frnkienstein 25/04/2022
CAPOTE ENVELHECEU COMO VINHO
Em A Sangue Frio, Capote parece ter sede e, embora sua sede tenha se deteriorado devido às circunstâncias mórbidas, a qualidade da sua escrita ? envolvendo, cínica e perspicaz ? nunca decai.
Mas como estamos falando de vida real, de pessoas, de "não ficção" como diria o próprio, em alguns momentos, Capote se perde para o exagero na construção do drama policial devido a carência de fatos reais realmente dramáticos e instigantes. Principalmente no heróico Alvin Dewey; é dele e da esposa os momentos com mais cara de "fabricados," "retocados" e "inventados" pela criatividade de Truman Capote ? inclusive um momento marcante de Dewey no livro acabou sendo exposto como pura ficção.
Em muitas críticas a Truman Capote, vemos que as pessoas e principalmente suas personagens vivas pareciam nutrir uma expectativa de que o retrato da violência fosse unilateral, se reduzindo apenas aos violentados. Mas longe de ser um livro apenas para satisfazer a curiosidade mórbida do público com a violência crua e desenfreada de dois jovens, A Sangue Frio se compromete em lançar temas que hoje são debates considerados importantes.
Capote foi um escritor sensível o suficiente para entender que escrever sobre violência e não explorar o lado dos que violentam é escrever pela metade. E ele nunca quis um livro pela metade.
A Sangue Frio é um relato apurado de sentimentos e dinâmicas reais, com uma pequena dose de ficção que não chega a alterar em nada o retrato do impacto social da violência na vida dos envolvidos e das pessoas próximas. Capote era ousado, observador, fofoqueiro e não é nenhuma surpresa que essas características fizessem dele um escritor tão ferino e um jornalista tão determinado.
Embora ele não fosse tão precursor quanto acreditava ser, somente alguém como Truman Capote ? em carne, osso e palavras cínicas ? poderia compor um relato como A Sangue Frio.