Lavoura arcaica

Lavoura arcaica Raduan Nassar




Resenhas - Lavoura Arcaica


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Clio0 06/03/2015

Esse livro foi indicação de uma amiga, e poucas vezes li algo assim que fosse tão bom.

Prosa, estilo, personagens, situações, história, tudo é bom. Isso mesmo o que você leu, tudo não é só bom, é ótimo.

Estou sendo tendenciosa? Talvez, ler sobre uma família caipira do interior mexe com a minha própria vivência e como muita gente diz, quem lê influencia e interpreta o que lê. Mas acredite em mim, se tem um livro que merecia fazer parte da lista do vestibular, ou representar o Brasil lá fora, ou ainda, sobreviver por mais cem anos, é esse aí.

Quer uma dica? Não leia a sinopse, não vá para a última página, leia a seco como eu li. Vai valer a pena.
Kelen.Cavalcante 03/01/2023minha estante
É uma obra simplesmente fantástica!!!!




Arsenio Meira 10/10/2015

LAVOURA
“O mundo das paixões é o mundo do desequilíbrio, é contra ele que devemos esticar o arame das nossas cercas [...]” - (Raduan Nassar, Lavoura Arcaica, p. 54)

Basta ler este Lavoura Arcaica para apreender que a obra de Raduan Nassar resulta de uma produção literária tão impactante quanto iluminada. De onde que nada mais natural, a interrogação do leitor para saber as razões que o levaram a abandonar uma promissora (mais abundante) carreira de escritor e isolar-se no campo para se dedicar unicamente às atividades rurais.

Em entrevista concedida aos Cadernos de Literatura Brasileira, Raduan Nassar afirmara que fora a paixão pela literatura que o fizera, por um período de sua vida, dedicar-se inteiramente à literatura, mas, assim como paixão é sempre uma incógnita, tanto o seu começo quanto o seu fim, Nassar também não soubera responder por que renunciara à literatura. Bom, se ele não sabe, eu é que não me atrevo a sequer tecer ilações sobre este fato, triste por sinal.

A força poética presente nos versos, retirados do poema Invenção de Orfeu, de Jorge de
Lima, que servem de epígrafe para a obra, já dá indícios dos eventos presentes nesta narrativa de Raduan Nassar: uma prosa lírica com ações dramáticas, onde não há como apontar um elemento culpado; todos estão fadados a um destino que inviabiliza qualquer mudança, visto que a planta carregada de sedução e viço vem da infância e remete a infâncias passadas obedecendo ao ciclo natural da vida.

É a quebra desse ciclo o elemento central da narrativa. Pela linguagem bem elaborada Nassar é posicionado como pertencente à linhagem dos narradores-poetas. Narrada em primeira pessoa, Lavoura arcaicanão segue a forma tradicional de apresentar o texto de forma linear, embora o leitor consiga apreender o enredo sem maior esforço. Entretanto, o maior destaque da narrativa está na linguagem. A riqueza léxico-sintática, o cuidado e a meticulosidade na escolha das palavras e na construção das frases eleva este escritor a patamares só alcançados pelos grandes nomes da literatura brasileira.

Além disso, a inovação da linguagem em suas narrativas possibilita analisar Nassar como um escritor de fronteiras;por isso, é impossível classificar Lavoura arcaica como apenas prosa: ela é prosa e poesia. Isso aponta para abertura e fechamento do texto. A linguagem utilizada é singular, cheia de densidade,tensão e musicalidade, trazendo para o texto um conteúdo de verdade e uma discussão humana profunda e complexa, capitulados nos versos do poeta Jorge de Lima.

Estes versos também se relacionam com o título Lavoura arcaica. A planta da infância é parte de uma lavoura composta por uma família tradicional que, sob os cuidados de um lavrador incansável, obedece ao curso natural de crescimento com total obediência ao tempo à manutenção da tradição,vistas na narrativa como o alimento necessário para o controle e continuidade daquela lavoura.

A narrativa tem início em um quarto de pensão, refúgio do “filho tresloucado” que deixou o lar paterno para permitir que seu corpo vivesse as paixões proibidas (incestuosa) pela rotina severa da fazenda. É neste quarto que André recebe seu irmão mais velho, Pedro, enviado pelo pai para recuperar aquela planta enferma. É neste encontro que André retoma, pela memória, sua vida na fazenda.

Para amainar sua febre, André buscava na terra o alívio de suas inquietações. Era misturado à terra que ele, adolescente, libertava-se dos olhos apreensivos da família para buscar no silêncio o esvaziamento dos sermões do pai que ele já sabia ser inconsistentes. O silêncio é um dado importante na narrativa.Em Lavoura arcaica,a voz do discurso pertence unicamente ao patriarca, que impossibilitava qualquer tomada de posição da família. Sentado na ponta da mesa, seus sermões eram o alimento que todos deveriam ter, antes de qualquer outro. E o silêncio fazia-se lei. Mas também era matéria de revolta. No silêncio os membros do galho esquerdo do troco teciam sua desordem.

A necessidade de calar os sermões do pai era muito mais alimento para a alma que o próprio discurso. Entretanto, ali naquela pensão, diante do irmão Pedro, eram as mesmas palavras do pai que André ouvia. Pedro, como guardião da tradição e representante legítimo cumpria o seu papel de juntar ao corpo único da família um membro que se desgarrara.

Em Lavoura arcaica o que se deseja é posicionar o corpo antes da roupa. Ter controle sobre seu corpo representava ter controle sobre seu pertencimento no mundo. Ao conhecer os limites do corpo, Ana, irmã do protagonista e sua amante, percebeu as singularidades de sua personalidade. Destituída do poder do discurso, a personagem utilizou os movimentos corporais e sensualidade para posicionar-se naquela sociedade arcaica, revelando que o caminho da autoidentidade passa pelo conhecimento do corpo e pela busca do prazer.

Observa-se que nos conflitos situados na obra de Nassar,a subversão da figura feminina é marcada por conflitos e sofrimento, pois elas ainda se encontram divididas entre os padrões conservadores que ainda lhes são impostos e a urgência de cravar seu lugar na sociedade enquanto sujeito do próprio discurso. Isso mostra que a tomada de posição pode representar, para a mulher, um momento de difícil aceitação,pois inscreve a perda da proteção masculina, tão presente no imaginário romântico da sociedade.

Em um mundo de igualdade crescente, homens e mulheres são levados a realizar mudanças fundamentais em seus pontos de vistas e comportamento. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades; isto é condição necessária para a vida em sociedade. É preciso refletir sobre a condição feminina para acelerar o processo de autoconhecimento e autodescoberta,deixando às mulheres das décadas posteriores, ao menos, uma perspectiva de esperança de que é possível ser livre, ser feliz e escolher seu próprio destino.

O romance de Raduan Nassar encontra-se em um mar aberto de possibilidades de leituras e releituras. Uma abordagem a partir de um único viés teórico, seria simplista, pois deixaria ao largo muito do alcance e da profundidade da obra. Portanto, para quem deseja adentrar na obra deste escritor, é pertinente (re)lembrar o posicionamento dele, posto na epígrafe destas considerações finais: o aprendizado é um processo em construção; ele nunca está pronto. E tal premissa é perene.
Thiago 10/10/2015minha estante
Arsenio, meu caro que bela resenha tu fizeste, eu concordo plenamente com tudo o que dissestes, a propósito se tiveres fôlego vale a pena assistir ao filme do Luiz Fernando Carvalho que se baseou no livro e segue fielmente o enredo da obra do Raduan Nassar , talvez uma das melhores realizações no nosso tão desprestigiado cinema nacional, o filme tem o mesmo título do livro caso tenha interesse.


Arsenio Meira 10/10/2015minha estante
Grande Thiago,
Vou ver o filme, sim, e não vai demorar, amanhã ou terça, no máximo! Já tô na expectativa, depois do seu incentivo e da opinião da Carla, essa expectativa já vai virar ansiedade! rsrs. Obrigado, amigo, como certa vez lhe escrevi, vc é que é grande, generoso! Valeu por tudo. Abração.


Ed Ribeiro 10/10/2015minha estante
Vou ter que antecipar minha leitura deste livro hehe


Arsenio Meira 10/10/2015minha estante
Edi,
Vale demais, faço até campanha, kkkk... Ainda estou sob o impacto. Há, de fato, o livro certo, na hora certa; antes, eu não dava muito trela pra esse tipo de coisa, mas estava errado. No entanto, acho eu, que esse romance cabe em qualquer momento! Boa leitura! Abraços


Thiago 11/10/2015minha estante
Que isso Arsenio, você falando assim me deixa desconcertado, mas o sentimento é mutuo, e eu o admiro muito, até pediria um autógrafo a você se eu o visse pessoalmente hehehe.


Arsenio Meira 11/10/2015minha estante
Thiago, kkkkkk
Se pedir, eu assino!!
(tô brincando!)
Abração


Thiago Ernesto 11/12/2015minha estante
Saudades do amigbo Arsenio... Gostava ter a oportunidade de falar consigo sobre essa obra :/


Alana 06/05/2017minha estante
que delicia terminar de ler essa obra e encontrar uma resenha do Arsenio, saudades.


Juliana 20/05/2018minha estante
Realmente, as resenhas do Arsênio eram incomparáveis!


Emanuel.Giovanni 25/03/2021minha estante
Que resenha incrível!




Cinara... 30/03/2021

... que o tempo sabe ser bom, e o tempo é largo, o tempo é grande, o tempo é generoso, o tempo é farto, é sempre abundante em suas entregas: amaina nossas aflições, dilui a tenção dos preocupados, suspende a dor aos torturados, traz a luz aos que vivem nas trevas, o ânimo aos indiferentes, o conforto aos ele lamentam, a alegria aos homens tristes, o consolo aos desamparados, o relaxamento aos que se contorcem, a serenidade aos inquietos, o repouso aos sem sossego, a paz aos intranquilos, a umidade às almas secas; satisfaz os apetites moderados, sacia a sede dos sedentos, a fome aos famintos..."

Lavoura arcaica é extremamente poético.
É filho pródigo, é incesto, é família, é tempo e é paciência!
Acredito não ser uma leitura que agradará a todos, mas pra quem gosta de Clarice Lispector super recomendo!
Angélica 30/03/2021minha estante
Eu também amei esse livro. Puta merda!


Cinara... 30/03/2021minha estante
Incrível né Angélica!! ? Aff ?




Bookster Pedro Pacifico 26/02/2020

Lavoura arcaica, de Raduan Nassar - Nota 10/10
Raduan Nassar escreveu apenas dois romances em sua vida, já que desde 1984 decidiu parar de escrever e passou a se dedicar à vida no campo. Mas apesar de uma produção literária tão pequena em termos de páginas escritas, seu trabalho é tão impactante que deixa mais do que justificado o seu papel de destaque na literatura nacional. De fato, a leitura de Lavoura Arcaica deixa marcas no leitor e revela a invejável afinidade que Raduan tem com as palavras.

A obra, publicada em 1975, traz a história de André, nascido em uma família rural numerosa, mas que decidiu abandonar sua casa e se mudar para uma cidade do interior. No entanto, os motivos que o levaram a tomar essa decisão não são revelados logo de cara.

Já nas primeiras palavras, o leitor se depara com um forte tom poético que vai estar presente ao longo de toda a obra. André é o narrador personagem e, logo nas primeiras cenas, somos apresentados ao seu irmão, Pedro, que faz uma visita para tentar convencê-lo a voltar para casa. A partir disso, os capítulos vão se alternando entre os diálogos dos irmãos com as memórias do autor, revelando, aos poucos, a fonte principal dos conflitos internos do personagem e que o levaram a decidir abandonar a família (paro por aqui, para evitar spoilers). Mas já adianto que é uma temática incômoda e que divide espaço com a escrita IMPECÁVEL de Raduan. A sensação é de que nenhuma palavra está lá por acaso.

Por fim, não dá para deixar de dizer que, apesar de encantadora, a escrita não é das mais fáceis. Além de se valer de inúmeras metáforas, o autor utiliza muito a técnica do fluxo de consciência. Ou seja, nos coloca nos pensamentos - confusos e não lineares - do narrador. Você inicia um capítulo e se vê atirado nesses pensamentos, que não terminam até o final do próximo capítulo (vários com apenas um ponto final!). Haja fôlego, mas o esforço é compensado por cada palavra lida.

site: https://www.instagram.com/book.ster/
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Bruno Malini 07/09/2021

Muito bom
Arrebatador, um drama familiar com um tensão crescente, escrito em primeira pessoa que te deixa mais ainda impotente .
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Bruno 11/01/2024

O sagrado e o profano
Lavoura Arcaica é pra todo mundo. É o livro perfeito pra desmistificarmos a ideia de que alguns livros não são para todos porque são difíceis. É fato que a construção da história com períodos compostos longos faz até os leitores mais experientes se perderem se tentarem ler com pressa. Mas esse não é um livro pra se ler com pressa, é preciso degustar toda sua poética, seu lirismo, as construções. É preciso entrar na mente de André, é preciso se sensibilizar mesmo sabendo que ele é um narrador não confiável.

A angústia crescente do oprimido e outros temas que são polêmicos nos faz precisar parar a leitura, as vezes, para refletir. O sagrado e o profano são retratados de forma brilhante, aliás se tem algo em que esse livro é simplesmente perfeito é em sua forma. O controle e a liberdade, a gente ordem e o caos, o amor e o ódio, o sagrado e o profano são só a ponta do iceberg que Raduan Nassar nos traz com sua incrível sensibilidade de descrever temas tão complexos, mas tão simples aos olhos de André.

Uma dica que posso dar é que ou não se incomodem com o vocabulário que são próprios da lavoura, ou leiam no kindle podendo pesquisar as palavras, ou tenham um dicionário (pode ser no celular) fácil por perto. Fora isso é um livro que pode sim ser encarado por todos, é só prestar atenção nos períodos compostos pra não se perder, mas não existe nenhuma dificuldade em sua leitura.

Um dos meus livros favoritos da vida!
Viani_._ 11/01/2024minha estante
Em algum dia desse ano vou tentar ler ele. Vou dá uma chance.?


Bruno 11/01/2024minha estante
Não vai se arrepender, Vitória! É ótimo




Oggione 11/01/2024

A intimidade como princípio de violência
“– Já disse que não acredito na discussão dos meus problemas, estou convencido também de que é muito perigoso quebrar a intimidade, a larva só me parece sábia enquanto se guarda no seu núcleo, e não descubro de onde tira a sua força quando rompe a resistência do casulo; contorce-se com certeza, passa por metamorfoses, e tanto esforço só para expor ao mundo sua fragilidade.”

Lavoura Arcaica (1975), de Raduan Nassar (1935-), é um romance que narra em primeira pessoa os desdobramentos da fuga de André, depois de abandonar a sua casa na fazenda e a sua família. Pedro, o irmão mais velho, que fica incumbido de procurar André e levá-lo de volta para a casa, encontra o irmão em uma antiga pensão do interior. Aqui, mergulhamos nas memórias do jovem sobre a sua rotina na fazenda e conhecemos os motivos sombrios que corroboraram para a sua desobediência.

A sua descrença em relação aos discursos do pai – que pregam a resiliência, a tranquilidade e a organização –, a sua rotina de trabalho árduo na fazenda da família, a sua relação incestuosa com a irmã foram determinantes para que o jovem tramasse a sua fuga. Na fazenda, era aplacando o seu desassossego junto à terra que André se refugiava das vistas familiares; era se entregando ao silêncio desse gesto que procurava esvaziar os discursos inflexíveis e infecundos do pai. O silêncio, aliás, é um aspecto significativo na obra. Jogando com as palavras, subvertendo os parâmetros da linguagem, André narra todos esses acontecimentos com muita potência – e é esse o seu grito contra a austeridade da família e, sobretudo, contra a presença do pai que o assombra.

Se o silêncio era a regra do pai, era no silêncio que André fermentava a sua transgressão. No convívio da fazenda, era sempre a voz do pai a primeira e a última a se manifestar, inviabilizando a decisão dos demais membros da família. Antes de cada refeição, cada um dos seus discursos – cheios de simbolismos, imagens e moralismo – tinha os seus motivos de existir. Nele, o que realmente importa não é a palavra dita, mas a força da ação e do exemplo. Assim, a figura paterna na obra acredita que a felicidade de um homem necessita da total devoção à tradição familiar, aos seus membros e ao trabalho.

“[...] e mal saindo da água do meu sono, mas já sentindo as patas de um animal forte galopando no meu peito, eu disse cegado por tanta luz tenho dezessete anos e minha saúde é perfeita e sobre esta pedra fundarei minha igreja particular, a igreja para o meu uso, a igreja que frequentarei de pés descalços e corpo desnudo, despido como vim ao mundo, e muita coisa estava acontecendo comigo pois me senti num momento profeta da minha própria história, não aquele que alça os olhos pro alto, antes o profeta que tomba o olhar com segurança sobre os frutos da terra.”

Defensor e modelo legítimo dos velhos hábitos, Pedro cumpria o seu objetivo de levar de volta para o seio da família a ovelha tresloucada. As palavras que saiam da boca do irmão mais velho ressoavam, por todas as paredes daquela pensão interiorana, os mesmos sermões do pai. Ainda assim, aceitando os argumentos de Pedro, André decide voltar para a casa, e essa atitude faz com que muitos comparem o livro à parábola do filho pródigo. Diferentemente do que acontece no livro de Lucas, onde o filho mais jovem da família volta ao lar depois de gastar toda a sua parte da herança e submete-se às leis da casa, em Lavoura Arcaica, o regresso provoca uma grande instabilidade e termina em tragédia.

A ideia central do livro é fragmentar as engrenagens dessa máquina programada para repetir os mesmos ciclos geracionais. Jogando com o divino e com o mundano, com a harmonia e com o caos, com o velho e com o novo, Lavoura Arcaica apresenta o duplo em diversos momentos da narrativa, e André é a personagem que aperta junto ao peito todas essas sensações contrastantes que estruturam a psique humana. Repleta de alegorias, parábolas, conflitos psicológicos, a intensidade e a profundidade da narrativa suspende-nos a respiração, fazendo com que nos sintamos impotentes diante das circunstâncias.

Lavoura Arcaica é uma obra onde tudo nos atravessa, o sublime e o grotesco. Profunda e densa, a sua leitura busca jogar luz sobre os fantasmas que assombram André. Ainda que o livro seja conhecido por sua prosa poética de alta qualidade, é preciso ressaltar que Raduan Nassar consegue não só conferir complexidade a todas as personagens, mas também situar de forma clara o tempo e o espaço onde as ações se desenvolvem – muito embora o livro não siga as estruturas lineares que a maioria dos livros tradicionais seguem. Com isso, o leitor consegue atravessar e ser atravessado por todas as nuances que compõem a trama.

“[...] eu só estava pensando nos desenganados sem remédio, nos que gritam de ardência, sede e solidão, nos que não são supérfluos nos seus gemidos; era só neles que eu pensava.”

Vencedor do prêmio Camões 2016, Raduan Nassar é um mago da palavra. Durante a leitura, compreende-se que a potência da obra reside na linguagem que dança e na gravidade do silêncio que habita em cada pausa. A maneira como ele trabalha a linguagem, ligando vidas, sensações, fluxos e todos os elementos que compõem o corpo humano, seguem um curso sem fim, uma correnteza de energias. Todos os hiatos pulsam, sem dar brechas para os exageros, sem dar trégua para as sensações. Essa precisão léxico-sintática, tão rica ao longo de todo o livro, certamente eleva Raduan Nassar ao panteão dos autores nacionais.

Considerando a sua riqueza e a sua complexidade linguísticas, com estruturas tensas, densas e musicais, é possível compreender Lavoura Arcaica como uma obra que transita entre a prosa e a poesia. Operando nessa frequência, a obra debate questões profundas, onde é impossível encontrar culpados.

Vencedor do prêmio Jabuti em 1976, Lavoura Arcaica é tido como um dos livros mais importantes da literatura nacional. Alguns anos depois, Raduan Nassar deixou de lado a carreira literária para se dedicar às tarefas rurais. Embora a sua passagem pelo cenário literário tenha sido curta, escrevendo somente três livros, Lavoura Arcaica tem fôlego inesgotável. Contundente e iluminada, é uma obra que arrasta consigo profundos pensamentos e desdobramentos, chamando sempre o leitor para novas aventuras nesse campo lavrado de palavras.

“[...] O amor que aprendemos aqui, pai, só muito tarde fui descobrir que ele não sabe o que quer; essa indecisão fez dele um valor ambíguo, não passando hoje de uma pedra de tropeço; ao contrário do que se supõe, o amor nem sempre aproxima, o amor também desune; e não seria nenhum disparate eu concluir que o amor na família pode não ter a grandeza que se imagina.”

“– Em parte alguma, menos ainda na família; apesar de tudo, nossa convivência sempre foi precária, nunca permitiu ultrapassar certos limites; foi o senhor mesmo que disse há pouco que toda palavra é uma semente: traz vida, energia, pode trazer inclusive uma carga explosiva no seu bojo: corremos graves riscos quando falamos.”
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Rafa 29/07/2020

Exímio proveito da Linguagem Estética
No caso de Lavoura Arcaica, o exercício da leitura por si só já é recompensador, desafiador, aprazível, nos enche de orgulho da língua portuguesa. Se não bastasse, o conflito familiar levanta diversos questionamentos sobre os valores sociais.
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Eduardo S 08/04/2009

Talvez mais do que a estória, o que mais impressiona é a prosa de Raduan Nassar. Absurdamente poética, de um fôlego ansioso. Não se pode lê-lo sem náuseas, e ainda assim sua escrita hipnotiza-nos. Um marco na nossa literatura; Machado teria se orgulhado dele.
() 22/04/2014minha estante
Será que Guimarães Rosa não teria se orgulhado ainda mais? :)


Nathália 13/01/2016minha estante
Foi exatamente a mesma impressão que tive após a leitura. E concordo com cheesecake~, acho que Guimarães Rosa teria se orgulhado demais!




de.ler.eu.gosto 01/01/2022

Sensível e tocante.
E para encerrar 2021 a última leitura, nada menos primorosa que Lavoura Arcaica.
Publicado em 1975, Lavoura Arcaica foi o romance de estreia do escritor Raduan Nassar.
Escrito em primeira pessoa, em uma forma lírica, André, filho que saiu de casa,melhor dizendo da fazenda onde vivia com seus pais e cinco irmãos, é procurado por Pedro , seu irmão mais velho, para que o leve para casa.
André, revive seus momentos pouco antes de sair de casa, até o seu retorno, para esse lar dominado por um pai severo e metódico.
Para muitos, a escrita de Raduan é um misto de Clarice Lispector e João Guimarães Rosa, pois o autor caminha livremente entre o lirismo e fluxo de consciência ao domínio das palavras .
Na minha concepção, é uma livro pequeno que parece ser rápido mas há muito o que se pausar e refletir.
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Clakson 11/07/2023

Poesia e filosofia numa jornada sobre família e liberdade
Cada uma das suas longas frases é marcada por poesia e introspecção.
A lavoura arcaica dos sentimentos e da relação familiar é o mote para essa história que prende em cada capítulo por igual, exceto pelo último que me fez reler várias vezes para ter certeza de cada palavra.
Por conta desse plot twist recomendo a leitura sem nenhuma ideia anterior do que se trata. Deixe apenas o livro contar sua história, que se dá exclusivamente do ponto de vista do personagem principal.
Uma obra pra ser lida de joelhos!
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Breno 07/03/2022

Odeio fluxo de consciência.

Leitura rápida, fiquei perdidão no começo mas depois que você se acostuma fica fácil, o final realmente me surpreendeu, enfim, bem diferente, eu acho.
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Olívia Giacomin 15/07/2021

com todo respeito, um livro ok.
é um bom livro, mas não foi o que eu esperava..
sempre ouvi excelentes comentários sobre esse livro, leitores com experiências marcantes, mas não foi assim comigo, me disseram que era uma história muito envolvente e intensa, mas apesar de achar o enredo interessante, eu não me envolvi muito, não me conectei com os personagens, não senti nada por eles na verdade, e acho que só tem como você amar um livro quando se conecta com a história..
o livro, inspirado na parábola do filho pródigo que sai do seio da família para viver a vida e depois retorna, é dividido em duas partes: a partida e o retorno, onde iremos entender a vivência do andré e sua família, através de uma narrativa não linear, que intercala momentos passados e presentes.
a escrita do raduan é muito bonita, eu marquei vários trechos, fiquei tocada com várias frases, só que em diversos momentos eu também fiquei cansada, por exemplo, tem uma parte em que o andré está conversando com a ana e fala sobre como ele vai mudar a postura e começar a ajudar nas atividades da casa (tirei detalhes do contexto para nao dar spoiler) e ai ele fica por páginas falando: vou limpar isso, vou cortar aquilo de tal jeito, vou agir assim e são páginas e páginas disso, acabei achando um pouco chato, só que não dá para chamar esse livro maçante, ele é muito curto, então eu terminei de ler, gostei, mas não fiquei com aquela sensação de UAUUU que obra esplêndida, achei só ok..
mas eu gostaria de ressaltar também que o livro tem seus pontos altos: o capítulo nove onde o pai discorre sobre o tempo é uma das coisas mais lindas que eu já li, me fez sentir muitas coisas, a construção da família é muito bem feita, dá para entender facilmente o que cada personagem representa e eu adorei o capítulo onde fala sobre a disposição de cada membro da família na mesa e o que aquilo representava, eu gostei muito.
eu não tenho o hábito de dar notas para os livros, uma coisa minha mesmo, mas para mim, esse é claramente um livro três estrelas, não posso dar menos que isso porque é um bom livro, mas não posso dar mais porque não me cativou.
Flávia 15/07/2021minha estante
com todo ok, um livro de respeito.


Flávia 15/07/2021minha estante
com todo ok, um livro de respeito sobre o tema na minha opinião é crônica de uma casa assassinada.


Carolina.Gomes 17/07/2021minha estante
Esse livro me deu uma canseira. Confesso q terminei porque eram só 200 páginas.




Gláucia 31/08/2010

Tema indigesto
Hesitei um pouco entre duas ou três estrelas, mas tenho que ser coerente com minhas opiniões. Esse livro é extremamente elogiado e é realmente muito bem escrito. O autor se apropria de um estilo lírico que me pareceu não combinar muito com o ambiente rude onde se passa a história, mas achei um contraste interessante.
O que mais me incomodou foi o fato de tudo ter ficado nas entrelinhas, no ar. Não que num livro tudo precise ser esclarecido de forma explícita e dado de forma mastigada ao leitor, mas acho que aqui houve um excesso desse recurso.
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