Raquel622 11/01/2024Princesa preguiçosa, rainha mimada, senhora das doresNo começo dos anos 1930, Stefan Zweig se lança no projeto de escrever uma biografia de Maria Antonieta, sua conterrânea mandada à França para casar com o delfim. De certa maneira, Zweig evitava temáticas de sua própria época porque antevia o desastre a dobrar a esquina da História.
Rainha antes dos vinte, Maria Antonieta tomou posse de sua vida apenas para desperdiçá-la numa luta diária contra o tédio e as obrigações da corte.
Já era detestada por parte da corte quando os opositores do regime a elegeram Madame Deficit, acusando-a de ser uma devassa perdulária que punha fora a riqueza do país.
Quando a Revolução assalta seu paraíso e ela é feita prisioneira com o marido desanimado e os filhos, Maria Antonieta ganha uma dignidade e uma seriedade inéditas, mas, claro, já era tarde.
Zweig não se fixa muito em datas e evitou fontes potencialmente ruins e duvidosas. Ao fim, tem-se uma biografia que alguns contemporâneos acusaram de ser "psicanalítica" porque Zweig o tempo todo analisa o comportamento da mulher jovem que não soube estar a altura de seu ofício até que fosse muito tarde. E o faz buscando esclarecer a psique de uma mulher inacreditavelmente mediana que por fatalidade se viu diante de um evento histórico cataclismico.
Por quatro anos, Maria Antonieta só fez caminhar rumo ao cadafalso e durante todo esse tempo manteve-se altiva e senhora de si. Como nunca o fora nos vinte anos anteriores.
Zweig é tão devoto a essa análise de Maria Antonieta que a biografia foi considerada rigorosa demais por Sofia Coppola ao roteirizar a cinebiografia estrelada por Kirsten Dunst.