Giseleonina 01/09/2023Que nervoso!"O Vermelho e o Negro" é uma obra clássica da literatura escrita por Stendhal. Quando o autor escreveu esta história, é certo que ele estava refletindo sobre o meu século, não é possível!!
Julien, o protagonista, emerge como um retrato vívido de alguém que, apesar de origens humildes no campo, abraça convicções conservadoras no período de restauração na França. Seu ídolo é Napoleão, e ele até mesmo critica os jacobinos. Entretanto, Julien mantém a crença de que pode escalar socialmente e se tornar um membro legítimo da aristocracia HAHAHAHAH (ou no máximo, máximo, um burguêsinho) em uma época em que os vestígios de uma sociedade estamental pós-Revolução Francesa ainda está presente.
Enfim, Julien é um conservadoras que acredita na meritocracia.
Stendhal também faz críticas à monarquia, ao conservadorismo e à hipocrisia dos jacobinos burgueses que clamam por liberdade, mas somente até certo ponto, ao longo do livro.
Quanto a Julien, inevitavelmente, o ambiente de penúria o impulsiona a sonhar com a fuga de sua classe social, mesmo que isso signifique pisar nos outros, corroendo-se no processo. Isso apenas reforça a crítica perspicaz do autor à sociedade da época.
Inclusive, esse foi um trecho que me marcou bastante:
"[...] um romance é um espelho que passeia por uma grande estrada, reflete a seus olhos o azul do céu, a lama do atoleiro da estrada. E você acusará o homem que carrega o espelho no alforje de ser imoral! Seu espelho mostra a lama, e você o espelho! Seria mais correto acusar o grande caminho onde está o lamaçal, e mais ainda o inspetor de estradas que deixa a água estagnar-se e o atoleiro formar-se".
Achei interessantíssimo essa passagem, talvez uma das melhores e mais profundas... Seria o romance uma representação fiel da vida? Existindo tanto as partes bonitas (céu azul) quanto as partes feias e problemáticas (lama do atoleiro)?
O interessante dessa analogia é a acusação ao homem que carrega o espelho por mostrar a lama do atoleiro, mas o erro não está no espelho e a representação honesta da realidade, mas sim nas condições da estrada (a sociedade) que permite a formação do atoleiro (problemas e aspectos negativos).
Portanto, a crítica (até para nós, nos dias atuais) sugere que, em vez de culpar o espelho, seria mais racional culpar a estrada em si (a sociedade) e, mais ainda, o inspetor de estradas (aqueles que têm poder e influência para criar ou solucionar problemas na sociedade). Portanto, a verdadeira responsabilidade deve ser direcionada às condições sociais que levam a esses aspectos negativos.
E, a partir do ponto de vista mais atual, as condições que levam aspectos negativos da sociedade refletirem no romance é, sem dúvida, a desigualdade e violência de gênero, assim como a falta de maiores empenhos na solução desses problemas.
De qualquer forma, o livro nos leva a refletir sobre as relações humanas, as de classe, e, claro, também sobre a guilhotina ????? (eu passei muito nervoso com o Julien e seus romances)