Bianca 16/05/2011
Mais uma resenha do http://redomadecristal.com.br
Às vezes, descubro-me querendo ler um livro só ao conhecer seu título e capa. "Questões do Coração", de Emily Giffin, foi um desses casos. Não li nem a sinopse e já queria muito ler. É claro que a autora é sinônimo de uma boa história e isso colaborou e muito para a minha urgência.
Assim que li as primeiras páginas, soube que me emocionaria e que seria marcada pela história, mas não imaginei que ficaria sem ação em muitos momentos e que seria jogada para dentro do livro e teria vontade de fazer parte da história para poder influenciá-la de alguma forma.
Foi a leitura mais tensa e intensa que já fiz em toda a minha vida.
Acredito que esta será uma das resenhas mais difíceis que fiz. Talvez ainda não tenha digerido a história o suficiente para falar sobre ela.
Como disse acima, não havia lido nem a sinopse, então não sabia do que se tratava. Comecei a ler e a cada capítulo era envolvida pela história.
O livro é narrado de duas formas: Em primeira pessoa, por Tessa e em terceira, do ponto de vista de Valerie. Duas mulheres que não se conhecem, mas que terão suas vidas interligadas.
"Pego no sono sem saber a resposta. Sem saber, no entanto, se essa será a noite da qual me lembrarei para sempre." Tessa
"Ela concordou novamente, acreditando e confiando no médico. E só então, pela primeira vez em muito tempo, as lágrimas afloraram de seus olhos." Valerie
Tessa e Valerie são duas mulheres completamente diferentes e, ao mesmo tempo, parecidas. Tessa vive uma fase ruim. Está com problemas no casamento, mas custa a admitir até para si mesma. Está deprimida por ter deixado seu emprego para cuidar apenas das crianças, apesar de ter sido por iniciativa própria. Valerie vive isolada emocionalmente de mundo. Deixou todas as suas expectativas de lado, tanto no campo da amizade, quanto do amor. É mãe solteira e vive por seu filho. Não tem amigos e se confidencia apenas com seu irmão, Jason.
Um acidente ligará suas vidas e as marcará para sempre.
Pensei muito sobre o que escrever e decidi que não soltarei spoiler de forma alguma. E, acreditem, é muito difícil falar desse livro, sem contar um pequeno detalhe sobre ele.
O mundo das duas protagonistas é completamente diferente, para não dizer oposto. Apesar de terem suas vidas ligadas por uma ação, elas se comportarão de maneira diferentes. São dois lados de uma mesma moeda.
Acredito que a intenção da autora ao escrever esse livro foi que refletíssemos sobre uma situação tão comum e os diversos modos de reagir a ela.
Não é uma história em que se possa dizer que algo é preto ou branco, na verdade, passamos o livro inteiro mergulhados num intenso cinza. Nada é exato ou definido.
É uma história que fará o leitor refletir, mergulhar e se perder nela. Em alguns momentos chorei como se estivesse passando pela situação dos personagens. Em outros, me irritei e queria poder dizer chacoalhar uma delas para que ela reagisse.
As questões dos coração dos personagens passam a ser as questões do coração do leitor. O livro é um teste. É como se Emily Giffin quisesse saber o que faríamos naquela situação, como se quisesse mostrar que jamais devemos dizer que nunca faremos algo. Afinal, quem somos nós para conhecer algo que não vivemos? E, ainda que tenhamos vivido, não temos como saber as respostas para as questões do coração do outro. A nossa vida inteira nos molda para reagirmos de uma certa forma a um evento e centenas de variáveis podem mudar tudo.
Ao terminar a leitura, não soube o que pensar. Tenho minhas impressões sobre o que faria se estivesse no lugar de Tessa, Valerie ou Nick, mas a verdade é que há respostas que só sabemos no momento que passamos por uma situação.
Mesmo tendo minha opinião formada, não consegui condenar a nenhum dos personagens. A vida é cinza. É a única certeza que tudo o passei até hoje me mostrou.
A sociedade dirá que Tessa tinha razão, mas não sei. De onde vejo, ela permitiu que sua vida chegasse onde chegou. Na verdade, é o que penso sobre todos os personagens. Alguns eventos lhes foram impostos pela vida e eles caminharam ou se deixaram levar pelos outros.
Este livro não é um Chick-Lit ou qualquer outro tipo de leitura mais leve. É tenso e intenso em medidas iguais. É dramático. Acredito que nenhum leitor passará por ele sem se fazer perguntas. E, talvez, não encontre nenhuma resposta.
Não há heróis ou vilões em "Questões do Coração", há apenas homens, mulheres e a vida real.
OBS: É importante dizer que esse livro conta spoilers de "O Noivo da Minha Melhor Amiga", da mesma autora. Uma das personagens é irmã de Dex, o noivo em questão. Acredito que Dex foi colocado intencionalmente pela autora, que, talvez, tenha nos enviado um recado nas entrelinhas: "Será que você condenará agora aquilo que tanto aplaudiu antes?" É incrível como uma mesma ação pode ter interpretações e aceitações tão distintas. A lição que aprendi? Tudo é questão de ponto de vista e do momento que vivemos.