Aione 12/09/2011Karla Kristina é uma mulher prestes a se tornar uma balzaquiana, ou seja, prestes a completar 30 anos. Como se não bastassem os “K” indesejados de seu nome, Karla, que nunca conseguiu enxergar em si as características de uma sagitariana, vê na descoberta do novo signo astrológico, Serpentário, a razão para tudo de errado que já lhe aconteceu. Como pode ter vivido todos esses anos acompanhando previsões de um signo que sequer era o seu?
Mas mais do que descobrir pertencer a um novo signo, Karla percebe como anda sua vida: o que tem feito nos últimos anos, o que deseja para si mesma, quais suas perspectivas para o futuro. E se dar conta da negatividade das respostas certamente não é algo fácil ou agradável.
Forçada a literalmente se transformar, Karla decide ser ela mesma a responsável pelas mudanças em sua vida e, para começar, cria uma lista de coisas a serem feitas antes de completar 35 anos. E para realizar os itens, nada melhor do que contar com a ajuda dos familiares e amigos e, claro, uma grande dose de automotivação.
Por que trinta e cinco? Primeiro porque eu li em algum lugar que depois dos trinta e cinco anos você não consegue mais emagrecer, e que isso era um fato científico (...). Segundo porque se você calculasse que a maioria das pessoas vive em média até os setenta anos (com saúde e qualidade de vida), aos trinta e cinco eu estaria no auge da minha vida. Depois, tudo seria declínio.
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Liana Cupini mais uma vez escreveu uma história deliciosa e agradável de ser lida. A leitura, aqui, não simplesmente flui, decola e, quando você se dá conta, o livro acabou. A narração em primeira pessoa, sob a ótica de Karla, é engraçada, direta e traz quem está lendo rapidamente para dentro da história. Não só pela narrativa, o livro é realmente rápido de ser lido: 112 páginas que podem ser lidas, tranquilamente, em menos de 2 horas.
Sou sempre suspeita para falar de chick-lits, porque realmente sou fã do gênero. Mas simplesmente ser um chick-lit não é o suficiente para que eu goste do livro; é preciso, para mim, enxergar a história, as evoluções e os sentimentos das personagens por trás da narrativa quase sempre cômica e agradável. E Liana não decepcionou nem um pouco!
Karla é uma mulher que teve sua vida completamente alterada devido a um relacionamento no passado. Quem nunca se viu perdida ao ser magoada ou acabou entrando em inércia por não conseguir encontrar um novo caminho? E quem nunca teve um estalo, percebendo o que vem sido feito da própria vida, e resolve mudá-la de uma hora para outra? A personagem é uma personificação da mulher, com seus medos, anseios, sonhos – que podem ser deixados de lado por uma mágoa -, crenças, desejos.
Não só a história de Karla, o livro mostra, também, a história das pessoas que a cercam. Inicialmente, Carol, a melhor amiga, e Laura, a irmã mais nova, são apresentadas como donas de uma vida perfeita e invejável. Entretanto, com o decorrer dos acontecimentos, é perceptível que essa visão represente apenas a de Karla e que a vida de ambas contém problemas como a de qualquer outra pessoa.
Como já dito, o livro todo é muito rápido. Não sei classificar se isso é um ponto positivo ou negativo, portanto, mostrarei os dois lados da mesma questão. Pelo fato de a evolução da história se dar rápido demais, em alguns momentos eu me via perdida, pois em um parágrafo muita coisa já havia acontecido. A sensação era a de estar assistindo a um filme com as cenas aceleradas. Por outro lado, todo esse dinamismo não torna a história maçante em momento algum. Talvez, se fosse escrita de outra maneira, em um ritmo mais lento, surgiriam as chamadas “enrolações”, o que foram comprovadamente desnecessárias, já que mesmo com o ritmo rápido de leitura, o livro é ótimo.
Outra maneira de entender o dinamismo da história é que tudo na vida de Karla também acontece nessa mesma velocidade: ela também é pega de surpresa com todas as transformações por que passa e pela rapidez com que tudo acontece. Acho que foi exatamente essa a sensação que Liana quis transmitir. Novamente, quem nunca passou por determinados momentos da vida em que tudo parece acontecer ao mesmo tempo? E, apesar de toda essa velocidade, é completamente possível acompanhar a evolução de Karla e compreender todo o turbilhão de emoções no qual ela se vê envolvida.
Um ponto que achei interessante no livro foram as notas de rodapé da autora com relação a algumas citações, tornando possível entendê-las quando desconhecidas. Outro foi que, mesmo sendo uma publicação independente, o livro contém pouquíssimos erros de ortografia e digitação.
Como vêm acontecendo, fui mais uma vez surpreendida pela qualidade da literatura nacional, cada vez mais mostrando não deixar nada a desejar, se comparada à estrangeira. O livro me ganhou logo de cara, com a declaração astrológica de Karla.
Para quem acompanha o blog, sabe que sou louca por astrologia e, portanto, não poderia deixar um comentário passar em vão: quando, ano passado, descobri sobre o novo signo, me recusei completamente a aceitar que seria de Virgem ao invés de Libra. Aliás, bato o pé até hoje: sou libriana, sem ter o que tirar nem por. Logo que li sobre a surpresa de Karla, pensei algo que ela mesma relata, no capítulo final e, por mais que não seja um spoiler importantíssimo e revelador, faz parte da história e, infelizmente, não contarei a vocês! Mas adoro quando isso acontece, de eu pensar algo que depois é escrito na própria história!
Se eu recomendo? Chick-lit de qualidade, engraçado, gostoso de ler plus nacional? Claro que recomendo!
Disponível no link: http://minha-vida-literaria.blogspot.com/2011/09/resenha-antes-tarde-do-que-mais-tarde.html