Vanda 23/02/2017
Se você gosta de romances que abordem temas e dramas comuns ao universo feminino, Emily Giffin e “Questões do Coração” têm tudo para satisfazer aos mais exigentes leitores.
Olá, gente querida!
Hoje trouxe uma resenha internacional de uma autora da qual gosto muito: Emily Giffin. Já li alguns títulos desta autora e, a cada título, mais aumenta minha admiração por ela e por seus enredos. O livro que escolhi para comentar com vocês foi “Questões do Coração”.
Vamos conhecer a história?
“Questões do Coração” gira em torno da vida dos personagens centrais Valerie Anderson, seu filho de seis anos, Charlie, Tessa e Nick Russo. Apesar de todos residirem em Boston, as famílias Russo e Anderson não se conheciam e nunca tiveram nenhum contato.
Tessa e Nick são casados, tem um casal de filhos e, aparentemente, vivem um casamento perfeito. Nick é um conceituado cirurgião plástico pediátrico, muito dedicado à profissão, sendo comum abrir mão de momentos e eventos importantes com sua família para atender, prontamente, as emergências que acontecem no grande e renomado hospital no qual trabalha.
Tessa, contrariando os conselhos da mãe, abriu mão de sua carreira universitária e profissional para se dedicar à família. É uma excelente mãe e esposa e se esmera para ter uma casa organizada, funcional, enfim, um lar perfeito.
Valerie, já passou por momentos difíceis em sua vida. Ainda muito jovem apostou num relacionamento amoroso que fracassou e lhe trouxe mágoas, decepções e incertezas, mas, também, lhe deu Charlie, seu filho. Charlie é um garotinho sensível e amoroso, sendo impossível a gente não se encantar e se emocionar com ele. Valerie é uma mãe zelosa e superprotetora e conta apenas com o apoio e a ajuda de Jason, seu irmão gêmeo, para cuidar de Charlie. Com muito esforço conseguiu se formar advogada, tornando-se uma advogada muito bem-sucedida.
O enredo de “Questões do Coração” vai tomando forma quando Valerie, por insistência do seu irmão, permite que Charlie aceite o convite para dormir na casa de um coleguinha da escola para participar de uma festa que lá aconteceria. Durante a festa, numa prática comum na região, ondemarshmallows são colocados para assar na fogueira, por um descuido dos adultos e/ou fatalidade, Charlie cai na fogueira, queimando gravemente o lado esquerdo do rosto e a mão direita. O menino é conduzido ao pronto socorro pediátrico e o Dr. Nick Russo, pela sua competência e pela gravidade do caso é designado para cuidar de Charlie.
Nick está comemorando com Tessa seu aniversário de casamento quando recebe o chamado para atender essa emergência. Valerie, é claro, acampa no hospital para acompanhar e ajudar seu filho no duro e doloroso processo de tratamento e recuperação. Nick e Valerie passam a ter um convívio diário e intenso, passando a compartilhar detalhes de suas vidas. Charlie passa por momentos muito dolorosos durante o tratamento, mas se mostra muito corajoso e forte, além de ver em Nick o pai com o qual ele sempre sonhou. O destino, então, lança suas teias, e a mútua admiração entre Valerie e Nick vai se transformando em atração e a atração em amor.
Coisa complicada, gente. É angustiante acompanhar os dramas, dúvidas e incertezas pelos quais os personagens passam. Eu, particularmente, não consegui enxergar nenhum culpado, nenhum personagem totalmente bom ou mau, forte ou fraco.
Valerie foi a personagem mais julgada e condenada pelos leitores. Andei lendo algumas resenhas e a opinião da grande maioria das resenhistas e dos leitores foi cruel em relação à mesma. Aí, me coloquei como se eu fosse irmã ou uma grande amiga de Valerie. Que conselhos eu daria a ela, conhecendo sua integridade, seu caráter e todo o sofrimento, lutas e decepções pelas quais ela já passou?
Normalmente, quando temos conhecimento de um caso de adultério, condenamos sempre “a outra”, pois só vemos “ela” na vida do outro, mas não vemos a vida dela. No decorrer da trama, a autora dá subsídios suficientes para sabermos que Valerie não é uma pessoa inconsequente, vulgar, que procurou ou se aproveitou da situação. Aconteceu e ela sofreu durante todo o processo por ter consciência dos estragos que a continuidade ou não de seu envolvimento com Nick poderá causar nas vidas das pessoas ligadas a Nick, na sua própria vida e na vida de seu filho, portanto, decidi que, se eu fosse irmã ou amiga de Valerie, apoiaria qualquer decisão que ela tomasse.
“Ela apertou sua mão, como se quisesse esmagar a culpa e o choque de perceber que era capaz de fazer algo assim. De estar ali, daquele jeito, com um homem casado. De esperar ansiosamente que os dois, em breve, começassem a se tocar em todas as parte do corpo e de torcer para que, talvez um dia, ele pertencesse a ela. Era um sonho distante e egoísta, mas que parecia assustadoramente possível.”
“Ela se perguntava quem havia sido o idiota que um dia disse que era melhor ter amado e perdido que nunca ter amado. Nunca havia discordado tanto de algo.”
Quanto a Tessa, trata-se de uma situação mais comum do que possamos imaginar. Uma mulher que por amor decide abrir mão de sua vida acadêmica, profissional e pessoal em prol de sua família. Dedica-se, em tempo integral e incondicionalmente à sua casa, mantendo tudo perfeito e todos seguros, confortáveis e felizes, achando que esse será o passaporte para um casamento estável, feliz e duradouro. Novamente a autora nos faz refletir sobre a eficácia dessa decisão.
Durante a trama, percebemos que Tessa se questiona sobre sua opção de vida, pois, percebe que independente de todo o seu esforço, seu casamento está correndo risco. Aí eu me pergunto: não será injusto colocar nos ombros do parceiro a obrigação de dar continuidade a um casamento porque você decidiu se anular em prol dele? Se pararmos pra pensar, cedo ou tarde, teremos que arcar com o êxito ou fracasso que essa nossa decisão nos trará. Por mais que alguns discordem de mim, é impraticável alguém ser feliz sem buscar ou conquistar a tal felicidade. E, como é que alguém pode buscar a felicidade e a realização pessoal e profissional abrindo mão de seus sonhos e conquistas para dedicar-se, exclusivamente, ao bem estar e ao conforto de outros? Vamos deixar bem claro que não sou defensora e nem simpatizante da infidelidade e/ou do adultério, mas acho que cada caso deve ser analisado segundo as motivações e/ou circunstâncias em que elas ocorreram.
“Só sabia de uma coisa. Sabia que meu marido estava apaixonado por Valerie Anderson, a única mulher com quem fizera amizade a não ser eu. A mulher por quem saiu do trabalho no meio do dia para ir até a escola que eu queria que ele visitasse durante meses, conversando aos sussurros com ela no estacionamento. {...} A mulher que ele conheceu em nosso aniversário de casamento. Naquela noite estrelada quando tudo começou. Na noite em que viu o rosto dela e de seu filho pela primeira vez, a noite que, desde então, ele guardou e memorizou e, talvez, até viera a amar. “
A situação de Tessa também me angustiou muito e fiquei na torcida para que ela conseguisse tomar uma decisão serena e amadurecida, que causasse a si própria e a seus filhos o menor sofrimento possível diante de uma situação na qual ninguém sai totalmente imune de angústias, mágoas e sofrimentos.
“A ironia disso tudo, a ironia de pensar que havia sido salva por Nick, era como um golpe violento intensificado por um arrependimento profundo. O arrependimento de cada coisa de nossa vida juntos. Nosso primeiro encontro, o dia de nosso casamento, nossa mudança para Boston, nossa casa e tudo dentro dela, até a lata mais empoeirada de sopa de lentilha no fundo de nosso armário. Então, por um breve minuto, me arrependi de nossos filhos. Um pensamento que me encheu de culpa e dor intensas e de um ódio maior ainda pela pessoa que um dia amei mais que tudo no mundo.”
Já em relação ao Nick, achei que foi ele quem teve a carga de autocondenação e decisão mais pesada, porque o tempo todo ele sofria e se questionava sobre a licitude de seus atos e sobre qual decisão tomar. O final surpreendeu? Foi politicamente correto? Foi justo com os personagens envolvidos?
“— Talvez seja só físico? — ela sugeriu calmamente, fingindo não estar profundamente comovida com suas palavras.— Não — ele negou balançando a cabeça resoluto. — Não é físico, não é algo passageiro, não é nada disso. Eu te amo, Val. Essa é a verdade, e tenho medo de pensar que sempre será a verdade.”
Em minha opinião, para o desfecho só caberiam três decisões possíveis (Nick com Valerie, Nick com Tessa e Nick sozinho) e uma delas foi a escolhida pela autora. Não foi o final que eu escreveria, embora concorde que o desfecho escolhido pela autora será o que mais agradará aos leitores. Não posso comentar mais, pois, com toda certeza o revelaria. Foi válido e o mais suscetível de acontecer.
Bem, Emily Giffin, mais uma vez, foi perfeita na criação e no desenvolvimento de personagens tão autênticos. É praticamente impossível você não se identificar com um deles ou não conhecer alguém com as características ou história de vida deles. Quanto ao enredo e ao seu desenvolvimento, a autora também foi impecável, pois, sem imposições, provoca reflexões e questionamentos no leitor.
“Questões do Coração” só veio ratificar minha admiração pela autora, por sua escrita, por seus enredos tão consistentes e tão possíveis de acontecer. Seus diálogos são fortes, diretos, sem teor fantasioso ou ilusório, mas pertinentes aos reais e inevitáveis dramas pelos quais alguns de nós, em alguma fase nossa vida, iremos ou poderemos passar.
A editora “Novo Conceito” mais uma vez merece meus elogios por essa publicação. A revisão e a diagramação do livro estão simplesmente maravilhosas. A capa é linda, de extremo bom gosto e me remeteu a uma cena importante da história.
Se você gosta de romances que abordem temas e dramas comuns ao universo feminino, Emily Giffin e “Questões do Coração” têm tudo para satisfazer aos mais exigentes leitores.
site: http://clubedolivro15.blogspot.com.br/2016/10/resenha-internacional-questoes-do.html