O Vermelho e o Negro

O Vermelho e o Negro Stendhal




Resenhas - O Vermelho e o Negro


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natmic 03/09/2017

O Vermelho e o Negro
Julien não é nem herói nem vilão. Se sente inferior aos demais e sempre procura ascender socialmente. Suas atitudes me pareceram equivocadas, devido à necessidade de se igualar as castas superiores... incrível como um personagem parece ser real, afinal, ninguém é inteiramente bom, inteiramente ruim, inteiramente certo ou errado!
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Miguel Freire 08/04/2024

Paixão e ambição
Obra-prima da literatura francesa, O Vermelho e o Negro, escrito por Stendhal e publicado em 1830, abriu uma nova fronteira na literatura, mesmo que essa fronteira só tenha vindo a ser reconhecida vários anos depois.
Julien Sorel, filho de um carpinteiro, é um jovem ambicioso. Mas sua ambição é meio… ambígua. Não é ambicioso por dinheiro, isso fica claro ao longo da história. Também não ambiciona a nobreza, que despreza profundamente. Sua ambição se adequa mais a um anseio pelo heroísmo, por ser lembrado. É quase como uma soberba, uma satisfação do orgulho pessoal por chegar tão alto vindo de tão baixo. Não é àtoa que seu ídolo seja Napoleão. E Julien realmente chega a circular entre a nata da sociedade parisiense, e quase alcança essa glória tão desejada. Mas sua fria e firme convicção é abalada pelas paixões; o vermelho predomina sobre o negro.
Acima de tudo, O Vermelho e O Negro não é um romance com um ponto de vista monocêntrico, e aí está a inovação de Stendhal. Muitos o intitulam como inaugurador do gênero psicológico, porém creio que inaugurador de um novo gênero psicológico seria mais adequado: ao contrário do psicologismo clássico, que tem por objetivo nos mostrar um personagem unificado, Julien Sorel acaba completamente diferente de como começou: é um personagem muito mais fragmentado, complexo e paradoxal.
Tudo isso é exposto e reforçado pelo estilo de escrita extremamente movimentado do Stendhal. Quando acabamos O Vermelho e o Negro parece que tivemos uma visão dos personagens através de várias “espiadelas”, com muitos sentimentos acontecendo em um ritmo vertiginoso, reviravoltas aparecendo do nada no meio da corrente do rio stendhaliano. As análises psicológicas acontecem no ritmo na narrativa, se integrando a ela, parecendo até mesmo misturar-se ao narrador, que muda constantemente de forma, ora se afastando, ora chegando a se intrometer no meio do texto. É um livro extremamente ativo assim como seu autor
É um livro de aventuras também, com um certo romantismo. Mas o final do herói Julien não é o final típico do herói romântico. (ALERTA DE SPOILER) Ele não morre na glória do ato heróico, nem acaba definhando melancolicamente após um grande feito. Ele acaba guilhotinado como um assassino. Não é morto como uma vítima da sociedade, mas consciente da própria culpa e se achando merecedor dela. É como definiu Heinrich Mann: “A sensibilidade de Stendhal era romântica, porém era o intelecto que lhe examinava as emoções”.
A melhor definição do romance stendhaliano é a que ele mesmo fez: “O romance é um espelho que se carrega ao longo de uma grande estrada”. O espelho reflete tudo o que aparece diante dele de maneira clara e límpida, sem restrições, mas não podemos esquecer que esse é um espelho em movimento ao longo da estrada.
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Cris 26/11/2018

Não é porque é um clássico que eu tenho que gostar...
“Tal é o efeito da graça perfeita, quando é natural ao caráter e, sobretudo, quando a pessoa que ela ornamenta nem imagina possuí-la.” Pág. 36

O livro se passa na França no século XIX e conta a história de Julien Sorel. No início do livro, Julien era um humilde filho de carpinteiro, que dedicava seus dias à leitura e aos estudos e sonhava em ascender socialmente.

Sua família (seu pai e irmãos) o desprezava por ele se portar diferente do resto da família. Nesta época, as carreiras de maior destaque na sociedade era a carreira militar e a religiosa.

E Julien, acaba seguindo a carreira religiosa. Por ter bons conhecimentos de latim, acaba sendo contratado por uma família nobre para ensinar os filhos desta família rica.

O livro nos ambienta bem na sociedade da época pós-napoleônica na França, e eu acredito que eu teria aproveitado mais o contexto se eu estivesse mais familiarizada com este importante período histórico.
A história traz muita crítica à sociedade da época, especialmente à burguesia e à Igreja.

Mas eu devo confessar que eu achei o livro muito chato. O protagonista e demais personagens são um porre. Não consegui sentir empatia por ninguém. Os interesses amorosos que surgem na história são tão confusos que não me emocionaram e nem me fizeram torcer por eles. E os diálogos também são muito monótonos.

Enfim, não gostei do livro. Ele tem mais de 500 páginas, mas a impressão que eu tinha era de que eu não ia acabar nunca de ler, e parece que pouca coisa acontece nessas 500 páginas.

O final do livro foi bem imprevisível para mim, mas eu achei a maior parte da história sem graça.

“Os salões da aristocracia valem pelo prazer de citá-los depois que se sai deles, mas isso é tudo; a cortesia em si não tem valor próprio senão nos primeiros dias, constatava Julien; depois do primeiro encanto, o primeiro espanto.” Pág. 327



site: https://www.instagram.com/li_numlivro/
Eliana.Gomes 03/10/2019minha estante
Amei sua resenha, amo ler, pensei em ler este livro por achar que por ser um romance histórico iria me enriquecer culturalmente, pois leio muito os dito" cultura inútil ", apesar de entender q nenhuma leitura e inútil. Mas lendo sua resenha, e ser da mesma ideia de q por ser clássico nao sou obrigada a gostar, vou ponderar se leio ou nao.


Cris 04/10/2019minha estante
Olha, tem vários clássicos que eu amo, mas este eu realmente não me identifiquei com a narrativa. Mas se for um livro que você tenha vontade de ler, vale a pena dar uma chance, quem sabe a sua opinião não é diferente da minha ;)




anapaivapaula_ 10/07/2022

?Tenho culpa se os rapazes da corte são tão adeptos das conveniências, e empalidecem só de pensar numa aventura um pouco diferente? Uma viagenzinha à Grécia ou à Africa é para eles o máximo da audácia, mesmo assim só sabem andar em bando. Basta que se vejam sozinhos para que tenham medo, não da lança do beduíno, mas do ridículo, e esse medo os enlouquece.?
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Franciely Soares 03/09/2022

Uma das melhores indicações que eu recebi na vida! Sorrel, pobre menino franzino de tez branca, ambicioso e egoísta, mas apesar de tudo, como n amar? Aaah eu amo ? suas aventuras amorosas e sua paixão por seu herói Napoleão são boas e rende algumas boas risadas -as trapalhadas- , a sociedade naquele tempo e como todos o irritava? 10/10
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Sidney.Prando 18/07/2021

“Ele era mais excitado pela sua imaginação do que arrastado pelo seu amor”

Ambientalizado em uma cidade fictícia no interior da França antes da revolução de 1830, o livro, O VERMELHO E O NEGRO, tece suas raízes tão fundo nos vícios de uma sociedade que a obra reverbera todas as nuances das classes sociais.
Julien, um jovem intelectual e filho de um carpinteiro, é dentre os demais irmãos o menos dedicado ao trabalho braçal, encontrando nos estudos uma desculpa para faltar as demais obrigações. O moço também é admirador confidente de Napoleão Bonaparte, detalhe que o colocara em saias justas. O estopim na vida pacata de Julien se dá com o convite para ser preceptor dos filhos do prefeito, o que é alcançado graças ao seu Latim fluente e memória eidética de trechos inteiros da bíblia. É nesta casa acolhedora que ele terá seu primeiro contato com a Sra. de Rênal, esposa do prefeito, a qual ira enredar a mente jovem e ambiciosa do jovem.
Além disso, circunstancias o levarão a fugir, a buscar abrigo em um seminário e outras o levaram ao berço de uma nobre família de Paris, os “La Mole”. Consequentemente, Julien verá nessa família uma nova chance de ascender socialmente. Sua ambição não tem limites, e dessa vez Mathilde será a destinatária desse sentimento. Um livro clássico, com personagens marcantes e um final de tirar o ar.

Para mim, Julien é um dos personagens mais complexos aos quais tive contato. Ele vem de uma família humilde, é bonito, intelectual e não possui limites para a sua ambição. Logo, é fácil discernir que ele almeja tudo e que tudo é de certa forma, insuficiente.
Muitas vezes altruísta, o jovem não se mostra da mesma forma para o amor, mesmo que essa palavra não signifique muito para ele. Por diversas vezes Julien se vê em um impasse frente aos seus sentimentos, amor e ambição, chegando a confundi-los (detalhe que é marcante em suas muitas reflexões acerca da Sra. de Rênal ou Mathilde). Entretanto, o desejo de posse fala muito mais alto que seus sentimentos, e uma infelicidade o colocara a par de seus erros e de seu destino pouco esperado pelo leitor, mas digno de um romance de Stendhal.


site: https://www.instagram.com/p/CRG-PDfNUHi/?utm_source=ig_web_copy_link
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Marcelo 20/06/2022

Boa Surpresa!!!
Leitura difícil, achei o ritmo da narrativa lento, então demorou um pouco para a leitura fluir. A parte inicial foi arrastada pra mim, quase desisti, mas depois melhorou muito e a parte final foi a melhor. O protagonista é irritante, faz todas as escolhas erradas e inconsequentes possíveis. Em vários momentos ficava torcendo por ele e em outros torcia para que se desse mal, o anti-herói clássico. Na verdade ele é uma péssima pessoa, movido pela ganância e pelo egoísmo na maior parte do tempo e você fica querendo que ele mude, se redima. Acabei gostando do livro e i considerei muito bom nos dois terços finais. Então foi um livro quatro estrelas na minha avaliação.
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Valério 01/09/2012

Envolvente
A meteórica ascensão do protagonista, incomum para a época, é notória. E os seus ideais de grandeza, bem como os sentimentos confusos, muitas vezes com falsa percepção da realidade, entremeiam a trágica história do jovem e letrado Julien Sorel.
Com pano de fundo em época distante, o romance é atual nas relações, mostrando, uma vez mais, que a história é uma sucessão interminável e que os seres humanos, geração após geração, cometem sempre os mesmos erros, brigam sempre pelas mesmas coisas e cometem sempre as mesmas vilanias.
O ponto alto do romance ocorre já próximo do fim (se der mais detalhes, plantarei um spoiler desagradável e desnecessário).
Mas durante todo o romance, há várias passagens que me deixaram sem fôlego, ansioso e nervoso.

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Renato 08/01/2021

Conheça a sociedade francesa do Século XIX
Gostei muito, livro com muitas reviravoltas. Surpreende do começo ao fim.
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Henrique Fendrich 03/08/2015

Sob as vestes da virtude
Ao fazer a crônica dos costumes da alta sociedade francesa logo após Napoleão, Stendhal também, inevitavelmente, escancara aquilo que ela tinha de mais cínico e caricato. Embora muito se fale a respeito da exagerada ambição de Julien Sorel, o personagem que dá vida a “O Vermelho e o Negro”, é à hipocrisia que se deve atribuir o desenrolar dos acontecimentos no livro. Nessa sociedade marcada pela dissimulação, em que o próprio amor só é conquistado à custa de intrigas, desempenham papel importantíssimo as instituições religiosas.

As que o autor descreve estavam de tal forma desvirtuadas de seus propósitos originais que Julien não vê nelas senão uma oportunidade para fazer fama e fortuna. É por isso que, mesmo sem sentir nenhuma inclinação, decide se fazer padre. Todo o livro é um embate de aparências e, no que toca à fé, é possível constatar exemplarmente a diferença entre as manifestações exteriores de religiosidade e a devoção genuína. Aquilo que Julien faz em sua vida religiosa, sob o aspecto de retidão, não é mais do que buscar galgar para si posições privilegiadas.

Não há virtude em, meramente, ir para o seminário, vestir uma batina negra, sequer em saber a Bíblia de cor – todas essas coisas Julien faz com excelência, sobretudo porque causam grande impressão entre aqueles que deseja influenciar. Consciente de sua falsidade, ele ainda precisa lidar com padres que, em sua maioria, estão eles próprios imbuídos nas mais diversas intrigas, em busca de riquezas, promoções ou prestígio para as ideologias de que compartilham. Seus colegas de seminário, por sua vez, estão satisfeitos por terem se livrado de uma miséria certa.

Ora, não é de se estranhar que, neste ambiente, Julien desse bem pouco crédito ao Deus que fingia acreditar. Ao cabo de sua vida, abreviada em consequência de seus amores pela senhora de Rênal e por Mathilde, Julien se dá conta: “Por toda parte a hipocrisia, ou pelo menos o charlatanismo, mesmo entre os mais virtuosos, mesmo entre os maiores”. E se questiona onde estará efetivamente a verdade. Cogita a possibilidade de estar na religião, mas logo descarta essa ideia com desprezo – suas experiências impedem qualquer conclusão nesse sentido.

E, no entanto, ele deseja acreditar: “Ah, se houvesse uma verdadeira religião…”. Reconhece que “o homem não pode confiar no homem”, mas, para que se rendesse à ideia de um Deus que o transcendesse, seria preciso encontrar “um padre de verdade”, capaz de reunir as almas brandas do mundo, livrando-as assim do isolamento. Esse padre, contudo, teria dificuldade em falar sobre o Deus da Bíblia, associado profundamente por Julien à ideia de vingança. Ele tem mais simpatia pelo “Deus de Voltaire”, esse sim tido como bom, justo e infinito…

A imagem que tem dos religiosos em geral não é, certamente, nem um pouco favorecida pelo padre que, já no final do livro, pede que Julien se converta “com alarde”, julgando que assim seria mais fácil usar a influência da igreja em favor da sua causa. Julien gostaria de acreditar nesse Deus, mas como acreditar “depois do horrível abuso que nossos padres fizeram dele?”. De maneira semelhante aos escribas e fariseus admoestados por Jesus, eles fecharam a Julien o reino dos céus: nem eles entraram, nem deixarem que entrasse o que estava entrando.
Maria 17/12/2020minha estante
Que baita resenha!




Lilian 28/08/2022

Esforço
O começo do livro é lento e chatinho, exige um esforço do leitor pra continuar. Mas o final é bom, vale a pena persistir!
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Luiza.Thereza 30/01/2018

O Vermelho e o Negro
Recebi este livro em Julho de dois mil e dezesseis pela TAG - Experiências Literárias. Não queria ter demorado tanto para lê-lo, mas sempre o deixava para depois, especialmente quando tinham os prazos das parcerias para cumprir.

Acabou que ele se tornou o primeiro desafio do ano no quesito resenha.

Julien Sorel é o filho mais moço (e mais odiado) de um carpinteiro rico de uma cidade fictícia da França que recebeu sua educação graças a um cirurgião-mor que se afeiçoara ao rapaz. Tal como seu maior idolo, Napoleão Bonaparte, Julien é ambicioso e possui sonhos de grandeza.

De sua vontade, Julien subiria socialmente seguindo carreira militar, mas, reconhecendo as mudanças que aconteciam na França pós-napoleônica, sua mente voltou-se para outro caminho rumo a aristocracia: a carreira eclesiástica.

(É a partir dessa troca de caminho que se constrói o título do livro. O vermelho da farda do exército substituído pelo negro da batina).

Revestindo suas características naturais como outras que lhe permitam sobreviver na sociedade opressora e preconceituosa que é a França do início do século XIX, Julien mostra toda a sagacidade narrativa que fez de Stendhal um dos maiores nomes da literatura francesa e mundial.

Considerando-se os livros de sua época (O Vermelho e o Negro foi publicado pela primeira vez em 1830), esta obra se destacou por preocupar-se menos com ambientações externas e mais com sentimentos e pensamentos de seus personagens (e não apenas do protagonista, mas de todos os que possuem alguma importância na trama).

Apesar da péssima fama que os clássicos em geral possuem (quase sempre relacionados à linguagem em que são escritos), minha maior dificuldade neste livro foi conseguir entender o contexto histórico em que o personagem se inseria, e dizer que se trata da época pós-napoleônica não foi exatamente de muita ajuda. (Talvez dizer que se trata de uma época em que os monarcas absolutistas (recém reempossados depois do fenômeno Napoleão Bonaparte) entraram, mais uma vez, em conflito com a classe burguesa seja mais esclarecedor.)

É bastante complicado ler um livro desse tipo sem ter acesso a uma fonte melhor de pesquisa para poder entendê-la melhor. Tenho certeza de esta resenha seria muito mais rica do que trago agora.

site: http://www.oslivrosdebela.com/2018/01/o-vermelho-e-o-negro-stendhal.html
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Lucas 02/06/2018

Hipocrisia e materialidade: Os principais ingredientes da degradação moral e psicológica
Henri-Marie Beyle (1783-1842) é um nome obscuro no mundo literário. Não que lhe faltasse talento; apenas não seria apropriado que um francês republicano assinasse obras que contestavam violentamente a Restauração Francesa (1814-1830). Por esse motivo e outros mais turvos, esse errante francês viveu em diversas regiões da Europa, criando ensaios e obras de estilo seco e psicológico que caracterizam a escrita de Stendhal, alcunha que acabou acompanhando-o na eternidade literária.

A grande obra de Stendhal é O Vermelho e o Negro, de 1830, lançada num período de grande turbulência na França: a chamada Revolução de Julho, que pôs fim à monarquia restabelecida com a queda definitiva de Napoleão Bonaparte. A "revolução das barricadas", que tão bem é descrita por Victor Hugo nos últimos volumes de Os Miseráveis (1862), adquire importância no último terço da obra-prima de Stendhal, o que reforça o tom político que ela adquire.

Isso porque, ao se olhar a trajetória de vida do autor e as ideias do protagonista da obra, o carpinteiro Julien Sorel, percebe-se claramente que Stendhal desembocou em seu personagem principal muitos dos ideais nas quais ele defendia, como a República, um eterno senso de condenação à burguesia e a admiração a Napoleão Bonaparte. Este último ideal, inclusive, era considerado um crime grave aos bons costumes da época, já que as tragédias que envolveram o final do império napoleônico (principalmente a desastrosa invasão à Rússia em 1812) eram ainda muito recentes a uma classe superior acostumada às benesses do regime monárquico então restaurado.

Diante de tais particularidades, Stendhal desenvolve a história de Julien Sorel, um pobre filho de carpinteiro, nascido em Verrières, um pequeno distrito da cidade de Besançon, importante centro urbano do leste francês (terra natal do já citado Victor Hugo). Além da já mencionada pobreza, Sorel vivia em uma atmosfera cercada de aspereza e sem nenhum tipo de sensibilidade, que fazia dele, caçula numa família com dois irmãos, um ser inútil. Nestes momentos iniciais, Stendhal destaca com classe o preconceito que homens "letrados" possuíam num meio rural, onde a força bruta e o trabalho incessante eram armas de muito mais valia que a instrução. O garoto, inicialmente com 20 anos, cresce com certa mágoa em função dos seus sofrimentos (até físicos), o que ajuda a explicar o seu caráter futuro.

Julien só encontrava felicidade nos livros e era, em parte, protegido pelo curado que havia na região. Ele desfrutava de um "absurdo" inimaginável para pessoas de sua classe social: tinha aulas particulares com um vigário, que lhe ensinou tudo o que poderia ser repassado sobre temas litúrgicos e bíblicos. Além da Bíblia, Sorel adorava obras históricas de cunho militar, especialmente as que ressaltavam a habilidade de Napoleão no campo de batalha. Sua aplicação e inteligência eram tão grandes que acabaram conduzindo-o ao cargo de preceptor dos filhos do prefeito do distrito, não sem antes uma negociação financeira acirrada entre seu pai e o seu futuro patrão, o senhor de Rênal.

Esta mudança para um meio social mais superior é a marca do primeiro tomo (o livro foi dividido em dois tomos) de O Vermelho e o Negro. Dono de uma inegável inteligência racional, Sorel logo adquire a confiança de todos os frequentadores da residência (inclusive da esposa do prefeito, a senhora de Rênal), que constrói outro traço marcante do seu caráter no futuro: a arrogância, que alimenta ódio a pessoas "estúpidas", mas de classe superior. Esta compreensão, no presente, o faz ser menos retraído, o que lhe causa imensas perturbações. Alguns acontecimentos fortuitos acabam conduzindo o humilde provinciano a Paris, algo inimaginável para alguém na sua condição e que inicia a segunda parte da narrativa.

Lá ele se torna uma espécie de secretário do Marquês de La Mole, um legitimista ligado à monarquia e que, portanto, representa o seu diâmetro oposto em ideais políticos. Rico, frequenta e é anfitrião de vários eventos sociais da corte francesa, assim como a esposa e os dois filhos: o esnobe Norbert e a bela Mathilde. Como no primeiro tomo, Julien é acometido de perturbações da mesma natureza, relacionadas a sua presunção e inteligência superior, que o faz ser de extrema confiança do senhor de La Mole.

O fato de trabalhar e conviver com pessoas nas quais Julien tem mais ira é insumo para inúmeros exames de consciência. Neste segundo tomo, há vários diálogos, mas a maioria deles ocorre apenas na mente dos personagens. São reflexões, os prós e contras de determinadas atitudes, julgamentos, preconceitos exacerbados, entre outros, que caracterizam O Vermelho e o Negro como uma das primeiras obras realistas da história da literatura, mantendo a veia romântica da época, mesmo que deixando-a num segundo plano. O foco da narrativa é psicológico: tem-se em Stendhal um autor muito mais preocupado em descrever todos os campos da consciência dos principais personagens em detrimento de aspectos mais objetivos, como as aparências físicas de locais, roupas e de pessoas. E estes autoexames de consciência ocorrem sobre os mais diversos temas: o casamento, a hipocrisia das relações entre jovens, a importância primordial da classe social ante a todas as outras características de caráter, o amor, ora louco, ora cego, ora possessivo, ora repulsivo, etc.

A publicação da obra não trouxe grande estardalhaço no cenário da literatura francesa da época. Strendhal, antes mesmo de falecer vítima do que hoje se chama AVC, previa que suas obras só seriam reconhecidas após a sua morte, o que de fato ocorreu. Mas há indícios de que um dos maiores escritores franceses de todos os tempos, Honoré de Balzac (1799-1850), tenha tecido elogios aos trabalhos do seu conterrâneo obscuro. Prova maior desse reconhecimento, e até mesmo influência, está em Ilusões Perdidas (lançado entre 1836 e 1843), principal obra da monumental A Comédia Humana, que reunia todos os trabalhos da sua vida. A semelhança temática entre este livro e O Vermelho e o Negro salta aos olhos: ambos tratam de um jovem provinciano que tenta a vida em Paris, corrompendo-se em vários aspectos em nome do poder e status social. Mas, analisando-se outros tópicos, a semelhança não é tão destacável: a formação e influência familiar dos protagonistas são bem diferentes; a obra de Balzac é mais abrangente ao iluminar a hipocrisia da alta sociedade enquanto que Stendhal direciona sua narrativa para um círculo menor de relações, sempre tendo Julien Sorel como elemento central; as ambições destes mesmos protagonistas são bem diferentes; O Vermelho e o Negro traça elementos de maior inocência frente à crueldade do mundo real de Paris, enquanto que Ilusões Perdidas direciona essa mesma ingenuidade ao mundo midiático (notícias compradas em jornais, trocas de favores, etc.), entre outros pontos divergentes.

Talvez o principal aspecto que diferencia uma obra da outra está na finalidade com que cada um foi construído: Ilusões Perdidas é apenas uma parte de algo muito maior, a já citada A Comédia Humana. Não é uma narrativa que se resolve totalmente em si mesma, pois seu desfecho se mescla às outras obras da "enciclopédia social" de Balzac. Já O Vermelho e o Negro é mais "redondo" nesse ponto, oferecendo um desfecho que se torna previsível a partir de dois acontecimentos totalmente inesperados que ocorrem na última centena de páginas. O fim, que acaba se desenhando como esperado, é repleto de niilismo, crises psicológicas, amores doentios, etc. É uma mescla de cruezas realistas frente a um contexto que estava longe de ser o ideal.

A origem do título é fonte de controvérsias, mas a versão mais aceita trata da principal característica do livro: um jovem que busca ora ser um clérigo (manto negro) ou um soldado do exército (que vestia vermelho). E, ao buscar ser uma das duas coisas, Julien Sorel não consegue se encontrar tão facilmente nessa realidade, marcada pela hipocrisia e pelo status social. Mas a habilidade de Stendhal ao narrar as decadências morais que este meio materialista causa, o tornou, apesar da obscuridade, um dos grandes escritores do seu tempo.
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Kauana 21/03/2021

Julien, o personagem jovem desta história tem uma vontade de ascender socialmente, para isso o único caminho para ele seria tornar-se padre ou do meio militar. Como a carreira de militar não é disposta, o seminário tornou-se sua aspiração mais próxima já que ele possuia amigos desse meio que o ajudariam a entrar no seminário. Julien por ser pobre e não ter ajuda de seu pai, é chamado para trabalhar como preceptor na casa de um prefeito. E é onde se inicia a grande saga de Julien. Sua inteligência e seu desejo por tornar-se rico e ter uma posição social produzem o seu destino entre a vida burguesa e nobre que encontra a sua frente
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Santos 30/04/2021

Um livro completo
As vezes parece que precisa de várias leituras só pra ter certeza de que não deixou escapar nada.
Julien é muito talentoso e teve uma vida bem difícil que fez com que ele carregasse marcas profundas. O ambiente familiar meio complicado influencia muito na personalidade dele. Parece muito ser a história do autor só pelo jeito incrível que ele construiu a narrativa já que parece que ele conhecia os personagens tão bem.
Ele sempre foi rejeitado pelo pai. Tomem cuidado com os gatilhos para maus tratos físicos e psicológicos talvez um pouco pesados presentes nesse livro.
O livro tem um Q politico já que o Napoleão Bonaparte aparece muito aqui, mas nesse livro com muito carinho (geralmente ele era tratado muito mal nos livros franceses daquela época) como se estivéssemos acompanhando seu herói.
A leitura é super rápida e bem fluida, deixou saudades.
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