Juliana 04/12/2012Mentecaptos Por Livros | mentecaptosporlivros.blogspot.comUma das coisas mais interessantes sobre Throne of Glass é a narração que, mesmo estando dentro da cabeça da Celaena em terceira pessoa, ela ainda é um mistério. O leitor não tem ideia de onde ela veio, de quem ela é. Seu nome real? Enterrado junto com os segredos da sua infância. Sua vida antes de ser a notória assassina Celaena Sardothien, é um completo espaço branco para o leitor. A única coisa que sabemos é que ela tem uma passado trágico. Sofrido. E o POV não é exclusivo; a autora vai mudar de narrador para nos dar um insight do que está acontecendo fora da cabeça da protagonista. Fiquei o livro inteiro roendo as unhas de curiosidade, querendo saber o que aconteceu na infância da Celaena, como e porque.
Mas o que, realmente, me conquistou em Throne of Glass? Eu acho que seria o ponto de vista crítico, a falta de ingenuidade estúpida tão típica nas protagonistas dos livros YA de hoje em dia de Celaena.
Ela condena as pessoas estúpidas que a criticam por ser vaidosa (e cara, bota vaidosa nisso). Ela condena mais ainda essas mesmas pessoas estúpidas por pensarem que só por ela adorar roupas caras, sapatos, jóias e maquiagens, ela é incompetente e menininha demais para ser uma lutadora. Ela condena 'slut-shaming'; quando uma mulher diminui a outra para conseguir a atenção de um cara. Ela ri de quem diz que uma biblioteca não é um lugar perigoso. E ela se recusa a se sentir diminuída por um cara, só por que ele é um nobre. E ela adora tirar onda com a nobreza.
Celaena, apesar de todos os seus defeitos e sua arrogância, critica. Ela não é ingênua e está pronta para pensar o pior de todos, ao mesmo tempo em que ela não tem em si mesma a malícia e crueldade esperada de um assassino. Nossa protagonista é uma mistura louca de arrogância e bondade, ingenuidade e cinismo.
Sarah é muito boa em caracterizar personagens e dar vida à eles; como por exemplo o Rei. A maneira como ele foi escrito me surpreendeu. Posso contar nos dedos as vezes em que um livro me convenceu da frieza e ganância de um personagem; geralmente eu sou completamente indiferente ao vilão, simplesmente torcendo para os 'mocinhos' derrotarem logo o 'bandido' e dane-se ele depois. Agora o Rei? Não passa de um tirano megalomaníaco destruidor de bibliotecas que deve ser abordado com cuidado. E Sarah J. Maas me convenceu disso. Ela me fez odiar o cara e sentir remorso, junto com a Celaena, por todas as culturas e sabedorias perdidas dos povos que ele conquistou e escravizou. Ele não é apenas um vilão; ele está lá e eu me convenci de que ele é capaz de tudo por mais um hectare de terras conquistadas.
[citação]"Você poderia sacudir as estrelas", ela sussurrou. "Você poderia fazer qualquer coisa, se apenas você se atrevesse. E no fundo, você sabe disso, também. Isso é o que mais te assusta."
Outra coisa que me fez virar fã de ToG? A falta de draminhas-mimimi-românticos. Vou me explicar melhor; li uma entrevista em que a autora disse que a inspiração da série era Cinderela, só que invertido. Ela não queria a história de uma garota linda e loura sendo resgatada do castelo pelo príncipe; ela queria uma história de uma garota linda e loura que fosse capaz de resgatar a si mesma e no processo acabar resgatando o príncipe. Uma garota que fosse sua própria heroína. E a partir disso, é fácil imaginar o que eu quero dizer sobre o romance; sim, há dois garotos interessados nela. Sim, os dois são especiais e incríveis do seu próprio jeito. Sim, ela tem atração pelos dois. Não, a história não tem um triângulo amoroso propriamente dito e a trama não gira em volta disso. Por que a Celaena é sua própria heroína. Por que ela tem coisas maiores com o que se preocupar e por que o que ela mais deseja é sua liberdade, antes de tudo. O que estou tentando dizer aqui é que Sarah J. Maas não faz dos aspectos românticos do livro um clichê irritante cheio de drama emocional. O romance está lá, as emoções estão lá, mas o importante mesmo fica claro que é o contínuo crescimento pessoal da protagonista e o mistério a ser desvendado da história. E isso não é simplesmente lindo?
O livro não tem tanta ação. O desenvolvimento é rápido, as páginas voam, mas cenas de ação e luta são, surpresa surpresa, poucas. Estava esperando mais lutas, mais correria e nem teve tanto assim. Hey hey, calma lá. A trama tem ação, tem perseguição, tem passagens secretas em castelos antigos. Mas nem tanto assim. Uma pena. Mas o passo da história ainda é acelerado e as intrigas e o suspense se desenvolvem de maneira ágil.
A história é perfeita? Não. Houveram partes decepcionantes/irritantes? Sim. Mas para citar um colega bookaholic, o resto da coisa tava me divertindo tanto que os defeitos do livro me passaram batido. Não estava nem aí para as falhazinhas; estava muito ocupada me divertindo horrores com a atitude feminista da Celaena.
Realmente poderia escrever páginas e páginas sobre ToG, entrando a fundo em cada aspecto interessante da trama, mas, uau, isso aqui já está enorme não está? Então, resumindo: Throne of Glass é um livro com uma protagonista diferente, uma trama com pitadas épicas, passagens inspiradas e uma narração fluída, mesmo que não perfeita. Se você é fã do gênero YA fantasy, tem uma quedinha por heroínas feministas e confiantes (no caso de Celaena, até demais!) e adora toda a dinâmica Família Real, Tirano, Povos Mágicos (isso mesmo, mas eu realmente não vou falar tanto deles por que, oi, vocês tem que descobrir por si mesmos lendo o livro) conquistados, eu recomendo o livro. As sequencias prometem!
"Meu nome é Celaena Sardothien. Mas não faz nenhuma diferença se meu nome é Celaena ou Lillian ou Vadia, por que eu ainda te derrubaria, independente do que você me chamasse."
[tradução livre dos trechos do livro]