Lodir 21/08/2011Em “Borralheiro”, seu terceiro livro de crônicas, o escritor gaúcho Carpinejar volta a traçar um perfil do homem moderno – homem esse que ele apelida de Borralheiro. Esse é, na descrição do autor, um homem caseiro, que está acostumado com a evolução comportamental da mulher, que acaba virando muitas vezes chefe de família. Dessa forma, o homem Borralheiro está adaptado ao lar, as tarefas domésticas e a entender mais delas que sua própria esposa. Como o cronista alerta, ele está habituado até mesmo a dobrar as roupas da mulher e sabe dizer exatamente onde está, quando ela requer.
Na obra, Carpinejar entrega uma série de excelentes crônicas que ultrapassam as 200 páginas, sempre muito bem pontuadas e argumentadas. Seu texto é um retrato fiel da sociedade moderna e, principalmente, da relação dentro de casa, com foco, é claro, no casal. Todas as crônicas foram publicadas nos últimos anos no jornal Zero Hora e em sites onde ele é colunista. Há muitas passagens interessantes sobre o cotidiano do próprio escritor com sua namorada – e algumas delas impressionantes de tão sinceras e intimas. Há relatos de casos envolvendo amigos do casal. Nem tudo, no entanto, é sobre a relação a dois. Carpinejar reflete também sobre as amizades, a relação de filho com a mãe, sua infância e algumas sátiras da época da escola.
Tudo no livro é muito bom, desde o título divertido até a capa e o subtítulo (“Minha Viagem Pela Casa”). Sempre bem-humorado, Carpinejar relata o cotidiano com um olhar afiado e implacável, prestando atenção dos detalhes que passam despercebidos e fazendo piada com o inimaginável. O livro é simplesmente prazeroso; é uma conversa do autor com o leitor, onde ele faz piada sobre sua própria vida e com o que observa. Funciona, na verdade, como aquela conversa de bar com o seu velho amigo, que sempre vê o lado divertido das coisas – até quando está reclamando delas. Como diz Luis Fernando Veríssimo na orelha do livro, Carpinejar já se tornou um dos melhores cronistas do país – e também um dos mais engraçados. Veríssimo, que é mestre no assunto, sabe o que está falando. Devemos ouvi-lo.