jota 16/01/2012Crônica de um erro judiciárioArthur aqui é Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes (curiosamente, jamais li um livro de Doyle). E George é George Edalji, um desconhecido advogado que tem a vida e a carreira ameaçadas por uma série de acontecimentos estranhos. O livro é baseado em uma história real, contada, com certa dose de imaginação e intensa pesquisa, por Julian Barnes - Man Booker Prize for Fiction de 2011, com o livro The Sense of an Ending.
Na primeira parte, através de vários capítulos curtos, ficamos sabendo da biografia do escritor Arthur e também da do advogado George até por volta dos trinta anos de idade de cada um. Doyle então está formado em medicina, com especialização em oftalmologia, casado e tem uma filha. Por falta de clientes, começa a escrever histórias policiais e acaba de dar nome ao personagem que irá torná-lo famoso mundialmente - antes de ser Sherlock Holmes, o detetive se chamou Sheridan Hope e Sherringford Holmes.
George, mais moço que Doyle, por ser meio hindu (na verdade, parse: antigos persas que se estabeleceram na Índia) e meio inglês (apesar de ser inglês por dentro, até o fundo da alma) sofre preconceito desde a escola e passa por uma série de constrangimentos e ameaças ao longo de toda a infância, adolescência e até mesmo no início da vida adulta. Como se não bastasse isso, ele é tímido e sofre de profunda miopia. E pela sinopse, sabe-se que as coisas para ele vão piorar ainda mais.
Sim, as coisas pioram muito para George. E isso torna a segunda parte do livro tão interessante que não se consegue largá-lo mais. Claro: quando uma pessoa inocente tem contra si todas as autoridades do país, é perseguida e injustiçada e o verdadeiro culpado permanece desconhecido e impune, você quer saber como tudo vai terminar, não?
E isso, invariavelmente, me fez lembrar de outro ótimo livro lido ano passado, em muita coisa parecido com este, também baseado numa história real, O Faz-Tudo, de Bernard Malamud. Com a diferença de que neste, estávamos na Rússia czarista e o personagem era judeu.
Bem, o esperado encontro entre o advogado George Edalji (inocente, mas acusado de matar animais, praticar rituais satânicos, escrever cartas anônimas, algumas delas incriminado a si próprio, etc.) e o escritor Arthur Conan Doyle (bastante famoso já, por conta de suas histórias protagonizadas pelo notável Sherlock Holmes; na cadeia George leu O Cão dos Baskervilles), anunciado no título do livro vai acontecer somente depois da metade dele, após mais de duzentas e cinquenta páginas lidas.
E aí (terceira parte do livro) sim Arthur & George esquenta mais um pouco, pois se torna ao mesmo tempo um romance psicológico, uma história de detetive e um thriller literário – exatamente como está prometido na contracapa do volume. Se você não conseguia largar o livro antes, agora vai conseguir largar menos ainda. E assim vai ser até a quarta parte (o final).
Este livro trata de um grave erro judiciário, uma enorme injustiça. Serei injusto também se, no final do ano, me esquecer de colocá-lo na lista dos melhores livros lidos em 2012.
Lido entre 12 e 15.01.2012