jota 13/10/2011Leia o livro e ouça os CDsEvan Horne é um pianista de jazz que também é detetive. Nem tanto por vontade própria, mas porque os amigos vez ou outra lhe pedem ajuda. Fazia pouco havia desvendado um caso de falsas fitas (tapes) atribuídas ao trompetista Clifford Brown. Agora está prestes a se envolver, sem querer, com ninguém menos que o cultuado trompetista e vocalista Chet Baker (Chesney Henry Baker Jr., 1929-1988). Onze anos depois de sua morte.
Chet teria caído da janela do Prins Hendrik Hotel, em Amsterdã, em 13 de maio de 1988. Caiu, pulou ou foi empurrado, não se sabe ao certo (sabe-se que ele andava chapadão naqueles dias, consumindo muita droga; não à toa tinha escolhido tocar na cidade). Ao mesmo tempo, Evan tenta entender o misterioso sumiço do amigo e pesquisador musical Ace Buffington, que já estava em Amsterdã colhendo dados acerca da morte de Chet para um livro.
Pelas características do desaparecimento de Ace, a polícia não acredita que algo de grave lhe tenha acontecido. Mas Amsterdã, apesar de segura, também é uma cidade habitada por marginais (um ex-marginal curiosamente se chama Van Gogh) e traficantes de drogas e Evan Horne, mesmo desaconselhado pelas autoridades policiais, resolve descobrir o paradeiro do pesquisador, o que aconteceu com ele.
Entre uma e outra busca, vai tocando num clube de jazz da cidade, fazendo duo com o trompetista americano Fletcher Paige (também um personagem, não um músico de verdade; músicos de verdade são citados a toda hora, como Stan Getz, Billie Holiday, Gerry Mulligan, etc.). E a coisa toda vai rolando assim, como se estivéssemos numa jam session. Só aparentemente, claro.
Bem, este livro não é exatamente um policial tradicional, talvez fosse mais um policial musical, se isso existisse – e fico imaginando um audiobook contendo na trilha sonora todas as músicas que são mencionadas (somente biscoitos finos para nossos ouvidos). Ninguém morre nesta história, pois Chet Baker já está morto há muito tempo, apenas os personagens passam alguns sustos e, no entanto, é uma leitura que prende bastante a atenção. Justamente por ter como cenário o ambiente dos clubes de jazz europeus, músicos importantes do gênero como personagens secundários e também a cena jazzística de Amsterdã, uma cidade deliciosa, mesmo para quem não aprecia drogas.
Um fã de romances policiais genuínos talvez não vá gostar do livro e se espante por eu ter dado 5 estrelas. Mas não tem como ser menos que isso, já que sou fã de jazz, especialmente de Chet Baker e outros músicos citados aqui.
No final do livro há uma discografia selecionada do trompetista. Ah, sim, o autor Bill Moody é baterista de jazz, disc jóquei e crítico de música. Entende do riscado, sobretudo do chiado.
(Lido entre 02 e 13/10/2011)