Musashi (Box 3 volumes)

Musashi (Box 3 volumes) Eiji Yoshikawa




Resenhas - Musashi


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Vinnicius 24/02/2009

Musashi não é um livro fácil. Sua leitura em muito lembra a peregrinação do personagem, em busca de aperfeiçoamento e iluminação. A dificuldade que muitos podem encontrar vem, curiosamente, da qualidade da tradução e do conteúdo traduzido.

É uma verdadeira viagem ao Japão antigo. Através de seus detalhes nos faz perceber não apenas os detalhes históricos extremamente apurados, mas a complexidade do pensamento e da cultura do povo japonês.

É um livro que por vezes parece um folhetim, uma novela com seus inúmeros personagens e seus dramas pessoais. Outras vezes lembra filmes de ação com a descrição minuciosa dos combates. Ainda há situações onde a filosofia oriental (seja através do budismo, do taoísmo, do bushido, entre outras) faz com que se pare para refletir sobre a própria existência.

Uma viagem fantástica, mas para os que se dispõe a andar pelas terras do Japão antigo, galgando o caminho passo a passo. Mas de maneira vívida e emocionante.



Vale muito experimentar.







fsamanta (@sam_leitora) 25/03/2011minha estante
Gostei da resenha. Me ajudou a decidir sobre a leitura do livro.




Drakomanth 16/05/2021

INESQUECÍVEL
É difícil falar sobre essa incrível obra sem adentrar uma série de questões pessoais. Não sei se foi por fado ou sorte, mas a leitura desta obra se deu num período muito marcante da história de minha vida. Desta forma, cada passagem parecia incumbir um efeito transcendental tão forte que Musashi mais parecia um livro sagrado do quê um romance histórico fantástico. Chegou ao ponto de que, quando li pela primeira vez "O Sermão do Filho Ingrato" na madrugada do dia 04/08/2019 acabei postando a citação do mesmo (vide a seguir). No final da tarde do mesmo dia ? por uma ironia do destino ou vontade de Deus ? minha Mãe viria a falecer. Já se pasaram quase dois anos, ainda assim, a leitura da fatídica passagem foi capaz de verter uma cascata lacrimal descomunal. Por essas e outras razões para mim é extremamente difícil recomendar Musashi. Seria uma pretensão muito audaciosa querer que a obra despertasse em cada leitor o mesmo que despertou em mim, sendo que cada vivência é única. Porém, uma coisa eu garanto. Se o caro leitor entregar sua alma na leitura desta obra, duvido que continue sendo o mesmo após concluí-la.

"Buddha Prega Sobre o Quanto Devemos aos Pais.
Ouvi todos, pois em verdade assim acontece:
Estava Buddha certo dia na montanha Graghrakuta,
Próxima à cidade Rajagriha
Em companhia de seus santos eleitos e de discípulos iluminados
Quando uma multidão composta de monges e monjas,
Fiéis de ambos os sexos,
Seres celestiais, dragões e espíritos demoníacos,
Juntou-se querendo ouvir sua pregação.
E ao redor do trono de lótus em que Buddha se sentava,
Respeitosos reuniram-se todos, seu santo rosto contemplando
Sem ao menso piscar.
Foi então que Buddha
Pregando, disse:

'Devotos do mundo inteiro, ouvi-me:
Deveis muito à bondade do pai,
Deveis muito à compaixão da mãe.
Pois se o homem está neste mundo
Tem por causa o carma,
E por agentes do carma os pais
Não fosse pelo pai não nasceríeis,
Não fosse pela mãe não cresceríeis.
Eis porque:
Da semente paterna recebeis o espírito,
Ao ventre materno deveis a forma.
E por cauda dessas relações cármicas,
Nada neste mundo se compara
Ao misericordioso amor de uma mãe:
A ela deveis eterna gratidão.
Desde o momento em que a mãe
O filho recebe no ventre,
Dez meses ela passa sofrendo,
Em cada ato cotidiano ?
No andar, no parar, no sentar e no dormir.
E o sofrimento não lhe dando trégua,
Perde a mãe a vontade
De satisfazer a fome e a sede e também de ataviar-se,
Apenas pensando em dar à luz o filho com segurança.
Os meses se completam
O dia do nascimento chega,
E os ventos cármicos o acontecimento apressam.
Sente dores a mãe em cada osso e cada junta,
Treme o pai de ansiedade pela mãe e pelo filho,
Parentes e conhecidos com ele sofrem.
Nasce o filho sobre a relva,
Infinita é a alegria dos pais,
Semelhante à da mulher pobre que de súbito ganha,
Mágica pérola que todos os desejos realiza.
Ao ouvir o primeiro choro do filho
Sente a mãe também ela renascer.
A partir dese dia o filho
No colo da mãe dorme,
Em seus joelhos brinca,
Do seu leite se alimenta,
E em sua misericórdia vive.
Sem a mãe o filho não se veste nem se despe.
A mãe, mesmo faminta tira da própria boca
Para o filho alimentar.
Sem a mãe um filho não se cria
Considerai todos,
Quantos leite sorvestes ao seio materno:
? Oitenta medidas repletas por dia!
E o tamanho do débito para com vossos pais:
? Infinito como o céu!
A mãe sai a trabalhar na aldeia vizinha:
Tira a água, acende o fogo,
Mói o trigo e a farinha peneira.
A caminho de volta, finda o dia,
Antes ainda de chegar à casa,
Imagina o filho à sua espera,
A chorar e a gritar por ela ansiando.
Peito confrangido, coração disparado,
Leite vertendo e incapaz de mais suportar,
Corre e da casa se aproxima.
De longe o filho vê a mãe chegando,
O cérebro usa, a cabeça agita,
E à mãe se dirige entre gritos e soluções.
Curvar-se a mãe, estende os braço,
os lábios aos do filho junta,
Duas emoções unificadas,
Nada no mundo supera este amor arrebatado.

Dois anos: o filho do colo se desprende,
E pela primeira vez sozinho anda.
E agora,
Sem o pai não saberia que o fogo queima,
Sem a mãe, que a lâmina corta o dedo.
Três anos: o filho recusa o leite materno,
E pela primeira vez de outras coisas se alimenta.
Sem o pai não saberia que o veneno mata,
Sem a mãe, que as ervas curam.
Se os pais a uma festa são convidados,
E guloseimas e delicadas iguarias lhes são oferecidas,
Nada comem mas tudo consigo guardam.
Ao retornar, o filho chamam e tudo lhe dão,
Felizes, apenas de ver o filho feliz.
O filho cresce,
E ao iniciar o convívio com amigos,
Roupas de seda o pai lhe compra,
Seus cabelos a mãe com capricho penteia.
Esquecidos de si mesmos ao filho tudo dedicam,
Eles próprios vestindo roupas velhas e rasgadas.
Passa o tempo e o filho se casa,
E uma estranha ao lar conduz,
Mais e mais os pais ele passa ignorar,
Mais e mais o novo casal íntimo se torna,
Trancado no quarto em animada conversa.

Envelhecem os pais:
Ânimo quebrantado, forças lhes faltando,
O filho apenas têm para recorrer,
E a nora para ajudá-los.
Mas a manhã se vai, a noite chega,
Sem que lhes vejam os rostos,
Cerrada está a porta na gélida madrugada,
Seu quarto é frio, semelhante ao da estalagem,
Que dá pouso por uma noite ao solitário viajante.
Não há mais repouso, nem risos.
E eis que num momento de crise,
O filho chamam para lhe pedir ajuda,
Mas nove em dez vezes ele não os atende.
E quando emfim chega, raivoso os ofende,
Aos gritos dizendo melhor lhes seria,
Morrer a continuar vivos, velhos e imprestáveis.
Peito repleto de mágoa, atordoados,

Os pais vertem lágrimas sentidas.
? Ah, guando eras pequeno,
Sem nossa ajuda não terias te alimentado,
Sem nossa ajuda não terias crescido.
Ah, nós a ti,,,'

?Eu... eu não aguento mais! Quem quiser que continue!..."

[YOSHIKAWA, Eiji. MUSASHI Vol.2 - O Céu (O SERMÃO DO FILHO INGRATO). Estação Liberdade. Trad: GOTODA, Leiko. 2017. p.651-656.]
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Bruno.Dellatorre 18/01/2021

PERFEITO
Deus abençoe esse autor. Se você está vivo, leia esse livro. Se não estiver, leia também. Ler Musashi é uma das melhores experiências que se pode ter.
Thiago 18/01/2021minha estante
Ansioso p ver essa resenha


Bruno.Dellatorre 18/01/2021minha estante
Eu tô ansioso pra gravar! A gravação será amanhã, mas vou postar o vídeo na quinta, dia 21




João 26/08/2022

Verdadeiro Tesouro
Musashi é uma verdadeira obra de arte!
Dando nome à Coletânea, Musashi/Takezo é o personagem central deste romance. Seu objetivo de vida é seu aprimoramento físico e espiritual com foco principal na esgrima/espada. São trazidos diversos ensinamentos zen-budistas que transcendem as letras grafadas numa folha de papel.
São trazidos diversos personagens que foram tão bem construídos que não podem ser meramente classificados como coadjuvantes ou secundários.
É belo todo o desenvolvimento destes personagens. O amor incondicional e sem fronteiras de Otsu, o amor de mãe de Osugi, a vida sem direção de Matahachi, os discípulos-irmãos Joutaro e Iori, o rival Sasaki Kojiro, entre outros diversos personagens. São vários os momentos de apreensão, ansiedade e alívio!
Com certeza refarei a leitura deste tesouro!
?A verdadeira aprendizagem consiste em polir o espírito, mais que as técnicas marciais.?
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Kelly.Jesus 15/04/2023

Que leitura gratificante! Para mim, uma obra prima, sem dúvidas, Musashi é um herói que se reinventou, aprendeu e espalhou humildade em suas peregrinações. Foram tantos encontros e desencontros durante sua vida que foram necessárias mais de 1800 páginas do livro e ainda senti falta de um desfecho melhor para algumas personagens!???
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Marselle Urman 30/05/2011

Dadas as particularidades destas crônicas, ainda é difícil não compará-la aos romances ficcionais - históricos japoneses escritos por autores ocidentais que já li ( Robert Shea e James Clavell), mas vamos em frente.

Senti muitas coisas ao longo da leitura de Musashi. Em especial, divertimento e frustração.
Não me entediei em momento nenhum; ao contrário - o formato é de muito fácil leitura, e apesar de ter alguns poucos momentos morosos, é fácil "devorar" Musashi.

É preciso manter em mente o estado original da publicação ( fascículos em folhetim), isso nos ajuda a perdoar algumas "falhas" - não sei se posso usar este nome, vez que sou leitora comtemporânea e portanto não habituada ao formato.
Do enredo, posso citar algumas insatisfações minhas (sem spoiler?!?): Okoo? Ogin? 3 anos da vida de Joutaro? 3 anos da vida e integridade física de Otsu? Bonzo Takuan?

Perdoem-me, sou muito detalhista...

Voltando, um dos méritos deste épico é o fato de se deter na classe trabalhadora, e cheio de humor. Algumas cenas protagonizando Joutaro quase fazem chorar de rir. Lembrava de um anime assistido há muitos anos ( Dragon Ball) e seu protagonista atrapalhado. Além de obaba Osugi.

A frustração, por outro lado, cabe a Myiamoto Musashi. O grande samurai parece, em vários momentos, um peixe ensaboado. Nunca vi um personagem ser tão perseguido - por tantos, sendo poucos os inimigos - e se esquivar tanto. A crítica ao "caminho espiritual da esgrima" cabe ao fato de, apesar de buscar uma iluminação superior, Musashi acaba sendo egoísta e negligente no trato com aqueles que o amam, sempre por causa de sua extrema humildade e por não querer "dar trabalho a ninguém".
Humpf.

Vou me abster de comentários sobre a história de amor. Também, na minha imaginação de mulher do século XXI, independente, (etc...) queria ter visto um final bem diferente para esse romance.

Por fim, um pouco sobre o grande rival. Aqui, vemos um pouco mais da honra, do respeito, da educação. O rival de Musashi não é um vilão - é apenas um samurai que escolheu um caminho diferente, e apesar de seus deslizes, é muito fácil entendê-lo e respeitá-lo.

Tudo se dirige a um fim determinado, que é anunciado muito cedo no livro. Muitas coisas ainda ficam a cargo da imaginação do leitor. Espero que poucos tenham uma imaginação tão mórbida quanto a minha.
Muita coisa para falar, o mergulho na cultura e costumes japoneses dos anos 1600 é excepcional, e vale a pena per se.

Peço desculpas por falar tanto.
Musashi vale muito a viagem.

Leia se puder.
Marselle Urman 26/09/2011minha estante
Verdade! Agradeço a correção. É que não sabia muito bem como me manifestar a respeito do formato diferenciado deste romance. Abraço.




Jhon 02/04/2021

Musashi
Gostei da obra, um pouco cansativa devido ao número de paginas e o desfecho confesso que achei muito superficial e rápido, esperava algo mais rico em detalhes e uma luta mais extensa. Vale a leitura, entretanto não adentraria em uma releitura, talvez quem sabe nos quadrinho de "vagabond".
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Renan Barcelos 17/12/2016

Uma história sobre o Japão
Uma das obras nipônicas mais famosas no globo, Musashi, do jornalista Eiji Yoshikawa, romantiza parte da vida de Miyamoto Musashi, um dos espadachins mais famosos do mundo. Tendo sido publicado originalmente em forma de folhetim no jornal Asahi Shimbun em 1935, o romance apresenta uma jornada tanto marcial quanto espiritual, mostrando o desenvolvimento do guerreiro ao mesmo tempo em que pouco a pouco ilustra o estado do Japão após um de seus períodos de maior conflito. Em muitos aspectos semelhante à Os Três Mosqueteiros, Musashi traz mistura aventura com eventos históricos e ponderações sobre filosofia e religião. Yoshikawa traz uma história de alta qualidade que, apesar de padecer de alguns dos problemas típicos aos folhetins, consegue ser ao mesmo tempo leve e extensa, densa e divertida, muito longe do que normalmente se imagina para uma obra com sua relevância histórica e literária.

A obra começa pouco depois da Batalha de Sekigahara, evento que definiu os rumos do Japão em um de seus períodos mais conturbados. O jovem Shinmen Takezô está saindo do campo de batalha junto a seu amigo Matahachi. Os dois queriam encontrar glória e fama na guerra, mas acabaram no lado derrotado. No entanto, o espírito agressivo e selvagem de Takezô o leva a continuar buscando seu destino através da espada. No entanto, as pessoas com quem vai tendo contato em sua jornada e os desafios que precisa lutar para superar acabam polindo tanto a alma quanto o corpo do rapaz. Ao longo de sua jornada, Takezô é rebatizado de Musashi e vai encontrando o seu caminho como bushi – um guerreiro – desenvolvendo sua técnica de espada ao mesmo tempo em que afia o espírito, percebendo que um combatente que busca a excelência não deve ignorar as artes, o conhecimento e mundo. Ao longo de quase uma década, Musashi vai encontrando e reencontrando vários personagens, desde velhos amigos, inimigos jurados, o monge que lhe colocou no caminho certo, seu nêmeses e até mesmo o amor de sua vida. Vários eventos e várias personalidades que vão compondo o destino do guerreiro até o seu derradeiro duelo com Sasaki Kojiro na Ilha Ganryu.

É certo que Musashi é uma obra que assusta. Oriental, famosa e volumosa, imediatamente passa a impressão de dificuldade, de ser uma leitura pesada, com uma linguagem difícil e temas complicados de se digerir. É uma impressão justa, exteriormente, o primeiro romance de Eiji Yoshikawa realmente pode intimidar leitores brasileiros, passando toda a impressão daquela literatura clássica hermética. A verdade é outra, apesar de sua importância para o cânone e para a própria cultura japonesa, Musashi é uma obra fácil de ler e muito divertida.
Claro que o percurso do bushi é recheado de momentos introspectivos, no qual o personagem pondera sobre a espada e sobre o próprio caminho, mas também é uma obra cheia de duelos e confrontos entre diversos personagens, não só do grande protagonista que é Takezô. O texto é muito fluido e cheio de diálogos e pensamentos diretos do personagem, como se ele conversasse diretamente com o leitor. Muitas cenas duram várias páginas, conforme o autor vai mostrando as conversas e impressões e movimentos dos personagens. Mas tudo passa muito rápido dentro da estrutura de folhetim, onde há uma quebra e uma pausa a cada duas ou três páginas. Talvez alguns leitores até sintam falta de um estilo mais denso e descritivo, principalmente na parte das lutas, coisa que não cairia bem tão bem em uma publicação de folhetim, contudo.

Mas isto não quer dizer que o livro contém poucas informações sobre o período histórico em que é ambientado. Ao longo de suas páginas Eiji Yoshikawa vai apresentando vários aspectos culturais e sociais sobre o Japão medieval, tanto no que toca as suas instituições e costumes quanto ao próprio pensamento nipônico. A maior parte desta exposição acontece através de diálogos ou ações de personagem intercalados com narrações objetivas sobre alguma questão histórica ou o estado político da época. Muitas vezes isso é tão diluído que pode passar despercebido, principalmente por um leitor menos versado na cultura japonesa. Mas isso não precisa assustar aqueles que não possuem tanto conhecimento sobre o Japão, Musashi nem de longe é proibitivo neste aspecto, com certeza um dos motivos de ser uma das obras mais famosas no ocidente. É claro que as minúcias da obra são muito mais aproveitadas por leitores que já tenham tido um bom contato com a cultura do sol nascente, mas só pelos modos e pensares mais aparentes dos personagens, é possível aprender muito sobre o passado e o presente do povo japonês.

O fato de Musashi estar pautado na realidade não deveria enganar ninguém, contudo. Eiji Yoshikawa se firma no real, usando eventos, pensamentos e personalidades da época, mas o livro é recheado de licenças poéticas e outros exageros literários para compor o personagem que é Musashi. Ao longo do livro, diversos personagens se encontram e desencontram em meio à viagens ou a grandes cidades, quase como se todos vivessem em um mesmo condomínio. É praticamente impossível passar por algumas dezenas de páginas sem que Musashi encontre algum conhecido de longa data ou mesmo passe quase do lado de alguém importante em sua vida sem notar essa pessoa. A depender da análise, isso poderia ser considerado algo forçado e um demérito para o livro, no entanto, dentro do escopo de um folhetim, é algo que se pode relevar, ainda mais por ter ficado tão divertido na forma como Yoshikawa expôs.

Pode-se dizer o mesmo das capacidades marciais de Musashi e de outros personagens. A obra não tem medo de colocar o protagonista e alguns outros personagens em um nível de competência marcial, intelectual ou espiritual acima do que seria realista, e muitas dos confrontos da obra são exagerados e aventurescos, realmente como uma obra de Capa e Espada à lá Alexandre Dumas. Mesmo deixando de lado todas essas “literaturidades” e “folhetinações”, contudo, não se pode considerar de forma alguma que a obra exprime a Verdadeira história do Musashi histórico. Apesar dos registros sobre o bushi, a maior parte de sua vida pertence ao campo da especulação e Yoshikawa não se importa em alterar datas, eventos ou criar personagens para compor a sua trama.

Engana-se quem pensa que o livro traz apenas foco em Musashi. Eiji Yoshikawa apresenta uma série de personagens que recebem um foco expressivo na narrativa do livro. Cada um deles possui a sua própria história, seus próprios anseios e seus encontros e desencontros durante perambulações pelo Japão. Alguns deles, como Iori, o monge Takuan e Sasaki Kojiro também são históricos, já outros como os Matahachi e sua idosa mãe Osugi – ferrenha inimiga de Musashi – e Joutarô são fictícios. Até mesmo Otsu, que compõe o par romântico do bushi e tem quase tanto destaque na obra quanto ele mesmo, não tem muita procedência histórica. Essa multitude de personagens funciona muito bem para criar uma narrativa vívida, mostrando diferentes vidas e histórias que vão se cruzando e se tocando, cada uma buscando o seu destino num período de grande mudanças do Japão. Talvez os muitos capítulos em que Musashi está ausente aborreçam os leitores que estavam atrás do aspecto mais marcial da obra, no entanto, o jornada e o desenvolvimento do guerreiro filósofo nunca seria tão bem arquitetada sem mostrar as várias pessoas comuns. Além disso, no fim das contas, Musashi é mais sobre o Japão e suas pessoas do que o próprio guerreiro que dá nome à obra.

Nem tudo merece elogios na obra, é claro. Um dos maiores poréns do romance está no grande rival de Musashi: Sasaki Kojiro. Em sua ânsia por criar um contraponto ao criador do estilo de duas espadas, Yoshikawa apresenta um personagem mimado, arrogante e forçadamente desagradável. É impossível sentir qualquer empatia por Sasaki Kojiro, e em vários momentos ele soa apenas como um sujeito bonachão que deveria receber logo a sua lição, não como um adversário digno do protagonista. Além disso, em certos momentos, a estrutura folhetinesca da obra lhe prejudica, sobretudo no final. Yoshikawa compõe uma rede de relacionamentos e personagens e pequenas e grandes histórias, mas acaba que mau consegue fechá-las, dando a impressão de que faltou algo e que muitos personagens não tiveram o que mereciam.

Problemas à parte, Musashi é uma obra que merece ser lida. E existem várias formas de se aproveitar da experiência. O tamanho do romance, quase duas mil páginas, assusta sim, mas ele é simples, com uma narrativa leve, e ainda assim cheio de camadas para se descobrir. Os que buscam ponderações filosóficas e religiosas poderão encontrar com facilidade estes aspectos, aqueles que estão atrás da cultura e da sociedade japonesa sairão muito satisfeitos com a leitura. E os que buscam apenas uma história interessante com personagens cativantes também se encontrarão em Musashi.

site: http://ovicio.com.br
Michela Wakami 02/10/2021minha estante
Parabéns, pela sua resenha, maravilhosa, quero muito ler essa obra um dia.
Meu filho está lendo, vagabund, que é baseado nessa obra e está gostando muito.




Henrique 19/05/2021

Excelente
Excelente livro com uma visão romantizada do mais famoso samurai do Japão. Leitura longa mas que vale a pena.
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Adriana 10/03/2013

Maravilhoso
A história de Musashi começa no ponto em que uma grande batalha acabou de terminar e dois jovens samurais - Musashi e Matahashi - se veem caídos no campo de batalha em meio aos milhares de mortos.
A princípio Musashi é um rebelde temido pelas pessoas de sua terra natal, porém depois que seu caminho cruza com o monge Takuan e com a doce Otsu, ele passa a percorrer o país em uma peregrinação buscando se aperfeiçoar tanto como esgrimista como também como ser humano. Nesse caminho se depara com vários desafios e faz inimigos poderosos o que nos leva a duelos que nos deixam sem fôlego, porém o que eu mais gostei no livro não foram as cenas de batalhas contadas com detalhes vívidos, e sim a descrição profunda que o autor fez dos sentimentos e dilemas internos tanto de Musahi quanto de outros personagens. Acompanhamos Musashi não apenas em suas andanças, mas também em seu íntimo, e podemos perceber gradativamente a sua evolução e amadurecimento e aprendemos junto com ele o que é fantástico, eu sei que simplesmente dizer que o livro é fantástico pode não convencer muita gente, mas é o que eu sinto, eu queria muito ter a habilidade de detalhar a obra e escrever uma crítica descente, mas não tenho, então só posso dizer que depois de ler Musashi eu já estou me sentindo com aquela famosa crise de ressaca literária, sabe quando o livro te prende tanto que quando termina você não sabe o que vai ser da sua vida dali em diante?
Fazia muito tempo que eu não me sentia assim com um livro, se ele pudesse ser comparado com algum livro que eu já li, acho que compararia com os livros de Alexandre Dumas, tem toda a diferença cultural que é bem grande entre franceses e japoneses obviamente, porém a qualidade da obra não perde em nada ao meu ver.
Esse foi o meu primeiro contato com a literatura oriental, e a experiência foi muito positiva, embora eu não estivesse familiarizada com muitos termos e costumes relatados no livro, aos poucos eu fui me acostumando e aprendi muito sobre essa filosofia de vida que é tão diferente da nossa, foi um verdadeiro mergulho tanto na cultura como na história do japão.
http://hobbyecletico.blogspot.com.br/2013/03/musashi-eiji-yoshikawa.html
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Maurício Toma 11/01/2016

Um épico Oriental.
Musashi é um livro que apesar de possuir uma escrita simples e fluída (graças, em grande parte, à tradução impecável da Leiko Gotoda), pode não agradar muitos ocidentais, e digo isso em razão das várias influências tipicamente locais ou regionais que o livro apresenta. Quem não conhecer minimamente a história japonesa referente aos Xogunatos e os hábitos comportamentais da cultura oriental da época, sem dúvida ficará um pouco perdido e até entediado por não compreender as referências (e não são poucas) às figuras históricas mencionadas no texto com relativa frequência.

Falando propriamente dos personagens, todos são muito bem construídos. Musashi segue a risca sua filosofia de aprimoramento da arte da esgrima, e suas atitudes, por vezes podem soar egoístas e até perversas (o episódio do Pinheiro pode chocar muitas pessoas), pondo em cheque seu caráter, mas como disse anteriormente, levar em conta o contexto e a cultura da época é extremamente importante. Personagens secundários, não raras vezes, roubam o protagonismo de Musashi. Otsu, por exemplo, é o símbolo da dedicação integral a um amor sem limites - com certeza irritará algumas mulheres modernas pela suposta submissão, mas novamente... levar em conta o contexto da época. Joutaro é divertido e inconsequente. Takuan cresce exponencialmente no decorrer da história, tornando-se um personagem fantástico. E, um dos meus preferidos, que infelizmente aparece tardiamente na história, Gonnosuke, que pode ser definido como valente e leal. Outros personagens merecem destaque, como Matahachi (covarde em grande parte da trama), Osugui (insuportável também em boa parte da história), Akemi (uma coitada) e vários outros secundários.

A história se passa integralmente em solo japonês, e acontecem muitos encontros e desencontros que podem soar forçados, porém, lembremos que ao contrário do Brasil, o Japão é um território bem pequeno, sendo totalmente aceitável algumas coincidências de personagens importantes se reencontrando em algum momento, de forma acidental, mesmo tendo tomado caminhos geograficamente diferentes.

Em suma, um clássico! Mas... não um clássico ocidental, um clássico oriental, com referências orientais e comportamentos orientais- o pessoal dos animes encontrará em algum momento nas notas de rodapés uma tal lenda de Son Goku e várias outras pequenas mostras da riqueza histórica japonesa, mostrando uma mistura de histórias reais com fatos ficcionais do maior samurai da história do Japão.
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Marina 01/03/2018

Segunda leitura que faço desse livro. A primeira vez foi quando eu era adolescente. Como eu tenho uma memória meio ruim, já não lembrava de quase nada do livro.
Geralmente eu não me dou muito bem com releituras (se foi um livro que gostei muito, geralmente o entusiasmo não se mantém na releitura), mas Musashi foi uma exceção. Gostei mais ainda dessa segunda leitura. Este livro é ótimo para quem quer conhecer um pouco mais sobre cultura e história japonesa. Apesar de ser uma ficção, o livro foi baseado na vida do Miyamoto Musashi, e muitos personagens e batalhas reais aparecem na história.
Outro ponto positivo é que, apesar de ser um clássico, tem uma linguagem muito acessível e bem objetiva. É até engraçado falar isso, visto que o livro é gigante, mas o autor não perde tempo com muitas descrições e a narrativa tem um ritmo bem agradável (os capítulos também são bem curtos, o que pra mim sempre ajuda).
A evolução e crescimento do personagem durante sua jornada de aprimoramento é envolvente, e há muito personagens secundários carismáticos que deixam saudade.
Em algum momento futuro, ainda pretendo ler essa obra mais uma vez.
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vbitazi 25/02/2021

Mas que livro incrível, são quase duas mil páginas, mas da gostinho de que poderia ter mais. No final fica aquela sensação de querer o que aconteceu depois, mas entendo que o autor deixa a nossa mente imaginar o que aconteceu depois.
Musashi é um leitura desafiadora, mas acho que é aqueles livros que todos deveriam ler durante a vida. Uma jornada que nos leva a refletir muito. Já tive grandes mestres que não conseguiram ler tudo, talvez por esbarrarem que musashi não é somente um conhecimento físico, mas sim espiritual. E fica bem claro no final o quanto que o conhecimento espiritual é difícil de se aprender, mas tem um poder além de qualquer outro.

Recomendo a todos que queiram se aventurar e entrar nessa imersão que se chama Musashi.
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Ayres 04/06/2022

Obra-prima.
Yoshikawa brilha no quesito narrativa. A obra transborda temas filosóficos e trabalha muito bem a psique dos personagens, deixando o leitor imerso de forma absurda.

Musashi é brabo.
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