jota 18/11/2013E agora, João? Ou Michel? Conhecia Michel Laub e este livro apenas de ouvir falar: nunca havia lido nada do autor antes. Mas agora posso dizer que Laub escreve claramente e a maneira como apresenta seu relato (em forma de tópicos numerados, a maior parte do tempo) também é interessante. Diário da Queda é um livro curto, que se lê rapidamente.
Não é um diário no sentido estrito da palavra (mas é no sentido amplo) e tampouco a queda (a principal, essa do título) tem qualquer coisa de metafórica, como eu esperava que fosse; é uma queda real, física. Não é uma queda do narrador, no entanto, mas de João, um gói (não judeu) que se torna seu amigo por uns tempos, envolvido num episódio lastimável da pré-adolescência de ambos (é Laub contando um episódio ocorrido de fato em sua vida ou é apenas ficção?).
De física, a queda de João se torna metafísica na cabeça do narrador sem nome, uma pedra em seu caminho (como aquela no poema de Drummond). Da mesma forma, seu conhecimento sobre o massacre de judeus em Auschwitz, onde morreram vários parentes de seu avô. O campo de concentração de Auschwitz é citado muitas vezes e também o livro que o narrador acredita ser o mais importante escrito sobre ele: É Isto Um Homem? do judeu italiano Primo Levi, reconhecidamente um obra-prima sobre a barbárie nazista.
O avô nunca foi prisioneiro alemão, teve a sorte de vir antes para o Brasil, para Porto Alegre, onde Laub efetivamente nasceu. Este Diário então é sobre esse avô, seu filho, o neto (o narrador) e o filho dele que vai nascer. Mas também há seus dois casamentos desfeitos e o relacionamento problemático com a terceira mulher, a relação conturbada com o pai, com os amigos depois da queda, o vício de beber, o medo de viajar de avião, etc. Uma queda aqui, outra ali, outra mais adiante: várias quedas vão ocorrendo e o narrador vai se conhecendo...
Efetivamente, as melhores partes do Diário são aquelas em que o narrador trata de sua infância e adolescência. Ele foi um menino e um jovem um tanto estranho, digamos. Portanto, um personagem bastante interessante para o leitor (são as partes onde há mais humor, palavrões, estrepolias de criança, mas também brutalidade). Mais interessante do que o homem de quarenta e poucos anos que encontramos na conclusão do relato. Ainda que com muita esperança nos dias que virão...
Lido entre 12 e 14/11/2013.