Wes 13/12/2022
"Esse Tirano foi um dia considerado honesto"
Macbeth é a jornada do herói que, por seus esforços por sua pátria em uma guerra, consegue o favor do rei e é prestigiado por toda Escócia, seu país. Entretanto, por influências de sua esposa (e até mesmo por interpretações equivocadas das previsões de certas bruxas...), a ganância e a sede por poder sobem à sua cabeça, transformando, aos poucos, um grande herói e um mito em um tirano sem escrúpulos e sem humanidade.
Algumas questões em Macbeth:
1. O poder das (más) influências: após ter alcançado, devido a seus grandes méritos, glória aos olhos do rei Duncan, sendo agraciado por ele, Macbeth é influenciado por sua esposa através de diversos pensamentos de grandeza e ganância. Ele poderia ter resistido no início, mas, a partir do momento em que Macbeth permite esses pensamentos adentrarem em seu íntimo, o herói passa a construir sua própria ruína;
2. Perda da essência: Macbeth, de uma pessoa justa e virtuosa se converteu em um Tirano cujo nome, só de ser pronunciado, cobria a língua dos escoceses de bolhas, segundo palavras de Malcom. Aí vemos como é grande a miséria da ganância e da vaidade: deixamos de ser nós mesmos, nos perdemos, nos convertemos em aberrações vergonhosas. Atualmente, vivemos em uma sociedade que preza a riqueza, o poder, o prestígio, o consumo et cetera, ao passo que valores como a humildade, a abnegação e a longanimidade são ridicularizados (obrigado, Nietzsche!). Isto, como observamos, está contribuindo para que sejamos uma geração apática, marcada por problemas psicológicos como a ansiedade e depressão. Pelo culto ao "self", a si mesmo, aos nossos próprios desejos e vontades, estamos perdendo nossa essência;
3. O cultivo do mal e a loucura: C. S. Lewis dizia que as pessoas más sabem muito pouco sobre a maldade, pois vivem numa redoma por sempre cederem e, ora, só se sabe sobre a força e a grandeza de sua própria maldade quem já teve a ousadia de tentar lutar contra ela (Cristianismo puro e simples, p. 190). Percebemos como aos poucos Macbeth foi perdendo seus escrúpulos por ceder às sugestões maléficas de Lady Macbeth: inicialmente o plano era somente matar um rei, mas depois deste ato, mais atos de maldade foram se desencadeando, até ele mandar matar uma criança! No fim da estória, vemos um casal tomado pela loucura causada pelos caminhos que decidiram trilhar;
"Atos que vão contra a Natureza geram problemas antinaturais. Mentes infectadas descarregam seus segredos em seus surdos travesseiros".
4. A paga pelo mal: Macbeth e sua esposa cultivaram o mal e no final o colheram. Podemos ter certeza de que aquilo que as pessoas plantam, isto elas semearão. Por uma vaidade tão desnecessária e fútil eles perderam o prestígio e o conforto de uma boa vida que poderiam ter tido, recebendo um final trágico de morte. Poderia ter sido tão diferente se Macbeth valorizasse e fortalecesse seus princípios e virtudes ao invés de se render à volubilidade!
Dentre os livros que li do autor, este, sem dúvidas, está entre os meus favoritos (isto, se, de fato, não for o favorito). Para quem quer começar a ler Shakespeare, Macbeth é uma boa pedida.
Qualquer contribuição a esta resenha é extremamente bem-vinda! Tenho dificuldades na leitura de Shakespeare, o que sempre me torna um grande perdedor de detalhes e das reflexões tratadas por este grande autor.