Lavoura arcaica

Lavoura arcaica Raduan Nassar




Resenhas - Lavoura Arcaica


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nflucaa 13/04/2024

O espasmar da linguagem: isto é arte.
Não sei nem como descrever o mix de sensações que esse livro causa. Ele mexe com o estômago. O enredo é simples: um filho que foi embora de casa e é buscado pelo irmão mais velho, então retorna. Em casa ele revive os embates com o pai, figura que representa autoridade e moralidade. Para não dar spoiler, não falarei dos irmãos e irmãs. É simples. Mas a maneira em que tudo é descrito é artística, poética. É a linguagem em sua agonia: quando palavras saltam ao seu uso meramente linguístico para servir a um uso mais nobre, o artístico.

Ler este livro é uma experiência com a linguagem. Leia-o como quem contempla arte. Se deixa arrastar pelo turbilhão de palavras, pela torrente de frases sem ponto final. É, realmente, extasiante.
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Samira fideles 30/03/2024

Lavoura Aracaica
Esse livro é um mistério..."pertenço como nunca desde agora a essa insólita confraria dos enjeitados, dos proibidos, dos recusados pelo afeto, dos sem-sossego, dos intranquilos, dos inquietos, dos que se contorcem, dos aleijoes com cara de assasino que descendem de Caim".
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joaoggur 27/03/2024

O gado sempre vai ao poço.
O título da resenha, de caráter quase bíblico, não é à toa; as citações, desde dos sermões do Pai até as descrições das agruras do narrador-personagem, são de um lirismo transubstancial, - as palavras se metamorfoseiam em parábolas, e ao mesclar do fluxo de consciência com uma poética naturalista, que remonta a Guimarães Rosa, Raduan Nassar desenvolve uma trágica história de decadência familiar.

Assim, o ?arcaico? adjetiva a Lavoura, substantivo que, em metáfora, se traduz como família. André, o narrador-personagem, parte desta Lavoura, da casa de sua família, e as páginas iniciais dão-se quando seu irmão, Pedro, encontra com o supracitado na pensão em que este se hospeda. O diálogo, de uma teatralização fundamental a obra, mistura memórias, sensações e cria uma sinestesia de passado, presente e futuro.

Uma vez suportadas as páginas inicias, creio que é um texto difícil de largar. E ?suportar? não é sinônimo de suplício; o estranhamento se dá pelo texto belo, pela prosa extremamente poética, pelo nada coloquial vocabulário. Essa teatralização, como já citei, tem profundo impacto na obra; é como se o maquinal das relações, a plasticidade dos sermões, a falsa relação de camaradagem familiar, e tudo que mostra a falsidade de um seio familiar fosse transposto para o texto.

Vamos cada vez mais adentrando as minúcias da história, nos envolvendo, - de forma positiva ou negativa, - com os personagens, e chega-se a um ponto em que sentimos um aperto no peito em meio a tantos episódios trágicos. E, talvez, daí vem o belo: ao demandar do leitor uma cirúrgica atenção perante o texto, um olhar apurado das entrelinhas, vamos descobrindo, aos poucos, um áureo equilíbrio entre o belo e o terrível. Terrível pelo conteúdo, belo por como o disserta.

Um romance extremamente exigente, que suga quem o lê. Desejas um conselho? Queria ser sugado. Tenha este prazer, - mas saiba o que estará a diante.
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Michelly 25/03/2024

Comentários sobre "Lavoura Arcaica" de Raduan Nassar
Além dos elogiosos tratamentos pela linguagem, que apresentam leves pinceladas de barroco, o aspecto genial desta obra reside no âmbito do delírio em que é narrada. Sempre me surpreende a habilidade que um autor ou autora confere ao narrador. Aqui, Raduan Nassar certamente não está em transe ou delírio, mas constrói um personagem imerso no delírio, onde transborda em todo o texto a dor de uma subjetividade incompleta, resultante de uma busca desesperada por uma fuga do tempo. Esta perfeição na construção é tão marcante que torna difícil dissociar o autor do personagem. No texto, o tempo é retratado com virulência, sem qualquer possibilidade de escapar da temporalidade em que o personagem está mergulhado, embora seja perceptível a sua melancólica necessidade de evadir-se do tempo vivido. Nós, leitores, somos lançados em um universo, quase como se estivéssemos no subsolo dostoievskiano, mas com uma forma literária carregada de um inconsciente freudiano, onde a escrita emerge de memórias de uma infância permeada de culpas.

É possível que em inúmeros debates e artigos diversos surja a perspectiva de analisar "Lavoura Arcaica" como um diálogo com a Bíblia, especialmente a partir do ponto de vista da "Parábola do Filho Pródigo". Um exemplo disso é a sua subversão dos preceitos morais presentes na parábola, o que constitui uma violação aos preceitos bíblicos. Essa abordagem enriquece o livro de Raduan Nassar com metáforas, promovendo uma fusão entre o mítico e o religioso. Com isso, o caráter subversivo rompe com a moral predominante na parábola quando Raduan Nassar retrata a volta do filho pródigo não marcada por arrependimentos após o fracasso da partida, mas sim marcada por um sentimento de fracasso e de ausência de remorso diante das aflições do mundo que testemunhou de perto. Nesse sentido, a ruptura assume uma dimensão política, desvinculando-se da moralidade inerente à narrativa bíblica.

Nesse contexto, as referências às parábolas bíblicas são tão marcantes que até mesmo os personagens, como a mãe e parte dos irmãos do narrador, cujos nomes são bíblicos, são retratados como fiéis seguidores dos preceitos paternos. Por outro lado, aqueles que se sentam à esquerda na mesa são transgressores das leis divinas, como Ana, André e Lula, incapazes de se apegar aos sermões do pai, que é rico em parábolas. Aqui, temos personagens que se assemelham às figuras descritas em parábolas que retratam filhos irreconciliáveis, incapazes de trazer algo além de sofrimento ao ambiente familiar patriarcal, e cujo espírito está inclinado para a profanação, confirmando que a fusão entre o mítico e o religioso, aliada à caracterização dos personagens, cria uma atmosfera densa e simbólica, onde o conflito entre o sagrado e o profano se desenrola de forma vívida no romance.

Sabrina Sedlmayer, cuja dissertação de mestrado, intitulada “Ao lado esquerdo do pai: os lugares do sujeito em Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar”, me auxiliou a aprofundar alguns dos tópicos mais interessantes desse gigante da literatura. Recomendo a leitura.
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Beatrys 23/03/2024

Onipresente, o tempo está em tudo?
? o tempo, o tempo, esse algoz às vezes suave às vezes mais terrível, demônio absoluto conferindo qualidade a todas as coisas, é ele ainda hoje e sempre a quem decide é por isso a quem me curvo cheio de medo erguido em suspense me perguntando qual o momento, o momento preciso da transposição, que instante, que instante terrível é que se marca o salto? que massa de vento, que fundo de espaço concorrem para levar ao limite? o limite em que as coisas já desprovidas de vibração deixam de ser simplesmente vida nos subterrâneos da memória??
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Maria Rosa 08/03/2024

Clássico
Uma das leituras mais difíceis que fiz, precisei reler logo em seguida para ter certeza do que li, pq eu viajava, as vezes, na linguagem mais formal e expressões q já não usamos mais, foi como ler Kafka. Apesar de abordar a vivência cotidiana de uma família simples, a escrita mais rebuscada me tirou da mesmice dos romances mais atuais e do meu gênero preferido, que é suspense e terror.
Super indico.
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Leila 07/03/2024

Que livro minha gente!
Gente que livro tenso! É escrito em prosa e com linguagem muito poética, lírico inclusive. Um vocabulário de altíssimo requinte, que até mesmo um ato obsceno é descrito com uma sutileza que quem não possui um vocabulário apurado não entende! Lembra muito a escrita de José Saramago em Ensaios sobre a Cegueira.

Narrada em primeira pessoa, por André, filho de uma família de agricultores onde os preceitos morais e religiosos são muito rígidos ao ponto de haver "sermões" sobre moral, em torno da mesa, proferidos pelo pai, ao mesmo tempo em que a mãe é puro afeto.

Em um dado momento a imagem de família amorosa e cumpridora da moral e dos bons costumes é quebrada e questionada, levando, é claro, a tragédia familiar.
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Krol.Veras 06/03/2024

Arrebatador
Acredito que uma das melhores escolhas que fiz foi iniciar este livro sem ter lido previamente nada a seu respeito, pois assim pude me deixar arrebatar de várias formas pela narrativa. É poético, é solene, é lírico, nada suave, é vil, cru, sem pudor, lascivo, tocante, nojento, cruel, sublime, rico, bem escrito.
Numa narrativa de pouco mais de 100 páginas, André desnuda sua história, e a história de sua família, expondo tudo aquilo que um seio familiar tradicional e religioso esconde e quer mascarar.
Marcado pelo signo de um condenado, André se diz e faz coisas que o ajudam em sua narrativa de possuído e não merecedor de permanecer num seio de uma família perfeita, que ele sabe, e por sua causa também, não ser.
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Lali Jean 04/02/2024

Poesia, patriarcado e psicanálise na novela mais bonita lida
Com a nefasta ideia de clássico, é que lemos este livro. O que é clássico ou não, convenhamos é o universal, por isto é arbitrário e uma farsa. Muito também se falou sobre a genialidade, a sacralidade teológica escondida no sintagma do gênio.
Quando tinha uns vinte anos, li "Um copo de cólera". Com ele descobri que fechar um livro ao completa-lo e em gesto contínuo relê-lo, literal ou mediunicamente dias a fio seria um indício de estar diante de um favorito. Eu que tenho sempre os rankings de tudo quanto gosto, não tenho realmente para livros. Mas por muito tempo, na urgência de uma resposta, fechava os olhos e pensava no copo de cólera. No segundo livro do aurático Raduan Nassar. Aquele que só rompeu a insularidade de seu auto-exílio em 2016, ano que parece já tão distante para uns. Ele quis fazer-se intelectual contra o golpe. Ali, a gravidade do momento foi retumbante para mim. Rebordosa.
Não tinha lido até agora Lavoura Arcaica, o primeiro livro do autor que se retirou da literatura com apenas dois livros publicados, ainda na década de setenta. Era medo mesmo, de não conseguir suportar tanto o que se anuncia nas primeiras páginas ou por não ter mais livros de Raduan para ler. No clubinho com minha migles, ela que escolheu e eu embarquei. É tão confortável quando escolhem por nós.
O medo era um, ler em versos tão bonitos sobre a inevitabilidade do incesto no patriarcado. E sim, tudo o quer foi escrito sobre o livro parece funcionar: há tragédia e mitologia gregas soterradas. À superfície os tabus quase vulgares anunciados pela psicanálise, incesto, o pai como Lei. Mas nada vulgar, longe disso, ficamos aqui querendo lembrar quem foi que disse pós-freud que o incesto entre irmãos interrompe o édipo. Foi o nosso frito favorito favorito de capricórnio, deleuzy mas possivelmente até freud pode ter desenhado isto também. quem leu deve saber, eu não sei. suspeito.
Mas numa sociedade rural, fantasmagórica, branca e decadente só há o patriarcado. E o patriarcado é a própria corrupção, não é preciso violência e exploração fora dele. Ele é total. E as mulheres são a paga.
Há tanto a falar, porque o livro todo parece a mesma coisa. Todos os personagens parecem e perecem ser André. O irmão cujo corpo expõe as anomalias ativamente ignoradas.
O livro foi tudo o que um livro mais pode ser para mim: companhia, corporalidade, angústia e devoção.
obrigada amiga pela leitura e incentivo para escrever este comentário.
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Mariiebomfim 02/02/2024

Livro de família doida
Não é um livro que eu tenho o hábito de ler, fluxo de consciência é um estilo que eu tenho muita dificuldade pra acompanhar, mas não tem como não dizer que é um livro grandioso.
Aos poucos vc acostuma com o vocabulário, com a forma confusa de André pensar e com a sensação de não ter ideia do que de fato está acontecendo nas cenas. Não esperava por esse final e sinto que podemos definir esse livro na categoria livro de família doida.
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João Pedro 12/01/2024

Partida, retorno, liberdade, devoção
Quando descobri a existência de Raduan Nassar, me intriguei do fato de sua obra ser tão modesta (são três livros publicados - um romance, uma novela e um livro de contos) e enormemente festejada. Nassar foi consagrado com o Prêmio Camões em 2016 pelo conjunto de sua obra. Em entrevista à Folha de São Paulo, em 1984, comunicou que estava a abandonar a literatura. Mudou-se para um sítio de sua propriedade no interior de São Paulo e passou a se dedicar à agricultura e pecuária.

"Lavoura Arcaica", primeiro livro do autor, publicado em 1975, é um romance que põe o leitor entre o desconforto e o deslumbramento. Dividido em duas partes - "A partida" e "O retorno" -, conta sobre o retorno de André, filho de uma família rural de modos bastante tradicionais e ortodoxos, ao seio familiar. A tensão constante entre liberdade e contrição, entre os copiosos sermões do pai e o desejo inquietante de romper o mundo de André parece ser a tônica da obra, até que, aos poucos, Nassar descasca e revela ao leitor o pomo de seu romance.

A dualidade se fez presente a mim por toda a leitura. A sensação de não saber para quem torcer, nessa ferrenha disputa familiar pela propriedade do verbo, pelo domínio da palavra. Senti que não estava do lado de ninguém, pois desgostava de todos, mas fui tragado pela escrita virulenta, poética e arrebatadora do autor.

Entendi por que lhe bastaram poucos livros para deixar sua marca na eternidade como um dos grandes escritores da literatura brasileira.
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3.0.3 11/01/2024

A intimidade como princípio de violência
“– Já disse que não acredito na discussão dos meus problemas, estou convencido também de que é muito perigoso quebrar a intimidade, a larva só me parece sábia enquanto se guarda no seu núcleo, e não descubro de onde tira a sua força quando rompe a resistência do casulo; contorce-se com certeza, passa por metamorfoses, e tanto esforço só para expor ao mundo sua fragilidade.”

Lavoura Arcaica (1975), de Raduan Nassar (1935-), é um romance que narra em primeira pessoa os desdobramentos da fuga de André, depois de abandonar a sua casa na fazenda e a sua família. Pedro, o irmão mais velho, que fica incumbido de procurar André e levá-lo de volta para a casa, encontra o irmão em uma antiga pensão do interior. Aqui, mergulhamos nas memórias do jovem sobre a sua rotina na fazenda e conhecemos os motivos sombrios que corroboraram para a sua desobediência.

A sua descrença em relação aos discursos do pai – que pregam a resiliência, a tranquilidade e a organização –, a sua rotina de trabalho árduo na fazenda da família, a sua relação incestuosa com a irmã foram determinantes para que o jovem tramasse a sua fuga. Na fazenda, era aplacando o seu desassossego junto à terra que André se refugiava das vistas familiares; era se entregando ao silêncio desse gesto que procurava esvaziar os discursos inflexíveis e infecundos do pai. O silêncio, aliás, é um aspecto significativo na obra. Jogando com as palavras, subvertendo os parâmetros da linguagem, André narra todos esses acontecimentos com muita potência – e é esse o seu grito contra a austeridade da família e, sobretudo, contra a presença do pai que o assombra.

Se o silêncio era a regra do pai, era no silêncio que André fermentava a sua transgressão. No convívio da fazenda, era sempre a voz do pai a primeira e a última a se manifestar, inviabilizando a decisão dos demais membros da família. Antes de cada refeição, cada um dos seus discursos – cheios de simbolismos, imagens e moralismo – tinha os seus motivos de existir. Nele, o que realmente importa não é a palavra dita, mas a força da ação e do exemplo. Assim, a figura paterna na obra acredita que a felicidade de um homem necessita da total devoção à tradição familiar, aos seus membros e ao trabalho.

“[...] e mal saindo da água do meu sono, mas já sentindo as patas de um animal forte galopando no meu peito, eu disse cegado por tanta luz tenho dezessete anos e minha saúde é perfeita e sobre esta pedra fundarei minha igreja particular, a igreja para o meu uso, a igreja que frequentarei de pés descalços e corpo desnudo, despido como vim ao mundo, e muita coisa estava acontecendo comigo pois me senti num momento profeta da minha própria história, não aquele que alça os olhos pro alto, antes o profeta que tomba o olhar com segurança sobre os frutos da terra.”

Defensor e modelo legítimo dos velhos hábitos, Pedro cumpria o seu objetivo de levar de volta para o seio da família a ovelha tresloucada. As palavras que saiam da boca do irmão mais velho ressoavam, por todas as paredes daquela pensão interiorana, os mesmos sermões do pai. Ainda assim, aceitando os argumentos de Pedro, André decide voltar para a casa, e essa atitude faz com que muitos comparem o livro à parábola do filho pródigo. Diferentemente do que acontece no livro de Lucas, onde o filho mais jovem da família volta ao lar depois de gastar toda a sua parte da herança e submete-se às leis da casa, em Lavoura Arcaica, o regresso provoca uma grande instabilidade e termina em tragédia.

A ideia central do livro é fragmentar as engrenagens dessa máquina programada para repetir os mesmos ciclos geracionais. Jogando com o divino e com o mundano, com a harmonia e com o caos, com o velho e com o novo, Lavoura Arcaica apresenta o duplo em diversos momentos da narrativa, e André é a personagem que aperta junto ao peito todas essas sensações contrastantes que estruturam a psique humana. Repleta de alegorias, parábolas, conflitos psicológicos, a intensidade e a profundidade da narrativa suspende-nos a respiração, fazendo com que nos sintamos impotentes diante das circunstâncias.

Lavoura Arcaica é uma obra onde tudo nos atravessa, o sublime e o grotesco. Profunda e densa, a sua leitura busca jogar luz sobre os fantasmas que assombram André. Ainda que o livro seja conhecido por sua prosa poética de alta qualidade, é preciso ressaltar que Raduan Nassar consegue não só conferir complexidade a todas as personagens, mas também situar de forma clara o tempo e o espaço onde as ações se desenvolvem – muito embora o livro não siga as estruturas lineares que a maioria dos livros tradicionais seguem. Com isso, o leitor consegue atravessar e ser atravessado por todas as nuances que compõem a trama.

“[...] eu só estava pensando nos desenganados sem remédio, nos que gritam de ardência, sede e solidão, nos que não são supérfluos nos seus gemidos; era só neles que eu pensava.”

Vencedor do prêmio Camões 2016, Raduan Nassar é um mago da palavra. Durante a leitura, compreende-se que a potência da obra reside na linguagem que dança e na gravidade do silêncio que habita em cada pausa. A maneira como ele trabalha a linguagem, ligando vidas, sensações, fluxos e todos os elementos que compõem o corpo humano, seguem um curso sem fim, uma correnteza de energias. Todos os hiatos pulsam, sem dar brechas para os exageros, sem dar trégua para as sensações. Essa precisão léxico-sintática, tão rica ao longo de todo o livro, certamente eleva Raduan Nassar ao panteão dos autores nacionais.

Considerando a sua riqueza e a sua complexidade linguísticas, com estruturas tensas, densas e musicais, é possível compreender Lavoura Arcaica como uma obra que transita entre a prosa e a poesia. Operando nessa frequência, a obra debate questões profundas, onde é impossível encontrar culpados.

Vencedor do prêmio Jabuti em 1976, Lavoura Arcaica é tido como um dos livros mais importantes da literatura nacional. Alguns anos depois, Raduan Nassar deixou de lado a carreira literária para se dedicar às tarefas rurais. Embora a sua passagem pelo cenário literário tenha sido curta, escrevendo somente três livros, Lavoura Arcaica tem fôlego inesgotável. Contundente e iluminada, é uma obra que arrasta consigo profundos pensamentos e desdobramentos, chamando sempre o leitor para novas aventuras nesse campo lavrado de palavras.

“[...] O amor que aprendemos aqui, pai, só muito tarde fui descobrir que ele não sabe o que quer; essa indecisão fez dele um valor ambíguo, não passando hoje de uma pedra de tropeço; ao contrário do que se supõe, o amor nem sempre aproxima, o amor também desune; e não seria nenhum disparate eu concluir que o amor na família pode não ter a grandeza que se imagina.”

“– Em parte alguma, menos ainda na família; apesar de tudo, nossa convivência sempre foi precária, nunca permitiu ultrapassar certos limites; foi o senhor mesmo que disse há pouco que toda palavra é uma semente: traz vida, energia, pode trazer inclusive uma carga explosiva no seu bojo: corremos graves riscos quando falamos.”
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Bruno 11/01/2024

O sagrado e o profano
Lavoura Arcaica é pra todo mundo. É o livro perfeito pra desmistificarmos a ideia de que alguns livros não são para todos porque são difíceis. É fato que a construção da história com períodos compostos longos faz até os leitores mais experientes se perderem se tentarem ler com pressa. Mas esse não é um livro pra se ler com pressa, é preciso degustar toda sua poética, seu lirismo, as construções. É preciso entrar na mente de André, é preciso se sensibilizar mesmo sabendo que ele é um narrador não confiável.

A angústia crescente do oprimido e outros temas que são polêmicos nos faz precisar parar a leitura, as vezes, para refletir. O sagrado e o profano são retratados de forma brilhante, aliás se tem algo em que esse livro é simplesmente perfeito é em sua forma. O controle e a liberdade, a gente ordem e o caos, o amor e o ódio, o sagrado e o profano são só a ponta do iceberg que Raduan Nassar nos traz com sua incrível sensibilidade de descrever temas tão complexos, mas tão simples aos olhos de André.

Uma dica que posso dar é que ou não se incomodem com o vocabulário que são próprios da lavoura, ou leiam no kindle podendo pesquisar as palavras, ou tenham um dicionário (pode ser no celular) fácil por perto. Fora isso é um livro que pode sim ser encarado por todos, é só prestar atenção nos períodos compostos pra não se perder, mas não existe nenhuma dificuldade em sua leitura.

Um dos meus livros favoritos da vida!
Viani_._ 11/01/2024minha estante
Em algum dia desse ano vou tentar ler ele. Vou dá uma chance.?


Bruno 11/01/2024minha estante
Não vai se arrepender, Vitória! É ótimo




Bianca 02/01/2024

A parábola do filho pródigo
A parábola do filho pródigo contada por meio do lirismo.

O livro é incrível, uma história poética, mas difícil (no meu caso tive que reler várias vezes pra realmente entender).

A passagem que mais amei na história foi: ?O tempo é o maior tesouro de que um homem pode dispor; embora inconsumível, o tempo é o nosso melhor alimento; sem medida que o conheça, o tempo é contudo nosso bem de maior grandeza.?
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