Como funciona a ficção

Como funciona a ficção James Wood




Resenhas - Como funciona a ficção


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Juliana Amaro 20/04/2018

Divisão.
Narrando
(p.17 até p.44 - 27 páginas)

Flaubert e a narrativa moderna
(p.45 até p.52 - 7 páginas)

Flaubert e o surgimento do flâneur
(p.53 até p.64 - 11 páginas)

Detalhe
(p.65 até p. 92 - 27 páginas)

Personagem
(p.93 até p.124 - 31 páginas)

Breve história da consciência
(p.125 até p.146 - 21 páginas)

Empatia e complexidade
(p.147 até p.156 - 9 páginas)

Linguagem
(p.157 até p.182 - 25 páginas)

Diálogo
(p.183 até p.190 - 7 páginas)

Verdade, convenção, realismo
(p.191 até p.212 - 21 páginas)
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Israel145 24/01/2018

James Wood brinda o leitor sério com um livro excelente sobre teoria literária visto pelo ponto de vista de um crítico moderno e atualizado que aparentemente fez a lição de casa e devorou a maioria dos clássicos.
O bom desse livro é que Wood consegue falar do assunto (teoria) sem cansar o leitor, adotando um método muito simples: dividiu os 10 capítulos do livro em diversos sub-tópicos totalizando 123 ao longo de todo o livro. O leitor consegue acompanhar o raciocínio do autor numa prazerosa imersão nos detalhes que passam despercebidos ao leitor comum, principalmente os que não tem formação acadêmica específica na área (meu caso).
O livro traz tópicos sobre narrativa, detalhes, personagens, consciência, linguagem, diálogo, etc.
Os grandes nomes e as grandes obras estão todas lá: Flaubert, Stendhal, Dickens, Toltstói, Tchekhov, Conrad, e uma série de escritores contemporâneos. Vale aqui frisar que para ter um bom aproveitamento do livro é interessante o leitor conhecer pelo menos os grandes nomes e já ter lido pelo menos 1 livro ou saber do que o mesmo se trata para entender com clareza a mensagem de Wood. Vale frisar também que o livro tem diversos spoilers.
Seu didatismo em expor os pormenores que complementam a leitura de um leitor comum são de grande valia para aqueles que querem mergulhar em maiores profundidades. A grande quantidade de detalhes que o autor expõe faz com que o leitor absorva de imediato seus ensinamentos e o resultado é quase instantâneo. Nas próximas obras lidas já é possível perceber sinais e características de como funciona de fato um romance, seus mecanismos internos e os truques dos autores.
Livro para quem ama os clássicos e quer amadurecer como um leitor crítico e que quer aproveitar as obras em toda a sua profundidade.
Salomão N. 24/01/2018minha estante
Ótima resenha!
Vou comprar a edição nova se eu encontrar. :)


Israel145 24/01/2018minha estante
Obrigado, amigo! Esse livro é indispensável. Boa sorte na busca!


Walkí­ria Silva 24/01/2018minha estante
Tá na minha listinha de compras faz é tempo. Também irei comprar em breve a edição que ainda tem no mercado. Ótima resenha!


Israel145 24/01/2018minha estante
Obrigado Walkiria. Esqueci de colocar na resenha que o livro tb está recheado de referências teóricas pra quem quiser se aprofundar :)




Malanovicz 05/11/2017

Bem didático
Que livro ótimo este "Como funciona a ficção"! Valeu a dica!
Adorei o jeito beeem didático que o Wood apresenta.
(bem coisa de livro técnico para americanos ahahaha!)

Gostei muito dos inúmeros exemplos.
A gente consegue VER o que ele está falando.
Amei que ele relativiza um monte de regrinhas prontas,
e mostra exemplos de quando elas não funcionam!

Amei também, e acho que principalmente, :-)
a linguagem superacessível para iniciantes.
A gente lê como se estivesse ouvindo uma palestra
(e vendo os exemplos projetados no powerpoint ahahah!).
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Fabio Henrique 23/02/2017

Revelador
O livro "disseca" algumas das principais características dos textos de ficção, com exemplos extraídos de grandes autores. Indicado para quem pretende escrever ou para quem quer entender o ofício de ficcionista.
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Taisa 28/01/2017

Por acaso um dia ouvi de uma menina que toda pessoa que gosta de escrever (principalmente escrever sobre livros) necessita ler "Como Funciona a Ficção" pois ele era como um manual de "como devemos avaliar uma obra". Então imaginem que iniciei esta leitura com uma ideia estabelecida do que me traria. Não foi bem isso que eu encontrei.

Logicamente o autor nos dá parâmetros, cita diversas obras e nos explica os diferentes tipos de narrativa, como a genialidade de um soube inovar e aproveitar melhor suas ideias, como o outro soube marcar tanto seus personagens sem ao menos descrevê-los com minuciosidade, prova que as vezes a falta de explicações e exposição tanto da trama quantos de seus participantes pode ser mais enriquecedora e estimulante (por criar esse ar de mistério) do que aquela em que o autor tenta justificar tudo. Há muita comparação entre diferentes pontos de vistas de autores consagradíssimos.

Outro ponto interessante é que ele deixa claro que nem os maiores escritores do mundo entravam em acordo do que era realmente bom na literatura, alguns acham desnecessários aquelas descrições sem fim do "Realismo" enquanto outros as defendem fervorosamente, uns achavam que o "fluxo de consciência" era a grande sacada enquanto outros afirmavam que ele era uma farsa, tudo isso embasado por questões na maioria das vezes filosóficas, cada qual tentando vender seu peixe.

Mais do que ajudar a avaliar acredito que a "grande lição" desse livro foi mesmo mostrar que nunca vai existir uma fórmula mágica (nem pra escrever nem para avaliar essa escrita), o que temos que fazer é tentar tirar proveito das diferenças que elas possuem, compreender qual era realmente o propósito daquele autor quando escreveu aquilo (incluindo as variáveis da época) e saber interpretar das entrelinhas o que eles querem mostrar.

Houveram muitas coisas aqui que eu já sentia mas não sabia explicar e foi TÃO bom ver tudo aquilo que eu pensava nominado nas páginas, o autor vai esmiuçando diferentes questões, transformando ideias que a principio são complexas em exemplos práticos e fáceis de entender. Sabe aquela pulguinha que fica atras da sua orelha na hora que você está lendo? Você está gostando (ou não) do livro mas na hora de explicar o porquê não consegue. Aqui ele te ajuda a responder essas perguntas.

Só abrindo um parenteses aqui, para quem não sabe James Wood é um inglês crítico de literatura, escritor, professor de literatura (crítica literária) de Harvard e colunista da revista The New Yorker. Iniciou a carreira como revisor, ganhou o prêmio "Young Journalist of the Year" (Jovem jornalista do ano) at the British Press Awards e em seguida se manteve durante anos como principal critico literário do The Guardian antes de ir para a América.

É, vale a pena escutar o que ele tem a dizer. Não pense que é todo pomposo e cheio da verdade, muito pelo contrário, o livro é quase uma bate papo descontraído, apesar do conteúdo carregado a narrativa é fácil.

Eu totalmente indico! Há DIVERSAS citações de obras maravilhosas, me via desesperada querendo anotar e ler tudo aquilo. Acho ele ainda mais válido para escritores, há tantas ideias, questões e inovações complexas analisadas de maneira tão fácil, sem dúvida muito enriquecedor e inspirador. É aquele em que você vai querer ler e reler e desejar absorver cada linha. Se tiver oportunidade leia.

site: leiturasdataisa.blogspot.com.br
Thallys.Nunes 28/01/2017minha estante
Excelente resenha, Taísa! Vai pra lista de leituras pro ano. =)


Taisa 28/01/2017minha estante
Obrigada! =)

Leia sim, é incrível!!




Isabela Zamboni | @resenhasalacarte 10/11/2016

Obrigatório para quem ama literatura
Como Funciona a Ficção é basicamente um livro que comenta obras de autores renomados, mas explicando toda a estrutura de um romance. O livro é dividido em vários capítulos: narração, personagens, diálogo, realismo, detalhe etc.

James Wood é professor de crítica literária em Harvard e já foi crítico do The Guardian, além de revistas renomadas como a New Yorker. Seu ensaio sobre o romance é espetacular e sua linguagem bem simples de compreender. O único problema é que ele cita muitas obras clássicas, principalmente de autores russos e ingleses, portanto, se você não tem familiaridade, alguns trechos podem ser cansativos.

Quando ele detalha certas peças de Shakespeare, é complicado acompanhar, porque não li quase nada (salvo Macbeth), mas isso é uma falha minha, não do livro, haha. Em apenas 224 páginas, entendemos tantos aspectos incríveis da literatura, que é impossível parar de ler. E o pior de tudo é que quando acaba, senti que não li quase nada na vida. Existem tantos autores, tantos livros fantásticos para serem lidos, que dá vontade de largar tudo e ficar 24h com um livro na mão. (Sim, sou dramática).

[RESENHA COMPLETA NO BLOG RESENHAS À LA CARTE]

site: http://resenhasalacarte.com.br/resenha/resenha-como-funciona-ficcao-james-wood/
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MCTS 09/06/2016

Para Enxergar os Aspectos Invisíveis dos Livros
Esse foi o primeiro livro que li que examina algumas características importantes da literatura. Não é uma abordagem exaustiva, mas esclarece com muita propriedade pontos importantes da literatura de ficção como: o personagem, a linguagem, os diálogos, a literatura moderna e outros aspectos relevantes que nos auxiliam, não apenas a apreciar melhor a ficção, mas a identificar a qualidade ou a ausência de qualidade das obras que lemos. O fato do autor ser crítico literário, ensaísta com trabalho escritos em publicações de referência (New York Times, London Review of Books e New York Review of Books), além de autor de livros de ficção certamente contribuiu para o resultado final do livro em tela. Minhas leituras, daqui por diante, sem dúvida, ganharão outra amplitude, poderei observar aspectos que anteriormente me eram invisíveis. Por último, quero acrescentar a qualidade dessa edição da Cosac Naify. Embora seja uma edição de bolso é extremamente bem trabalhada (boa diagamação, fonte de bom tamanho e papel polen soft), muito bom gosto e pelo tamanho é extremamente prática, pode ser levada com praticidade e discrição para qualquer lugar. Recomendo fortemente.
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Sanoli 29/05/2016

Em um paragrafo!
Para ler nossa resenha, por favor, acesse nosso blog! Obrigado! Bjs :)

site: http://surteipostei.blogspot.com.br/2016/05/como-funciona-ficcao.html
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Adriana Scarpin 12/02/2016

No primeiro capítulo o autor discorre amplamente sobre o discurso indireto livre, aquele que é caracterizado pelo personagem narrador mas que obviamente sofre a interferência do autor e vice-versa.
No segundo capítulo Wood demonstra o quão influente foi Flaubert não apenas para a literatura mas também para o cinema que nem sequer havia sido inventado.
No capítulo 3 há as considerações sobre o flanêur flaubertiano, aquele personagem tão atento que registra as coisas ao seu redor como uma câmera, diferindo do que fazia Balzac que descrevia de forma muito mais dispersa.
No quarto capítulo Wood discorre sobre a tangibilidade do detalhe, contradiz Barthes no que se refere a um significante inútil apresentado entre os detalhes e pontua que um bom escritor nunca explica a presença do detalhe.
No capítulo 5 Wood exemplifica os conceitos de personagens redondo e plano de acordo dom E.M. Forster, dois quais ele não concorda pois designios espaciais não seriam adequados.
No sexto capítulo Wood monta uma retrospectiva da evolução da consciência na literatura, tendo como pontos-chave Diderot, Stendhal e Dostoiévski.
No capítulo 7 há algumas considerações sobre a empatia, tanto do autor em relação aos seus personagens quanto destes entre si, além de pinceladas sobre a filosofia moral.
No oitavo capítulo há uma variada exemplificação sobre a linguagem de certo autores, evidenciado os mais diferentes tipos de metáfora.
No capítulo 9 ocorre as intermitâncias do diálogo segundo as visões de Naipaul e Henry Green, este último sempre batendo na tecla dogmaticamente de que o diálogo é a única forma de se descobrir o personagem.
No décimo e derradeiro capítulo Wood arremata sobre o que afinal seria o realismo, se um gênero, um estilo, uma forma de verossimilança, uma realidade...

Enfim, no geral é um excelente livro com depurações estilísticas muito perspicazes sobre os mais diversos autores, indicando no final das contas que a literatura é um veio de infinitas possibilidades.
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Newton Nitro 25/12/2014

Aguçando o olhar do leitor e do escritor!
Na literatura americana, dentro de sua tradição pragmática, a grande maioria de livros com dicas ou vendidos como guias para escritores tem sempre uma linha normativa, ou “sugestativa”, com mais prático e direto, com máximas, métodos, ferramentas, conceitos básicos e exposição de experiências pessoais dos escritores. Porém, existe uma segunda tradição narrativa de foque mais literário e acadêmico. Dessa tradição, cito o Art of Fiction, excelente guia ou ensaio sobre criação literária do John “Grendel” Gardner (e quem sabe algum dia, sai aqui no Brasil, é até mais acessível do que o How Fiction Works - Como funciona a ficção” (Cosac Naify, tradução de Denise Bottmann, 232 páginas). Nesses tipos de guias para escritores, que são na verdade mais ensaios críticos do que guias, seus autores estão mais preocupados nas perguntas que surgem no ato da leitora e da escrita do que em normas ou até mesmo sugestões. O questionamento da criação literária é o foco principal e assim, ensinam a ler melhor, ou a ler com “olhos de escritor”.

No caso de “Como a Ficção Funciona” (li no original, e sei que a tradutora brasileira enfrentou problemas em relação ao livro, que comendo no final desse texto) James Wood busca mostrar ao leitor o maquinário por trás da literatura do gênero realista (sim, eu considero um gênero, mas não vejo gênero como algo negativo, muito pelo contrário), traçando suas origens, suas técnicas, exemplificando com textos dos seus autores favoritos. De uma maneira direta, sem muito academicismo e linguagem “maionética”, ele examina as técnicas usadas por escritores baluartes como Chekov, Flaubert, Tolstoi, Virginia Wolf, entre muitos outros.

Wood aborda tópicos como o uso do “discurso indireto livre”, a consciência dos personagens, a realidade na ficção (questões bem antigas no campo acadêmico, mas trazidas de volta de maneira didática e acessível), como avaliar metáforas e símiles, os diferentes registros de tom narrativo, questionamentos sobre o realismo versus a verdade na literatura, o trabalho poético da sonoridade na prosa, a evolução das descrições, entre vários outros.

Os textos seguem uma estrutura básica, Wood seleciona uma das ferramentas usadas pelos seus escritores favoritos, dissecando-as e revelando como essas ferramentas ou convenções narrativos ficam invisíveis para a maioria dos leitores. O livro traça a evolução dessas convenções narrativas ao longo da história da literatura ocidental. Como um crítico mais conservador, Wood usa obras consagradas e consideradas cânones pela crítica contemporânea.

Wood levanta perguntas interessantes como: O que é realmente um personagem de ficção? O que constitui um descrição bem sucedida, porque o escritor seleciona alguns detalhes específicos e não outros e com que objetivo? Como saber que uma metáfora ou uma símile forma bem sucedidas? Porque os finais de muitos romances são desapontadores?

O livro também serve como um guia de como fazer “close reading”, ou a técnica acadêmica da “leitura de perto”, analisando as frases detalhadamente, vendo as interrelações das linguagens, conceitos, metáforas, sons, alusões, o ritmo das frases e o ritmo criado pelo sons das palavras, etc. São sugestões muito boas para desenvolver mais a capacidade de leitura e apreciação literária, o que leva a uma escrita mais consciente, mais madura.

O único problema é que o Como a Ficção Funciona aumentou muito a minha lista de leituras essenciais. Além dos baluartes, coloquei na minha lista o escritor favorito do Wood, o Saul Bellow, de tanto que o cara falou dele e pelas citações no texto!

Fica a recomendação, um livro inspirador tanto para escrever quanto para ler, para educar o olhar.

ANOTAÇÕES DO “COMO FUNCIONA A FICÇÃO”

Fiz algumas anotações do chega perto de ser dicas para escritores que pesquei no texto. Mas devo ler de novo em breve, é o tipo de livro para voltar sempre como referência e inspiração para escrever e ler com mais cuidado.

DESCRIÇÕES

Descrições criam uma pausa ficcional, onde a ficção diminui de velocidade para chamar a atenção do leitor para a textura, a superfície, para o ambiente, para a criação de imersão e aumento do realismo cognitivo da narrativa. Mas é um trabalho de equilíbrio, muita descrição transforma os detalhes em fetiche, um fim em si mesmo e um momento de puro exibicionismo literário.
Pausa descritiva serve para chamar a atenção do leitor para algo negligenciado pela pressão narrativa.

A pausa descritiva é usada para mergulhar e explorar as complexidades e a cacofonia do mundano, mas deve ser equilibrada com a narrativa total.

Metáforas e símiles funcionam melhor quando contextualizadas, quando criadas dentro do Ponto de Vista Narrativo, e quando evocam diversas relações dentro do próprio texto.

CARACTERIZAÇÃO

Indo contra a maioria das dicas para escritores, Wood declara que o segredo de personagens bem caracterizados não está em históricos detalhados ou pilhas e pilhas de características físicas, psicológicas, emocionais, etc. O segredo está no modo como o personagem é caracterizado na narrativa, e, o quanto o autor usa de opacidade na caracterização.

Ele cita os personagens de Shakespeare, onde os elementos ou características que explicariam racionalmente seus comportamentes são omitidos da narrativa, criando opacidade estratégica e supreendendo os expectadores com suas ações. Essa técnica os dá vivacidade, a sensação de vitalidade, de imprevisibilidade e o senso de mistério ao se ver de frente a um enigma.

Nesse ponto ele cita Virginia Wolf comentando sobre Crime e Castigo, e o Idiota de Dostoyevsky "Esses personagens não possuem nenhuma característica fixa. Nós mergulhamos neles como se descessemos em uma enorme caverna".

O segredo, de acordo com Wood, de pergonagens bem caracterizados estaria na sua capacidade de supreender o leitor. Com isso ele recusa a definição tradicional de personagens redondos ou rasos.

SOBRE CRIAÇÃO DE PERSONAGENS NA MENTE DO LEITOR

Nos romances pós-modernos (Pnin do Namokov ou O Ano da Morte de Ricardo Reis, de Saramago) o leitor se confronta com personagens que são ao mesmo tempo reais e imaginários. Nessas narrativas, os autores nos convidam a refletir sobre a ficcionalidade de seus heróis e heroínas, que dão títulos às próprias narrativas.

E paradoxalmente, é essa reflexão que faz com que o leitor deseje tornar esses personagens reais, é como se dissessem para os autores: "eu sei que eles são só ficcionais, você está repetindo isso continuamente. Mas eu só poderei conhecê-los tratando-os como se fossem reais.

Personagens bem construídos, são assim porque são bem construídos na mente dos leitores, através dos artifícios literários do autor, através da instigação e da provocação para que o leitor os tornem reais.

O DISCURSO INDIRETO LIVRE

"Quando falo sobre discurso indireto livre eu estou realmente flaando sobre ponto de vista narrativo, e quando eu falo sobre ponto de vista narrativo eu estou relamente falando sobre a percepção do detlahe, e quando eu falo sobre detalhe eu estou na verdade falando sobre personagem, e quando eu falo sobre personagem, eu estou realmente falando sobre "o real", que é a base dos questionamentos desse livro".

Existe uma tensão entre a voz narrativa do autor e a voz narrativa do personagem. Essa tensão se resolve no desenvolvimento nos romances do Discurso Indireto Livre, uma técnica que tem em Gustav "Madame Bovary" Flaubert, um dos seus principais propagandistas, um romance que influenciou (e continua influenciando) a prosa dita realista (em todas as suas variações e diversificações).

O discurso indireto livre é quando o narrador desenvolve a história através da voz de um personagem, e ocasionalmente sai desse ponto de vista limitado para um ponto de vista onisciente. Essa alternância entre o ponto de vista parcial e o onisciente é a essência da criação da ficção.

Os leitores sabem que um autor inventou o personagem que estão lendo, mas eles também tem a ilusão de que o personagem existem em algum lugar fora e além da invenção do autor. Os leitores se dividem (na boa prosa), entre o que eles sabem ser falso, e o que eles momentâneamente aceitam como sendo o real.

Personagens bem caracterizados passam para os leitores a sensação que sua liberdade inventada tem sentido, é "real" e os leitores reagem de acordo.

Quando, ao se ler, se chega em uma palavra que sai da voz do personagem (por exemplo, uma história do POV de um mendigo onde aparece um parágrafo descritivo com vocabulário que distoa da linguagem usada pelo POV do mendigo), os leitores se lembram que existe um autor, e que esse autor os permitiu a se misturar com seu personagem.

Esses momentos podem quebrar a imersão no sonho narrativo, e o desafio para o escritor é dar razões para que seus leitores continuem lendo, seja por prazer estético, literário, seja pela trama, pelos mistérios da narrativa, pelos mistérios dos personagens, ou pela capacidade dos personagens de supreender o leitor, entre outras razões.

QUALIDADE DA BOA PROSA

Deve-se ler e escrever musicalmente, testando a precisão e o rítimo da frase, escutando os ecos históricos e literários das palavras, prestando atenção aos padrões, repetições, ecos, símbolos, tropos, decidindo porque uma metáfora deu certo e porque outra fracassou, julgando como a colocação perfeita de um verbo ou de um adjetivo sela uma frase com finalidade matemática.

SOBRE A FUNÇÃO DA FICÇÃO

A ficção deve, através do poder da palavra escrita, fazer o leitor escutar, sentir, ou acima de tudo, ver. Ver a complexidade e os paradoxos da condição humana, sentir a infinita variedade de experiências, de verdades e mentiras, de detalhes e texturas que passam desapercebidas a cada momento, expandir a experiência daquilo que chamamos de vida.

A única obrigação de um romance de ficção é ser interessante, mas sem sofrer a acusação de ser arbitrário.

Diferença entre trama e história é simplesmente uma formulação de causação:

"O rei morreu e então a rainha morreu" é uma história.

"O rei morreu e então a rainha morreu de desgosto" é uma trama.

A literatura se diferencia da vida porque a vida é cheia de detalhes mas raramente nos direciona a ele, enquanto a literatura nos ensina a notar. A literatura nos transforma em melhor observadores da vida, nós podemos praticar na própria vida, nos tornando melhores leitores do detalhe na literatura. Obs: Gostei dessa parte, principalmente depois de ler o Barba Ensopada de Sangue, que me ensinou a como "ver" as cidades praianas brasileiras. :)

TEMAS NA FICÇÃO

A ficção é mais efetiva quando seus temas não são tão evidentes, uma ficção ideal teria uma espécie de temas fantasmáticos.


AS FRASES

A frase pulsa, move para dentro e para fora, em direção ao personagem e para longe do personagem. Quando se move em direção do personagem (como no caso do POV profundo, sem nada exterior à cognição do personagem POV) o autor desaparece, quando se move para longe do personagem o autor ressurge com seu estilo para se tornar evidente ao leitor.

Usar o som das palavras, a repetição, a criação de padrões e a quebra de padrões para constituir efeitos literários, técnicas poéticas que engrandecem o texto.

SOBRE O LIVRO

Quando nos movemos juntos com uma história, quando lemos uma história, essa história já está completa - nós a seguramos em nossas mãos. Nesse sentido, a ficção também mata, não porque personagens frequentemente morrem em suas páginas, mas porque, mesmo se eles não morrem, eles já aconteceram, já viveram suas vidas, suas histórias já estão completas. A forma ficcional já é um tipo de morte, todos seus personagens já "foram", já tiveram suas histórias completas.
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Wellington Ferreira 30/09/2012

Ótimo
Leitura obrigatória para quem almeja se tornar um bom escritor, eu disse, um bom escritor.
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Carol 21/01/2012

Só alguém tão entendido de literatura conseguiria escrever um livro desses, falando de Henry James, Flaubert, estilo indireto livre e outros assim, tão leve e descontraído. Aí James Wood ganha muito pontos, conseguindo o que tantos críticos famosos falharam em conseguir. Desculpem o momento frase clichê, mas já dizia Eistein, se a pessoa não sabe explicar algo de maneira simples, ela não o entende suficientemente bem. E tem mais: se Milan Kundera, para dar um belo exemplo, escreve lindamente sobre a arte literária, Wood é menos romancista e mais crítico, prático e objetivo.

Como funciona a ficção é divido em capítulos que tratam da narrativa, dos detalhes, dos personagens, da linguagem, do diálogo, do realismo, além de dois capítulos dedicados a Flaubert (um sobre a narrativa moderna, que Wood considera derivada de Flaubert, e outro sobre o surgimento do flâneur, no qual o personagem vai andando pelas ruas e observando). Em cada capítulo, o crítico vai dando exemplos e destrinchando alguns trechos, partindo do particular para chegar a uma reflexão mais geral de tal ocorrência na literatura.


Ao decorrer do livro, Wood fala muito sobre o estilo indireto livre (além de uma overdose de Flaubert, é claro). Nesse estilo, a narrativa, em terceira pessoa, mescla as vozes do autor e do personagem, às vezes pendendo mais para um lado, às vezes para o outro. O autor transcreve uma passagem (maravilhosa) de What Maisie knew, de Henry James, e por cinco páginas discorre sobre as palavras muito bem escolhidas. Por exemplo, na passagem “tucked-in and kissed-for-good-night feeling”, James, modestamente, deixa seu próprio requinte literário de lado para dar voz à pequena Maisie. Ou como no conto Os Mortos, de Joyce, que começa assim: “Lily, a filha do zelador, estava literalmente com o coração na boca”. Mas é impossível ter o coração literalmente na boca, e pensa-se que Joyce era inteligente o suficiente para não falar tal bobeira. Mas Joyce escolhe por dar voz à Lily, que provavelmente usaria uma frase desse tipo para contar o caso para as amigas.

Interessante também a visão que Wood tem sobre os detalhes. O crítico Roland Barthes, em seu ensaio O Efeito de Real, argumenta que o detalhe “irrelevante” (quem colocou as aspas foi James Wood) está ali para causar um efeito de realismo descritivo, mas que na verdade nada tem a ver com o real. Barthes dá o exemplo de um trecho de Um Coração Simples, de Flaubert, onde é descrito o quarto da srta. Aubain. Vários objetos estavam no quarto, cadeiras de mogno, caixas e cartões, um piano, um barômetro. Segundo Barthes, todos os objetos citados tem seu papel na narrativa (mostrar condição social, estilo de vida, sugerir a desordem do personagem) – menos um: o barômetro. Ele está ali só por estar. É como se Flaubert dissesse “viu só como minha narrativa é real? nela encontra-se o que conta a história e também o que, como na vida, só estava ali por cima no momento”. Mas será que Barthes não peca ao chamar esse tipo de detalhe irrelevante? Não seria todo detalhe intrinsecamente ligado à narrativa, e portanto relevante? Carol Bensimon, nos Cadernos de Não Ficção 2 (http://issuu.com/naoeditora/docs/cadernos_2) da Não Editora, diz que “atendo-se ao supostamente essencial, me causa a impressão de que as coisas estão passando mais rápido do que deveriam”, e que, quando os supostos “excessos” são cortados de um texto, os personagens viram “meros executores de ações que precisam acontecer uma depois da outra rumo ao desfecho”.

Sobre personagens, Wood discorda fortemente de Forster, que em Aspectos do romance, classifica os personagens como planos ou redondos. Classificação essa amplamente utilizada em críticas e resenhas por aí. O autor sugere, brilhantemente, a classificação dos personagens em transparências (personagens relativamente simples) e opacidades (relativos graus de mistério).

Agora, devo alertar: se você for optar por ler a tradução para o português, leia antes esses comentários da tradutora Denise Bottmann (http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2011/03/12/tradutora-de-como-funciona-ficcao-critica-edicao-368236.asp). Como funciona a ficção é para os escritores e para os leitores, também. Não é um guia, mas seu fator direto-ao-ponto é interessante – e verdadeiro, sem firulas.

Mais em http://apesardalinguagem.wordpress.com
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Nika 30/09/2011

Aprendendo como funciona a ficção
Em minha aprendizagem de escritora, terminei a lenta leitura de Como Funciona a Ficção, do crítico literário James Wood. A leitura andou vagarosamente por minha conta, não pelo livro. De fato, eu o senti como uma obra de leitura sem pressa, do tipo que se aprende absorvendo, tanto quanto lendo. Obviamente, Wood não fez uma manual de “como funciona” a ficção, falamos de literatura e não de máquinas. Provavelmente, o livro é mais sobre como funciona a cabeça do leitor ou do crítico, ou do leitor (apaixonado) e do crítico (controvertido) que Wood é. Ainda assim, senti-me levada pela mão na aprendizagem de como e porque determinados autores icônicos são reverenciados. Dos citados, li muitos, mas não em quantidade, e estou há quilômetros de ter lido todos. Alguns, eu conheci tão jovem e de forma tão pouco orientada que sequer entendi. Wood renovou-me a vontade de ler e reler clássicos e esclareceu-me o sobre o que enxergar na prosa dos grandes autores e dos grandes estilistas literários.
Os detratores do Wood o acusam de ser conservador, tanto em seus gostos, quanto no que ele preza e valoriza. Confesso que, em minha ignorância das modernas correntes e debates da área literária, o livro de Wood me soou confortável e acessível como uma xícara de café batido. E, mesmo que alguns críticos apontem isso, eu não senti empáfia no seu texto. Pelo contrário, é muito fácil somar-se ao encanto e à paixão do autor pela literatura contemporânea. Longe de pretender ensinar macetes, a obra de Wood se debruça sobre o já escrito e tenta encontrar suas partes. Tenta. Nem sempre consegue. E isto é o que há de melhor no livro: a conclusão de que falando de arte, podemos até localizar suas partes móveis, mas entender por que colocadas de uma determinada maneira elas funcionam e de outras não, fica fora de nossa alçada consciente. Nesse sentido, a metáfora do cozinheiro (que pode ser vulgar, mas não é incorreta) usada pelo autor em sua introdução foi caindo com mais força em mim ao longo da leitura. Pode-se dar a mesma receita e os mesmos ingredientes a cozinheiros diferentes, o resultado jamais será o mesmo.
Não foi uma nem duas vezes que, ao visualizar as peças móveis apontadas por Wood dentro de obras reverenciadas, percebia imediatamente já tê-las visto, de forma ruim e mal arranjada, em outros textos ficcionais. Imaginei que um escritor iniciante que muito estudasse o que ele aponta ali, conseguiria reproduzir, imitar, reconstruir, e elaborar sobre o caminho erguido pelos mestres e, ainda assim, não teria garantias de fazer uma boa ficção. Isso porque, depois que uma obra está escrita, você consegue entender de que forma aquilo funcionou, mas não antes. Claro que as diretrizes ajudam, mas o fato é que elas não determinam. Se você aplicar todas as técnicas ao texto, mesmo as melhores delas, terá um texto técnico, nada mais. Isso pode garantir um bom texto. Um texto vendável. Uma publicação. E haverá quem goste e haverá quem desfaça. No entanto, arte não é só técnica. Técnica é uma das suas armas de expressão. Uma ferramenta que a arte molda e subverte à sua conveniência. Quem vai determinar o valor do resultado? O crítico? O público?
Minha veia de historiadora aponta para o tempo. Aliás, essa é minha maior crítica ao livro de Wood, sua pouca atenção aos ritmos do tempo e da história. Ao fato de que, mesmo que obras que os transcendam, os escritores são criaturas grudadas no mata-moscas histórico que é o seu contexto, seu tempo, seu espaço.

A impressão de leitura completa está no blog http://sapatinhosvermelhosnika.blogspot.com/2011/09/aprendendo-como-funciona-ficcao.html
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