A Ralé Brasileira

A Ralé Brasileira Jessé Souza




Resenhas - A Ralé Brasileira


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Jamile 01/12/2014

" Afinal, depois de tanta crítica, qual é a solução?"
Antes de iniciar a leitura desse livro é importante ter lido "A cabeça do brasileiro" e " Carnavais , malandros e heróis". O livro parece ter sido escrito devido a uma discordância profunda do autor com os livros citados anteriormente e em todo a sua extensão busca criticar veementemente a visão dos outros autores. Trata-se de uma reunião de trabalhos produzidos por colaboradores , sendo que a maior parte é escrita pelo próprio Jessé Souza.
O tema central discorrido é a busca por caracterizar as pessoas que pertencem a essa classe, que ele chama de forma provocativa de "ralé", em diversas esferas( econômica, social, política). E como a saúde, a educação, o emprego, a política funciona para esses indivíduos. Para isto, baseia-se em entrevistas realizadas com pessoas dessa classe e traz uma perspectiva crítica daquilo que coleta, buscando, supostamente, mostrar um ponto de vista diferente daquele que o indivíduo é capaz de perceber.
O primeiro capítulo do livro é o que traz as informações mais relevantes e interessantes. É impossível discordar do fato de que, não é somente o poder econômico que será capaz de definir o pertencimento a uma determinada classe. Mas sim, um conjunto de características que são transmitidas pela estrutura familiar.
O autor desmitifica a existência de uma possível "elite má" e um "mercado bom". O que sustenta a estrutura sócio-econômica e política na qual o Brasil se encontra hoje, é fruto de um processo de construção ao longo do tempo.
Ao tratar do tema saúde, o autor traz um retrato claro do que é a saúde pública no país e o quanto essa questão vem sendo negligenciada.
No que tange ao assunto, educação trata da escola, e mostra o quanto não tem auxiliado em nada aos poucos indivíduos que pertencem a essa classe e que poderiam ascender de alguma forma, já que todos os demais já nascem condenados ao fracasso.

O que provoca um certo desconforto durante toda a leitura, é a intenção do autor de abusar da condição das pessoas da ralé ,para que, por meio da comoção do leitor , possa introduzir a ideia que deseja. Inclusive de que as outras obras por ele criticadas, não teriam nenhum valor, sendo fruto apenas de achismos e teorias reproduzidas. E como diz o título da resenha, o autor diz que se por algum motivo você ,leitor, deseja ouvir dele algum tipo de possível solução, você nada mais é que um lunático conservador incapaz de compreender a profundidade de sua explanação. Acredita ele que somente o fato de se conhecer essas "verdades" o mundo já está sendo mudado. Agora eu te pergunto, como poderá o mundo ser mudado com letras e sem ações? Ou se quer planejamento para ações? Se ao final do livro ele demonstrasse alguma intenção de produzir outros trabalhos ou até mesmo sugerisse que outros o fizessem na intenção de busca de soluções efetivas, diferentemente do que ele acredita, isso não é acreditar em mágica. Somente com ações o país poderá superar essa lamentável situação na qual se encontram as pessoas dessa classe.
Por isso, por ter que buscar ler com profunda atenção e crítica, a leitura pode se tornar enfadonha. É preciso duvidar e criticar todo o tempo para que as ideias sugeridas por ele e seus colaboradores não se torne verdade absoluta a quem possa vir a ler. Muito mais ainda por apresentar determinados autores que acreditam no marxismo para solução de todas as mazelas do mundo.
daniel.dias.520 01/12/2014minha estante
O típico autor leviano. Criticar tudo o que encontra pela frente, sem levantar estudos sobre a origem e soluções práticas do problema. São tantas reclamações sem fundamento conclusivo que até por uma questão de preguiça mental o brasileiro deveria ater-se, primeiramente, ao solucionamento de seus problemas básicos.


Andrea.Vasconcelos 17/05/2017minha estante
Gostei do seu comentário. Estou no segundo período de psicologia e tenho que ler esse livro para fazer um trabalho. Mas seu comentário já me ajudou a estar atenta quanto as idéias do autor.




Tatiane 14/06/2020

Leiam este livro!!!!!!!!!!!!!!!!
"Muitos brasileiros gostam de saídas 'mágicas', decretos que mudam o mundo com uma penada, uma política pública salvadora e genial, ou seja, tudo que tenha que ver com mudanças 'lá fora', que nunca acontecem nele mesmo, no seu coração e na sua mente, e nem, consequentemente, na forma como cada um de nós percebe o mundo. É esse brasileiro que se perguntaria ao terminar a leitura deste livro: afinal, depois de tanta crítica, qual é a solução? Quando alguém faz uma interpelação desse tipo, na verdade, o que se demanda é algo do tipo: qual é a sua 'magia' para mudar o mundo com um 'estalo de dedos'."

Este é o primeiro livro que leio do sociólogo Jessé Souza. Para falar a verdade ainda estou bastante impactada com as 500 páginas de uma análise tão contundente da sociedade brasileira. Acho que fui premiada ao iniciar por ele porque me parece que foi nesta pesquisa que o sociólogo criou e sedimentou o conceito de "ralé", como a classe dos subumanos, mais de 1/3 da nossa população.

Tenho que dizer que, embora de leitura fluida e acessível para todos os leitores de boa vontade, o texto é extremamente forte e por vezes indigesto. Ele desnuda verdades - que, com toda sinceridade, os "homens de bem" (por isso a necessidade de ser um leitor com boa vontade) não querem tomar conhecimento - e expõe realidades que destroem princípios básicos de nossa formação tão centrada em privilégios meritocráticos que nos são invisíveis.
Há muito sinto e penso algumas coisas que Jessé Souza pesquisou, interpretou, organizou, documentou e relatou. Este livro me mostra que o meu sentimento de desconcerto no mundo não é em vão nem é loucura. Queria muito (olha aí o meu desejo mágico) que toda a sociedade formadora de opinião tivesse boa vontade e coragem de ler e refletir sobre as questões discutidas e visse nos tipos exemplificados a nossa miséria social e cultural.

"É esse tipo de consenso em benefício das classes dominantes e aceito como legítimo pelas classes inferiores que possibilita que, não na lei, mas na vida nossa de cada dia, algumas pessoas e classes estejam acima da lei e outras pessoas e classes sociais inteiras, abaixo dela. Existe como que uma rede invisível de 'acordos nunca explicitados' que une desde o policial que faz o 'trabalho sujo' que as classes média e alta exigem dele, passando pela imprensa que transforma em espetáculo comercial uma violência não compreendida e manipulada, até o debate acadêmico e político que mais esconde e descontextualiza do que mostra e critica. São esses 'acordos de classe', que parecem 'orquestrados' tamanha a coincidência de interesses, que podem funcionar tão bem precisamente porque, na dimensão consciente dos debates explícitos, esses acordos e sua extraordinária eficácia podem ser substituídos por 'intencionalidades de novela', como da 'elite má', abstratamente definida e que, portanto, não incomoda ninguém. Esse é o segredo da violência simbólica de uma dominação social singular na sua perversidade e no seu número, a qual, no entanto, pode ser vivida com 'boa consciência' pelas classes média e alta, posto que os culpados são sempre os 'outros'."

Fiquemos, para fechar e gerar curiosidade e vontade de ler "A ralé brasileira: quem é e como vive", com a tese que Jessé Souza explicita em seu livro.

"Minha tese é que existe um 'consenso inarticulado' que perpassa toda a sociedade brasileira que diz que é normal e natural que a nossa sociedade seja dividida em gente e subgente, e é esse consenso que permite a reprodução da maior desigualdade social do planeta dentre as sociedades complexas. Ele é obviamente um consenso 'não admitido',  que nenhum brasileiro de classe média jamais confessaria partilhar, e é isso que permite sua eficácia como consenso real, que produz cotidianamente a vida social e política brasileira como ela é, sem que ninguém se sinta 'responsabilizado' por isso. Ao contrário, a 'culpa' e a 'responsabilidade' são sempre do 'Estado patrimonial' ou de uma elite abstrata, que se aplica a todos e a ninguém, sendo, portanto, uma referência inofensiva e pseudorradical que não incomoda ninguém. Esses consensos jamais são discutidos na imprensa ou na mídia cujo lucro vem da venda do 'espetáculo' do 'teatro' de acontecimentos e eventos soltos sem relação entre si e que jamais são compreendidos em seu contexto."

Obs.: Os trechos transcritos aqui estão no capítulo de conclusão do livro A ralé brasileira. Infelizmente o livro físico está esgotadíssimo. Comprei a versão digital, devorei-o com uma sede insaciável, mas não tenho como indicar as páginas. Quero muito o livro físico. Se alguém quiser me dar ou me vender o seu livro físico, pode entrar em contato comigo, que vou ser a leitora mais feliz do mundo.

Vou partir agora para a leitura de "A elite do atraso".
Monique 17/07/2020minha estante
Só o trecho transcrito me deixou com muita vontade de ler esse livro.
Tenho algumas percepções dentro da minha bolha e gostaria de comparar com o que já penso. Uma das minhas percepções é que o brasileiro acha que o problema do Brasil sempre está no outro, nos políticos e assim por diante. E isso nos deixa acomodado e sem mudança.


Tatiane 17/07/2020minha estante
Sua percepção está bem na linha de Jessé Souza. A eleição de um "Salvador da Pátria" e o escracho de um partido como os grandes vilões da corrupção e da derrocada do país são forma mágica de


Monique 17/07/2020minha estante
Vou tentar ler ainda esse ano, parece bem interessante. Nem me fala nessa última eleição, tá difícil até hoje entender tal escolha??


Tatiane 17/07/2020minha estante
Tb sofro demais com tudo isso. O livro A classe média no espelho explica um pouco a mudança de pensamento para eleger esse cara.




thainexplicavel 26/06/2021

Comecei a ler para um trabalho da escola e me apaixonei pelos contos do livro. São muito bons para refletir a respeito do país e da nossa relação com o nosso próprio povo.
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Eabdss 30/01/2017

Contribuição valiosa e legítima. Leitura muito agradável.
Na atual conjuntura, em que presenciamos uma onda que confunde termos como liberalismo e conservadorismo, o livro traz um contraponto aplicado à realidade brasileira. De forma original e provocativa, o autor explora a realidade de empregadas domésticas, prostitutas, fiéis da igreja universal, autônomos e fenômenos desustruturantes da psicologia e estabilidade social, como abusos sexuais, machismo, miséria,etc... O que forma culturalmente a classe média em contraposição à ralé? O que a sociedade de fato pensa? Seria a culpa de tudo de uma elite conspiradora ou apenas dos políticos? Por que a desigualdade brasileira se eterniza? Somos de fato livres? Enfim, leitura imperdível. E faz referência a autores renomados das ciências sociais do Brasil e do mundo.
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Lukita 16/03/2022

Esse livro é o carro chefe das obras do Jessé. Todos os outros livros dele são pesquisas paralelas e transversais á esse tema, então merece uma leitura atenta. Achei a proposta do livro bem ambiciosa, e de maneira geral acho que foi bem sucedida e cumpriu com os objetivos, só não dei 5 estrelas pq achei o último capítulo fraco e incompleto conceitualmente, fala da sociologia do racismo sem citar Lélia González ou Carolina de Jesus..
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maria1691 05/08/2023

Espetacular.
Li esse livro pra faculdade. De início era obrigatório apenas a leitura de 2 capítulos. Mas, conforme fui lendo, me interessei mais e mais pelos capítulos seguintes. É um livro muuito interessante e merece a leitura. São tópicos extremamente importantes e que necessitam mesmo de debate
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Bruno Oliveira 05/10/2018

Obrigatório!
Livro essencial para qualquer leitor, seja de esquerda, centro, direita e/ou adjacentes. Com ele, tua visão da sociedade brasileira de hoje (e sempre?) será ampliada e teu foco ficará mais crítico. As pesquisas empíricas nele contidas são de ótimo estudo acadêmico, não contemplam quantidade e sim qualidade. Leitura de fôlego! Não recomendado para quem se enfada em cinco minutos. Certeza absoluta de quem lê-lo até o fim, não será o mesmo e, tampouco, quererá sê-lo.
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Carlos E. Albuquerque 28/01/2023

Despindo nossas contradições
Ler "A Ralé Brasileira" é um verdadeiro desafio, a linguagem objetiva e de certa forma até mesmo simples esconde a complexidade do conteúdo a que somos expostos, nessa obra Jessé Souza e os demais intelectuais que assinam os diversos textos que a integram nos trazem um verdadeiro raio-x de uma realidade brasileira que, do alto de nossos privilégios, nos foge aos olhos no cotidiano. Aqui conhecemos as histórias de diversas pessoas vindas das classes menos favorecidas que nosso país esconde, e através dessas vidas somos provocados a refletir como compactuamos e fomentamos uma estrutura de sociedade que perpetua violências físicas, morais e econômicas com, a numerosa, "ralé". Este é um estudo que sobretudo força seu leitor a conceber uma nova visão acerca de como se porta no teatro social, entender as diversas injustiças e agressões de toda ordem aqui descritas revolta até o mais conservador dos consumidores, a obra traz um verdadeiro ponto de ruptura com aquilo que entendemos ser da "natureza humana", Jessé e os demais nos mostram que absolutamente todos os aspectos que permeiam nossa vida são fruto de um construção essencialmente humana e ideológica adequada (nos limites deste termo) com a realidade que estamos inseridos, desde de preconceitos até desejos todos encontram ao fundo um respaldo racional. Um dos aspectos mais relevantes talvez seja a exposição de como a construção perversa da nossa organização social promove o desprezo entre os componentes de uma mesma classe, as concepções hegemônicas acabam por criar a falsa sensação de superioridade em entes que se encontram indiscutivelmente na mesma situação de vulnerabilidade, descontruir a solidariedade entre os mais vulneráveis é certamente o motor da perpetuação da dominância que lhes é imposta. Por fim deixo uma citação que resume com maestria o fechamento da obra, só haverá uma conclusão para o que foi lido se o leitor estiver de fato aberto para se desprender de seus preconceitos.

"O dia de hoje não é dos que simplesmente vivem. É dos vivos que fazem a vida um pouquinho diferente do legado que os mortos - e dos vivos que se comportam em vida como mortos - nos deixaram."

Jessé Souza
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Marcelo Costa 24/07/2023

Uma verdadeira aula de sociologia brasileira
Uma verdadeira aula de sociologia brasileira! Jessé, juntamente com o empenho científico de estudiosos acadêmicos de um grupo de pesquisa, dialoga com os leitores sobre as pessoas que são desprovidas de capital financeiro e capital cultural, enfrentando flagelos em seus desenvolvimentos pessoais e no reconhecimento de seus direitos. Entre essas pessoas estão: mulheres em condição de empregadas domésticas, prostitutas, guardadores de carros e aqueles que buscam exclusivamente na fé o conforto emocional. Não podemos esquecer de destacar a forte influência do racismo, que se encontra disseminado no imaginário de muitas pessoas nessas condições e que estão espalhadas por vários cantos do país.

Apesar do livro destacar informações do ano 2006, certamente os fenômenos relatados são atemporais em suas existências e complexidades na sociedade.
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