Vitoria.Milliole 25/01/2023
Nunca sei como resenhar um livro de poesias. Não que eu tenha precisando antes: nunca antes terminei um. Se for resenhar cada poema separadamente, vira uma bíblia. Se for avaliar o conteúdo de forma geral, fica superficial demais. Se for avaliar o autor, posso não ser justa com o conteúdo. Mas, ainda assim, parte de mim se sente na obrigação de dar o meu máximo pra trazer uma boa apresentação de todo livro que leio, seja de forma positiva ou negativa ? o que a leitura me proporcionar. E Claro Enigma me proporcionou um misto de sentimentos.
Drummond, desde que eu nada entendia de poesia, sempre foi meu poeta preferido. Uma vez, ao ser perguntado qual seria a função prioritária de um poeta, ele respondeu que: "necessariamente ele não tem a missão de corrigir o mundo, não creio que seja essa a missão do poeta. Será uma ilusão supor que a poesia pode contribuir para o direcionamento do mundo num sentido mais justo. Eu acho que a função do poeta é produzir emoção, é despertar no próximo um sentimento de beleza, de alegria, de tristeza ? mas sobretudo um sentimento de comunhão com a vida." E isso me fez admirá-lo ainda mais. Como também poeta, é justamente o que busco ao escrever. Mas, ainda mais: busco escrever para mim, não para os outros. E foi isso o que mais me chamou a atenção em Claro Enigma: Drummond escreveu, clara e intrinsecamente, para si mesmo. Milhares de pessoas tiveram o prazer de ler, mas raras tiveram o (des)prazer de entender.
Aliás, nem eu mesma entendi todos os poemas. Arrisco dizer que entendi uma minoria. Nos outros, posso dizer que entendi um trecho aqui e outro acolá, mas o significado num todo me é estranho. Me é estranho porque não vivi o que ele viveu e, ainda assim, consigo sentir a aflição do homem em alguns versos, a intensidade em algumas estrofes, o amor em algumas páginas. Inclusive, "amor" foi uma palavra que vi se repetir bastante ao longo dos poemas. Apesar de, no posfácio, eu ter lido que esse foi, de fato, um dos livros de mais difícil entendimento do autor. E eu resolvi começar justamente por ele por nele constar um dos meus poemas preferidos, Memória (que, após ter conhecido alguns outros, talvez tenha perdido sua posição no meu pódio).
Falando no posfácio, só tenho elogios a essa edição incrível! O posfácio ao fim do livro traz algumas análises que facilitam o entendimento de alguns poemas e do livro, num todo. Além disso, a edição da Companhia das Letras conta com uma cronologia da vida do poeta, desde o seu nascimento, em 1902, passando por suas diversas conquistas e publicações, sua trajetória acadêmica e o nascimento de sua filha e neto, até a sua morte, em 1987, o que também é bem útil pra quem tem a pretensão de estudar suas obras de acordo com o contexto de sua vida pessoal no período em que foram escritas.
Apesar de escrever e ler poesia há anos, esse é o primeiro livro de poesias que leio do início ao fim, tentando ao máximo analisar cada estrofe. E, com certeza, pretendo retornar a ele outras vezes, talvez com maior maturidade pra entender o que não consegui nessa primeira leitura.