Ju Oliveira 06/04/2011Ainda não tive a oportunidade de ler o primeiro livro da autora, “A mulher do viajante do tempo”, mas com certeza, a forma de escrita da autora me conquistou.
A história começa com o que seria o fim… a morte de Elspeth, mas ao contrário, é ai que tem início essa história fascinante. Elspeth e Eddie são irmãs gêmeas, as duas sempre foram muito unidas e amigas inseparáveis. Até que um dia em sua adolescência, algo surpreendente acontece e muda para sempre o rumo de suas vidas. Elspeth continua em Londres e Eddie segue para Chicago, agora casada com Jack. Vinte anos se passam sem que as duas se encontrem. Somente quando Elspeth descobre que está a beira da morte é que as duas começam a trocar correspondências. Com a morte de Elspeth, algo inesperado acontece. Ela deixa todos seus bens, para as gêmeas Valentina e Julia, filhas de Eddie, incluindo um apartamento em Londres em frente ao majestoso cemitério Highgate. Em seu testamento, ela estipula que as gêmeas só poderão morar no apartamento ao completarem 21 anos, terão que morar um ano antes de poder vendê-lo e o mais importante, seus pais estão proibidos de pisar no apartamento durante esse primeiro ano. Cláusulas pra lá de estranhas, mas que foram aceitas pela gêmeas.
Agora vamos conhecer um pouco mais de Valentina e Julia. Elas são gêmeas espelhadas.
– Somos gêmeas espelhadas. Ela é praticamente toda invertida por dentro. O coração fica aqui. – Julia pousou a mão no peito, à direita do esterno – , e o fígado, os rins e o resto ficam ao contrário dos meus.
Além de serem gêmeas espelhadas, também suas personalidades são o oposto. Julia é toda extrovertida, animada e destemida. Já Valentina é mais calada, muito tímida e medrosa. Por isso recebeu de Julia o apelido carinhoso de Ratinha. Valentina nunca se acostumou com Londres, achava tudo difícil e complicado; enquanto Julia rapidamente decorou os principais pontos da cidade usando seu infalível mapa.
“Julia observou um ônibus vermelho de dois andares, sacudindo ao lado delas. Todo mundo lá dentro parecia cansado e entediado. “Como podem estar entediados? Vocês moram em Londres! Estão respirando o mesmo ar da Rainha e de Vivienne Westwood!“
Apesar, ou principalmente por serem o oposto uma da outra, as gêmeas se completavam. Alguns dias se passaram, elas curtindo Londres e o apartamento da tia Elspeth, quando começaram a sentir uma estranha presença entre elas. Uma presença invisível mas muito forte, sentida principalmente por Valentina, a mais sensível das gêmeas. Só então elas se dão conta de que a alma da tia Elspeth está presa dentro do apartamento. O fantasma da tia convive com elas. O que poderia ser assustador, acaba se tornando uma “amizade” entre tia e sobrinhas. As gêmeas tentam descobrir qual é o grande segredo que acabou separando para sempre Elspeth e Eddie.
No desenrolar da história, a autora nos apresenta personagens paralelos, mas com grande importância para o desenrolar dos fatos. Martin, o morador do apartamento de baixo, que sofre de TOC e foi recentemente abandonado pela esposa. Sofrendo com sua obsessão e pela ausência de sua esposa ele encontra em Julia uma grande amiga e companheira. Robert, o companheiro de sua tia morta, que acaba descobrindo em Valentina toda doçura e meiguice que sempre procurou em Elspeth.
Mas com toda certeza, o ponto alto da história toda são as descobertas de Elspeth como fantasma. Suas sensações, seus desejos, seu medo de ficar eternamente presa no apartamento, sem nem mesmo existir.
“Deixa eu ir, ela pediu para seja lá quem fosse que a prendia ali. Eu quero morrer agora, por favor, morrer mesmo e ir embora. Ela esperou, mas não houve resposta. Por favor Deus, ou seja lá quem você for, por favor, deixa eu ir. Ela olhou para o jardim, para o céu. Nada aconteceu. Ela compreendeu então que ninguém a ouvia. Tudo o que acontecesse com ela agora seria feito por ela mesma.”
Eu fiquei simplesmente encantada com a forma da autora escrever. Ela “pensa” com a cabeça de todos os personagens da história. Tem uma escrita madura, algumas vezes até mesmo áspera, mas totalmente real e condizente com a persnonalidade de cada um dos persongens. Confesso que ás vezes me irritava com o mimimi da Valentina, sempre chorosa e dramática. Me apeguei mais com a Julia, audaciosa e atrevida. O Martin também é um personagem encantador. Eu ficava torcendo pela melhora dele, sofria com o sofrimento e a sua compulsão. A autora nos apresenta um lado bem dramático da doença, do TOC, a realidade. Enfim, uma leitura maravilhosa, onde os mistérios vão se desvendando aos pouquinhos e contegue te surpreender a cada página. Nada é obvio! É uma surpresa atrás da outra! Livro maravilhoooso! Amei e super recomendo!
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