Juliana 23/03/2012Mentecaptos Por Livros | mentecaptosporlivros.blogspot.com Daughter of Smoke and Bones foi uma total surpresa, absolutamente diferente do que eu esperava.
Criativa, misteriosa e com cabelo azul que ela jura que cresce da sua cabeça assim, Karou é uma estudante de artes que vive atualmente em Praga com sua família adotiva, e que viaja pelo mundo em questão de segundos a serviço de Brimstone, sua figura paterna, para recolher dentes através de portais. Isso mesmo, dentes. Para quê? E o que Brimstone faz com eles? Ela não sabe, e sempre que pergunta recebe uma resposta vaga que deixa bem claro que sua família chimera (aham, chimeras) não tem a intenção de explicar. Ela coleciona idiomas como presentes de aniversário e tem tatuagens curiosas nas palmas de suas mãos. E então, em uma dessas "viagens" ela topa com um estranho nas ruas vivas e movimentadas de Marrakesh que tenta matá-la sem mais nem menos, a total sangue frio. Por que? Karou não sabe. E então o suspense se dá início.
Eu realmente não pretendo dar detalhes da história aqui, já que um dos melhores aspectos do livro é o constante surpreender do leitor, então, se oriente pela sinopse. É o suficiente.
Primeiro, a escrita da Laini Taylor. É incrível o modo em que ela descreve os cenários de DoSaB(realmente, não dá para ficar repetindo o título inteiro toda vez aqui) as ruas e restaurantes de Praga, a bagunça colorida dos mercados de Marrakesh, a noite parisiense... Pude imaginar vividamente Karou andando por elas, sentir a chuva fria de Praga e a adrenalina das cenas de ação. E a angústia, ah, a angústia.
Teve um momento no livro em que eu entrei em pânico; depois de várias páginas lindamente escritas e originais, o enredo de repente toma um rumo completamente diferente do qual estava e aparece aquela bobagem reciclada toda de "garota encontra garoto ridiculamente bonito e eles se apaixonam perdidamente". Foi aí que eu entrei em pânico, entende? Estava já me preparando para a total ruína de um livro que começou tão cheio de potencial e aí BANG - tapa na cara da Juliana presunçosa. A história se estica, expande e começa a revelar diversas camadas que postas juntas mostram o porque de... bem, tudo.
Esqueça tudo o que Sussurro, Fallen, Halo e todos esses livros de anjos, céu, inferno e demônios te contaram. Laini Taylor pegou essas ideias tão exaustivamente usadas por outros escritores e as reformulou de modo que as histórias de anjos caídos e demônios terríveis são, de fato, apenas um detalhe mal interpretado de uma verdade um tanto maior. E quão incrível é isso? Eu tenho que tirar meu chapéu pra essa garota.
"Era uma vez, um anjo e um demônio se apaixonaram. Isso não terminou bem."
[Excerto, primeira linha do livro antecedente ao capítulo 1.]
Mas a maior impressão que eu tive de DoSaB foi o modo em que a autora girava e retorcia o enredo de um capítulo para o outro. Desde a primeira página a história te prende, e por umas boas 80 páginas o que temos é a apresentação do mundo de Karou, a incrível e mística cidade de Praga e o mundo além da porta que leva a outra dimensão onde sua família mora. Tudo isso salpicado com uma dose saudável de humor e uma atmosfera de conto de fadas (estou falando dos de verdade, não da versão Disney, ok? Não que eu esteja menosprezando a Bela e a Fera, but anyway) e uma certa leveza adolescente. E então, a autora nos transporta para outra realidade, com um tom completamente diferente de narrativa que me deixou por vezes desorientada, para um mundo violento e mágico dominado por uma guerra milenar entre duas espécies cansadas da carnificina mas que sentem um ódio antigo uma pela outra ... e em que uma chimera e um anjo se apaixonaram. E como diz a primeira linha do livro, "Isso não terminou bem."
O final foi o que definiu a personalidade da história toda. Nós sabíamos que algo grande, triste e trágico estava para ser revelado mas mesmo com todas as pistas, a ficha só caiu quando a protagonista entendeu o que tinha acontecido então basicamente eu estava surtando junto com ela e repetindo "Não, não acredito nisso!" e foi o que aconteceu logo após que fez de Daughter of Smoke and Bone algo acima dos outros livros YA do gênero. A autora conseguiu resgatar a história do cliché e ao invés apresentá-la como um livro de fantasia cheio de guerras trágicas e personagens genuinamente melancólicos.
Resumindo: O livro teve seus pontos baixos, e algumas partes um pouquinho, hum, bobinhas, mas no geral é uma história especial e rica em mágica no sentido mais puro da palavra mas que deve ser lida com a mente aberta e sem expectativas baseadas nas toneladas de livros YA paranormal que temos hoje em dia por aí.