Tícia 22/12/2012
Todo mundo sabe que de uns anos pra cá, a ficção especulativa vem caindo na graça dos leitores de uma forma vertiginosamente crescente.
Nem preciso gastar meu tempo e sua paciência falando sobre o quanto livros assim estão bombando nas livrarias ou sobre a quantidade de autores que escrevem exclusivamente coisas do gênero.
É uma vampirada, uma bruxaiada, uma lobisomeada, uma deusaiada tão grande que me sobejam os “adas” e os neologismos. Até livro sobre demônios bonzinhos eu já vi que tem. Desculpem-me aqueles que gostam, mas dessa eu tive que rir.
Bem, só sei que no meio dessa miscelânea fantasiosa estou eu, uma leitora muito das desconfiadas, munida de cara de paisagem e uma nostalgia colossal dos tempos em que esses ‘monstros’ eram os vilões e não os mocinhos.
Aaaaahhhh! Então você não gosta de fantasia, hum?
Alto lá, não é bem assim. Tem muita coisa legal nesse estilo fazendo jus à boa fama e que eu gosto pra Caramba da Souza e Silva.
A minha implicância, na verdade, está na fórmula ‘história de amor + sobrenatural’.
Não adianta, eu tento, mas não dá pra mim. Prefiro os romances verossímeis, em consonância com nossa realidade.
Daí você pensa: xiiiiiii... ela não gostou de Príncipe Sombrio.
E eu penso: xiiiiiii... vão me esculhambar geral porque, realmente, este livro não caiu nas minhas graças.
Mas vou explicar.
A ideia é boa.
Os mocinhos são simpáticos.
Algumas cenas me surpreenderam positivamente.
Mas a história não me envolveu e me pegou de jeito, demorei séculos pra terminar a leitura.
Sei lá o que aconteceu.
Mas falando em história, vamos ao enredo.
Os Cárpatos são uma raça que não são humanos nem vampiros. Eles bebem sangue, mas não matam pessoas para se alimentarem; não andam no sol, mas se o fizerem não explodirão em chamas cinematográficas ou brilharão a la Cullen; e, acredite, têm poderes para se transformarem em outros seres ou coisas.
Os Cárpatos machos são notoriamente conhecidos pela total devoção às suas fêmeas, ou seja, por que não tem um Cárpato para cada uma de nós? Eles amam com intensidade, protegem com a vida sua companheira e criam um vínculo tipo alma gêmea.
Quer mais? É pra vida t-o-d-a. E eles vivem eternamente.
Reafirmo em uma voz levemente esganiçada: cadê meu Cárpato?!
E dentre esse povo temos Mikhail Dubrinksy, o líder do grupo.
Em um belo dia, enquanto conjeturava alguns pensamentos suicidas, ele acaba conhecendo telepaticamente a humana Raven. Resumindo: o hômi não quis nem saber se 2+2 não são cinco e logo abocanhou a muchacha, seduzindo-a sem piedade e transformando-a em uma fêmea de sua espécie.
Mas Raven não aceitou tal possessividade e imposição dissimulada de forma passível e doce.
Enquanto muita gente achou essa mocinha teimosa, eu gostei da bichinha. Ela resistiu ao mundo sobrenatural e à sua transformação porque ainda pensava e agia como humana, isto é, seu corpo mudou, mas a mente não. Por isso, relutou à beça e fez algumas besteiras ao longo da história.
Mas as coisas não seriam tão simples porque alguém quer acabar com os Cárpatos. Humanos? Outro morto vivo? Algo desconhecido?
Essa é a parte que eu mais gostei porque o suspense deu agilidade à trama.
E diante de tudo o que falei, você pode pensar: que chata você é, parece bom!
Como eu disse, a premissa é boa, mas algumas coisas fizeram a qualidade da trama cair e, como consequência, minha birra alcançar níveis perigosamente infantis:
=> A história em alguns momentos ficava arrastada e eu, que tenho atenção mais curta que de criança, começava a me distrair. Até a goteira na casa do vizinho me levou 15 minutos de meditação sobre o desperdício de água no mundo.
=> Muitos diálogos repetitivos e longos. Coisas que poderiam ser faladas em cinco linhas, a autora gastava cinco folhas. E numa meia dúzia desses blábláblás intermináveis, eu percebi que minha paciência está em dia.
=> Cenas deslocadas que iniciavam ou terminavam do nada. Tinha hora que eu tinha de voltar e procurar onde perdi o fio da meada, mas acabei percebendo que o texto é que não possuía lógica em algumas partes.
=> Excesso elemento sobrenatural. Até em névoa Mikhail se transformou... poxa, névoa? Achei isso o Ó. E tinha um tal de beber sangue uns dos outros que o negócio parecia self service.
Fora o texto. Tinha tanta oração esquisita, sem coesão e coerência que eu comecei a me irritar. E olha que eu nem esquento muito a piolhenta com essas coisas. Logo pensei: tradução?
Mas eis que depois de todo esse sofrimento, eu leio o seguinte comentário da Tonks aqui no Skoob:
“Essa versão de Príncipe Sombrio não é a publicada há 12 anos, e sim uma comemorativa chamada Dark Prince: Author's Cut Special Edition, na qual há um acréscimo de cerca de 100 páginas inéditas, trechos novos inseridos dentro da narrativa antiga.
Eu tenho certa preocupação em relação a isso, o original era mais enxuto, mais ágil. Quem não souber do fato poderá achar que a autora escreve com sobras, por isso vale a pena comentar que é a edição especial para fãs.”
Então há outra versão? Sem diálogos nonsenses, excessos e coisas esquisitas? Tô dentro! Quem sabe numa dessas, a história fica melhor pra mim?
Mas uma coisa eu não posso deixar de dizer: o livro tem partes boas, muito boas, tem romantismo, um mocinho tudodibão e, claro, um tórax de 3 metros na capa.
E se você gosta de um romance regado a fantasia e não chegou ao meu nível de enjoamento, será um prato cheio!
Recomendo? Apesar das ressalvas, até que sim. ; )