julyannej 12/02/2019
Resenha do livro: Comando Vermelho, a história do crime organizado, de Carlos Amorim
Assim como Domingos Meirelles coloca logo no início, no Prefácio, a característica mais em evidência de Carlos Amorim é não ter rodeios ao apontar a história da formação do Comando Vermelho como realmente foi. Além disso, traz um repertório enorme de fundamentos importantíssimos para o entendimento da sociedade brasileira.
Amorim conta, parte a parte, a ideologia inicial do Comando Vermelho e o que veio a se tornar. Os personagens, os pensamentos deles, principais características, qual suas importâncias para cada geração, suas principais transformações até se tornar a organização que é atualmente.
Situando o leitor, e estruturando a história, a narração é adiantada e regredida através de datas, apontando momentos políticos imprescindíveis à percepção, pessoas essenciais, testemunhas oculares, ou indiretas, de cada episódio que trouxeram relatos enriquecedores ao texto. É primordial ter algum conhecimento do que foi a Ditadura, marco de um período que perdura vivo até hoje, para assimilar com facilidade o pensamento dos presos políticos e criminosos comuns e o porquê tiveram certos estímulos e inclinações a se tornarem essa ?associação? do Rio de Janeiro e suas vertentes em outros estados.
Cabe também colocar que a geografia do estado do Rio de Janeiro, além das populações miseráveis que vivem nas comunidades daquela região, influenciaram drasticamente na logística da criminalidade. Entender o papel importante que esses líderes tiveram na mentalidade de moradores que nada tinham a perder, ou a ganhar. A troca do silêncio, pela segurança e suprimento de necessidades básicas (como saúde, escola, alimentação) se tornou aliada dessa organização.
Carlos Amorim é extremamente direto, pontual, cuidadoso, com ar de especialista, mas a humildade de quem foi apenas observador de toda essa tragédia. Não coloca sua opinião, não direciona o leitor à um ponto único, mas mostra, despido de todo julgamento, a versão real dos fatos.
Volto ao Domingos Meirelles que emprega melhores expressões ao tratar essa obra: ?Com a paciência e habilidade de um artesão medieval, o autor cinzelou as colunas, as paredes, o teto e os arcos dessa espécie de catedral gótica, estimulando o leitor a visitar seu interior e fazer sua própria leitura dos diferentes ângulos e significados dessa estrutura complexa. ?