se cada vez mais do seio da família. Um cilício moral interpôs-se entre o filho e a mãe, da parte desta era quase um remorso, da parte daquele um profundo ressentimento” (p. 87).
Tornando porém o sujeito repetidas vezes, e recebido com mostras de bom agasalho pela viúva, começou a menino a incomodar-se com as visitas. Desejara que sua mãe não acolhesse com bondade o estranho, e nem mesmo o visse. Se no principio afastava-sedo Loureiro, agora, mal o avistava, saía para evitar que lhe falasse. Durante a visita, levava a chamar a pela mãe sob qualquer pretexto, e a importuná-la com o feito de fazer que deixasse a companhia do hospede (p.82)
Contudo, quando Loureiro tentando montar no cavalo do defunto, este o matou, como se quisesse vingar seu dono. Após a morte do padrasto Manuel juntou dinheiro para não deixar sua mãe desamparada e à sua irmã, filha de Loureiro, a qual o menino nunca aceitou.
De um lado o rapaz sentia-se tomado se simpatia pela menina; porém recalcava este impulso e o combatia, porque via nele uma cumplicidade com o esquecimento de Francisca pela memória de João Canho. Podia ele amar a filha do homem que fora a causa da morte do pai? Devia considerar sua irmã o fruto de uma união que ele condenava como um perjúrio e uma ingratidão? (p.88)
Que de acordo com Freud, a dúvida é um resultado bastante lógico na presença de obsessões, isso mostra-se claro na citação acima, em que o personagem se mostra indeciso em relação a irmã.
Foi falar com o padrinho coronel Bento Gonçalves sobre a sua vingança e neste trajeto viveu peripécias ligadas à guerra dos farrapos, mas particularmente a seu padrinho.
Quando chegou à cidade de Entre-Rios, onde morava o assassino, é desafiado a domar uma égua, aceita o desafio e fica com ela. Como achassem impossível montá-la, começaram a dizer que ela tinha parte com o diabo. Para ele o cavalo era muito importante, aprendeu com seu pai, seu ídolo a gostar e respeitar os animais. Pensava se o homem é o rei da criação o cavalo serve de trono, como o peixe precisa da água, o gaúcho precisa do cavalo para existir.
Percebeu que a égua havia parido a pouco tempo e tinha sido afastada de seu filho, resolveu encontrá-lo. Achou-o em uma caverna e a mãe começou a acariciar e alimentar seu filho, o animal sobreviveu. À noite depois de quatro dias chegou à pousada com os dois. No dia seguinte foi a casa onde o assassino estava e o encontrou moribundo e abandonado, porque estava com uma doença contagiosa. Quando este lhe pediu água, ele deu e cuidou dele até melhorar. Por ironia do destino salvou seu inimigo. Confirmando o que Freud destaca “é sempre de ‘angústia’, ao passo que, nas obsessões verdadeiras, outro estado emocional, como a dúvida, o remorso ou a raiva, podem ocorrer tanto quanto a angústia” (FREUD, 1986, p.77)
Entretanto, no personagem esse sentimento fica recalcado, ele apenas fica com as angústias por não ter vingado-se da morte de seu pai, ao contrário ajudou seu inimigo.
Ainda poderia ver a mulher que foi a culpada da morte de seu pai. Voltou para sua casa sem ter cumprido a promessa de vingar seu pai. Lá encontrou sua mãe e a sua irmã, que lembrava o homem que tinha causado a morte de seu pai.
Contudo, a vingança não o abandonava e um mês depois voltou à cidade e três meses depois encontrou com o assassino, falou quem ele era e porque estava ali.
Quando alguém com predisposição à neurose carece de aptidões para a conversão, mas, ainda assim, para rechaçar uma representação incompatível, dispõe-se a separá-la de seu afeto, esse afeto fica obrigado a permanecer na esfera psíquica. A representação, agora enfraquecida, persiste ainda na consciência, separada de qualquer associação. Mas seu afeto, tornado livre, liga-se a outras representações que não são incompatíveis em si mesmas, e graças a essa “falsa ligação”, tais representações se transformam em representações obsessivas. (FREUD, 1976, p.58)
Travaram uma luta, foi uma batalha honrada e no final ele fincou a lança no peito do desgraçado, mesmo com a mulher implorando que não fizesse. Só ficou com pena do cavalo, pois para este Barreta seria sempre o dono.
Com uma calma feroz, espetou o ferro da lança, no corpo do assassino de seu pai, atravessando- lhe o coração como faria com uma folha seca.
(...) Enquanto a vítima se debateu nas vascas da agonia, Manuel a contemplou friamente. Quando se apagou o último vislumbre de vida, se afastou sem lançar um olhar de compaixão à mulher desmaiada. (p.94).
Depois de ter se vingado, se aproximou de Catita, uma moça que na primeira viagem tinha conhecido. Durante a outra viagem ela tinha se envolvido com outro homem, mas quando ele regressou ela pediu perdão, jurando amor e fidelidade, desenvolvendo sentimentos como remorso do que fez assim tendo representações obsessivas.
__ Nunca amei senão a ti, Manuel, eu juro. Não digo isto para que me perdoes. Não mereço, não quero perdão. Mas vê o que sofri, e estou sofrendo; e eu que me traí a mim mesma?... Eu que me detesto mais do que tu podes detestar a infeliz que te enganou?... Amar, e sentir-se indigna desse amor, não há maior suplício, Manuel! (p.218-219)
Manuel afastou-se no seu cavalo, mas ela lançou-se a garupa. A história termina com os dois cavalgando numa louca carreira em meio a uma tempestade e ventos zunindo.
Conclui-se que o personagem Manuel Canho encontrava-se num processo histérico, afinal, ele sofria por lembranças, no caso a morte do seu pai, cujas lembranças não passaram pelo processo de desgaste, o qual ocasionou a trama do enredo, até que por fim ele conseguiu expor sua reação. Nota-se que o personagem estava num quadro histérico “portanto, fazem parte da neurose de angústia, e são quase sempre acompanhadas por outros sintomas do mesmo grupo” (FREUD, 1986, p.83).