A brincadeira

A brincadeira Milan Kundera




Resenhas - A Brincadeira


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Lori 28/05/2010

Quando finalmente decidir ler o primeiro romance de Kundera, tinha certos pré-conceitos. Esperava um bom livro, porém nada que tirasse a respiração. E, vale a pena dizer, adoro quando estou errada sobre literatura. Como todo primeiro livro, não há tentativa de revolucionar os livros. Podem-se encontrar elementos que o autor rejeita em seus livros posteriores. Como as descrições de ambientes como a necessidade de contar a história do personagem para conhecê-lo. Obviamente isso não o faz pior, somente diferente do resto de suas obras.

Contudo já podem ser encontrados elementos que o acompanham até o final (pelo menos até o último livro lançado). A forma poética de escrever certos trechos, os personagens complexos, a questão da memória e esquecimento, e a forma de criar uma trama. E essa talvez seja uma das melhores coisas do livro. Já que ela vai se criando aos poucos, você vai vendo certos eventos por olhos de personagens diferentes e pequenos detalhes ditos posteriores fazem você ter uma visão total. É interessante como dois personagens podem ler o mesmo evento de formas diferentes, o que para um é amor para outro é vingança.

Os personagens são interessantíssimos. O Ludvik me causa diferentes sentimentos, me simpatizei pelo Kostka e senti a decepção de Jaroslav. Mas é Lucie que me cativou mais de todos. Ah Lucie, Lucie, não ouço sua história por sua voz, contudo é que mais me emociona. Lucie aparece simplesmente como uma garota que Ludvik se apaixonada em sua juventude, contudo vai se transformando em algo mais até que acaba quando ela se muda. Só mais a frente no livro, descobre que ela faz parte do passado de Kostka também. E é a ele que ela mais revela o seu passado. Lembro-me que estava na van quando li sobre a adolescência dela, e precisei fechar os olhos para poder sentir plenamente a dor dela.

É interessante que depois que Ludvik ouve a história de Kostka sobre a amada, ele percebe que realmente nunca conheceu. Ele somente via o que precisava ver naquela época, ela era o espelho da forma que ele sentia. Também reflete que o outro não havia certos detalhes da história dela, logo ele também pode ter romantizado e que era parte verdade, outra lenda. Leva a pensar que talvez não dê para criar a história inteira de uma pessoa, já que ela nunca contará todos os detalhes. Talvez por que tenha vergonha, não goste de lembrar, ou simplesmente não vê a importância. Os personagens do livro representam algo de sua sociedade. Jaroslav é paixão de Kundera pela música popular, Kostka traz o lado religioso, Ludvik é aquele desiludido com o partido.

O lado político do livro não é claro como em outros. É uma das partes fundamentais do livro, mas é pela forma que leva os personagens. O livro se chama A Brincadeira, por que a vida de Ludvik começa a desmoronar quando ele faz uma brincadeira que é interpretado pelo Partido como inapropriada. A partir daí ele é expulso do Partido e da universidade, vai para o exército e trabalha nas minas. E todo esse tempo levando uma raiva e desejo de vingança (uma parte fundamental da trama). E é isso que leva ao grande desfecho do livro e que me fez fechar o livro, pressioná-lo contra o rosto e soltar um wow sonoro. O livro não há um grande final, uma mudança de vida. Sim, que Ludvik aceita sentir novamente bons sentimentos, ele voltar a amar sua terra natal, a querer a presença de antigos amigos. E é como ele finaliza o livro dizendo que o fim do destino de uma pessoa não tem que combinar com o da morte, pode ser antes.

O trecho que eu mais gostei é pela força que as palavras que Kostka usa: Ora Ludvik, como você não acredita em Deus, você não sabe perdoar. Você vive obcecado por essa reunião plenária em que mãos unânimes se levantaram contra você, aprovando a ruína de sua vida. Você nunca lhes perdoou por isso. E não apenas cada um deles. Eles eram uma centena, isto é, um número capaz de representar uma espécie de micro modelo da humanidade. Você jamais perdoou o gênero humano. Desde então, você lhes retirou sua confiança e lhes dedicou sua raiva. Mesmo que eu possa compreendê-lo, isso não muda nada no fato de que tal raiva dirigida aos homens é aterradora e pecaminosa. Ela se tornou sua maldição. Pois viver num mundo em que nada é perdoado, em que a redenção é recusada, é como viver no inferno. Você vive no inferno, Ludvik, e eu tenho pena de você. (Pag. 267, par.02)

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http://depoisdaultimapagina.wordpress.com/
M. 19/04/2015minha estante
Legal que curtiu o livro. Eu também adorei, embora ele seja verdadeiramente um tanto triste. Achei ele mais completo e intenso do que A Insustentável leveza do ser.

Dizem que A Brincadeira é baseado na história real do Milan Kundera. Ele realmente foi expulso do partido e tudo mais. Você acha que a personagem Lucie realmente existiu na vida dele? Fiquei MUITO curiosa e não encontro informações sobre isso. E se existiu, como será que acabou a história entre eles? Eles nunca mais se falaram mesmo? (e se alguém souber, por favor, comente aqui :).




joaoggur 19/04/2024

Milan à milhão.
Don DeLillo, que considero o maior prosador estadunidense vivo, diz que o trabalho do escritor é ?sempre questionar aqueles que estão no poder?. Seu contemporâneo, do outro lado do mundo, levara este princípio bem a sério; na tentativa de caçoar do regime socialista da República Theca, Kundera cria uma obra com personagens agridoces e sem carisma.

Veja lá; não digo que Kundera é superestimado, ou que seu renome é desproporcional à sua qualidade literária. Apenas aponto que, neste romance de estreia, o autor apresenta todos os elementos que fazem um romance ser ?de estreia?; descrições desnecessárias, devaneios fora de hora, disformidade na cadência (a.k.a. ?partes muito lentas seguidas de partes muito rápidas? e vice versa)? Parece que as palavras passam uma profunda sensação de não saberem para onde estão indo.

Ludvik, o narrador primordial (a narração oscila pelo livro), é o personagem que (minimamente) tecemos qualquer tipo de afeição (há também Lucie, mas esta não é narradora). Os outros, bem, admito que esqueci seus nomes. E não sei se sou meio desmiolado, mas na última parte do livro, onde a narração é compartilhada entre três personagens (cada ?parte? é um narrador diferente, com excessão da última), tive uma tremenda dificuldade de saber quem-é-quem.

Um romance que funciona em sua causa política, mas peca na coesão narrativa e na construção de personagens.
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Henrique Fendrich 13/05/2021

Li esse livro pela primeira vez há 12 anos e ele me marcou bastante, a ponto de eu sustentar que era inclusive melhor que o célebre "A insustentável leveza do ser". Entretanto, passado tanto tempo, eu pouco me lembrava da trama e por isso, nesse meu ano "tcheco", decidi reler.

Ah, como foi proveitosa essa releitura, porque agora eu estava muito mais preparado para sorver os detalhes do livro. Agora, eu já conhecia grande parte da história tcheca, eu já sabia o que era o período em que o livro foi escrito, eu inclusive já havia lido o livro do Julius Fucík que é mencionado muitas vezes ao longo da história e que, inclusive, foi usado contra o protagonista Ludvík no processo referente à "brincadeira" que dá nome à obra. Também já tinha muito mais ideia do que é uma aldeia tcheca do interior.

Tudo isso certamente permitiu me situar muito melhor na trama, que diz respeito, em apertada síntese, a um homem "cancelado" pelo regime comunista em seu país que busca uma espécie de vingança moral contra o responsável pelos seus anos de prisão, mas que tem o seu destino marcado por um romance inacabado da sua juventude, o seu romance com Lucie, a pobre e ingênua Lucie, personagem das mais interessantes. E todos os fantasmas do passado assomam no momento que Ludvík retorna à sua aldeia natal na Morávia.

Em grande medida, esse pode ser visto como um romance de contrastes ou mesmo de dualidades. Seus personagens estão continuamente lidando com o amor e o ódio, o presente e o passado, a modernidade e a tradição, o comunismo e a religião (o católico Kostka, embora não apareça tanto, fornece algumas reflexões bem interessantes). Tudo é permeado por um verniz filosófico que se tornaria uma das marcas da produção de Kundera.

Ao indicar o desencanto que a sociedade já experimentava com o comunismo no país, além da própria indiferença da juventude com a trajetória de heroísmo alardeada pelo regime, o livro de Kundera, sem querer, alinhou-se aos propósitos da Primavera de Praga, que eclodiu pouco depois da publicação do livro e que era justamente uma tentativa de reformar o regime, fazendo-o voltar à sua essência (mas o movimento acabaria repelido).

Kundera mesmo não gostava da associação política que era feita com esse livro, que para ele não era nada mais do que um romance e assim deveria ser visto. Entretanto, mesmo sendo um romance, ele capta muito bem o Zeitgeist daquela época e daquele lugar, e creio mesmo que a nossa geração também tem com o que se identificar, considerando que também ali estão a liquidez, a superficialidade e o próprio patetismo dos relacionamentos, coisas que também marcam profundamente a vida ocidental na atualidade.

Nesse livro já está presente a multiplicidade de vozes, outro traço bem característico de Kundera, e a impressão final que tive foi que tudo se tornou "redondinho" na trama, que é, além de tudo, bem empolgante. Fazia muito tempo que eu não lia mais de 100 páginas por dia. Terminei esse livro do Kundera, de 400 páginas, em 4 dias. É que ele é bão mesmo.

Vou reler o "A insustentável leveza do ser", que li há mais tempo ainda (15 anos), para então fazer uma comparação melhor, mas, sinceramente, acho que ainda vou preferir esse aqui.
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LaAs.Carvalho 15/05/2021

Demorei mais que o esperando para acabar este livro. Há dois motivos para isso: trabalho e a grande raiva que senti ao ler alguns trechos em que a mulher é retratada, mas posteriormente pude entender a construção da trama, uma vez que, Kundera a desenha aos poucos, confundindo. Possuí infinita identificação com o personagem principal, desde o início, mas não quis admitir nem para mim, pois o livro traz, em seus personagens, um excesso de identificação com o grotesco e o comum da realidade e do ser humano. Ludivik é intragável, ele endeusa o ódio. Há partes em que chega a ser difícil ler a descrição de seus pensamentos. Entretanto, é muito fácil perceber que Ludivik é homem como qualquer outro que esteja frustrado. A identificação que possuo com a obra se dá a partir da dificuldade de perdoar porque a grande lição é que seu destino pode mudar completamente só por causa de uma brincadeira. Segundo Kundera, o destino, às vezes, acaba antes da morte. E é natural o ser humano não aceitar, ou pela perspectiva religiosa, não enxergar um lado bom na frustração.
Até o amor para Ludivik é impossível e triste. Não teve um grande fim. Ele só parou de impor prepotência e soberania ao ódio. Ele se permitiu sentir.
Tive medo desse livro. Tenho medo do rancor. Tenho medo de ser tarde.
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Ricardo.Sigalla 13/07/2020

Brincadeira
Kundera é fantástico, sua escrita é ótima e seus temas também. A Brincadeira é mais um livro que nos faz refletir sobre a vida, política, comunicação, amor etc., e nos faz observar o ambiente em que se passa a história sob diferentes perspectivas. O livro vale a pena tanto pela história quanto pelo que pode agregar para quem o lê ao nos colocar diante das diferentes motivações e racionalidades dos personagens.
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MaywormIsa 04/03/2018

Saudade
Eu queria vir aqui e escrever uma resenha impecável que esse livro merece, mas eu ao invés disso vim falar sobre saudade. A saudade que eu sinto dos personagens, a saudade que eu sinto de Ostrava, a saudade que eu sinto dos conflitos, que eu sinto da mitologia, que eu sinto da brincadeira.
Passei dias andando pela cidade dentro do metrô, acompanhando hipnotizada as palavras do nosso Ludvik idiotão e vingativo. Acompanhei aos risos as vergonhas de Helena e seu ajudante. Acompanhei fugas da prisão e tardes cinzas.
Tudo isso me deixou saudade, o casamento folclórico, o infarto, e a brincadeira.

Não sabia ele, Ludvik que sua simples personalidade mal carater ( me atrevo a isso) resultaria em anos tão gelados, o faria transformar a vida do vinho pra água e que ao esfriar do prato para comer a vingança, envolto nos braços dos quais esqueceu por teimosia.

eu sinto saudade desse livro e você também sentirá.
Clara 31/01/2023minha estante
Estava no início da leitura, já pensando em desistir, pois achava que esse livro não iria se comparar ao grande ?A insustentável leveza do ser?. Vim até aqui e achei sua resenha, que foi o que me fez continuar. Que alegria saber que ao fim, também sentiria saudade da obra, assim como vc. Vc definiu bem o sentimento de terminar o livro! Espero reler e reencontrar todo esse mundo de Ludvik daqui alguns anos?


MaywormIsa 13/02/2023minha estante
Oi Clara! Que alegria saber do seu relato! Fico muito feliz de ter de alguma forma te incentivado a continuar! Sei que esse livro não chega aos pés do outro, mas ele tem sua potência! É um amorzinho diferente, e acho que no começo era chato justamente pq ludvik eh um mala hahahah mas um mala carismático até o final do livro.

Beijão! E boas leituras, espero que a gente continue sentindo coisas boas na releitura de ?a brincadeira?




Bruno Pinto 02/06/2013

Primeiro romance de Milan Kundera, é um livro com um enorme peso emocional: injustiça, impotência, revolta, angústia, ódio, rancor, mágoa e desejo de vingança estão sempre presentes.
Esta obra incluiu seu autor na lista negra dos soviéticos e poderia ser vista como essencialmente política, no entanto é interessante pensar que tudo que acontece no romance são ações humanas, antes de ações históricas e políticas: poderiam ter ocorrido em qualquer outra época, outro regime, totalitário ou não. Tanto que o prório Kundera revelou ser seu desejo que sua obra fosse vista como "apenas um romance, nada mais que um romance".
Em termos de forma, o autor é genial: a variação de foco da narração entre personagens, que aconteceria em A Insustentável Leveza do Ser, romance posterior, aqui foi ainda mais marcante, já que a própria narração é entregue aos diversos personagens, jogando o leitor em diversos mundos e mentes.
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Shadai.Vieira 24/05/2020

Fiquei 2 anos sem ler nada do autor pois, já tendo lido muitos de seus romances, necessitava de um tempo para "perder" a sensação de todos seus livros serem variações dos mesmos temas: política (a Tchecoslováquia comunista), peso do passado (fardo), vida sexual de adultos que tem suas histórias entrelaçadas e pitadas de Nietzsche.

Não está entre meus favoritos, mas ainda assim um ótimo livro, com boas reflexões sobre o quanto absortos em si quando jovens ou quando "maduros" cometemos muitos erros. E, de nada adianta "correr atrás do passado", quando reencontramos pessoas que conhecíamos elas já não são mais as mesmas.
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Vitoria 22/08/2020

Fico muito confusa com russos
Li o livro para uma avaliação da faculdade e fiquei muito confusa com tantas variações de nomes para a pessoa que os russos possuem. A história em si teve momentos interessantes que me deixaram presa no enredo, mas também teve momentos extremamente maçantes que morri de preguiça de ler (talvez por ter sido uma leitura obrigatória e não por deleite).
MF (Blog Terminei de Ler) 11/01/2022minha estante
Apenas um detalhe: Kundera não é russo; ele é tcheco.




Luiz Miranda 05/12/2023

Estreia arrasadora
Escrito em 65, lançado em 67, é o romance de estreia do checo Milan Kundera, que aqui já exibe uma excepcional desenvoltura literária. Autobiográfico até a medula, apresenta um painel terrível da ideologia comunista mandatoria na Checoslováquia pós segunda guerra mundial.

Acompanha 4 personagens (Ludvik, alter-ego do escritor, é o principal) que tiveram sua trajetória irremediavelmente afetada pelo fanatismo ideológico daqueles anos pós guerra, além, é claro, de seus anseios, frustrações, reflexões, etc. Bem escrito (mesmo traduzido da tradução francesa), sóbrio, poético e filosófico em boa medida, a prosa de Kundera tem aquele elemento que captura a atenção, não importando o quão trivial situação esteja sendo narrada, o cara SABE escrever, simples assim.

Pra quem se apaixonou por A Insustentável Leveza do Ser, pode ir nesse sem medo. Na verdade é indicado pra qualquer leitor que já tenha ultrapassado o casual.

4 estrelas
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rdszimiani 27/04/2023

Marcante
Conheci Kundera de ouvir falar de "A Insustentável Leveza do Ser", mas confesso que tal obra não me cativou na época em que foi lida, fosse pela expectativa, fosse pela dissonância do íntimo.

Por outro lado, posso dizer que "A Brincadeira" foi uma experiência arrebatadora desde o começo. Diferentemente de outras formas de arte, que logo podem nos conquistar pelos olhos ou pelos ouvidos, a literatura necessita de um certo tempo de imersão para que seja possível identificar-se ou não com ela.

Nesse sentido, ?A Brincadeira? mostrou-se alinhada com o estado de espírito ao logo de toda a leitura. Experiência que provavelmente não será esquecida, mesmo que os pormenores da trama não resistam à ação do tempo.
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Deghety 03/05/2023

A Brincadeira
A Brincadeira é um romance dividido em capítulos dedicados às personagens diferentes, mas todos ligados entre si. Além do ponto comum, a qual todos se conhecem, são de uma forma ou de outra afligidos pelas mudanças trazidas pelo comunismo. Mesmo alguns deles havendo outrora feito parte do movimento.
Opressão, traição, autoritarismo, perda de valores e identidades, tanto individual como nacional, são alguns dos temperos do caldeirão social a qual são submetidos.
Mas o livro não tem viés político, porque tudo isso que mencionei fazia parte do cotidiano comum do regime.
Quando se penetra nos personagens e em suas próprias ideias, encontramos um romance que fala da filosofia dos sentimentos, seja amor, seja ódio, seja perdão, seja vingança. E Kundera sabe muito bem explorar e individualizar tais sentimentos em cada personagem.
4.4/5
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A.Wesendonck 01/04/2020

Leitura fácil, como todos os romances que já li do Kundera.
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Nathan 10/11/2014

O Kundera insustentável e o Kundera brincalhão
É certamente um Kundera: as relações afetivas como pano de fundo para a filosofia, um mundo dividido e em processo de mudanças profundas como pano de fundo para as relações afetivas. Não dá pra dizer que é melhor que o a insustentável leveza, já que nele a integração entre filosofia, enredo e estrutura da narrativa parece atingir o máximo possível, mas é certamente mais constante que ele: é bom e prende a atenção do início ao fim. É também, para bem e para mal, mais caricato e, em certo sentido, mais direto que a obra prima. Por exemplo pelo mote da história bastante explícito (uma brincadeira bastante irrelevante que o carrancudo regime político não entende e motiva uma devassa na vida do protagonista), pelos personagens arquetípicos (o pragmático, o vaidoso intelectual carreirista político, o idealista fascinado por cultura popular, o religioso estoico, etc.) e pela marcação explícita, no título dos capítulos, do eu lírico de cada parte (ao contrário do insustentável leveza, que alterna o locutor de forma mais complexa, umas tantas vezes usando discurso indireto livre).

Me incomoda em ambos livros as relações de gênero excessivamente marcadas. Na maioria das vezes mulheres fragilizadas personagens masculinos muito seguros de si. Claro, poderia se objetar que Kundera retrata uma sociedade machista. Mas no mundo machista também há mulheres fortes e mecanismos de resistência (e digo mais, no Insustentável leveza, em alguns momentos, dá impressão que o autor está mesmo se realizando sexualmente no personagem Thomas). Ainda assim as sacadas filosóficas com pé no mundo real, ou melhor ainda, com pé no mundo das relações humanas, fazem o livro valer a pena.

site: http://oqueviealgomais.wordpress.com/2014/11/10/o-kundera-insustentavel-e-o-kundera-brincalhao-a-brincadeira-milan-kundera/
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Lacerda 01/02/2010

Kundera mostra que é possível envolver história, política, amor e ainda manter uma certa inocência.

É um livro pátrio, cheio de tradição e remonta a cultura Morávia com suas canções e costumes; uma hitória com personagens convictos, crentes num mundo novo, firmes no comunismo e fiéis ao amor - tanto próprio quanto ao outro.

Ludvik demonstra que a vida passa e sempre arma brincadeiras a todos.
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