Luks 09/04/2021
Inteligente, mas verborrágico
As primeiras 300 páginas conseguiram me engajar. A passagem de Jake Epping (George Amberson) por Derry foi excelente, repleta de easter eggs e referências a IT, o que me agradou muito.
Mas, assim que o protagonista chega em Dallas, a história aos poucos mergulha em um limbo pra lá de arrastado. O autor - do qual eu sou fã e li outras tantas de suas obras - passa as próximas 200 páginas debruçando-se com exclusividade sobre um emaranhado de minúcias, detalhes triviais do quotidiano de Jake: a dinâmica da escola em que leciona, os conhecidos que fez, os pormenores do romance com Sadie Dunhill, a espionagem diária do vizinho Lee Oswald, bem como a relação deste último com sua esposa, família e amigos russos, entre muitos outros retratos exaustivos e excessivamente longos da vida quotidiana dos personagens.
A leitura volta a melhorar com o aparecimento de John Clayton, ex-marido de Sadie, e segue aos poucos em uma direção mais dinâmica e fluída, mas mesmo assim intercalada com vários trechos detalhando o desnecessário.
A tentativa de salvar a vida do presidente JFK, grande "proposta" da história, só surge após 85% do livro, e tem desdobramentos excelentes.
Em 11.22.63, o mestre Stephen King passeia por vários gêneros e subgêneros, como fantasia, romance, suspense, drama e distopia, o que tende a agradar a maior parte dos leitores, mas desta vez preferiu não adentrar o mundo do terror.
Em resumo, é uma ficção histórica muitíssimo bem escrita, criativa, inteligente e nostálgica, apoiada em profundo estudo realizado pelo mestre, com personagens críveis e envolventes, conseguindo despertar a curiosidade do leitor desde o início, mas que poderia ter, no mínimo, 200 páginas a menos, sem nenhum prejuízo dos fatos e personagens retratados.
O livro peca pela verborragia, o que infelizmente diminui a qualidade da leitura em muitos - e longos - momentos, mas, mesmo assim, é uma leitura que recomendo, feita essa ressalva.