Jaqueline 13/08/2011Muita gente já deve ter ouvido falar "Tudo o Que é Sólido Pode Derreter", uma série televisiva exibida pela TV Cultura que falava sobre literatura para público jovem. Pois "Tudo o Que é Sólido Pode Derreter", o livro, é a adaptação do seriado para o papel e foi escrito justamente por um dos criadores do programa, o cineasta Rafael Gomes. No entanto, em tudo o que a série prende o leitor, o livro deixa a desejar.
Se você é jovem e gosta de literatura, este livro é um prato cheio para você! Thereza, nossa protagonista, é uma adolescente que vive as dores do amadurecimento como outra qualquer. Filha única, ela está longe de ser uma garota-problema, mas sofre imensamente com a recente morte de seu tio, Augusto, um ator de teatro que sempre tinha grandes conversas com ela sobre a vida, nossos medos e nossos anseios.
Dotada de uma imaginação para lá de ativa e extravagante, Thereza vive refletindo sobre as pessoas e coisas que a cercam, e o livro acompanha todas as “viagens” da mocinha sobre sua família e seus amigos motivadas pelas leituras que ela faz para a escola. Sabe aquele momento onde sentamos e ficamos pensando sobre a lógica das coisas que sentimos, vemos e fazemos? Agora imagine tudo isso seguindo a lógica de “O Auto da Barca do Inferno”, peça de Gil Vicente, “Senhora”, de José de Alencar ou “Macunaíma”, de Mário de Andrade. Pois isto é "Tudo o Que é Sólido Pode Derreter"! Lendo as reflexões de Thereza, lembrei-me por diversas vezes dos meus tempos de escola, onde eu - apaixonada por livros desde pequena -, buscava lições de vida em cima das obras de escritores como Clarice Lispector e Machado de Assis.
Entre experiências ora divertidas, ora dramáticas, Thereza cria pontes entre as histórias dos livros e as histórias que se desenrolam diante de si todo dia. Aliado ao amadurecimento que a personagem sofre, o livro se torna leitura obrigatória para adolescentes apaixonados por literatura, mas perde pontos com leitores mais adultos por se arrastar em dilemas juvenis como inimizades no colégio (personificada pela odiosa Dalila, a garota mais esnobe da escola), primeiros amores (Ah, João Felipe...) e amizades à distância (a fofa Kit, amiga que vive no exterior). Este é um caso onde a narrativa em primeira pessoa acaba tornando o livro por vezes enfadonho demais. Sim, Thereza é uma jovem muito bacana, mas depois do terceiro capítulo fiquei entediada de ver o mundo apenas pela lógica de uma adolescente.
Já a série, que pode ser assistida na íntegra na internet, consegue conquistar espectadores de todas as idades, pois além de divertir com as representações dos sonhos e reflexões de Thereza, também expressa melhor os dilemas de outros personagens, como os pais da protagonista, o vendedor coração mole Décio e a racional psicóloga Marta. Marcos, melhor amigo de Thereza, é outro beneficiado.
Apesar dos pesares, o livro "Tudo o Que é Sólido Pode Derreter" consegue passar os pontos mais relevantes de diversos livros da literatura luso-brasileira sem ser pedante ou didático demais. A iniciativa de convidar os jovens à leitura é louvável e me deixou empolgada para ler o livro, mas infelizmente acabei gostando mais da série do que do livro.
>> Resenha publicada no site www.up-brasil.com