A Obra em Negro

A Obra em Negro Marguerite Yourcenar




Resenhas - A Obra em Negro


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Margo_livros 19/03/2023

O duelo
Aqui temos Zênon filho de família abastada, apesar da situação da sua genitora, contudo tem o futuro praticamente desenhado como religioso.

Os questionamentos surgidos fazem com que, mesmo tendo uma amizade sincera com seu primo, o qual vai a guerra, Zênon abandone o destino traçado para estudar o ser humano seja na medicina ou nas questões mentais. Ele se torna médico, filósofo e alquimista.

Viaja o mundo exercendo seu ofício, e fugindo daqueles que o veem como um bruxo pela seu domínio com seus remédios e pensamentos.

Uma das passagens que destaquei é o sentimento de Zênon quanto alimentação, pois para ele ? a carne, o sangue, os miúdos, tudo aquilo que palpitasse ou vivesse o repugnava nesse período de sua vida, pois o animal morre com a mesma dor que o homem, e não lhe apetecia digerir agonias?.

Para ele suas ?preferências alimentares recaíam sobre o pão, a cerveja, as papas e mingaus que conservam algo do sabor profundo da terra, as verduras, os frutos frescos, as subterrâneas e suculentas raizes?.

As dúvidas guiava o caminhar de Zênon, ele não se sentia preso a lugares ou a sentimentos. Um livro com inúmeros questionamentos sobre poder, fé e razão. É aquela obra para ler e reler para extrair seus ensinamentos.
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Matheus Nunes 06/10/2022

Uma Obra Hermética.
A obra em Negro é o segundo livro da autora que eu leio. Bem diferente das Memorias de Adriano, apesar de em vários momentos conseguir manter o mesmo tom narrativo e poético, marca já registrada da belga. Aqui partimos em busca da vida de Zênon, esse homem desconhecido que vive sob o eclipse da Idade Media e que leva uma vida (ou pelo menos tenta levar) como se já fosse um homem do renascimento, uma espécie de polímata aos moldes de Leonardo da Vinci e de todos os seus contemporâneos.

Classifiquei esse livro como regular, nem muito bom nem muito ruim. A escrita é bela, mas é hermética demais para alguém que não conhece todos os por menores dos movimentos revolucionários e contrarrevolucionários da Cristandade do final da idade media, e a autora não se propõe a diluir (entenda-se: DESENVOLVER, não facilitar, por favor) esses assuntos tão densos e complicados que acabam por tornar alguns capítulos completamente tediosos, mesmo que haja ali alguma beleza na escrita. O livro é cheio de frases belas, mas os personagens são quase sempre não desenvolvidos, aparecem como fantasmas. O que me deixou com uma impressão de que esse tivesse sido um livro escrito as presas, ou que todo esse romance fosse apenas um corte de uma obra maior. Errei no primeiro palpite e a autora confirma que eu estava certo no segundo, lá no posfácio do livro, intitulado de Nota da Autora.

Ivan Junqueira é quem traduz essa edição da Nova Fronteira (1990) e é também quem escreve o texto da orelha do livro na edição brochura, e até mesmo ele reconhece como algo espantoso na escrita dessa autora que os personagens surjam como que "de crônicas relativamente pobres e escassas" mas logo suaviza a critica ao dizer que "...de uma época em que os historiadores pareciam exclusivamente preocupados com o modus vivendi da nascente sociedade burguesa, é a veracidade ficcional que lhes transmite a autora". Penso em todos os romances históricos que li, das mais variadas épocas e que não tiveram que apelar para justificativas desse tipo e fico com o meu segundo palpite comentado acima.
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Matheus656 08/07/2021

Um romance histórico e filosófico
Esse livro apesar de ser caracterizado por ser um romance histórico, é igualmente filosófico
Demorei pouco menos de 1 mês para ler, é um vocabulário difícil e muitas vezes a leitura fica densa em função das divagações do protagonista
Por outro lado, em muitos momentos a narrativa é bem envolvente
Meu maior elogio ao livro é a ambientação dentro do período renascentista, há referências à peste negra, protestantismo, inquisição e muitas outras coisas (verdadeiras, no tocante as figuras históricas)
Por fim, a descrição da autora é o que mais me encanta, uma leitura muito bonita e reflexiva
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Fabio Shiva 20/06/2021

os alquimistas estão chegando!
Certos livros chegam na hora certa. Foi alguma intuição profunda que me motivou a ler esse romance histórico de Marguerite Yourcenar, que é embasado por muita pesquisa e entremeado por muita reflexão filosófica e cuja ação se passa na Europa do século XVI, durante a lenta e dolorosa transição da Idade Média para o Renascimento. Pois quem diria que a saga do alquimista, médico e filósofo Zênon, em sua tortuosa busca pelas luzes do conhecimento em meio às trevas da ignorância, iria me ajudar a compreender um pouco mais as angústias e incertezas que estamos vivendo no Brasil e no mundo nesse ano abençoado de 2021!!!

Uma pista importante foi dada por Yourcenar (nome que achei interessante descobrir ser um anagrama para Crayencour, sobrenome original da autora) em seu posfácio, onde ela explica que a trama da história acontece entre as múltiplas e intricadas tensões da Reforma e da Contra-Reforma, acrescentando que esses fatos eram “muito amplos para serem vistos pelos contemporâneos”. Ler isso me deu um estalo, pois por diversas vezes, ao tentar compreender fenômenos para mim inexplicáveis como o bolsonarismo, que estamos passando por transformações sociais, psicológicas e, principalmente, espirituais, que são vastas demais para serem compreendidas em sua totalidade por nós, que estamos passando por elas, sentindo-as em nossa própria carne. Muitos têm chamado esse processo de Transição Planetária (https://youtu.be/Tvi8d5MHJoY).

Foi estranhamente reconfortante perceber que vivemos os mesmos conflitos e polarizações que agitavam o mundo há 500 anos. Pois isso sugere que o momento atual é mera exacerbação de uma dicotomia essencial da humanidade, que apenas se torna crítica em determinados períodos:

“Era uma dessas épocas em que a razão humana se encontra aprisionada em um círculo de chamas.”

Por exemplo, desde os primórdios até hoje em dia é possível dividir os seres humanos entre aqueles que buscam aprimorar seus conhecimentos e aqueles que cultuam o fanatismo:

“Ele estava farto de saber que não existe nenhum acordo duradouro entre aqueles que investigam, pesam, dissecam e se orgulham de ser capazes de pensar amanhã distintamente de hoje e os que creem ou afirmam crer, e obrigam seus semelhantes, sob pena de morte, a fazer o mesmo.”

Outra divisão básica se dá entre os que são a favor da tortura e os que ficam horrorizados com a simples ideia de torturar outro ser vivo:

“Sempre escandalizara a esse homem, cujo ofício era tratar dos outros, o fato de que pagassem a certos indivíduos para atormentar metodicamente seus semelhantes. Há muito que já se precavinha, não contra castigos físicos, pouco piores para ele dos que aqueles que padece um ferido quando operado por um cirurgião, mas contra o horror de qe fossem conscientemente infligidos. Se chegasse um dia a gemer, a gritar ou a denunciar levianamente alguém (...) a ignomínia caberia àqueles que obtivessem êxito na tentativa de desconjuntar a alma de um homem.”

Ou entre os que se indignam com o sexo alheio e os que se indignam com a injustiça e a violência:

“É estranho que para nossos cristãos as pretensas desordens da carne constituam o mal por excelência – observou pensativamente Zênon. – Ninguém pune com ódio e repugnância a brutalidade, a selvageria, a barbárie, a injustiça. Ninguém se lembrará amanhã de achar obscenas as pessoas de bom coração que virão contemplar meus estertores entre as chamas.”

Pois de modo geral os problemas são quase sempre os mesmos:

“Os homens se acostumam à ferocidade das leis de seu tempo, assim como às guerras deflagradas pela estupidez humana, à desigualdade das condições sociais, ao péssimo policiamento das estradas e à incúria das cidades.”

“Para além de tais insânias dogmáticas, pulsavam sem dúvida entre as irrequietas criaturas humanas aversões e ódios oriundos de sua mais recôndita natureza e que, no dia em que caísse de moda a prática do extermínio por motivos religiosos, cumpririam eles de outra forma o seu curso.”

E viva a Literatura que sempre pode trazer tantas luzes para as trevas internas e externas! E aqui me despeço, com muita gratidão a Marguerite Yourcenar, compartilhando mais algumas pérolas de sua “Obra em Negro”:

“Quem seria suficientemente insano para morrer sem pelo menos ter visto a torre de sua prisão?”

“Como sempre, sua indiferença para com o dinheiro resguardava-lhe a fortuna, evitando-lhe ao mesmo tempo os erros devido ao receio de perder e os que resultam da pressa em ganhar muito.”

“Alguns poucos maldiziam o homem que os arrastara a essa sarabanda da redenção. Outros, no fundo mais fundo de si mesmos, não ignoravam que desde há muito desejavam morrer, como a corda excessivamente esticada deseja apenas romper-se.”

“Valeu a pena estudar durante vinte anos para chegar à dúvida, que por si só cresce em todas as cabeças bem formadas?”

“Não há ninguém tão tolo que não tenha qualquer coisa de sábio.”

“Mesmo o pior ou o mais tolo de nossos pacientes ainda nos instrui, e suas gosmas não são menos infectas do que as de um homem sagaz ou de um justo.”

“E, todavia, após tantos anos dedicados à investigação anatômica da máquina humana, desistira de aventurar-se mais audaciosamente à exploração do reino limitado por fronteiras de pele, no qual nos julgamos príncipes, mas onde somos apenas prisioneiros.”

“A morte violenta estava em toda parte, tanto num açougue quanto num patíbulo. Um pato degolado gritava na pena que seria utilizada para grafar sobre velhos pergaminhos ideias que se supunham dignas de perdurar para sempre.”

“A carne, o sangue, os miúdos, tudo aquilo que palpitasse ou vivesse o repugnava nesse período de sua vida, pois o animal morre com a mesma dor que o homem, e não lhe apetecia digerir agonias.”

“Odi hominem unius libri.” [“Odeio o homem de um único livro.”]

“Qualquer soldado que se encontre num lugar deserto torna-se facilmente um bandido.”

“Jamais se ganha o que os outros julgam que se ganha.”

“O homem é um empreendimento que tem contra si o tempo, a necessidade, a sorte e o imbecil e sempre crescente primado dos números – disse mais pausadamente o filósofo. – Os homens matarão o homem.”

“Enclausurar o inacessível princípio das coisas no interior de uma Pessoa talhada à imagem do homem parece-me ainda uma blasfêmia, e no entanto sinto à minha revelia não sei que deus presente nessa carne que amanhã será fumaça.”

“Toda doutrina que se impõe às multidões dá garantias à inépcia humana.”

“É preciso amar alguém para nos apercebermos do escândalo em que consiste a morte de uma criatura...”

https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2021/06/a-obra-em-negro-marguerite-yourcenar.html


site: https://www.facebook.com/sincronicidio
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Patrick 11/02/2021

A obra em negro
Se você gosta de História, especialmente do período que compreende a passagem da Idade Medieval para a Idade Moderna, você irá adorar a leitura. Uma Europa em transição, onde a monarquia e a igreja, aos poucos, vão sendo engolidos pela classe de comerciantes em ascensão: os burgueses. É o palco deste romance.
Zênon, o personagem principal, personifica a própria figura humana, em busca de um significado para sua existência.
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ntayar 31/01/2021

Romance histórico para ler devagar
A OBRA EM NEGRO
(L’OEuvre au Noir)
Marguerite Yourcenar
Há anos venho ensaiando ler algo dessa escritora. Pensei no famoso Memórias de Adriano, mas A Obra em Negro eu havia tentado ler quando ainda era muito jovem. Comecei e não fui adiante. O texto é riquíssimo em detalhes históricos, fatos e personagens reais, além de várias frases em latim. Enfim, eu não estava – como se diz – no clima.
Então encomendei os dois livros, que fazem parte de uma coleção chamada Clássicos de Ouro, da Editora Nova Fronteira. E comecei exatamente de onde parei.
Gostaria de fazer pequenos comentários sobre a autora, coisas interessantes. Ela nunca frequentou uma escola, sua educação foi conseguida através de seu pai e professores particulares. Do pai, herdou o gosto pela literatura russa e francesa, e criou o sobrenome Yourcenar que é um anagrama do sobrenome de seu pai. Aos 16 anos, escreveu seu primeiro livro – O Jardim das Quimeras.
Nascida na Bélgica, morou em Londres, na Suíça e finalmente nos Estados Unidos, onde faleceu em 1987.
A Obra em Negro acompanha a trajetória do personagem Zênon, nascido em 1510, filho bastardo da irmã de um rico mercador, desde criança desprezado pela mãe.
Seu tio decidiu que ele deveria seguir a carreira clerical devido à sua condição de bastardo, e deixou sua educação aos cuidados do cônego Campanus. Porém o jovem se interessava mais pelas ciências e, mais tarde, passa a frequentar a casa do barbeiro-cirurgião João Myers. A família não gostou nada dessa mudança, porque ele estava abandonando uma carreira promissora para seguir uma outra que era mal vista pela burguesia.
Aos 26 anos, passa a levar uma vida errante, viaja por vários países, estuda medicina, alquimia e filosofia. Seus escritos chamam a atenção da Igreja, e ele passa a ser perseguido pela Inquisição.
Decide retornar à sua cidade natal, mas sob falsa identidade. Como a mentira tem perna curta, logo é descoberto, preso e condenado à morte na fogueira.
Sem dúvida, não é um livro fácil. Mas se o leitor tiver o cuidado de ler essa bela história sem pressa, parando para pesquisar quando surgem referências a fatos e personagens reais, com certeza será uma leitura gratificante.
“A fórmula A Obra em Negro, que dá título a este livro, designa nos tratados alquímicos a fase de separação e de dissolução da substância, e dela se diz ser a mais difícil etapa da Grande Obra. Discute-se, ainda, se tal expressão se aplicava às audaciosas experiências sobre a própria matéria, ou se abrangia simbolicamente as provas do espírito que se liberta das rotinas e dos preconceitos. Sem dúvida, terá ela significado alternadamente ou ao mesmo tempo uma e outra coisa”.

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Joao.Paulo 02/06/2020

mal resenhado
A Obra em Negro (Marguerite Yourcenar), foi um livro relativamente difícil para mim, (as palavras pareciam não se fixar na minha cabeça) de início, um turbilhão de personagens, lugares e acontecimentos, do meio ao fim, uma vida relativamente estável, que, mesmo ameaçada, tem poucos abalos em sua estrutura, mas os que ocorrem são definitivos.

O livro situa-se no período de transição entre a idade-média e o renascimento, porém, o protagonista, Zenôn, atua de certa forma como alguém que esta aparte dos eventos, apesar de ser perseguido pela ordem vigente, a igreja, pelos seus escritos polêmicos. Ao situar-se nesse período, Yourcenar reconstrói todo um contexto histórico muito admirável e complicado; a autora tem cuidado não somente na construção de um contexto geral e politico mais imediato, mas também no pensamento filosófico, alquímico e medicinal mais avançados da época somente para construir o personagem de Zenôn fazendo tudo isso valer nos debates filosóficos encontrados no livro.

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Esses pensamentos filosóficos vão justamente de encontro com o contexto que Zenôn se encontra, sendo de certa forma o embate dele com esse mundo ignorante.

É um livro com certeza melhor do que minha leitura atual, não acho que consegui aproveita-lo o suficiente, a árvore genealógica é extremamente complicada (um dos meus pontos mais fracos como leitor é conseguir articular vários personagens) mas em vez de ficar comentando uma perspectiva mais estruturalista da obra e reclamar da sua dificuldade prefiro comentar o pouco de subjetivismo que consegui ler nela.

site: https://www.instagram.com/malresenhado/
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Orochi Fábio 19/09/2019

A Obra em Negro
GRANDE Literatura, para ninguém botar defeito: profundas incursões no pensamento filosófico e observações agudas da alma humana.
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Biblioteca Álvaro Guerra 17/05/2019

A obra em negro é um dos textos mais elaborados e instigantes de Marguerite Yourcenar. O livro ilustra a vida de Zênon, que, renegando sua formação religiosa, abre mão de um futuro estável como membro da Igreja para se dedicar à descoberta das profundezas do ser humano em todas as esferas, tornando-se médico, alquimista e filósofo. A obra conta com a tradução excepcional do poeta Ivan Junqueira.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788920941706
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Bava 04/04/2019

História magnífica. Yourcenar foi brilhante assim como em "Memórias de Adriano" e "Fogos".
A contextualização do personagem em meados de 1500, na época da inquisição e da reforma, é magnífica!!!!
Filosoficamente inclusive, é um dos livros que mais me levou a pensar nas questões da existência, embora com a linguagem um pouco rebuscada como era de se esperar.
Recomendo.
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Deghety 14/10/2017

A Obra em Negro
A Obra em Negro conta a história do personagem fictício Zênon, médico, filósofo e alquimista, dentro de fundo histórico na Europa do século XVI.
Zênon é um bastardo de origem nobre que foi educado dentro da religião, no entanto ele tornou-se um visionário e suas idéias se baseavam em personagens históricos, como: Paracelso, Copérnico, Agrippa, etc.
Devido suas obras escritas que tratavam de medicina não-convencional pra época, de visionários dispositivos mecânicos e estudos astronômicos, coisas consideradas heresias pela igreja, ele teve de vagar pela Europa, destacando-se Flandres e Bruges usando nomes falsos para não ser condenado à fogueira.
No fim do livro, na "nota da autora", muitas referências são indiciadas, ligando alguns fatos da obra à fatos históricos. Mesmo a autora fazendo menções de personagens reais à história de Zênon, algumas histórias reais foram atribuídas à personagens fictícios.
Eu tive certa dificuldade na primeira metade do livro, pois Yourcenar, para ambientar e originar o personagem, deixou a cronologia e o núcleo social um pouco confuso pra mim. E com isso, o personagem meio que coadjuvava ( existe essa palavra?) sua própria história, salvo quando surgiam seu primo, Henrique-Maximiliano ou o Prior dos Franciscano ( do Asilo São Cosme, onde a estadia de Zênon mais perdurou) e os debates sobre religião, filosofia e sociologia ganhavam uma grande relevância e pertinência, consequentemente abrilhantando, com justiça, Zênon .
Foi o primeiro livro que li de Marguerite Yourcenar, apesar de minhas críticas ao início do livro à respeito da cronologia e núcleo, sua escrita é impecável e no que se refere ao fundo histórico, bastante informativo e atraente, ainda mais por se tratar de uma época de atrocidades envolvendo a Igreja Católica e toda a sua perseguição aos não adeptos de seus dogmas.
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Luci.Oliveira 30/11/2015

A Obra de uma vida
Já li umas três vezes, e em cada uma delas consegui me identificar mais e amar mais a mistura de história com a estória de uma vida.
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Rosa Santana 02/07/2010

A OBRA EM NEGRO – Margarite Yourcenar

Meu primeiro contato com a autora se deu via essa obra. Gostei bastante, apesar de em alguns momentos achar um tanto cansativo. É que Yourcenar se detém muito em descrições, o que trava a história e entendia o leitor. Mas esse mosaico renascentista me agradou, sobretudo por que gosto de romances históricos.

O livro conta a história de Zênon, um filho ilegítimo que veio ao mundo em 1.510, época que condenava os nascidos nessa situação, de tal maneira que o rebento era chamado de “bastardo”. O personagem se forma médico dedicando-se ao estudo da anatomia humana, estudando-lhe a circulação do sangue. Para isso há que dissecar cadáveres, prática condenada pela igreja católica de então.

O resultado de seus estudos ele transcreve para o papel, mas a censura o impede de publicar... Ademais, sua falta de fé em Deus, é mais um motivo para ficar na mira do Santo Ofício! Dupla condenação a desse estrangeiro, fugitivo e triste! Por um lado, enjeitado, a quem a família despreza e renega; por outro, o herege, a quem a Igreja condena! Assim, ele se põe a vagar por várias partes da Europa, fugindo do seu destino de enjeitado e de perseguido pela inquisição. É a famosa briga fé x ciência, espírito x matéria que levou tantos estudiosos à condenação, à excomunhão, à fogueira...

Ao final, preso e condenado, um dia antes da sua execução na fogueira, recebe a visita de um dos censores, que fora seu professor. O visitante oferece-lhe a chance de se isentar da condenação, para o que teria que se retratar diante dos inquisidores. Zênon nega-se ao papel e se suicida, a fim de que não se deixe morrer ante os apupos da multidão, no dia seguinte.

Sua morte é um processo lento, a que a autora descreve gastando cerca de três páginas e meia... O personagem é mostrado de forma racional, expondo a teoria a que ele mesmo tanto dedicou... É o moderno que sucumbe, porque a força da igreja medieval é muito grande e não lhe escapam os que estivessem “fora da linha” traçada por ela.

Profundamente humano, e preocupado com o destino do homem, o personagem lembra os versos do Carlos Drummond de Andrade, no poema “Mãos Dadas”:

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
(...)O tempo é a minha matéria, o tempo presente,
os homens presentes,
a vida presente.

A morte do médico é emocionante, porque representa a primazia da igreja, de uma fé que, embasada em absurdos preceitos repressores, cerceadores, destruiu tantas possibilidades de evolução e tanto distanciou o homem do homem...

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Achei muito interessante o fato de a autora, no final, fazer um adendo em que explica de onde tirou, nos registros históricos, os fatos que coloca na obra, tanto para de Zênon, personagem fictício como para os demais, também fictícios. Por isso o livro parece tão verossímil. A reação dos que se submetem às cirurgias, o perfeito equilíbrio de Zênon, sua retórica diante dos membros da Santa Inquisição e todos os demais fatos narrados aqui, existem documentando a vivência de homens reais, no período medieval. Com certeza, isso engrandece o livro!! E a autora, também!

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TRECHOS:

“Passei vinte anos nessas pequenas peripécias a que os livros chamam de aventuras. Matei alguns de meus pacientes por um excesso de audácia que curou outros.” página 106

“Irritava-me que o homem desperdiçasse assim sua própria subsistência em projetos quase sempre nefastos, falasse em castidade antes de haver desmontado a máquina do sexo, discutisse o livre arbítrio ao invés de pesar as mil razões obscuras que o fazem piscar se bruscamente lhe aproximo um bastão dos olhos, especulasse sobre o inferno antes de haver questionado mais de perto a morte.” p. 108

“A música sempre me pareceu a um só tempo um medicamento específico e uma festa” p. 110

“Posso imaginar de mim para mim que o mármore, exausto de haver por longo guardado a aparência humana, se regozijasse por reverter simplesmente à condição de pedra...” p. 110

“Os homens acostumam-se à ferocidade das leis de seu tempo, assim como às guerras deflagradas pela estupidez humana, à desigualdade das condições sociais, ao péssimo policiamento das estradas e a incúria das cidades.” Pág. 210

(...)Apesar dos anzóis, das redes e dos cestos, a maioria dos peixes prossegue nas negras profundezas das águas seu roteiro sem vestígios, sem jamais se preocupar com os de sua espécie que se contorcem ensangüentados no tombadilho de um barco. p. 210

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E a epígrafe, muito elucidativa!

"..."Te pus no mundo, a fim de que possas melhor contemplar o que contém o mundo. Não te fiz celeste e nem terrestre, mortal ou imortal, a fim de que tu mesmo, livremente, à maneira de um bom pintor ou de um hábil escultor, descubras a tua própria forma..."

(Picco della Mironda - Filósofo que viveu entre 1463 e 1494)

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