Beatriz Gosmin 10/02/2012Resenha por Beatriz Gosmin - www.livroseatitudes.blogspot.com :)--------------
Se você é sentimental e se abala muito fácil, recomendo que não leia este livro.
Eu sou assim, e o livro me tocou de forma que há muito nenhuma história conseguia.
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A história é narrada por uma menina que, aos dez anos fora sequestrada em um passeio escolar num Zoológico aquático. Pelo Ray. Até então fora uma menininha comum, apaixonada por golfinhos e egoísta por não emprestar seu novo gloss para as amigas. Mas depois disso, como ela diz:
" Era uma vez aquele instante em que o mundo de uma garotinha acabou. "
Fora levada para um apartamento a quatro quilômetros de sua verdadeira casa em Daisy Lane, 623. Ganhara do Ray o nome de Alice. Este era seu nome, Alice. Pertencia ao Ray. Amava ao Ray. Seria uma garota boazinha para o Ray. E jamais cresceria.
Ray aparenta ser um homem normal que prefere educar sua filha em casa para as outras pessoas, quando na verdade é um doente (é assim que decidi chamá-lo), louco e psicopata apaixonado por crianças.
Alice é abusada constantemente (fisicamente, psicologicamente e suxualmente), e é quase obrigada a nunca crescer. Ray não gosta que as crianças cresçam.
Agora com 15 anos, ela não pesa mais que 45 kilos para aparentar ser menor do realmente é, e vive a base de danone, o alimento ideal para as crianças, segundo Ray.
"Não crescer nunca.
Talves funcione em historinhas infantis.
Tente dizer isso enquanto uma mão quante e pesada a belisca para se certificar que você ainda é uma criança.
Tente dizer isso quando é impedida de crescer, quando está presa para sempre no que outra pessoa quer que você seja."
É obrigada a se depilar sempre, usar roupas de crianças e a ser uma menina boazinha. A garotinha do Ray. Sempre boazinha e obediente para não ser castigada.
Alice passa os dias em casa sozinha enquanto o Ray tranbalha, assistindo à TV e de vez em quando roubando dinheiro dos vizinhos que deixam notas e moedas à vista na lavanderia para comprar algo para comer.
Ela sente muita fome. O tempo todo. Mas Ray não pode descobrir que ela comeu. E ela também nunca deve mentir. Ele saberia. Ele sempre sabe.
Você deve estar se perguntando por que ela não faz nada. Por que não foge se fica sozinha o dia todo. Porque não conta a alguém. Mas não é assim que funciona.
Na pele de Alice, você saberia.
É uma menina morta-viva. Estranha e até assustadora para quem olha. Mas ninguém pergunta, ninguém vê. Ninguém nunca vê. O que resta a ela é sonhar com sua libertação. E ela anseia por isso.
"Não posso sonhar com nuvens, mas posso ver a faca no balcão da cozinha. Posso sonhar que ela está entrando em mim, me abrindo e me fechando."
O livro é perturbador. Cruel. Sufocante e angustiante.
Você quer ler para terminar logo, sair daquilo, se libertar, mas parece que o final, a última e tão esperada página, não chega nunca.
É terrível ler uma história que te deixa tão próxima de uma cruel realidade vivida por muitas crianças e adolescentes em todo o mundo. Absurdamente perturbador. E ver a indiferença das pessoas, pior ainda.
A autora, em algumas partes do livro fazia uma narrativa rápida sem utilizar vírgulas ou pontuações, o que fazia você ler no mesmo desespero que as palavras queriam transmitir.
E o que eu não consegui chorar no livro todo, com a garganta presa em um nó embolado, se desfez nas últimas páginas. Chorei compulsivamente agarrada ao livro, e após ler a última frase, veio o suspiro, seguido do tão esperado alívio.
Do mesmo modo que ele entrou para os meus favoritos, sinto receio em dizer “Leiam!”. É doloroso demais ler este livro. Mas, para que todos compreendessem e dessem valor ao que vivem e também deixassem de olhar os casos de estrupo que passam na televisão como “mais um”, seria necessário que lessem.
É simplesmente um livro que jamais, nunquinha, sairá da sua cabeça. Não vai ser só mais uma leitura.
Beijos,
Bia.