Amanda 05/11/2019
A teoria homossexual de Dom Casmurro
A traição de Capitu é um dos mistérios mais intrigantes da literatura brasileira, uma dúvida que paira por séculos. Por um lado, é interessante analisar o mistério da traição de forma imparcial, em 3ª pessoa, sem o vitimismo do protagonista que tenta provar, a todo custo, que foi traído pela amada. Todavia, eu achei também emocionante acompanhar a história pelo olhar alucinado de Dom Casmurro, a mente de um homem afundado em ciúmes e desconfianças. O delírio do narrador, na obra machadiana, prende o leitor à trama, pois este acaba acreditando nas palavras de Bentinho e na sua obsessão. De forma geral, em comparação a Dom Casmurro, o Amor de Capitu traz, de fato, uma leitura mais leve e moderna, devido, principalmente, por se tratar de uma obra escrita recentemente.
Durante toda a narrativa de Amor de Capitu, são apresentados pontos que provam a traição e ao mesmo tempo pontos que provam a fidelidade da esposa. O narrador mostra Capitu como dissimulada e ardilosa, sempre misteriosa. Também descreve a melancolia da jovem e o olhar apaixonado que ela lançou a Escobar, morto. Nessa hora foi que Bentinho teve certeza que Capitu havia o traído e que Ezequiel era filho de seu amigo, por isso, para Bento, justifica-se tamanhas semelhanças no comportamento entre seu filho e Escobar. Entretanto, a história também mostra que, desde muito pequeno, Ezequiel gostava de imitar os modos e gestos de Escobar, pois este e seu pai eram muito amigos e, assim, havia uma convivência quase que diária entre as famílias. Isso é um ponto que prova a inocência de Capitu, pois seu filho é parecido com Escobar apenas devido à influência da convivência com ele.
Mesmo de uma perspectiva diferente da história de Bento e Capitu, eu ainda não consigo afirmar se a esposa traiu de fato o marido. Acredito que é exatamente esse questionamento que fez dessa história de romance e traição um marco da literatura nacional. Passar-se-ão décadas, diversas versões serão escritas, e ninguém provará, irrefutavelmente, se Capitu traiu ou não. Essa é a graça da obra-prima machadiana e, garanto, que esse foi o objetivo de Machado.
Outras teorias conspiratórias fluíram à minha mente quando me questionava sobre o livro. E se quem traiu foi Bentinho? Em uma das cenas do livro Dom Casmurro, em que se passa no seminário, quando Bento conhece Escobar, Bentinho diz consigo mesmo: “(...) mas, como as portas não tinham chaves nem fechaduras, bastava empurrá-las, e Escobar empurrou-as e entrou. Cá o achei dentro, cá ficou, até que...” e assim termina o capítulo. Essa finalização do capítulo deixa a dúvida do que aconteceu no quarto entre os dois. Além disso, em diversos trechos, Bento descreve com um certo tom de deslumbramento os olhos claros e o jeito tímido de Escobar.
E se Bentinho passou a vida inteira apaixonado por seu melhor amigo e por isso enxergava-o em todos os lugares, inclusive em seu filho, Ezequiel? E se o ciúmes obsessivo que Dom Casmurro sentia fosse por Escobar e não por Capitu? E se Bentinho, ao abandonar a esposa e o filho na Suíça, o fez por querer viver o luto, pois o amor de sua vida havia morrido? E se Bentinho fosse de fato, então, homossexual, e quis se livrar do peso de ter tido um romance com Escobar na adolescência e por isso inventou a traição de Capitu, para sensibilizar os leitores e reconfortar-se?