Cristine 19/10/2009
QB VII
O romance de Leon Uris (1924 – 2003) conta o julgamento de libelo entre o médico polonês Adam Kelno e o escritor (e judeu) Abraham Cady. Cady é o autor do romance “O Holocausto”, e em certa passagem do livro acusa Kelno de ter realizado muitas experiências de castração de judeus no (fictício) campo de concentração de Jadwiga, durante a 2ª Guerra Mundial. Kelno, então, move uma ação judicial exigindo o pedido de desculpas público e uma indenização por parte de Cady. O julgamento acontece na Corte nº 7 dos Tribunais da Rainha (Queen´s Bench Court VII), em Londres.
Em seu depoimento, Kelno nega ter feito as cirurgias para remoção de ovários e testículos sadios, mas admite ter feito algumas dezenas dessas cirurgias para remover órgãos danificados pelas experiências de Voss, que expunha alguns judeus de Jadwiga a doses maciças de raios-X.
Entretanto, quando começam os depoimentos das testemunhas da defesa, conhecemos histórias terríveis de crueldade e castração de pessoas sadias, mortes por hemorragia decorrentes de operações mal feitas, experiências com choques elétricos entre presos judeus para testar os limites da resistência humana antes da loucura, histórias de sacrifícios para salvar outras pessoas, descrições do inferno na terra que era Jadwiga.
Durante uma guerra os valores são invertidos; soldados são recompensados por matar o “inimigo”, enquanto os mesmos atos seriam condenáveis em uma situação normal. Pessoas pacíficas revelam seu egoísmo e crueldade quando em situações extremas; outras podem revelar abnegação e heroísmo dos quais nem suspeitavam.
Da mesma forma, indivíduos com tendências sádicas e sérias perversões morais, se estiverem em um contexto de guerra e em posição de comando, podem ser os responsáveis por verdadeiros genocídios como os que ocorreram nos campos de concentração. A morte tornou-se banalizada; as vidas humanas não valem nada. Sob a desculpa de experimentos científicos, verdadeiras atrocidades são cometidas. É o inferno na terra.
Na minha opinião, este é um livro excelente; mesmo tendo lido e visto muitas obras sobre o Holocausto, ao reler o livro depois de algumas décadas, o choque de ler as descrições das atrocidades e de imaginá-las reais ainda é o mesmo.
Em uma guerra todos são perdedores; embora imaginemos que podemos resistir à pressão e à crueldade como as que ocorreram nos campos de concentração, é impossível saber ao certo quem poderia resistir e quem sucumbiria ao lado negro que todos nós trazemos no íntimo. Rezemos para que nunca tenhamos que descobrir isso na prática.
Leia o artigo completo sobre o livro e a minissérie no blog:
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