Mario e o Mágico

Mario e o Mágico Thomas Mann




Resenhas - Mario e o Mágico


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Marcia 09/04/2024

Minhas impressões sobre o livro
Livro curto de excelente qualidade que nos entretém todo o percurso da leitura.
Nesse livro temos um narrador que nos contará sobre suas férias com a família numa cidade da Italia. Eles almejam férias tranquilas e relaxantes na cidade costeira de Torre di Venere. A forma que nos descreve o lugar é incrível, nós nos transportamos junto com os personagens.
As férias não foram nada tranquilas, eles sofreram preconceitos, foram constrangidos e viveram momentos complicados num show de mágica que traumatizou a todos.
A história se passa na época de Mussolini e tem um paralelo ao fascismo que também ilustrará alguns anos a frente a postura de Hitler.
Esse livro foi inspirado nas férias que próprio escritor passou com a família na Itália.
Um ótimo livro, leitura rápida e que agrega.
Valeu!!!
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Molizini 31/01/2024

Impressionante a visão de Thomas Mann sobre o início do fascismo e toda a hipnose de uma geração que foi conduzida por sociopatas e assassinos. Além do conto/novela, que sendo mais atual impossível, fica todo o mérito do posfácio de Marcus Vinicius Mazzari, onde não só contextualiza o texto como também traz brilhantes referências para outras obras como a Montanha Mágica.
É um livro pra ler de uma vez só.
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Vivi 26/01/2024

À primeira vista, parece ser a história de uma estranha tragédia que aconteceu durante um show em uma cidade turística italiana. 48 páginas contêm uma breve descrição da cidade e algumas pontuações , e um relato sobre o desempenho tristemente encerrado de um "mágico" hipnótico que veio à cidade.
Só que não é bem isso...
A história foi escrita numa época (1929) em que o chamado patriotismo surgiu na Itália e na Alemanha. Os italianos, sob a liderança de Mussolini, sonhavam em restaurar o poder e a autoridade do antigo Império Romano, enquanto os alemães, ofendidos pelos resultados da Segunda Guerra Mundial e pelo Tratado de Versalhes, olhavam com esperança para Hitler, que falava incentivando a autoconfiança.
As pessoas viajam, descansam e vão a shows, sem ação militar. Mas a cada frase fica mais claro que a concentração do mal no ar aumentou significativamente. Quanto mais a frase se prolonga, mais desagradável se torna o ambiente, mesmo na praia - as crianças não ouvem, as mulheres gritam, o sol destrói a capacidade de pensar.
Anúncios aparecem na cidade. De uma performance que deveria trazer (uma impressão muito subjetiva: para um público torturado. Um mago particularmente sinistro e até feio inicia o show. É claro desde o início que nada de bonito , mas é estranho também - um vínculo é criado entre ele e o público. O mago zomba e humilha, mas ninguém vai embora. Qual é o seu poder?
Olha Thomas me conquistando novamente rs.
Não tenho certeza sobre a primeira metade da frase, mas "O mágico e o texto são realmente densos e um tanto difíceis. Afinal não seria o autor se não fosse assim... claroooo que voltei rs. Admito sem culpa ra.
Cheios de detalhes. Mas também vivos, fluidos, coloridos. Não é adequado para leitura em fuga, você precisa silêncio e tempo para aprofundar. E glória ao criador tive total para dar conta! Por sorte li nas férias rs.
É provavelmente um fato bem conhecido que Thomas Mann é um escritor que nunca escreve diretamente sobre o que escreve. Se é que me entendem.
E isso é interessante, porque quem se daria ao trabalho de ler se o próprio autor explicasse o último ponto.
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Lucas1429 16/01/2024

A hipnose do estropiado
Publicada em 1930, a novela de Thomas Mann alegoricamente antecipa as vicissitudes totalitárias da Europa dos anos seguintes, quando o fascismo se consolidaria como repertório da esfera política.

Narrado por um homem acompanhado de sua família, que viaja a um balneário italiano para férias veranis, o relato é exemplificado por nativos hostis e conservadores de um modelo beligerante de nacionalismo, vertentes do autoritarismo.

O alastramento do choque é impingindo à narrativa quando participam de um show de um ilusionista canastrão, mas que acerta na retórica: Cippola, seu nome, faz mandos e desmandos ao humilhar seu público espectador, ao passo que tenta exaltar os conterrâneos. Mário, um garçom local, verterá-se em vítima, culminando a tragédia anunciada.

Aludida a uma peça assertiva da hipnose ditatorial, a obra é perspicaz na aproximação do artifício tirânico. Mann nega tê-la feito consciente do genocidio posterior que também assolaria até seu país natal, Alemanha. À época disse não contemplar a categorização que faziam-no de um militante; transformou-se no estalar da barbárie que é História.

Inegável, porém, é a sedução do mágico
estropiado, como Mann apontava ser Hitler, como o é Cipolla, este projeto autocrático, nulo enquanto humano, que converge o mais fraco para sucumbir ao seu manejo social inaceitável. Alerta constante (e atemporal) às democracias vigentes.
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Beatriz.Alves 05/12/2023

Mário e o mágico- Thomas Mann
Livro surpreendente e instigante. A princípio,parece inocente e pueril,mas se desdobra de forma a nos tirar o fôlego e revelar uma realidade cruel.
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MCRA 31/07/2023

Excelente.
Mário e o Mágico trata-se de uma novela com traços autobiográficos escrita em 1929 e lançada um ano depois, e tem como cenário Torre di Venere, um balneário italiano ficcional. Sua narrativa nos apresenta um chefe de família e suas fracassadas férias de verão, que resultam em um desfortúnio. Na primeira parte do livro, esse narrador relata o início já conturbado de seu período de descanso familiar, enquanto observa um ar de crescente nacionalismo durante os primeiros dias de sua estada na Itália. A segunda parte expõe uma performance de um mágico italiano, Cipolla, que apresenta truques e pequenas exibições hipnóticas, utilizando seus poderes mentais para controlar o público . Cipolla representa o poder hipnotizante dos líderes autoritários na Europa da época, antecipando os movimentos iniciais do fascismo, que o escritor alemão foi capaz de perceber em suas viagens - essa personagem foi inspirada em uma performance de mágica que Mann assistiu na Itália, durante o verão de 1926.
Novela curta, de apenas 50 páginas, mas de narrativa marcante. Recomendo muito essa leitura. E essa edição do livro traz ainda um posfácio excelente do Dr. Marcus Vinicius Mazzari.
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Leila 15/06/2023

Mário e o Mágico novela do Thomas Mann, é uma obra literária que desperta sentimentos diversos e provoca uma reflexão profunda sobre a natureza humana e o poder manipulativo do fascismo. Embora eu não tenha apreciado completamente o texto em si, é impossível negar que a edição da Zahar traz um conjunto de textos de apoio que enriquecem a leitura de uma forma ímpar.

A contextualização fornecida desta edição da Zahar é extremamente valiosa. Ao apresentar uma compreensão mais ampla da obra e da vida do autor, nos leva a uma apreciação mais profunda da experiência de leitura. Os paratextos nos permitem compreender melhor o contexto histórico, social e político em que a novela foi escrita. Isso é fundamental para apreciar plenamente a intenção do autor, que muitas vezes pode escapar de uma leitura superficial.

A vida de Thomas Mann, suas influências e suas motivações criativas são reveladas através desses textos de apoio. Eles nos ajudam a entender a perspectiva do autor ao abordar temas tão complexos como a ascensão do fascismo e a manipulação de massas. Ao mergulhar mais fundo na mente do autor, somos capazes de captar nuances e sutilezas que, de outra forma, poderiam passar despercebidas.

Essa abordagem crítica, fornecida pela edição da Zahar, oferece um contraste intrigante com a minha reação inicial ao texto principal. Embora eu não tenha curtido muito a novela em si, os textos de apoio me permitiram apreciar a importância e o significado da obra em um nível mais profundo. Eles fornecem uma chave para desvendar os aspectos ocultos e subtextuais, ampliando meu entendimento e apreciação de um modo mais geral.

No entanto é como eu sempre digo, é importante mencionar que o valor desses textos de apoio não deve ser superestimado. Uma obra literária deve ser capaz de se sustentar por si só, independentemente de informações externas. Embora a edição da Zahar tenha sido bem-sucedida em fornecer um valioso contexto para a obra de Thomas Mann, é essencial que a novela seja capaz de se destacar por seus próprios méritos literários.

Enfim, resumindo, gostei de ter lido apesar de não ter amado a obra em si, ela é importante após a compreensão da intenção do autor ao escrevê-la e também é como eu sempre digo (novamente) ler um texto do Mann é sempre se cercar de erudição, o cara era o "cara".
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@vidaliterata 09/06/2023

Essa novela publicada em 1930 pelo escritor alemão Thomas Mann, é considerada uma das primeiras da literatura a retratar o que seria o início do fascismo antes de se difundir pelo mundo, principalmente na Europa. Nela acompanhamos o relato de um homem, que passou às férias com sua família, no balneário da cidade fictícia de Torre di Venere, Itália.

Logo no início o narrador nos conta que durante as férias com a família, houve uma terrível tragédia no local. Ao longo do livro, ele vai relembrando toda a trajetória até chegar a esse momento impactante.

Já no hotel, a família passa por uma série de constrangimentos, presenciam uma atmosfera hostil, super moralista e um patriotismo excessivo, por parte dos hóspedes locais. A família não é bem tratada por ser estrangeira e por não pertencer a sociedade burguesa.

Quando eles se mudam para outro estabelecimento, por conta de um desentendimento com uma hóspede influente, se deparam com um cartaz anunciando a chegada de um mágico, ilusionista, chamado Cipolla, que fará um espetáculo naquela noite. As crianças se animam e eles decidem ir.

O que eles não sabiam é que Cipolla é um ilusionista farsante e autoritário, que com seu chicote, usa truques de hipnose e artimanhas para manipular e intimidar seu público, sobretudo os estrangeiros. Durante o show, o ilusionista, inclusive, se gaba que já foi assistido pelo irmão do então ditador, Mussolini, em uma de suas apresentações. Porém, Mário, o garçom, que está presente na plateia, terá um papel crucial no final de seu espetáculo.

Foi uma leitura lenta e desafiadora, por conta do vocabulário rebuscado. A narrativa é suspense do começo até o fim. Fiquei bem curioso sobre como seria o tão anunciado desfecho trágico. Porém, tiveram várias partes arrastadas. Confesso que achei que gostaria mais da leitura.

Apesar de não ter gostado tanto, valeu a pena conhecer a obra do autor e por trazer reflexões atuais e pertinentes, principalmente sobre o fascismo e a xenofobia. E serve de alerta para não deixarmos que um novo Cipolla retorne ao poder.
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Debyh 26/05/2023

É um conto simples e que depois de ler o posfácio entendi a importância dele, o autor foi um dos primeiros a captar o que estava vindo com o fascismo que estava começando a se alastrar neste período, o conto inteiro é uma parábola para tudo que estava acontecendo e também prevendo as possíveis tragédias que poderiam acontecer (e aconteceram).

resenha: https://euinsisto.com.br/mario-e-o-magico-thomas-mann/

site: https://euinsisto.com.br/mario-e-o-magico-thomas-mann/
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voandocomlivros 02/05/2023

🎩 "Devemos entregar os pontos e nos esquivar da experiência tão logo ela não se demonstre perfeitamente capaz de produzir bom humor e confiança? Devemos "ir embora" quando a vida se mostra um pouco fora do comum, algo suspeita ou um tanto embaraçosa e mortificante? Não, devemos permanecer, fazer frente a ela e a ela nos expor, justamente nisso talvez haja algo a aprender."




"Mário e o Mágico" foi escrito em 1929, quando o fascismo já havia surgido. Esse aspecto é bem importante dentro dessa história. Temos aqui, uma relação entre artista e sociedade. A descrição das reações e emoções das pessoas e do que se passa na cabeça de cada um dos espectadores, bem como o comportamento das crianças e dos adultos, evidenciam a preocupação constante de Mann, pois estavam enraizadas em suas próprias memórias pessoais e ele fazia de tudo para cultivá-las com mastreia.


Devido ao contexto histórico, essa novela tem uma atmosfera mais sombria, triste e amarga. É uma história emocionante e envolvente, que no início, nos faz sentir como se estivéssemos em pleno verão na Itália (nunca estive na Itália, mas minha imaginação é bem fértil 😄). Fui capaz de sentir a agitação do feriado e o vento quente do verão!
Depois da metade, o calor todo da narrativa vai esfriando. Mann transmite muito bem o fascismo italiano daquela época e convida o leitor a fazer parte do show do mágico manipulador Cipolla.



🎩 "Nos países meridionais, a fala é um ingrediente da alegria de viver, que goza de uma estima social muito mais viva que no norte."


Cipolla e seu espetáculo é uma referência à incapacidade da população de se horrorizar e ao mesmo tempo não parar de aplaudir diante dos líderes e promessas do fascismo. É uma situação que ecoa nos dias atuais em todo o mundo.


🎩 "É de presumir que não se pode viver psiquicamente do não querer; não querer fazer uma coisa não é; a longo prazo, um propósito de vida; não querer alguma coisa e não querer mais em absoluto - e, portanto, fazer, não obstante, o que é ordenado - são talvez duas posições vizinhas demais para que, entre elas, a ideia de liberdade não se visse em apuros [...]"


Uma história universal e atemporal, embora a anedota esteja muito bem colocada em ambos os sentidos. Nestes tempos em que é cada vez mais fácil manipular as pessoas - às vezes de forma sutil, outras vezes de forma mais ostensiva -, "Mário e o Mágico" é uma leitura essencial.

site: https://www.voandocomlivros.com/post/m%C3%A1rio-e-o-m%C3%A1gico-resenha
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Maysa 13/04/2023

Uma leitura excelente!
Nessa novela de Thomas Mann "Mario e o mágico - Uma experiência trágica de viagem", conta a história de viagem em família do narrador. Com toque autibiograficos de uma viagem que o autor fez anteriormente com sua família, mas o desfecho totalmente diferente do livro.

Acontece uma sucessão de catástrofes com a família, com o plano de fundo do começo de uma Itália fascista.

As férias tinham tudo para ser encerrada mais cedo que o planejado pelos obstáculos que ocorreram, mas a família continuou seus planos e o ápice das tragédias é quando decidem ir ao espetáculo de ilusionismo de Cipolla.

Nesse espetáculo o ilusionista tem um único objetivo: ridicularizar e humilhar a plateia. Mas eles não conseguem sair de lá, se sentem hipnotizados.

O Cipolla é representado como o fascismo e a plateia como o povo que se sente "atraído" pela maldade dele e não consegue se retirar, até que uma tragédia ainda maior ocorra.

Eu nunca tinha lido nada do autor e quando recebi essa edição da editora fiquei muito empolgada pela leitura e logo iniciei. E que leitura!

Eu gostei muito do começo ao fim. Achei muito bem construído, e prende o leitor e ainda tem crítica a um momento que merece muitas críticas que o mundo enfrentou, e, infelizmente, recentemente veio enfrentando: o fascismo.

Um diferencial dessa edição da Companhia das Letras é que tem textos de apoio, enriquecendo ainda mais a experiência de leitura. Além da beleza da edição, temos aqui uma preciosa tradução e textos de apoio.

Eu recomendo que leiam essa obra e me encantei pelo autor e espero ter oportunidade de ler mais obras dele.
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Guynaciria 04/04/2023

Mário e o mágico: uma experiência trágica de viagem - Thomas Mann / @companhiadasletras /pág. 107

Uma família viaja para a Itália de férias, e durante a estadia deles vão acontecendo alguns incidentes que deixa claro o sentimento deturpado de patriotismo que está surgindo, na forma do fascismo.

Tudo se agrava, durante uma apresentação de mágica de um suposto ilusionista. Que se utiliza de manobras, para fazer com que a partir de seu público seja ridicularizado.

Cipolla, é um homem cruel, que considere está em uma posição acima dos demais, e por isso pode submetê-los a situações vexatórias.

Isso muda, quando ele escolhe Mário (garçom local), como vítima de sua brincadeira de mau gosto. Desencadeando uma tragédia da qual acaba sendo vítima.

A medida que os eventos se desenrolam, percebemos como é doentia a relação criada entre as pessoas, principalmente a família que está de férias, e o seu agressor.

No final contamos apenas com a lembrança da mãe, relatando a história que se passou há anos, mas que ainda guarda nela uma marca desagradável.
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Marcelo Rissi 01/04/2023

Mário e o mágico (Thomas Mann)
A ficção antecipando a realidade. A realidade, por sua vez, confirmando a ficção.

Encerrei, há poucos dias, a leitura de Mário e o mágico, escrito pelo alemão ? filho de brasileira ? Thomas Mann em 1929 (mas publicado no ano subsequente, em 1930).

Ao fim dessa viagem literária épica, que tem curso numa novela de poucas, mas intensas páginas, registrei, numa publicação em rede social, o seguinte e breve comentário: cada obra de Thomas Mann que termino reafirma a minha preferência pelo autor.

Não à toa.

Adquiri Mário e o mágico recentemente, por indicação de um amigo, ávido leitor. Recomendação enfática e, aliás, direcionada: sugeriu-me ? esse meu amigo ? a aquisição do exemplar publicado pela editora Companhia das Letras. O motivo: a obra era provida de um rico e profundo posfácio, com contextualização e esclarecimento de diversos pontos enigmáticos da obra, sobretudo no que se refere à sua mensagem central (um tanto subliminar, recôndita nas suas entrelinhas).

Thomas Mann é o meu autor favorito. Não tardei, então, à aquisição. E, definitivamente, não me arrependi.

A obra é enxuta para os padrões do escritor: aproximadamente 60 (sessenta) páginas, incrementadas, na edição da Companhia das Letras, por mais 40 (quarenta) outras de um cirúrgico ? e, acrescento, necessário ? posfácio redigido por Marcus Vinícius Mazzari.

O enredo, se descontextualizado da conjuntura histórica e política ? de 1929 ?, parece despido de mensagem específica. Essa percepção, porém, é prontamente derruída ao compreendermos, com o necessário aprofundamento, o significado da representação figurada pelos atos do mordaz ilusionista Cipolla, personagem central da história.

A narrativa ? parcialmente autobiográfica ? inicia-se com a descrição do desagradável período de férias de uma família estrangeira em área costeira italiana (Torre di Venere). O núcleo familiar ? marido (narrador), esposa e filhos pequenos ? estava hospedado num hotel e, ao longo da estadia, sofreu discriminações de diversas naturezas, prejudicando o regozijo daquele período de repouso.

Logo ao início da estadia, a citada família foi impedida de participar das refeições em predeterminados locais do hotel (mais precisamente, nos recintos envidraçados e com vistas ao mar), sob o pretexto de que esses espaços eram reservados aos ?hóspedes?. Conforme, posteriormente, aquela família compreendeu, o termo ?hóspedes? designava, exclusivamente, os conterrâneos italianos, numa evidente e odiosa segregação baseada na origem e na nacionalidade.

Noutra cena, a família foi multada ? e, ainda, severamente repreendida ? quando a filha pequena, ao se limpar da areia impregnada em sua roupa de banho, desnudou-se na praia. O motivo da admoestação e da punição: essa ?gravíssima infração? violou a moral, com subversão da ordem e dos bons costumes locais. O contraste no tratamento foi, porém, escancarado, comparando-se a reação, um tanto cordial ? para se afirmar o mínimo ?, com comportamentos análogos, ou piores, praticados, em contextos semelhantes, por crianças italianas que ocupavam aquela praia.

Finalmente, o estopim: a família em questão, após o desfrute de aproximadamente 2/3 (dois terços) das férias, foi praticamente expulsa do hotel. O motivo: um dos filhos foi acometido por insistentes tosses. A vizinha de quarto, uma rainha, ouvindo os ruídos expelidos, convenceu-se, em interpretação pessoal e completamente leiga, de que o infante portava grave e contagiosa doença. Em razão disso, exigiu o afastamento, dos seus arredores, daquele núcleo familiar. Apesar do atendimento médico prontamente dispensado à criança ? com o profissional assegurando, em diagnóstico seguro e induvidoso, a ausência de qualquer moléstia séria e transmissível pela criança ?, a rainha, ainda refratária, foi irredutível, aferrada em sua autoritária deliberação. Diante dessas circunstâncias, que lhes eram completamente adversas, os estrangeiros deixaram o hotel.

Hospedando-se, então, em pensão situada em praia próxima, numa região intimista e mais vocacionada ao silêncio e à contemplação, a família recebeu, da respectiva proprietária ? e antiga funcionária do duce italiano ?, tratamento cordial e hospitaleiro. Não se permitiu ? aquela família ? que o desgosto há pouco sofrido maculasse o desfrute do período final das férias.

Durante os dias de estadia naquela pensão, a família soube de uma atração na cidade. O ilusionista e hipnotizador Cípolla instalou-se nos arredores para apresentação de seus enigmáticos números.

A família, embora receosa com a natureza da apresentação e, ainda, com o respectivo horário ? inapropriado às crianças ?, compareceu, por insistência dos ávidos e curiosos infantes.

O cerne do enredo de Mário e o mágico ? segmentado em cinco atos, segundo os estudiosos da obra ? desenvolveu-se, centralmente, nesse período, focando-o.

Cípolla, prestidigitador (palavra que aprendi nessa obra e que significa ilusionista), evidenciou-se, logo nos primeiros atos e números, uma pessoa mordaz. Ruim. Um embuste, na realidade. Um falsário que, com empáfia, e servindo-se de suas técnicas de desarranjo da atenção do público, desenvolvia números sórdidos com os participantes presentes, expondo-os, publicamente, à humilhação, ao escárnio e à zombaria.

A plateia ? formada, majoritariamente, por pessoas instruídas e intelectualmente privilegiadas daquela comunidade italiana ? prostrou-se absorta perante a seleção de cenas que sequenciavam ao palco. Os números eram desenvolvidos ininterruptamente ? com exceção de um intervalo, no entremeio ?, e executados invariavelmente à base do desprezo aos participantes, levado a dimensões embaraçosamente extremas.

O espetáculo encerrou-se tragicamente após um número de hipnose cujo efeito escapou, imprevisivelmente, ao roteiro do ilusionista. Não detalharei esse aspecto para não revelar spoilers.

Assim sintetizado o enredo, a compreensão de sua mensagem real reclama contextualização histórica, o que é auxiliado pela leitura do posfácio, cuja importância já foi repetidamente enfatizada.

À época da publicação da obra, críticos literários especializados atribuíram-lhe ? a Mário e o mágico ? importância POLÍTICA. O autor, refratário a essa categorização, preferiu classificá-la pela predominância da importância ESTÉTICA, tomando por base, assim, a sua simbologia e a sua representação, a partir dos atos do Cípolla.

Para facilitar a compreensão desses conceitos e da mensagem por trás da história, o posfácio traçou uma linha didaticamente clara, por etapas.

Como já salientado, a obra foi publicada em 1930, antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial (e, portanto, antes da completa ascensão do regime nazifascita de Hitler ao poder na Alemanha).

A obra em tela ambientou-se na Itália, onde, à época de sua publicação, o regime autoritário e fascista de Mussolini já espargia seus primeiros efeitos nocivos. Inseriu-se, então, nesse contexto ? do fascismo italiano ?, a representação estética da obra (segundo o autor): trata-se de uma alegoria, por meio da ficção, com advertência do que poderia ocorrer caso as pessoas ? inclusive aquelas instruídas ? entregassem-se à sedução de líderes mordazes, mas hábeis num discurso convincentemente enganoso.

O autor, captando, com argúcia, acurácia e de forma visionária, os riscos da concretização do autoritarismo ? que, à época, ainda não se materializara completamente, mas já disseminava indícios ?, publicou uma obra que tinha, ESTETICAMENTE ? ou seja, na REPRESENTAÇÃO simbólica, retratada por meio de um espetáculo de hipnose ? o risco, tão vulnerante, de enredamento de toda uma comunidade a partir de discursos enganosos e nocivos.

O próprio autor, porém, curvou-se, anos mais tarde, à categorização de sua obra como de importância POLÍTICA, pelos infelizes eventos históricos que lhe sucederam. A alegoria e a ficção, em Mário e o mágico, serviram como prova da hipótese e da simbologia contidas na própria obra. O nazifascismo eclodiu na Alemanha poucos anos depois, após o apoio popular galgado por um líder despreparado para qualquer ofício ou dom (como apontou o posfácio, um pretenso artista fracassado em suas inexistentes habilidades como pintor), atroz, mordaz, portentoso apenas na aptidão ao discurso malévolo, mas sedutor (à semelhança de Cípolla) aos predispostos à indigência moral e à atrofia intelectual. Arvorou-se, assim, no poder, não por talentos ou qualidades, mas pela capacidade ilusória de engodo. De ludibrio das massas. Ou, talvez, para sermos mais precisos: pela aptidão de avultar, em diversas pessoas, uma maldade nelas previamente já incubada e que apenas aguardava ativação.

O TEXTO do livro, ao longo dos anos, permaneceu o mesmo. A INTERPRETAÇÃO que se lhe pode ser conferida, porém, sofreu evidente mutação, em razão dos fatos históricos que sobrevieram, conforme admitiu o próprio autor.

À época da publicação, sobrepunha-se, a qualquer outro aspecto ? ao menos na visão de Thomas Mann ?, o interesse ESTÉTICO. É dizer: a representação simbólica dos riscos derivados de um discurso embusteiro, mas encantador, o que, em Mário e o mágico, foi figurado nos atos de Cípolla, o ilusionista, que, no palco, conduziu aquela imensa plateia ao transe, desprovendo-a de qualquer criticidade.

Posteriormente, a conotação POLÍTICA emprestada à obra evidenciou-se, clara e lamentavelmente, a partir dos fatos históricos sobrevindos. Cípolla, na personificação de Hitler, materializou-se no mundo tangível. Corporificou-se. Ludibriou (ou aguçou o pior na índole de) um povo até então vocacionado ao humanismo e à cultura, conforme enfatizado no próprio posfácio.

Teve, é certo, o mesmo fim trágico (?E um final, no entanto, libertador: não pude e não posso deixar de senti-lo assim!? ? última frase do livro), mas, nesse entremeio, infligiu as conhecidas atrocidades, legando um débito histórico jamais liquidável. Uma chaga que, apesar da lembrança pesarosa, não poderá ser esquecida, sobretudo para que eventos semelhantes não se repitam.

Nessa linha de raciocínio, e como novamente destacou o posfácio, o Nazifascimo encontrou seu termo final ao cabo da Segunda Guerra Mundial. O autoritarismo, porém, ainda esparge efeitos por iniciativa de alguns líderes e na voz de alguns discursos inflamados, mas sedutores (para algumas massas moralmente indigentes e intelectualmente atrofiadas). Isso, porém, é um grave risco. Eles, afinal, não são poucos. Não se pode, assim, oportunizar a negligência.

Pela lamentável confirmação histórica da ficção figurada em Mário e o mágico, fica a lição: sejamos sempre infensos contra quaisquer iniciativas vocacionadas (ou com tendências voltadas) ao autoritarismo, avessas à democracia, à pluralidade e os direitos fundamentais. Não basta a silenciosa oposição no íntimo recôndito da consciência. A ação é necessária. Afinal, a omissão e a negligência ocupam o lado do opressor. Nas palavras do autor, em trecho curto, mas com impactante cunho moral:

?É de presumir que não se pode viver psiquicamente do não querer; não querer fazer uma coisa não é, a longo prazo, um propósito de vida?.

Para encerrar, parece-me indispensável a reprodução de um trecho cirúrgico ? e impressionantemente atemporal ? da obra em análise, que serve de alerta:

?Um hipnotizador poderoso, que encontra as condições adequadas, é suficiente para fazer com que um povo inteiro dance ao estalar do seu chicote. Não tenhamos ilusões; o que resta a fazer é evitar que aquelas condições se repitam?.

Servia como prefiguração em 1929. Serve, hoje, como advertência.

Leitura absolutamente recomendada.
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Victoria 19/03/2023

Mário e o mágico
Em 1926, Thomas Mann viaja com a sua família para Forte dei Marmi, na Toscana. Dali resulta o relato do constrangimento que sofreu na praia por ter ferido a ?moral da nova Itália.? O autor descreve o clima reinante no balneário como marcado pelo nacionalismo ?tenso, desagradável e xenófobo.?

Durante o veraneio, a família passa por mais uma situação desagradável: eles presenciam o espetáculo do famoso ilusionista e hipnotizador Cezare Gabrielli. Que anos mais tarde participaria da ?Marcha sobre Roma.?

Essas duas situações marcam a memória do autor e ele resolve por fim transcrevê-las e torná-las ficção. Essa obra apresenta os primeiros sinais do fascismo na Itália.

?Eu próprio ainda tenho uma predileção por essa história. Quando a escrevi, não acreditava que Cipolla fosse possível na Alemanha. Eu superestimei patrioticamente minha nação.? Thomas Mann, 1947.

O autor jamais imaginou que o nacionalismo e o conservadorismo notado em suas desastrosas férias em família iria aumentar a um grau extremo nos anos seguintes e que desempenharia um papel tão importante na eclosão do conflito que sucedeu na Itália.

Mussolini chegou ao poder em 1922 após realizarem a ?Marcha sobre Roma.? Nela, facistas de todo o país marcharam à Roma e pressionaram o então rei, Vitor Emanuel III, a empossar Mussolini como seu chefe de Estado.

Em 1925, Mussolini promoveu uma ampla perseguição política, impondo o Partido Nacional Facista como partido único, e iniciando a Ditadura Facista.

Sob o comando dele, a Itália vivenciou um período marcado pela violência, a repressão e pelo controle do Estado sobre a economia e tornou-se referência para regimes autoritários mundo a fora, como o Nazismo na Alemanha.

Assim como na novela Mário e o mágico, surgiu um hábil hipnotizador de massas que apoderou-se da alma do povo e sobre diversas justificativas instaurou o caos.

"Um hipnotizador poderoso, que encontra as condições adequadas, é suficiente para fazer com que um povo inteiro dance ao estalar do seu chicote." Anatol Rosenfield.
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