Macbeth

Macbeth William Shakespeare
Manuel Bandeira
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Resenhas - Macbeth


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Leonardo.H.Lopes 04/02/2023

A peça da ambição
Nesta peça do Bardo, temos a história de Macbeth, um general cheio de qualidades, forte, bom súdito, que a certa altura é dominado pela ambição.

Após voltar de uma batalha, Macbeth e um colega encontram Três Irmãs Estranhas, com aparência de bruxas, que fazem profecias. Elas profetizam que Macbeth será rei e que seu amigo Banquo será pai de reis. Essa situação faz com que nasça a semente da ambição no coração do general que, atiçado pela esposa, Lady Macbeth, assassina o rei Duncan e, após os filhos do rei fugirem e serem acusados de parricídio, Macbeth, que era primo do rei e próximo na linha de sucessão, ascende ao trono da Escócia.

A partir daí, Macbeth cometerá uma série de crimes e atrocidades para tentar manter sua coroa, como matar o amigo Banquo e sua família a fim de que sua linhagem não dê um golpe e pegue a coroa, afinal Banquo seria pai de reis. Assim como em Hamlet, o fantasma de Banquo entra em cena e assombra Macbeth, mas diferente daquelas pela, apenas o protagonista avista o espectro do amigo. Amedrontado, ele retorna à charneca para tentar reencontrar as Três Bruxas que fazem mais duas profecias: Macbeth só será derrotado caso a floresta à frente de Dunsinane, em frente ao castelo real, se mover e somente um homem que não nasceu de uma mulher poderá derrotar o rei.

Essas profecias pareceriam que nunca se concretizaram, afinal as árvores não podem andar e não existe ninguém que não tenha nascido de mulher, assim pensa Macbeth. Enquanto isso, Lady Macbeth, que participou ativamente no assassinado do rei Duncan, não consegue lidar psicologicamente com o sangue de suas mãos, esfregando-a sem parar no ar vendo as manchas imaginárias, caindo no abismo da loucura e enfrentando um fim trágico.

Em terras estrangeiras, os filhos do falecido rei começam a se organizar para fazer justiça e destituir Macbeth, que a essa altura se tornou um monarca tirânico. Com um pequeno exército, Malcolm, filho do rei, chega à floresta de Dunsinane e, para camuflar, ordena que cada soldado pegue galhos de árvores e marche em meio à vegetação em direção ao castelo de Macbeth: a floresta se move.

Dentro da fortificação, Macbeth fica sabendo do que aconteceu com sua esposa e pronuncia e se dar conta que a vida não passa de uma sobra que caminha, “uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria e vazia de significado”. O castelo é invadido e Macbeth é confrontado por Macduff, lorde que também teve a família morta por Macbeth. O rei diz ao lorde que nunca seria derrotado, afinal era enfeitiçado e nenhum homem nascido de mulher o derrotaria. No combate, Macduff revela que foi tirado do ventre da mãe através de cesariana. Portanto, ele não foi parido e, se considerarmos a época da obra, podemos chegar à conclusão que a mãe morreu e a criança foi retirada de seu cadáver. Macduff, o homem que não foi parido por mulher, mata Macbeth e a ordem é restabelecida.
Assim, uma das grandes tragédias de Shakespeare, Macbeth retrata a degradação do homem que se deixa dominar pela ambição cega, desmedida, desregrada, acreditando que apenas está apressando algo que iria acontecer de todo modo, uma vez que o fato de ele se tornar um rei era um profecia. O resultado é isso: o despencar na imoralidade, na irracionalidade, a perda do sentido da vida ao olhar as ações que se fez, ao constatar que o mundo é cheio de som e de fúria, não significando nada, consequência de seus próprios atos.

Macbeth quer ser grande e não falta-lhe ambição, mas carece-lhe, inicialmente, a maldade que deve acompanhar a ambição. Sua esposa, Lady Macbeth, funcionará como um catalisador da face maligna do marido. Em sua primeira aparição na peça, ela própria constata isso e diz: “Apressa-te em vir para cá, e que eu possa em teu ouvido derramar meu inebriante vigor, e que eu possa, com a ousadia de minha língua, açoitar tudo o que se interpõe entre tu e teu destino”. Não que Lady seja a responsável pelos crimes do esposo, mas com certeza as porteiras do cataclismo do esposo foram abertas por si.

Rápida, dinâmica, uma dos menores trechos trágicos do grande dramaturgo inglês, Macbeth é uma peça sem igual que retrata tipos humanos tomados pela ganância alógica.
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Danilo546 29/05/2021

Gosto de como Shakespeare sempre passa alguma lição importantíssima sobre o caráter humano em suas obras (pelo menos nas que eu já li até agora). Em Macbeth, ele ensina que a cobiça e a ganância podem tornar até o mais valoroso dos homens em alguém maléfico e cruel.
Da metade para o final eu comecei a achar confusa a troca rápida de cenas e personagens, mas no finalzinho eu me achei e consegui gostar bastante. Muito bom!
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Filipe 12/05/2022

Uma tragédia bem desenhada, repleta de personagens interessantes e em um ritmo ótimo.

Além das três feiticeiras, o destaque, para mim, é de Lady Macabeth e sua falta de autocensura que rouba o protagonismo nos trechos em que aparece.
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Mariana Destacio 27/11/2020

Um retrato da ambição
Mesmo o melhor dos homens, admirado, poderoso, reconhecido, pode ser corrompido, levado por um desejo motivado pela ganância. Esta é a história de Macbeth. Um general famoso, admirável, amado, que tinha tudo para alcançar a grandeza, mas que se deixou levar pelas palavras proféticas de seres de outro mundo.

"Macbeth.. Glamdris, Cawdor.. Rei."

As três irmãs disseram que Macbeth seria rei, mas nunca disseram como isso aconteceria. Logo, por que Macbeth escolheu esse caminho? Com certeza ele era ambicioso, mas era uma ambição que andava junto com a devoção e lealdade ao seu rei e reino. Mas a ambição se tornou ganância diante da profecia, e ele foi tomado por um medo de que se o que foi previsto não acontecesse imediatamente, então jamais aconteceria.

"Malcon... este é um degrau que devo galgar, do contrário, tropeço..."

Nos primeiros diálogos entre Macbeth e Lady Macbeth dá pra ver o homem que ele era lutando pra continuar vivo. Quando ele fala com "sua parceira de grandeza", eu acredito que ele queria alguém pra ajudar a refrear seus impulsos. Mas, Lady Macbeth não é nem de longe a pessoa certa pra isso.

No dia do ato, Macbeth sente medo. Até mesmo sua esposa confirma "tens a ambição mas não a coragem para o que é preciso ser feito". Ela sabe que sem ela, ele jamais teria prosseguido. Sobre sua influência, o resquício de bom senso se esvai e Macbeth comete a desgraça.

E aí? Aí que ele vai lembrar da outra parte da profecia. "Macbeth será rei. Banquo será pai de reis."

"Sobre minha cabeça depositaram elas uma coroa infrutífera; em minha mão um cetro estéril..."

Quando Macbeth percebe que se desonrou e traiu o benevolente Duncan por nada, já que nunca teria herdeiros pra honrar seu nome e seguir sua linhagem, ele começa a tentar "consertar" a profecia. Segue a perseguição almejando a morte de Banquo e seu filho. O nome "tirano" começa a despontar aqui e ali entre os outros personagens. A cena do jantar foi para mim um ápice do tormento. E logo vemos que até mesmo Lady Macbeth está sendo atormentada apesar de sempre fingir firmeza e ridicularizar os acessos do marido.

Um livro curto, mas com muito conteúdo. Diferente de Hamlet, que é uma história baseada em torno de vingança, esse é a transformação de um personagem humano que caiu em tentação. Algo que você pensa "e se fosse eu ali?" Ambas as histórias tem sua parcela de loucura, e é muito interessante ver os outros personagens reagirem à esses "acessos de loucura".

Despois de ler, me aventurei no filme Macbeth (2015). Os diálogos são quase que 100% baseado no livro. A mesma linguagem. É como ler o livro, só que com imagens. Se você leu e gostou, vale a pena conferir. Mas não espere grandes emoções; é um filme visualmente bonito, com boa atuação, mas bem parado.
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gaspar 20/06/2023

Macbeth, inicialmente escrita entre 1603-1606, nos apresenta diversos cenários extremamente atuais no cenário hodierno que vivemos. Esta obra enfoca a cobiça, inveja, ganância, e, sobretudo, ambição. Se voltarmos à década em que foi escrita, é inegável como Shakespeare era atemporal.
De início, por meio de uma escrita poética, conhecemos Macbeth e seu jeito de se comportar diante aos nobres do reino, sem esconder, portanto, a peculiar violência e o tom vingativo e ambicioso de ser. A ambição e o poder de Macbeth é notório ao decorrer da história, o seu jeito "cego" pela ganância, e o descaminho total da sua humanidade. Aliás, isto que é interessante em Shakespeare, ele faz a gente vidrar na história, fazendo com que a leitura se torne sufocante em relação aos assassinatos ao decorrer do livro. Assim como citado por Jan Kott: "... a história é reduzida à sua forma mais simples, a uma única imagem, a uma única divisão: entre os que matam e os que são mortos."
Citando, portanto, uma personagem extremamente importante para tais atos - Lady Macbeth. Podendo ser considerada uma das maiores vilãs do mundo da literatura, é admirável a maneira como esta personagem trata os atos violentos de uma maneira tão natural, ao ponto de persuadir o marido a combater o ato desde o do início. É interessante o relacionamento entre Lady Macbeth e Macbeth, é um grande alicerce durante toda a trajetória do personagem. Folie à deux: sem um, o outro certamente não faria. Almas gêmeas no assassinato e tragédia de Shakespeare.
Em Macbeth conheceremos também as 3 bruxinhas, que, apesar de não possuírem "poder", elas plantam a semente na cabeça do personagem desde o início. Sugerem a Macbeth os desafios que devem ser alcançados, independente dos atos libidinosos e violentos que ele possa cometer no decorrer. Macbeth está mergulhado na ambição pelo poder, ou melhor, quem não estaria quando as profecias sobre seu futuro e o poder do reinado estão tão perto?
Macbeth é uma tragédia de tirar o fôlego, dificilmente seria capaz de descrever de uma maneira tão crua os atos violentos realizados pelo personagem. Assim como citado anteriormente, Shakespeare consegue entreter e abordar questões e dilemas humanos como nenhum outro. Ela aborda temas extremamente recorrentes na sociedade atual. Shakespeare abordou como ninguém a ganância e a ambição do ser humano.
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Dinho.Evangelista 19/10/2022

Macbeth
Nesse livro Shakespeare conta a história de um general (Macbeth) que, influenciado por 3 bruxas, assassina o seu rei, toma o seu trono e a partir desse momento da início a uma série de atos maldosos para se manter no poder.

O legal dessa história é que ela nos leva a refletir sobre como o homem pode ser mau quando é dominado pela cobiça e sede de poder. Macbeth fez coisas terríveis para continuar no trono, porém de nada serviu tudo isso.

Viveu sua vida assombrado pelo fantasma do medo, sofreu com o peso da maldade dos seus atos e no fim suas mãos manchadas pelo sangue receberam a sua inevitável recompensa, a morte!

Esse foi o primeiro livro do Shakespeare que eu li, e fiquei maravilhado com o vocabulário e com o domínio poético que ele tinha das palavras!!!

Já quero ler os outros livros dele.
nara.monize 19/10/2022minha estante
Que orgulho ??????????


Dinho.Evangelista 19/10/2022minha estante
??




Maria.Capobianco 19/04/2022

A relação entre a ganância e a ruína.
Durante muito tempo ignorei as obras de Shakespeare, peças teatrais nunca despertaram meu interesse. Porém esse ano resolvi experimentar e para minha surpresa eu, genuinamente, ADOREI!!
Aqui nessa peça, acompanhamos a história do general Macbeth, que levado pela ambição e pelo desejo de poder, comete atos hediondos e acaba caindo em desgraça, juntamente com sua esposa, Lady Macbeth.
É uma narrativa violenta, obscura e cheia de momentos sangrentos, que traz inúmeros ensinamentos sobre o poder destrutivo da ambição.
Ademais, é uma tragédia extremamente bem escrita, com excelentes citações e momentos bem poéticos.
Pedro 19/04/2022minha estante
Excelente resenha, Maria. No ano passado eu li Hamlet, mas me decepcionei um pouco. Tenho Macbeth, embora não tenha lido ainda. Acho que terei que reverter isso. ?


Dhewyd 19/04/2022minha estante
Eu nunca li nenhuma peça teatral ?.


Maria.Capobianco 29/04/2022minha estante
Muito obrigada Pedro. Olha vi várias pessoas recomendando começar ler Shakespeare por Macbeth, e acho que é uma boa viu. Vale a pena dar uma chance!!


Maria.Capobianco 29/04/2022minha estante
Dhewyd eu também nunca tinha lido, essa foi a primeira, e foi uma excelente porta de entrada.


Pedro 30/04/2022minha estante
Obrigado pela recomendação, Maria.




carlos 31/01/2020

A razão se sufoca em fantasia, e nada existe, exceto o inexistente.
Entre as quatro grandes tragédias, pra mim Macbeth só perde pra Otelo. O enredo é simples mas muito forte. O texto tem uma atmosfera bem pesada já desde o primeiro ato.

Essa peça é bastante direcionada pela ambição do personagem principal. A vontade de ser rei, custe o que custar, somada à pressão de sua esposa e às profecias das bruxas faz com que Macbeth cometa assassinatos em série e seja aterrorizado por eles. Com isso, vem a culpa. A loucura decorrente chega a tal patamar que ele nem mesmo percebe que uma é na verdade um exército pronto para destruir seu reinado.

Lady Macbeth ainda é uma das minhas personagens favoritas, e uma das mais fortes na obra de Shakespeare. Acho que até se o próprio Hamlet tivesse alguém como ela pra mandar um , ele não teria procrastinado tanto (ou feito tantos solilóquios).
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Coruja 12/09/2013

Das tragédias shakespearianas, essa talvez seja uma das mais complicadas, mais assombrosas, mais majestosas de todas. Macbeth é uma história de crime, de culpa, de loucura; uma peça maldita, de personagens emblemáticos, de corrupção, poder, bruxas e homens.

É uma obra-prima do bardo e da literatura como um todo. E é também um desafio para resenhar aqui, porque, francamente, o que posso falar sobre Macbeth que outros já não falaram?

Resumo básico da ópera: Macbeth, o protagonista da peça, escuta uma profecia que afirma que ele será rei. Ora, o atual rei está vivo e de boa saúde, o que significa que a profecia talvez demore um pouco para acontecer, de forma que ele decide tomar o destino nas próprias mãos e fazer-se rei, assassinando o atual soberano e todos os possíveis herdeiros do trono que venham a aparecer em seu caminho.

Até aí, tudo bem... ou não, porque de cara você já tem de se digladiar com a seguinte questão: se Macbeth não tivesse ouvido a profecia das três bruxas, teria ele assassinado o rei? Teria ele mesmo se tornado soberano? Seu comportamento seria alterado se não houvesse tal expectativa? O filho de Banquo ainda seria sucessor de Macbeth?

Não temos muito sobre o homem antes da profecia, mas para todos os efeitos, Macbeth não era particularmente maligno ou ambicioso até ouvi-la. Pelo contrário, a se considerar o respeito que o legítimo rei, Duncan, tem pelo homem e a forma como Macbeth se digladia com a idéia do crime que vai cometer/cometeu, ele tem um senso de honra, ele é um bom homem.

É um debate interessante esse, pensar se de toda maneira ele estava destinado a ser rei ou se apenas após ouvir a profecia que dizia que ele seria rei é que esse se tornou seu destino. Não há como responder com certeza a essa questão e esse é um dos inúmeros motivos pelos quais Macbeth é considerada uma das maiores tragédias do bardo.

Claro, você pode dizer que tudo foi culpa de Lady Macbeth, e para mim, sim, ela é a grande ‘vilã’ da história, se é que podemos falar em termos de mocinhos e vilões. Lady Macbeth é uma das mais poderosas personagens femininas de Shakespeare, trágica e desesperada. Alguns dizem que sua incapacidade de engravidar seria a raiz de sua ambição, mas não tenho certeza se essa seria a mensagem que o bardo iria querer passar – mesmo que a essa altura Elizabeth I já tivesse morrido e o rei James estivesse em seu lugar. Não a se considerar todas as outras personagens femininas que eles escreveu.

O monólogo em que ela se prepara para convencer o marido do que deve ser feito é uma das pérolas da coroa de solilóquios shakesperianos. Ela se despe de todos os atributos maternais, chama por espíritos assassinos, clama pelo cessar de qualquer sentido de compaixão. Ela toma uma decisão que sabe que não pode voltar atrás e o faz com uma empáfia e uma arrogância absolutas.

E depois se esvazia como se todo o seu espírito tivesse sido consumido por aquele grande momento, passando o resto da peça como um fantasma, presa dentro da própria cabeça, imersa em seus próprios pecados. É quase como se ela e o marido tivessem trocado de personalidade, como se ela tivesse injetado toda a sua força sobre ele e nada mais restado em si.

Eu não concordo com as adaptações da peça em que a mostram como uma harpia, um ser monstruoso e masculino em seus desígnios. Prefiro vê-la de forma mais sutil, prefiro pensar que tudo o que Lady Macbeth faz é pelo marido e não por si. Essa é parte de sua desgraça, porque depois de tudo, Macbeth não se preocupa sequer com sua morte: ela dá tudo de si e termina como um invólucro vazio.

A insanidade é o preço que ambos pagam em troca de terem abandonado qualquer tipo de moral em nome do poder. Ao meu ver, as bruxas plantam a idéia em suas mentes, mas é só através de seus crimes que aquele destino profetizado pode se cumprir. Que eles tenham forças para levar até o fim tais intentos são outros quinhentos.

Destino, livre arbítrio, ambição e poder são todos temas centrais da peça, que vão fundo na psique humana, naquilo que é de mais sombrio em sua natureza. Shakespeare está aqui em sua melhor forma.


site: http://www.owlsroof.blogspot.com.br/2013/09/para-ler-macbeth.html
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Roberto Soares 16/02/2022

Não sei vocês, mas eu não consigo imaginar a luz do Sol em "Macbeth". Realmente aqui a noite aniquila o dia desde a primeira cena da peça. É como se os relâmpagos, os trovões e a chuvarada que abrem caminho para as bruxas fossem um constante plano de fundo para toda a história, cessando às vezes apenas para revelar um cenário nublado, nevoento e solitário.

O general escocês Macbeth, retornando triunfante de uma batalha (cujos relatos já de início nos oferecem um vislumbre de seu caráter sanguinário), se depara em uma charneca com a figura sinistra de três bruxas que lhe saúdam com profecias: primeiro, que ele será elevado ao título de barão de Cawdor, e por fim, que ele será o rei da Escócia.

Esse homem claramente já de natureza ambiciosa e influenciável recebe estes agouros como a permissão imperiosa do Destino para finalmente soltar as rédeas da sua ambição. Mas se ao fazer isso ele deixa livre sua imaginação para os devaneios de traição e glória, talvez sem saber ele estará renunciando ao controle dela, como os cavalos de Duncan que quando amarrados eram adestrados, mas ao se verem livres se tornam selvagens e devoram uns aos outros.

Quando a traição de outro concede a Macbeth o previsto título de Cawdor, pela própria traição ele irá perseguir o título de rei, mesmo que o trono escocês já esteja ocupado pelo justo Rei Duncan, seu soberano e parente. Saí recentemente da leitura de uma biografia da rainha Maria da Escócia, na qual Stefan Zweig nos deixa a par de quais eram os "costumes" da Escócia quando o assunto era usurpação e traição.

O assassinato de um rei ungido que é também seu hóspede e parente, ato três vezes contra a Natureza, será o atalho de Macbeth para o trono, e uma vez que o sangue é derramado, ele encharcará o palco até o último ato.

Mas nas palavras de Harold Bloom essa é uma tragédia da imaginação, e é aí que o cenário exterior nebuloso e pouco atrativo revelará ser ainda mais significativo, pois isso fará com que nossa atenção se volte inteiramente para o que realmente importa aqui: o interior de Macbeth. Ele não profetiza menos que as três bruxas, e seus pensamentos carregados cada vez mais de ambição, ao mesmo tempo que tomados pelo terror e pela hesitação quanto às consequências de seus crimes, vão revelando seu tormento carregado não só de remorso, mas principalmente pelo medo do fracasso.

Mas se ele ameaça declinar diante do conflito entre o desejar e o agir, entra em cena aquela que é a própria personificação do Desejo: Lady Macbeth. Maior vilã concebida por William Shakespeare, é essa mulher quem primeiro conduzirá o marido rumo ao que a ambição descomedida e o sobrenatural tornaram seu por direto. Mas às vezes, por trás da máscara tentadora do Desejo realizado (ou melhor, da ILUSÃO do Desejo realizado) se esconde a face traiçoeira do Remorso, e a desgraça da rainha não será menos assustadora que o do rei.

A mais curta das tragédias de William Shakespeare, inspirada na real história do rei escocês Mac Bethad (1005-1057) relatada nas Crônicas de Holinshed, é também a minha favorita. O rei sanguinário sai de seu tempo e se coloca como o reflexo de um espelho provocador diante de nós, pois é impossível não fazer o seguinte questionamento:
se seus desejos mais íntimos fossem alcançados, se suas ambições fossem realizadas e você agisse só em prol delas, se sua falta mais dolorosa fosse preenchida, enfim, se você soltasse as rédeas de seu Desejo, suas mãos estariam limpas no final?
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André Vedder 26/04/2020

Muito bom!
Primeira leitura de Shakespeare. Muito por eu sempre ter tido uma certa relutância em ler peças teatrais. Mas ao dar essa chance tive uma agradável surpresa pois, ao menos no caso específico de Macbeth, a leitura é prazerosa, cheia de lirismo e ótimas reflexões.
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Bianca2282 19/03/2023

Profundo e filosófico
Gostei bastante dessa que é uma das peças de teatro mais famosas de Shakespeare. O que mais chama a atenção não é a história em si, mas a assertividade e a profundidade das reflexões existenciais.
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Ricardo.Mello 13/05/2020

É um Shakespeare!
Quem vai falar nada de um Shakespeare? E do que adiantaria eu dizer que a história é sensacional? Quem, hoje, pode não deduzir que uma obra de Shakespeare é sensacional?

Por ser teatro, não temos pistas de características físicas dos personagens, o que, por vezes nos frustra um pouco, não vou mentir.
A edição não é das melhores, mas não é ruim.
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Luíza | ig: @odisseiadelivros 05/07/2020

Leitura de quarentena #10
A considerar que o isolamento deve durar até o final do ano, estou indo bem nas leituras. Devo dizer que esse foi meu primeiro Shakespeare, na íntegra, sem adaptações. Gostei de conhecê-lo. Já conhecia a história de Macbeth, na época, por meio de uma adaptação para história em quadrinhos.
Gosto muito da história, que mostra como a ambição pode guiar (e cegar) o homem. É a Lady Macbeth quem é, na minha opinião, dona da história. Pois, ao saber dos dizeres das três bruxas, impulsiona o marido a cometer os assassinatos. Essa ambição os torna cegos, mas a culpa vem tarde demais, sepultando-os em seus destinos. As bruxas já previram o final trágico, mas o homem, achando-se dono de seu próprio destino, acredita veementemente em seu próprio poder de mudá-lo. Em Macbeth, o destino já é forjado pelos deuses e ele se cumpre impetuosamente.
Eu estava esperando um pouco mais, é verdade (ainda estou incerta do quê), mas foi um bom ponto de partida para conhecer esse autor.

site: https://www.instagram.com/odisseiadelivros/
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Sammy 23/02/2021

O que convém para um rei tirano?
Apesar de Macbeth ser uma peça e as cenas e consequências se desencadearam de uma maneira um pouco imprudente, faltou o Macbeth ler O Príncipe.

"Essas atitudes podem levar à conquista de um império, mas não à glória."
E acrescente a do governante, que no cargo de tirano abdicou de sua glória.


Parte com spoiler:
Não entendi, pensei que o Fleance se tornaria rei, assim como as três feiticeiras adiantaram. Aparentemente isso foi mais um dos medos iracionais e premeditorios do Macbeth. Talvez fosse para as próximas gerações?

Apesar de Macbeth ter tornado-se um tirano e colérico governante, sempre senti uma pontada de valor nele. A avareza dele foi grande, mas ele me parecia valoroso até certo ponto.
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