z..... 03/04/2018
Adolfo Caminha foi muito preciso no retrato que procurou mostrar, destacando elementos que ainda são encontrados na atualidade, referentes ao abuso infantil e preconceitos entre classes.
Maria do Carmo personifica o primeiro e mais importante retrato, com descrições que se repetem hoje sobre abuso no lar, partindo de pessoas em quem se confiava e imaginava-se que seriam protetoras. Quando trabalhei em um abrigo de menores, as histórias que se apresentavam sobre abuso tinham sempre essa caracterização.
A outra ilustração está na oposição do pai de Zuza ao namoro do filho com moça de classe social diferente, julgando-a inferior.
É nisso que se constrói o livro, sem grandes reviravoltas ou valorização de um texto melancólico. A história desperta essa consciência no relato dos fatos.
Descrições notórias a todo leitor. Faço o mesmo registro também.
Algo que achei curioso na leitura é que o autor cita alguns livros e estes refletem o direcionamento da história.
"O Primo Basílio" é um deles, que chega às mãos da jovem normalista despertando curiosidades em paralelo à inocência em muitas coisas. Ecoa a transformação do padrinho João da Mata, adentrando sua vida lascivamente como abusador de sua inocência.
Outro livro citado é "Casa de Pensão", como preferido do Zuza. Não li ainda, mas pelo que sondei, tem algo da vida dele, mostrando um jovem protagonista em busca de identidade, até então sufocado pelo pai. Como disse, ainda não li, mas creio que vai por aí e isso reflete muito da vida de Zuza.
As obras de Victor Hugo são reverenciadas na preferência de Lídia e Maria do Carmo. Entre elas, "Os miseráveis". Claro que tem paralelo com a vida da normalista, referente a exploração de Cosette pelos Thenardiers. Embora não seja no contexto sexual, é um abuso da inocência da mesma maneira, através do trabalho escravo.
E de maneira geral, a Literatura Portuguesa é citada como algo avesso ao Zuza, por estender a elas, ainda que erroneamente, a percepção de exploração ao nosso país. Tem nisso um pouco de preconceito e evidencia-se rejeição ao contexto de exploração, coisas que Adolfo Caminha provoca em reflexão ao leitor.
Não achei empolgante ou que surpreendesse, mas cumpriu o papel de provocar reflexão em seu retrato e denúncia.