O Diário de Dora Damage

O Diário de Dora Damage Belinda Starling




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Pandora 31/01/2020

Londres, 1859. Dora vê sua vida virar de pernas pro ar quando o marido fica gravemente doente. Para pagar as dívidas e não morrer de fome, ela decide assumir a direção da oficina de encadernação do marido. Além de ser pouco provável que ela prosperasse por ter de conciliar o novo ofício com as tarefas de casa e os cuidados com a filha epilética, ainda havia o fato dela ser mulher. Quem confiaria seus livros a ela?

Acontece que Dora se revela uma encadernadora de mãos hábeis, sensível, criativa e competente, o que lhe garante clientes muito poderosos. O problema começa quando eles, aproveitando-se da sua situação de penúria e do fato de ser uma mulher sem proteção, passam a propor-lhe que encaderne material pornográfico para os membros de um clube de leitura exclusivo. E como se não bastasse, a mulher de um dos poderosos lhe pede que dê emprego a um escravo americano fugitivo amparado pela Sociedade das Senhoras para a Assistência de Fugitivos da Escravidão a qual pertence. Às custas da Sociedade. Mas sem que o marido saiba.

A partir daí Dora se vê às voltas com muitas aventuras cotidianas (se é que isso existe): lidar com os clientes exigentes e perigosos, encadernar material ilegal, contar com a lealdade do único empregado que restou da época de seu marido, lidar com o fugitivo que não cumpre horário, ver os vizinhos lhe virarem as costas porque empregou um negro, amparar as crises da filha e cuidar do marido cada vez pior.

É um livro diferente e interessante, pois retrata a época vitoriana sob à ótica de uma mulher de classe média baixa, que é obrigada a passar por cima de seus valores para sobreviver. A autora explica no posfácio que, embora os personagens e acontecimentos do livro sejam fictícios, ela se baseou em modelos reais. Por exemplo, no “Cannibal Club”, cujos membros, pertencentes a sociedades antropológicas e geográficas, produziam e consumiam pornografia - que naquela época, era restrita a grupos da elite -; e numa sociedade de senhoras inglesas que trabalhava em prol da abolição da escravatura na América. Também se baseou em pessoas como os médicos Sir Charles Locock e Isaac Baker Brown, a encadernadora Isabel Forsyth e o ex-escravo Frederick Douglass (seu livro será uma de minhas próximas leituras).

Apesar de achar que a história se perdeu um pouco nas últimas 50 páginas, a narrativa como um todo foi bem agradável. Dessas surpresas boas que vêm das trocas de livros.

Infelizmente, Belinda Starling não viu a repercussão de seu primeiro livro. Quatro dias após escrevê-lo, internou-se para a remoção de um cisto na vesícula e teve várias complicações que culminaram em sua morte aos 34 anos.
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