Como funciona a ficção

Como funciona a ficção James Wood




Resenhas - Como funciona a ficção


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Daniel Moraes (Irmãos Livreiros) 11/01/2022

Como funciona a ficção, de James Wood
“Como funciona a ficção”, escrito pelo crítico literário, James Wood, autor do livro Upstate, publicado pela Sesi-SP Editora, é uma obra prima que todo escritor – e leitores, claro – deve ter em sua cabeceira, por conta de sua grandeza. Uma obra de grande relevância para o mercado editorial.

A obra, muito bem pautada, traz elementos que aborda a visão dos leitores de ficção sobre a estrutura da construção do livro. Pontos técnicos que embelezam o enredo que transforma a história em um best-seller.

Inegavelmente, quando a narrativa é bem construída e cativante, onde o leitor se vê preso ao livro, este se encontra com os personagens e segue a jornada lado a lado, página a página. Independente da construção que o escritor elaborou para aquela narrativa.

Com o intuito de manter a linearidade da obra, o autor expande seus universos e leva os leitores à locais jamais imaginados, de tal maneira que a obra ganha forma e expande a mente de quem lê o livro.

O autor escreve o livro não apenas baseando-se na ficção e a joga no papel, acima de tudo, utiliza meios para que a obra se torne factível, utilizando detalhes estilísticos, técnicas de escrita que, por mais que se mesclem entre um autor e outro. Essa é a literatura.

Com o intuito de apresentar os pontos fortes e de melhoria para os escritores e, consequentemente, os leitores, James Wood exemplifica os principais pontos de uma ficção de alta qualidade que merece ser lançada no mercado editorial.

Em contraste com sua interpretação ao que acredita como livros de alta literatura, Wood, transcreve personagens, linguagem e foco narrativo.

Ao detalhar os personagens, Wood explica o que são criações “planas” ou “redondas”, onde ele desmistifica o conceito de que os personagens redondos, as mais completas e bem elaborados pelos autores, sejam superiores aos personagens secundários, os planos:

“Se tentar distinguir personagens principais de secundários — personagens redondos e planos — e disser que eles se diferenciam na sutileza, na profundidade, no espaço que ocupam na página, terei de admitir que muitos personagens ditos planos me parecem mais vivos e mais interessantes como estudo humano, por mais efêmeros que sejam, do que personagens redondos a que estão supostamente subordinados.”

“Como funciona a ficção”, é uma obra espetacular e merece a atenção de todos os leitores que apreciam a boa leitura. Uma obra de extremo interesse para escritores e leitores que desejam se enveredar na arte da escrita. Um livro para ser constantemente consultado.

Em suma, é um livro que traz ainda mais conteúdo acerca da análise de livros que faz com que escritores e leitores a pensarem de forma mais concreta na produção ficcional. Uma obra excelente para releituras. Um livro de cabeceira.

“O verdadeiro escritor, aquele livre servidor da vida, precisa sempre agir como se a vida fosse uma categoria mais além de qualquer coisa já captada pelo romance, como se a própria vida sempre estivesse à beira de se tornar convencional.”

Livro altamente recomendado!

site: bit.ly/iLPost0701
Flávia Menezes 11/01/2022minha estante
Maravilhoso esse livro ?


Daniel Moraes (Irmãos Livreiros) 12/01/2022minha estante
Realmente um livro perfeito, Flávia.
Amei ler e indico para todos! =)




Leonardo 04/07/2011

Belo exercício sobre a estrutura do romance moderno
Disponível em: http://catalisecritica.wordpress.com

A última vez que estive em Brasília, tomava um café na Mega Store Saraiva, no Shopping Iguatemi, quando avistei um senhor bastante distinto lendo um livro cujas letras eram azuis (na verdade, vejam na capa por vocês mesmos, pois sou daltônico e diferenciar azul de roxo, violeta ou lilás não é o meu forte). Fui pagar a conta bemmmmm devagar para tentar fisgar o nome do livro. “Como funciona a ficção”. Estava fisgado o peixe. Se há uma leitura que me dá tanto prazer quanto a literatura em si é ler SOBRE literatura. Gosto de ler sobre a interpretação de obras, técnicas de criação e narração, estilos literários. Como e por que ler?, de Harold Bloom, e Oficina de Escritores, de Stephen Kosh, são livros que me ensinaram muito não como escrever, mas como ler, e com este livro que acabei ontem à noite não foi diferente.

Fui atrás do livro lá na Saraiva e acabei localizando o livro. Para meu deleite, foi publicado pela Cosac Naify (o que pesou na balança na hora de me decidir pela compra). Fui olhar alguma coisa sobre o autor e vi que ele escreveu para o The Guardian, é crítico da afamada revista The New Yorker e ensina crítica literária em Harvard. Currículo ele tem, pensei, e acabei comprando o livro.

Para quem se interessa por literatura, o livro é obrigatório. Muito bem escrito, num ritmo leve, sem enrolar, sem formalismo, mas com bastante conteúdo. O autor demonstra um conhecimento absurdo acerca da literatura, e desfilam ao longo do livro diversas obras, de Faulkner a McCarthy, passando por Austen, Pynchon, Hemingway, Greene, Mann, Joyce, Dostoiévski, Tolstoi, Nabokov, Shakespeare e muitos, muitos outros, culminando com uma reverência a Flaubert (o romance moderno nasceu com ele, afirma, em certo ponto, o autor).

A partir da análise da técnica do estilo indireto livro, James Wood analisa o dilema do pensamento do autor versus pensamento do narrador, reflete sobre as metáforas, estilo, diálogos e muitos pontos que me fizeram repensar o ofício do escritor e a própria leitura.

Logo no início do livro, o autor é enfático a respeito das maneiras como se pode escrever um livro:

“A casa da ficção tem muitas janelas, mas só duas ou três portas.”

Em um determinado ponto, ele diz que

“os jovens ainda não leram literatura suficiente para aprender com ela de que modo lê-la.

Concordo plenamente com essa ideia, me incluindo aí, obviamente, na categoria dos jovens.

Mas o que de mais “ousado” ele afirma é quanto ao uso das metáforas:

“Num certo aspecto, a prosa complexa é muito simples, devido ao caráter matematicamente definitivo segundo o qual uma frase perfeita não pode admitir um número infinito de variações; não se pode aumentá-la sem algum prejuízo estético: sua perfeição é a solução de seu próprio quebra-cabeça; não havia como fazê-la melhor.”

Uma das metáforas perfeitas, que não havia como dizer melhor, para o autor, é uma de Tolstoi, que disse que os bracinhos dos bebês são tão rechonchudos que parecem amarrados com linha. Simples e perfeito.

Um belíssimo livro para quem, como eu, é apaixonado não só pela literatura, mas pelo modo como ela é feita.
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Thaís Brito 16/12/2023

Excelente
Li por indicação da instrutora do curso sobre criatividade e escrita. Com atenção para diferentes elementos da narrativa, esse livro dá ótimos exemplos baseados no que grandes escritores já fizeram. O interessante é que ele não deixa fórmulas fechadas. O que faz é apontar caminhos criativos e boas escolhas já feitas no passado, ficando claro que a ficção tem espaço para inovações e quebras.

Adorei ver o quanto o autor trouxe contribuições interessantes sobre a obra e o estilo de Jane Austen. =)
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Leila de Carvalho e Gonçalves 15/07/2018

Para Ler E Reler
James Wood é professor de literatura na Universidade de Harvard e crítico da revista "New Yorker". Com essas credenciais, "Como Funciona a Ficção" revela-se uma excelente oportunidade para quem pretende fazer da literatura algo mais do que mero entretenimento.

Com cerca de duzentas páginas, este é um livro cercado de informações, feito para ler e reler. O escritor fundamenta suas ideias através dos clássicos, indo da "Ilíada" de Homero até Pynchon, Saramago e o belíssimo romance "Reparação", de McEwan, no entanto, é inegável seu apreço por Flaubert tal qual Bloom por Shakespeare.

Sua abordagem sobre o romance moderno, o realismo na literatura e a importância do discurso indireto livre são extremamente pertinentes assim como o valor dos detalhes na construção de cenários e personagens, a inserção dos diálogos no texto e a escolha da linguagem mais apropriada para desenvolver um enredo. Na verdade, este livro deve ser encarado como um manual para aprimorar a arte de ler e escrever.

Indubitavelmente, exige um leitor com boa bagagem literária e, com certeza, sua leitura despertará o gosto para novos livros e releituras, inclusive, ele menciona alguns autores pouco divulgados em nosso país como a genial Muriel Sparks e Katherine Mansfield de quem sou fã.

Para encerrar, a tradução de Denise Bottmann está impecável. Com extenso conhecimento, ela trafega com desenvoltura numa obra que seria uma ameaça para muitos tradutores.

Boa leitura!

"Só existe uma receita: ter o maior cuidado na hora de cozinhar." (Henry James)
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Márcio 12/12/2020

Excelente livro
Tá aí um livro que eu quero voltar a ler diversas vezes. A partir dele, você vê a Literatura (e a arte de escrever, pra quem quer) com outros olhos, o nível de interpretação se expande!
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regifreitas 25/10/2020

COMO FUNCIONA A FICÇÃO (How fiction works, 2008), de James Wood; tradução Denise Bottmann.

Uma das melhores obras que já li sobre o assunto. O crítico literário James Wood analisa a estrutura da ficção e seus mecanismos de construção e funcionamento, sempre fundamentando seu pensamento com exemplos tirados de obras clássicas e contemporâneas. Também oferece uma série preciosa de reflexões sobre a importância da arte narrativa.

Leitura indispensável para todo estudante de literatura. No entanto, mesmo aqueles que desejam apenas se aprofundar um pouco mais no assunto vão encontrar aqui uma leitura acessível e agradável. O texto de Wood é simples e direto, aberto a todos, e não somente ao público acadêmico.
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Dave 15/03/2020

Objeto de estudo pra sempre
Para o leitor que se sente pronto pra evoluir.
Enchi de anotações e post-its.
Anotei muitos títulos para leituras futuras.

Este será um objeto de consulta e estudo por muito tempo.
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LucasMiguel 02/10/2023

Apesar de ser bastante didático, é muito mais que isso
Eu tenho muito apreço por livros que falam de livros. Sejam eles sobre teoria literária, sejam obras sobre a chamada “arte da escrita”.
Este gosto exótico existe, talvez, pela vontade que sempre tenho de conversar sobre minhas leituras: saber a obra preferida de cada um; discutir impressões sobre uma obra lida em comum e especular, nas salas de espera, qual livro a pessoa está lendo, é sempre um grande prazer.
Como tais diálogos acabam por serem raros, livros deste tipo servem como sucedâneos razoáveis para um quase diálogo com o autor sobre as obras mais bem escritas, as técnicas utilizadas pelos escritores famosos e seus efeitos sobre o leitor.
O livro do crítico James Wood atende a estes propósitos com uma vantagem: é uma aula de literatura escrita com o rigor e a beleza de uma obra literária. A escrita de Wood é quase poética, sem nunca abandonar a finalidade didática.
Um livro curto e falsamente simples, cuja densidade por vezes se mostra apenas quando o levamos a sério o suficiente para encará-lo menos como uma autoajuda para escritores iniciantes, e mais como uma conversa profunda sobre as técnicas e os mecanismos utilizados pelos mestres na arte de transformar palavras em vida.
Aliás, um dos pontos altos do livro é justamente a total demolição que Wood provoca dos lugares-comuns dos cursos de escrita: personagens “planos” são sempre inferiores aos “redondos”? Narração em terceira pessoa é sempre onisciente e confiável? Um bom diálogo é aquele que oculta as intenções dos interlocutores? Tudo vai depender do entorno, do contexto e do poder hipnótico do escritor em fazer o leitor mergulhar no irreal e emergir ensopado de reconhecimento, espanto e alteridade.
Meu capítulo preferido, chamado “breve história da consciência”, aborda a evolução das narrativas desde o Antigo Testamento e seu interlocutor único (Deus); passando por Shakespeare e seus ouvintes públicos e silenciosos (plateia) até a narrativa do romance e seu relato direcionado ao solitário leitor que não mais perscruta as personagens como prece, nem como coro de um teatro, mas como o próprio deus inconfidente em sua onisciência plena.
Delicioso para os curiosos que gostam de enxergar os esqueletos e os alicerces da narrativa. Proibido para aqueles que não gostam que o mágico ensine o segredo do coelho que desaparece dentro da cartola e arranca aplausos e lágrimas do público que, mesmo sabendo haver artifício, optou pela pureza dos sentidos e dos sentimentos.
Deisi 02/10/2023minha estante
Tô lendo. Cem anos de solidão kkkkkk


LucasMiguel 02/10/2023minha estante
Um dos meus escritores preferidos hehe




Lucas 18/12/2020

Imperdível.
James Wood é professor de literatura na Universidade de Harvard e crítico da revista "New Yorker", portanto, a partir dessas credenciais é inegável que "Como Funciona a Ficção" trata-se de uma excelente oportunidade para quem pretende fazer da literatura mais do que um mero entretenimento.

Com cerca de duzentas páginas, este é um livro precioso, cercado de informações, feito para ler e reler. O escritor fundamenta suas ideias através dos clássicos, indo da "Ilíada" de Homero até Pynchon, Saramago e o belíssimo romance "Reparação", de McEwan, no entanto, é inegável seu profundo apreço por Flaubert tal qual Bloom por Shakespeare.

Sua abordagem sobre o romance moderno, o realismo na literatura e a importância do discurso indireto livre são extremamente pertinentes assim como o valor dos detalhes na construção de cenários e personagens, a inserção dos diálogos no texto e a escolha da linguagem mais apropriada para desenvolver um enredo. Na realidade, esse livro deve ser encarado como um manual para aprimorar a arte de ler e escrever.

Indubitavelmente, exige um leitor com boa bagagem literária e com certeza, sua leitura despertará o gosto para novos livros e releituras, inclusive, mencionando alguns autores pouco divulgados em nosso país como a genial Muriel Sparks e Katherine Mansfield de quem sou fã.

Para encerrar, a tradução de Denise Bottmann está impecável. Com extenso conhecimento, ela trafega com desenvoltura numa obra que seria uma ameaça para muitos tradutores.

Boas leituras!
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Fabius 24/01/2023

Como funciona a ficção, de James Wood
Livros como este são quais bússolas que nos ajudam a percorrer a selva da literatura com mais segurança. São também como lanternas a iluminar nuances até então solapadas pela pressa destes tempos, em que por vezes o foco na quantidade suplanta a qualidade das leituras.

Wood afirma que literatura é artifício e verossimilhança, e discorre, por meio de micro capítulos que se interpenetram, complementando-se, sobre temas como o discurso indireto livre, o ponto de vista, a percepção do detalhe, o personagem, o realismo literário e a literatura moderna. As metáforas, as imagens, a empatia imaginativa.

Claro que não devemos nos ater a este livro como única fonte sobre literatura, sobre romances. Mas serve como uma excelente introdução ao tema. No mínimo, vai elevar substancialmente a qualidade da leitura, o que não é pouco.
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Israel145 24/01/2018

James Wood brinda o leitor sério com um livro excelente sobre teoria literária visto pelo ponto de vista de um crítico moderno e atualizado que aparentemente fez a lição de casa e devorou a maioria dos clássicos.
O bom desse livro é que Wood consegue falar do assunto (teoria) sem cansar o leitor, adotando um método muito simples: dividiu os 10 capítulos do livro em diversos sub-tópicos totalizando 123 ao longo de todo o livro. O leitor consegue acompanhar o raciocínio do autor numa prazerosa imersão nos detalhes que passam despercebidos ao leitor comum, principalmente os que não tem formação acadêmica específica na área (meu caso).
O livro traz tópicos sobre narrativa, detalhes, personagens, consciência, linguagem, diálogo, etc.
Os grandes nomes e as grandes obras estão todas lá: Flaubert, Stendhal, Dickens, Toltstói, Tchekhov, Conrad, e uma série de escritores contemporâneos. Vale aqui frisar que para ter um bom aproveitamento do livro é interessante o leitor conhecer pelo menos os grandes nomes e já ter lido pelo menos 1 livro ou saber do que o mesmo se trata para entender com clareza a mensagem de Wood. Vale frisar também que o livro tem diversos spoilers.
Seu didatismo em expor os pormenores que complementam a leitura de um leitor comum são de grande valia para aqueles que querem mergulhar em maiores profundidades. A grande quantidade de detalhes que o autor expõe faz com que o leitor absorva de imediato seus ensinamentos e o resultado é quase instantâneo. Nas próximas obras lidas já é possível perceber sinais e características de como funciona de fato um romance, seus mecanismos internos e os truques dos autores.
Livro para quem ama os clássicos e quer amadurecer como um leitor crítico e que quer aproveitar as obras em toda a sua profundidade.
Salomão N. 24/01/2018minha estante
Ótima resenha!
Vou comprar a edição nova se eu encontrar. :)


Israel145 24/01/2018minha estante
Obrigado, amigo! Esse livro é indispensável. Boa sorte na busca!


Walkí­ria Silva 24/01/2018minha estante
Tá na minha listinha de compras faz é tempo. Também irei comprar em breve a edição que ainda tem no mercado. Ótima resenha!


Israel145 24/01/2018minha estante
Obrigado Walkiria. Esqueci de colocar na resenha que o livro tb está recheado de referências teóricas pra quem quiser se aprofundar :)




Rodrigo Arlindo 06/03/2024

Uma excelente obra sobre o alinhamento entre técnica e expressividade na ficção literária
Já li esse livro umas três vezes. Trata-se de um excelente panorama de como o alinhamento entre técnica e expressividade são essenciais na produção de uma literatura estruturalmente consistente como texto e sensível enquanto arte. Os exemplos e as análises dos amiúdes da descrição, da narração e da criação de personagens de Wood são sucintos e escritos numa linguagem acessível e agradável, de forma que conseguimos absorver facilmente a densa “carga” de teoria literária presente nesse pequeno colossal livro

site: https://www.instagram.com/p/C4Li50KLcdT/
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Alanna Fernandes 08/01/2023

Se sua vontade é entender como funciona a ficção, esse livro passa longe disso. Tão raso e resumido que chega a ser confuso.
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Carol 21/01/2012

Só alguém tão entendido de literatura conseguiria escrever um livro desses, falando de Henry James, Flaubert, estilo indireto livre e outros assim, tão leve e descontraído. Aí James Wood ganha muito pontos, conseguindo o que tantos críticos famosos falharam em conseguir. Desculpem o momento frase clichê, mas já dizia Eistein, se a pessoa não sabe explicar algo de maneira simples, ela não o entende suficientemente bem. E tem mais: se Milan Kundera, para dar um belo exemplo, escreve lindamente sobre a arte literária, Wood é menos romancista e mais crítico, prático e objetivo.

Como funciona a ficção é divido em capítulos que tratam da narrativa, dos detalhes, dos personagens, da linguagem, do diálogo, do realismo, além de dois capítulos dedicados a Flaubert (um sobre a narrativa moderna, que Wood considera derivada de Flaubert, e outro sobre o surgimento do flâneur, no qual o personagem vai andando pelas ruas e observando). Em cada capítulo, o crítico vai dando exemplos e destrinchando alguns trechos, partindo do particular para chegar a uma reflexão mais geral de tal ocorrência na literatura.


Ao decorrer do livro, Wood fala muito sobre o estilo indireto livre (além de uma overdose de Flaubert, é claro). Nesse estilo, a narrativa, em terceira pessoa, mescla as vozes do autor e do personagem, às vezes pendendo mais para um lado, às vezes para o outro. O autor transcreve uma passagem (maravilhosa) de What Maisie knew, de Henry James, e por cinco páginas discorre sobre as palavras muito bem escolhidas. Por exemplo, na passagem “tucked-in and kissed-for-good-night feeling”, James, modestamente, deixa seu próprio requinte literário de lado para dar voz à pequena Maisie. Ou como no conto Os Mortos, de Joyce, que começa assim: “Lily, a filha do zelador, estava literalmente com o coração na boca”. Mas é impossível ter o coração literalmente na boca, e pensa-se que Joyce era inteligente o suficiente para não falar tal bobeira. Mas Joyce escolhe por dar voz à Lily, que provavelmente usaria uma frase desse tipo para contar o caso para as amigas.

Interessante também a visão que Wood tem sobre os detalhes. O crítico Roland Barthes, em seu ensaio O Efeito de Real, argumenta que o detalhe “irrelevante” (quem colocou as aspas foi James Wood) está ali para causar um efeito de realismo descritivo, mas que na verdade nada tem a ver com o real. Barthes dá o exemplo de um trecho de Um Coração Simples, de Flaubert, onde é descrito o quarto da srta. Aubain. Vários objetos estavam no quarto, cadeiras de mogno, caixas e cartões, um piano, um barômetro. Segundo Barthes, todos os objetos citados tem seu papel na narrativa (mostrar condição social, estilo de vida, sugerir a desordem do personagem) – menos um: o barômetro. Ele está ali só por estar. É como se Flaubert dissesse “viu só como minha narrativa é real? nela encontra-se o que conta a história e também o que, como na vida, só estava ali por cima no momento”. Mas será que Barthes não peca ao chamar esse tipo de detalhe irrelevante? Não seria todo detalhe intrinsecamente ligado à narrativa, e portanto relevante? Carol Bensimon, nos Cadernos de Não Ficção 2 (http://issuu.com/naoeditora/docs/cadernos_2) da Não Editora, diz que “atendo-se ao supostamente essencial, me causa a impressão de que as coisas estão passando mais rápido do que deveriam”, e que, quando os supostos “excessos” são cortados de um texto, os personagens viram “meros executores de ações que precisam acontecer uma depois da outra rumo ao desfecho”.

Sobre personagens, Wood discorda fortemente de Forster, que em Aspectos do romance, classifica os personagens como planos ou redondos. Classificação essa amplamente utilizada em críticas e resenhas por aí. O autor sugere, brilhantemente, a classificação dos personagens em transparências (personagens relativamente simples) e opacidades (relativos graus de mistério).

Agora, devo alertar: se você for optar por ler a tradução para o português, leia antes esses comentários da tradutora Denise Bottmann (http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2011/03/12/tradutora-de-como-funciona-ficcao-critica-edicao-368236.asp). Como funciona a ficção é para os escritores e para os leitores, também. Não é um guia, mas seu fator direto-ao-ponto é interessante – e verdadeiro, sem firulas.

Mais em http://apesardalinguagem.wordpress.com
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Karoline 22/02/2021

Leitura maravilhosa! Com uma fluidez muito grande e uma didática incrível, considero essa obra, junto com a do Terry Eagleton, "Como ler literatura", os melhores manuais para quem quer começar a ler sobre teoria literária. Acho que ambos se complementam de uma maneira bem interessante, e são bem acessíveis, não só em suas linguagens mas pelos exemplos que trazem. Sorri para o livro quando o Wood menciona o Kramer da série de TV Seinfeld... haha Perfeito!! :)
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